30.6.17

TEMPO DE REALIZAÇÕES



Léon Denis (Espírita Francês)

Léon Denis foi o discípulo fiel de Allan Kardec, que deu continuidade à doutrina sem aproximá-la a qualquer orientalismo ou pensamento místico. Em 1900 ele foi presidente do Congresso Espírita e Espiritualista da França, trazendo pessoas de diferentes pontos do mundo.

Desse congresso escolho dois eventos para recordarmos. O primeiro vem da crítica de alguns participantes famosos que desejavam reduzir o espiritismo às estreitas contribuições da ciência empírica, baseada pelos fenômenos. Denis assim se posicionou:

“O que caracteriza hoje o Espiritismo é a manutenção dos princípios codificados por Allan Kardec e seu constante desenvolvimento pelos métodos experimentais. Entretanto, para nós o Espiritismo não está todo em Kardec; o Espiritismo é uma doutrina universal e eterna, que foi proclamada por todas as grandes vozes do passado, em todos os pontos da Terra e que o será por todas as grandes vozes do porvir. ” (Gaston Luce)

Angel Aguarod

O segundo evento curioso, é que neste ano ele recebeu Angel Aguarod e Esteva Marata, ansiosos por conhecer a pátria de Kardec. Eles foram ao cemitério do Père Lachaise e a um centro de reunião dos espíritas em Paris, mas como ele mesmo disse “Os espíritas parisienses eram pobres”. Depois de muita pesquisa eles encontraram uma construção de tábuas que talvez houvesse sido uma estrebaria, o que foi para estes delegados uma grande decepção.

Camille Flammarion

Passado um quarto de século, Denis estava cego e doente. Foi convidado para ser presidente do congresso, mas inicialmente declinou. Um espírito o questionou em uma reunião mediúnica, por que ele não aceitou o convite, ao que, após queixar-se do “fardo de suas enfermidades”, explicou

- Flammarion me substituirá muito bem!

O espírito lhe respondeu diretamente:

- Flammarion não estará lá.

E, de fato, Flammarion desencarnou em junho de 1925, três meses antes do congresso.

No discurso de encerramento do congresso de 1925, ele contou a memória da visita de Aguarod e de Marata, para dizer que o espiritismo parisiense e mundial, passados 25 anos, agora contava com a Casa dos Espíritos e o Instituto Metapsíquico Internacional, cujos imóveis foram comprados por Jean Meyer e as organizações pensadas pelo mesmo mecenas.




Luz y Union - Revista dirigida por Jacinto Esteva Marata

Passou-se quase um século, e o espiritismo espalhou-se pelo mundo, com um grande movimento no Brasil. As casas em Belo Horizonte se contam às centenas, os livros obtidos pela mediunidade aos milhares, como previu o autor de “No invisível”. Contudo, ao nos reunirmos, é fundamental perguntarmo-nos como Denis: qual é a nossa “construção de tábuas” contemporânea que precisa ser transformada em imóvel? Que trabalho nos cabe fazer nos próximos 25 anos, para que o movimento da capital mineira tenha um ganho de qualidade?


Com certeza, se estiver no plano espiritual, o discípulo fiel de Kardec estará nos acompanhando, pronto a observar nossas decisões e desejoso de ter mais uma história de sucesso para contar no futuro, nos encontros de espíritas que transpuseram os umbrais da morte do corpo.

(Texto publicado no periódico Ame Mais no. 61, pág. 5)

21.6.17

UM NOVO VELHO GRANDE LIVRO




Tenho comentado sempre os livros psicografados por Dolores Bacelar aqui no Espiritismo Comentado. Ao realizar a busca abaixo eu mesmo me surpreendi com a quantidade de livros dela já discutidos neste blog.



Para minha satisfação, a editora Correio Fraterno, que tem publicado a médium, acaba de lançar o livro "Mesopotâmia: luz na noite do tempo", do Espírito Josepho, que compreende os livros que antes foram publicados na série "Às Margens do Eufrates".

Com 728 páginas, tenho certeza que o leitor irá ficar preso na narrativa, imaginando a época e os personagens. Flávio Josefo é o nome de um historiador judeu-romano, cujos documentos chegaram aos dias de hoje e que relata, entre outras coisas, da época de Jesus. Já me questionei em outro post se o autor espiritual seria ou não o historiador, mas esta é uma questão sem resposta.

O livro se ambienta muito antes e tem por foco as culturas persa antiga e assíria, dentro da corte de Sargon II, filho de Salmanazar. Não conheço praticamente nada além das aulas de história no ensino fundamental sobre este povo e época, e da crueldade dos Assírios, que se transformaram em um povo guerreiro e conquistador, mas o autor espiritual faz muitas descrições em sua história, que bem poderia ser estudada por um profissional, separando a ficção da realidade.

A mediunidade de Dolores é responsável por textos que tratam de culturas muito diferentes da nossa, como é o caso dos livros do Jardineiro, que segundo Divaldo Franco, seria o nobel indiano de literatura Rabindranath Tagore (1913). 

Nunca estudei literatura, mas considero o texto psicografado por Dolores Bacelar muito rico e variado, ao contrário de outros autores que já li. Seria fruto de psicografia mecânica? Faltam biografias sobre a autora, que sempre foi muito avessa à publicidade pessoal.

10.6.17

UM LIVRO QUE EXPLICA O QUE ACONTECE NOS CENTROS ESPÍRITAS DURANTE OS TRABALHOS MEDIÚNICOS



Há mais de trinta anos estudamos obras espíritas relacionadas à mediunidade em nossa reunião mediúnica dos sábados. Dividimos entre nós o livro em capítulos ou grupos de páginas e um membro do grupo estuda e apresenta o texto da noite oralmente, às vezes intercalando leitura com exposição. Já lemos muitos e muitos livros, uma vez que meia hora por semana em décadas torna-se um tempo muito extenso.

Quando o livro está por terminar, começam as sugestões para o novo livro a ser estudado, e os membros fazem sugestões e indicações, ficando escolhido o livro mais votado.

Estamos estudando agora o livro "Dimensões Espirituais do Centro Espírita", da mineira Suely Caldas Schubert. Tem sido uma boa surpresa, porque a autora escreve com uma linguagem simples e direta, muito próxima da nossa linguagem oral, embora escrita no português culto. 

Conheci a Suely há muitos anos, na década de 80, em um seminário sobre mediunidade organizado na União Espírita Mineira, pela nossa amiga, hoje desencarnada, Telma Núbia (perdoem-me os outros organizadores). Suely conhecia com detalhes a obra de André Luiz, e sempre provocava positivamente a plateia com perguntas sobre o conteúdo dos livros, que quase nunca eram bem respondidas.

Neste livro, o pensamento dos espíritos que se comunicaram através de Chico Xavier (principalmente André Luiz), juntamente com os de Divaldo Franco e Yvonne Pereira são reescritos, ilustrando os temas abordados. É, portanto, um livro de estudos, no qual os temas e suas ilustrações são cuidadosamente recontadas a partir de livros de grandes médiuns brasileiros.

Ainda não concluímos os estudos, mas recomendo a leitura aos interessados em conhecer como os espíritos atuam em um centro espírita, em diversas atividades aí realizadas, durante as reuniões mediúnicas, e em processos desobsessivos. Estou seguro que o leitor, vencida a resistência das primeiras páginas, irá se encantar com a narrativa comentada e não mais desejará interromper a leitura.

6.6.17

JORGE ANDREA SE FOI...




Há alguns meses recebi a notícia da desencarnação do psiquiatra, autor e expositor espírita Jorge Andréa dos Santos. Jorge Andréa esteve conosco, em Belo Horizonte, nos anos 80 e 90. Suas palestras e seminários eram sempre bem humorados, e ele expunha com muita clareza as suas ideias.

Andréa tinha alguns temas centrais em seu trabalho, como a sexualidade, a evolução e a fronteira entre psiquiatria/psicologia e espiritismo.

No seu trabalho sobre evolução ele desenvolveu um esquema muito didático que se iniciava com o encontro de duas retas no espaço, marcando a criação do princípio inteligente. Ele articula nesta sua imagem a evolução, o livre-arbítrio e o determinismo, com algumas funções psicológicas como o instinto, a razão e a intuição. Andréa faz propostas inusitadas como a da superintuição (que seria uma função psicológica de seres perfeitos, apenas esboçada pelo autor).

Ele era marcado pelo imenso bom humor. Contava suas histórias pessoais com a mesma simpatia que apresentava conceitos filosóficos de autores como Spinoza. Creio que não há ninguém do nosso grupo que esteve em seus trabalhos que não tenha um sentimento de afeição por ele.


Após o seminário de evolução, nossa livraria obteve os livros dele, publicado ainda pela Editora Fon Fon e Seleta (imagino que uma publicação pessoal) e vez por outra o esquema abaixo era escrito no quadro negro das reuniões públicas.



A Agenda Espírita Brasil publicou uma entrevista muito curiosa com Andrea, feita pelo jornalista André Trigueiro, organizada pelo Instituto de Cultura Espírita do Brasil - ICEB, um ano antes de sua desencarnação, nas comemorações dos seus cem anos de idade. Ciência no movimento espírita, experiências com índios, seus livros, sua família, a sociedade atual, o relacionamento, Divaldo Franco, Carlos Pastorino, são alguns dos assuntos que ele trata ao longo da sua prosa.

Agradeço a ele a disposição de ter estado conosco, expondo por muitas horas a fio, em seminários no Hospital André Luiz e na Associação Espírita Célia Xavier, deixando em casa sua família, sua vida pessoal. A voz clara, os pensamentos bem articulados aos cem anos de idade, impressionam muito!