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5.3.16

APRESENTAÇÃO DE TRÊS TRABALHOS DO REFORMADOR



Leitores do Espiritismo Comentado,

Na revista Reformador de março de 2016 foram publicados três artigos de participantes da LIHPE (Liga de Pesquisadores do Espiritismo):
1. Atualidade do termo fluido ao espiritismo (Alexandre Fontes da Fonseca)
O termo fluido deveria ser substituído pelo termo campo, citado por André Luiz no livro Mecanismos da Mediunidade?
2. Antônio Schiliró (Júlia Nezu)
Desencarna aos 98 anos um dirigente espírita importante para o movimento espírita do estado de São Paulo
3. Uma história esquecida: Fernando de Lacerda, Camilo Castelo Branco e Silva Pinto. (Jáder Sampaio)
O espírito de um suicida português começa a enviar diversas mensagens a um amigo encarnado, tentando ser identificado e tentando defender a ideia de que o suicídio é um equívoco. Por que ele estaria insistindo tanto?
O Reformador pode ser lido impresso ou em formato digital. Informações:http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/

17.11.13

EÇA, POR FERNANDO


Ilustração alusiva à proclamação da república portuguesa


Fernando de Lacerda é um médium português do início do século XIX que morou no Brasil e publicou seu trabalho pela Federação Espírita Brasileira. Sempre admirei a manutenção dos seus quatro livros “Do País da Luz”, nos catálogos desta editora. Escrevi há alguns anos sobre ele no Espiritismo Comentado http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2010/12/as-artes-mediunicas-de-fernando.html

Mais recentemente li um texto de Vianna de Carvalho, através da mediunidade de Divaldo Franco, que fala de como ele foi vítima de ironia e escárnio em sua época, mantendo-se firme. Retomei sua leitura e encontrei um trabalho de Eça de Queiroz que trata de um tema muito atual, recorrente, no movimento espírita: o ceticismo radical.

Silva Pinto escreveu introdução para o livro em 1911, um ano após a implantação da república portuguesa, de influência positivista.

Com o positivismo, veio a tendência de se identificar o pensamento cristão com a monarquia, e, ao mesmo tempo, uma crítica de princípios e valores que acompanha a crítica do regime político, além, é claro, da crítica contundente da crença em Deus. Eça, sem se alinhar à proposta política da monarquia, defende no texto psicografado por Fernando de Lacerda os valores cristãos e a crença em Deus, opondo-se ao espírito de época.

O estilo chama a atenção, pela ironia profunda e inteligente, pela construção do texto que desafia o leitor a pensar. Vou transcrever algumas passagens.

Sobre o ateísmo da política portuguesa da época:

“A ilustre pseudo sociedade pensante desta linda terra de mentecaptos proclamou sua emancipação.

Deus passou à história

Nem serve para se mostrar empalhado, em qualquer museu de raridades, porque tendo-se ausentado, há séculos para parte incerta, não cumpriu ainda o gracioso dever de cortesia de vir apreciar as generosas conquistas do mundo moderno.

Sobre a valorização do livre-pensar:

Eu sinto – e nós todos, certamente o sentimos por igual – que para sermos agradáveis à linda cocote, toucada de vermelho, que se divorciou para se casar em seguida com o cidadão Livre Pensamento, não saibamos perpetrar a delicada e encantadora hipocrisia de a felicitarmos, fingindo que também nos libertamos da tirania de Deus (já que ainda temos a imperdoável fraqueza de ainda lhe estarmos sujeitos); mas,  tristemente, desconsoladoramente o digo: - não o sabemos fazer.
...

Sobre a acolhida das mensagens pela intelectualidade portuguesa:

 Tu é que devias procurar libertar-te de nós, porque te somos companhia prejudicial. (Aqui, Eça fala ao médim)

Já te fizemos passar por maluco, por ignorante, por mistificador, por asno, por detestável escrevinhador de prosas bárbaras e de versos insulsos; e agora te arriscas a apanhar alguma sova de respeito, ou a seres tido e havido por agitador religioso, se continuas a deixar perceber a esse mundo emancipado e sábio que associas com companhias tão pouco recomendáveis , como são as dos mortos, e, de mais a mais , de mortos ignorantes, mortos que não se pejam de falar em Deus, nem de virem aconselhar a humildade, a caridade e a resignação, quando a moda obriga a renegar Deus, a praticar o Orgulho, proclamar a Fraternidade e aconselhar a Rebeldia. “

Sobre a Rebeldia como valor:

Que esplêndida coisa é a Rebeldia!

Pena é que ela seja, às vezes, como esses jogos de facas pontiagudas com que inábeis jongleurs exploram a basbaquice popular: - que se sucede cravarem-se no explorador, também arriscam o explorado a ser espetado por elas...

Desviei-me do meu fim.

Perdi-me na parlenga, e ia por si em fora, modulando ditirambos às modernas virtudes que enfloram o tálamo nupcial da Sociedade livre pensante portuguesa – anônima criatura, filha incestuosa da Ignorância e do Atrevimento, com o ilustre cidadão Livre Pensamento, filho adulterino da Vaidade e do Amor-Próprio; e esqueci-me que não foi para isso que vim.”


(Extraído de “Do País da Luz, cap. I, pág. 17-26)

4.12.10

AS ARTES MEDIÚNICAS DE FERNANDO


Foto de Fernando de Lacerda na Revista Illustração Portugueza no. 133 - Setembro 1908



A editora da Federação Espírita Brasileira mantém em catálogo obras antigas, pouco comerciais, mas muito importantes para o estudo do Espiritismo.

Quando estudava o livro "Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo", de Aurélio Valente, tive a oportunidade de ler passagens da obra psicografada por Fernando de Lacerda, que de princípio impressionou-me.

Adquiri recentemente os quatro livros da coleção "Do País da Luz", no qual se encontram textos atribuídos a Eça de Queiroz, Camillo Castelo Branco, Júlio Dinis, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira e outros escritores conhecidos da literatura portuguesa e francesa, entremeados por espíritos desconhecidos.

Capa do primeiro livro publicado pela FEB

Fernando foi estudado por espíritas portugueses, como o Dr. Souza Couto, que apresenta no prólogo do primeiro livro suas pesquisas e conclusões favoráveis à tese da mediunidade. Ele dá mostras de conhecimento da literatura científica da época e dos autores europeus que pesquisaram os fenômenos espirituais.

Médium psicógrafo, Fernando esteve sempre a duvidar e buscar evidências de sua própria faculdade, mas não temeu tornar públicos seus trabalhos de origem mediúnica.

Perseguido em Portugal após a implantação da república em 1910 e tendo perdido seu cargo de sub-inspetor de polícia administrativa, acusado de ser identificado com a monarquia (ele defendia publicamente a ideia de Deus e era espírita-cristão), Fernando vem ao Brasil em 1911, onde se integraria aos trabalhos da Federação Espírita Brasileira.

Para que não fique muito extenso, deixo ao leitor um poema do volume 1, atribuído a João de Deus (poeta português da segunda metade do século XIX). Ele foi psicografado simultaneamente com outra poesia, tendo a um lado da mesa o Dr. X. S. e ao outro Fernando de Lacerda. Eles psicografavam simultaneamente sextilhas. Ao final do trabalho, descobriu-se que um houvera psicografado as sextilhas pares dos dois poemas e o outro as ímpares. Os poemas se chamam À Mocidade e A Mocidade. Deixo transcrito apenas o segundo.

João de Deus

A Mocidade

Ó mocidade,

Riso e saudade,

Do meu amor!

Hora tão linda

Que breve finda

Imersa em dor!

Aragem breve

Que bem de leve

Cicia e passa,

Sonho infantil,

Curto, sutil,

Cheio de graça!

Manhã rosada,

Branca alvorada,

Dia outonal!

Cativa flor,

Essência olor,

Dum roseiral!

Aura fagueira,

Que vem ligeira

Sorrir ao velho,

E o faz chorar

Ao remirar

Aquele espelho.

Ai quem lhe dera,

Por vã quimera,

Ser sempre assim!

E rindo, louco

Ir pouco a pouco,

Chegando ao fim!...