Mostrando postagens com marcador Promoção Social. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Promoção Social. Mostrar todas as postagens

14.4.15

JOÃO




A sociedade brasileira está votando a diminuição da maioridade penal para dezesseis anos. A razão se divide entre partidários do sim e do não, e os argumentos se multiplicam. Parte da sociedade teme a violência, um de nossos maiores problemas no momento.

- Você me arranja um emprego? Perguntou-me um jovem de pele negra e história sinistra.

- Eu não tenho vagas no momento, respondi-lhe.

João baixou os olhos, meio decepcionado, mas como se já esperasse a resposta. Eu me senti péssimo, mas sem recursos para ajudá-lo e jovem demais para conseguir alguma coisa na minha rede de contatos, que se reduzia aos companheiros de centro espírita e pequenos empresários que trabalhavam com vídeo.

Naquela época os telefones eram caros e raros. Eu não tinha um aparelho na minha locadora de vídeo, e o primeiro que conseguimos foi uma extensão de um número de nossa casa. Não tinha como entrar em contato com ele, que se foi naquele momento de desemprego e estagflação. Tive a clara impressão que sua busca seria improdutiva. João vestia-se com muita simplicidade, era muito tímido e trazia dentro dele uma tristeza que não conseguia esconder.

Parei para pensar e recordei de sua história.

João era o mais velho de uma grande quantidade de filhos de mãe solteira daquelas que são usadas por homens que só se interessam por sexo e são abandonadas a seguir. Eu conhecia bem o olhar e o comportamento da mãe de João. Ela levava aos sábados os filhos para a nossa evangelização infantil. Não era preciso ser psicólogo para perceber que ela era doente mental, portadora de uma possível psicose, e apesar das imensas limitações e das alterações de humor, mantinha os filhos na atividade espírita.

João foi meu aluno na turma de 11-12 anos. Trabalhávamos com  crianças, jovens e mães que residiam na região vizinha do bairro Salgado Filho, onde ficava o Lar Espírita Esperança. Sempre calado, diferentemente da maioria dos alunos, era bem comportado, um comportamento que parecia uma extrema dificuldade de se permitir brincar. Ele assistia às aulas ora com atenção, ora como se a mente estivesse em outro lugar, mas nunca era preciso chamar-lhe a atenção. Quando o conheci, devia ter uns doze anos de idade.

A casa de Célia, mercê do empenho do Sr. Evaristo, montou uma marcenaria com maquinário profissional. A ideia inicial era fazer brinquedos para distribuir no natal e posteriormente dar uma formação inicial para jovens interessados. Haveria uma seleção e João me perguntou:

- Será que eu posso ir?

- Claro, João, é aberta a todos. Tente!

Na semana seguinte eu perguntei a ele:

- E aí, João. Como foi?

- Eu não fui escolhido. Respondeu com voz e olhar baixos.

Procurei o selecionador e lhe perguntei o que havia acontecido. Sincero, ele me respondeu:

- Ele não mostrou interesse.

Percebi o que acontecera. Seu jeito tímido e introvertido, sua dificuldade de se expressar e sua aparente falta de energia o condenaram. Não houve pedido que alterasse a decisão do administrador, que deseja jovens que demonstrassem interesse, que se engajassem.

Escrevo esta história real para dizer que não sei o que aconteceu depois com João. Eu desejaria muito que ele tivesse conseguido alguma forma de inclusão em nossa sociedade, que tivesse feito um curso profissionalizante mesmo que rápido, que pudesse lhe assegurar o mínimo do mínimo. Creio que pesava em suas costas os deveres de ser irmão mais velho, sem ter tido pai e educação capazes de ajudá-lo minimamente neste esforço desumano.

Eu desejaria muito que houvesse um final feliz, mas temo que ela não tenha acontecido. Jovem, necessitando do básico, querendo cuidar da família e com uma mãe portadora de transtorno mental, ele era uma vítima fácil para o tráfico e para outros criminosos adultos, à cata destas aves sem ninho.


Esta recordação sempre me faz refletir, como espírita e como brasileiro,  sobre a necessidade apoiar da forma possível ações de proteção à infância e de inclusão social, mesmo que emergenciais.

26.3.15

RELAÇÃO ENTRE CENTROS ESPÍRITAS E ÓRGÃOS DO ESTADO




Desde Kardec, na sua "Constituição Transitória do Espiritismo" (1868), encontramos preocupações com a ação organizada dos espíritas na sociedade. O fundador francês pensava em uma comissão central que, entre muitas ações de ordem cultural (museu, biblioteca, etc.), também teria por objetivos a construção de um dispensário (semelhante aos nossos postos de saúde atuais), um asilo e  uma caixa de socorros e previdência. Eles seriam construídos a partir da doação de recursos, que criariam um fundo financeiro e o rendimento deste seria utilizado para a manutenção dos órgãos sociais. 

No Brasil a história do movimento espírita está muito marcada com a construção de instituições de saúde, assistência social, cuidado e educação. Geralmente são laicas e públicas e voltadas à população de baixa renda, ao contrário do que pensa o senso comum, que crê terem por objetivo a conversão das pessoas, talvez por associarem fantasiosamente nossas instituições com igrejas que têm por missão a conversão. 

Aos poucos o legislador no Brasil foi percebendo a necessidade de incentivar-se este tipo de iniciativas sociais, e de tomar cuidados para que não haja desvio de recursos por estas instituições. Os três poderes têm recursos e interesses na manutenção de instituições de ação social, porque é mais fácil e econômico apoiar o que já existe que construir infra-estrutura e aumentar os quadros de servidores públicos do Estado, hoje limitados pela lei de responsabilidade social dos gestores.

Há diversas formas de se conseguir apoio do Estado: o reconhecimento da utilidade pública (municipal, estadual e federal) assegura imunidade (a proibição do Estado cobrar impostos) e diversas isenções e reduções de taxas de serviços. Os três poderes podem dar recursos financeiros através de subvenções, convênios e, mais recentemente, termos de parceria (que são convênios simplificados, mas exigem que a organização se qualifique como organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP).

Com a formalização destes instrumentos de gestão em nossa sociedade, houve pessoas desonestas que enxergaram nesta possibilidade um caminho de obtenção ilícita de recursos. Isso criou um grande alvoroço no legislativo, cuja fala informal e inconsequente de nossos representantes criou o termo "pilantropia", o que aumentou não apenas os cuidados do Estado com seu controle,  mas criou uma "aura" preconceituosa em torno das parcerias entre organizações do terceiro setor e os órgãos do estado.

No movimento espírita (pelo menos no mineiro) a relação com os órgãos do estado sempre foi vista com muita cautela, porque os dirigentes se preocupam em depender do estado e, de repente, ter o repasse de recursos atrasado ou circunstanciado, ou ainda ter que criar toda uma área-meio, burocrática, para atender as exigências dos órgãos parceiros. Houve sempre uma preocupação saudável em deixar as instituições espíritas à larga dos compromissos políticos partidários, ou pior, "devendo favores" a candidatos, que costumam "cobrar" em votos, no período eleitoral.

Cautelas à parte, penso que nas últimas décadas houve uma proximidade maior com o poder público, mesmo porque, o Estado Brasileiro foi assumindo responsabilidades sociais. No caso das creches, por exemplo, elas se tornaram uma atribuição das prefeituras, mas em uma cidade grande como Belo Horizonte, não há como construir uma rede de creches que atenda a centenas de milhares de crianças em idade pré-escolar em curto espaço de tempo. Da mesma forma, fica muito caro às sociedades espíritas a manutenção de educação infantil de qualidade, atendendo a todos os avanços de que foram sendo objeto. 

Precisamos conhecer mais e melhor estas iniciativas, para viabilizarmos honestamente um trabalho de promoção social que efetivamente dê resultados nas comunidades em que nos encontramos, até que o Estado Brasileiro seja capaz de cumprir seu papel sem necessitar da parceria com o terceiro setor, o que não parece ser algo viável nas próximas décadas.


6.7.11

GOVERNO FEDERAL FORMALIZARÁ O SUAS

Figura 1: Logo do SUAS


SUAS é o sistema único de assistência social, inspirado no modelo no Sistema Único de Saúde. Segundo o Jornal do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRPMG), ele será coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, mas as ações serão implementadas nos três níveis de Estado (federal, estadual e municipal), assim como acontece no Sistema Único de Saúde.

O avanço desta lei é tornar a assistência às famílias e indivíduos vulneráveis um direito e de reorganizar as esferas de estado para esta finalidade. Resta saber se o Estado conseguirá disponibilizar recursos suficientes para cumprir com suas novas responsabilidades e se terá uma estrutura capaz de atingir a este enorme contingente de pessoas.

A presidenta da república sancionará a lei hoje às 11 horas e o jornalista do CRPMG afirma que 99,5% dos municípios brasileiros já aderiram ao novo sistema.

Essa é uma transformação importante em nossa sociedade, que demanda da comunidade espírita uma reflexão sobre as atividades assistenciais e promocionais que hoje realiza e quais são os efeitos que a legislação terá sobre o que se encontra em curso.

Dois pontos chamaram-me a atenção na Política Nacional de Assistência Social (PNAS - 2004) que parece ser uma das bases da nova legislação: os desdobramentos do princípio do controle social, as relações com o Estado nas questões de financiamento e os impactos na nova lei no reconhecimento das atividades realizadas pelas sociedades espíritas. Pergunto-me também se as sociedades espíritas são percebidas como assistencialistas (creio que clientelismo não se aplica a instituições que não participam do jogo partidário de poder na sociedade).

O tema é polêmico, não tenho  opiniões formadas, mas demanda maior entendimento e clareza por parte de nós, espíritas.

Mais informações nos anexos do texto do governo federal:            http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas

4.7.10

PARCERIA: NOVAS POSSIBILIDADES DE PROMOÇÃO SOCIAL


Continuo insistindo que a sociedade mudou. Temos hoje toda uma estrutura criada fora do movimento espírita para a inclusão das pessoas no mundo do trabalho.
Vejo com bons olhos as iniciativas existentes, como a criação de estruturas nas casas espíritas para a profissionalização e a qualificação de um segmento da nossa sociedade que tem acesso apenas ao trabalho desqualificado e mal remunerado. Contudo, o que podemos fazer com este tipo de ação é limitado e muitas vezes amador.
Fui levado a ensinar educação profissional na Universidade por muitos anos. Existem recursos públicos (o Fundo de Amparo ao Trabalhador, por exemplo) e existem organizações que qualificam pessoas com escolaridade diversificada.
Penso que o maior problema dos chamados "assistidos" é o acesso à informação, a análise de potencial e o acesso à escola e aos cursos profissionalizantes.
Em vez de apenas executar as atividades de formação, as sociedades espíritas poderiam promover parcerias e realizar as atividades de orientação e fomento.
As organizações do sistema S (SENAI, SESC, SEBRAE, SEST, SENAR, SESI, etc.), por exemplo, já têm estrutura, seriedade e expertise para a formação dos jovens. Em Belo Horizonte, a ASSPROM, tem uma experiência de formação básica e inserção de jovens em situação de risco em organizações públicas e privadas.
A prática da caridade não se confunde com a esmola, já nos afirmavam os interlocutores de Kardec. Organizemo-nos para realizar ações mais efetivas.
Um futuro alternativo ao oferecido pelo crime organizado é um dos nossos grandes desafios nos centros urbanos dos dias de hoje.

6.12.09

AÇÃO SOCIAL ESPÍRITA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

Foto 1: Criança


Quando se pensa em assistência social, promoção social ou ação social espírita, acredito que se trata de um jogo de gato e rato com o Estado. Neste jogo, nós somos o rato, ou seja, estamos onde não está o Estado.

Todos conhecem a mensagem do espírto Cáritas em "O Evangelho Segundo o Espiritismo". Ela passeia pelos subúrbios de Paris, à época, uma capital européia sem políticas sociais. O espírito fica sensibilizado com famílias que não tinham o mínimo para sobreviver ou enfrentar o rigoroso inverno Europeu. Kardec preocupava-se em montar uma caixa de assistência, no seu projeto de 1868, período em que a Sociedade Parisiense deixara de ser um grupo de estudos para tornar-se uma espécie de associação comunitária, caráter que marcou muitos dos centros espíritas do Brasil.

Se Cáritas estivesse hoje, fazendo sua ronda em Belo Horizonte, ela teria algumas outras preocupações.

Vivemos em uma sociedade múltipla (pessoas abaixo da linha da miséria, pessoas pobres, pessoas de classe média e pessoas ricas ou muito ricas) com alguma ação do Estado contra a pobreza, a doença e a ignorância.

Uma família pobre, geralmente constituída de mãe e filhos, outras de mãe, companheiro temporário e filhos, e uma minoria de mãe, pai e filhos, tem acesso a direitos sociais, como posto de saúde, alguns medicamentos, escola pública e mais recentemente uma minguada, mas útil, bolsa escola.

As mães pobres não são apenas cuidadoras, mas provedoras, e muitas trabalham fora de casa, o que justifica o sistema de educação infantil (creches). Os dados oficiais informam que há 60 instituições publicas de educação infantil e 193 creches conveniadas, totalizando o cuidado de cerca de 38.500 crianças. Não consegui saber quantas são as crianças em situação de risco de 0 a 6 anos, mas em uma cidade com mais de dois milhões de habitantes, com certeza faltam vagas para educação infantil.

Penso que Cáritas também se incomodaria com o analfabetismo funcional dos pais. Ela veria crianças que não conseguem aprender e pais que chegam tarde em casa e não podem ensinar, porque têm o trabalho doméstico para fazer e porque não sabem.

Ela se preocuparia muito com o futuro destas crianças, porque sabe que para ganhar um salário que as sustente, elas precisam concluir o ensino médio, saber ler, escrever e dominar as matemáticas, pelo menos a álgebra.

Cáritas também veria traficantes a distribuir cestas básicas para ser aceitos pela comunidade e a recrutar crianças para sua organização, que dissemina o vício e leva à morte prematura. Ela veria as crianças com baixa auto-estima e núcleo familiar fragilizado como vítimas preferenciais do crime organizado e da violência familiar.

Quem, então, este espírito destacaria? Se fosse no movimento espírita, Cáritas, com certeza, valorizaria quem promove o reforço escolar, regado a lanche e brincadeiras (há que se lutar pela infância). Ela valorizaria quem recebe estas crianças fora do período escolar e as retiram da rua, que tornou-se espaço de risco social.

O espírito que foi martirizado em Roma, valorizaria quem ensina estas crianças e seus pais a acreditarem no futuro, trazendo pessoas que enfrentaram e venceram a pobreza sem optar pela via do crime.

Cáritas também valorizaria quem educa as jovens mães, para que aprendam a cuidar dos filhos.

Ela se emocionaria com a juventude espírita, se a encontrasse retirando algumas horas da sua semana, já atribulada, para ensinar àquelas crianças o que os pais não conseguem.

Ela escreveria pelos que montam bibliotecas comunitárias e pelos que facilitam o acesso ao material escolar, especialmente quando este não é disponibilizado pelas autoridades.

Acho que Cáritas pediria aos grupos de costura para fazerem e consertarem uniformes escolares, despesas relativamente altas para as famílias que mal conseguem comer, bancarem com seus salários minguados.

Os princípios cristãos continuariam intocáveis, mas a ação no mundo modificaria, porque o mundo mudou, e sempre que o governo conseguisse erradicar da nossa sociedade um mal social, os espíritas, influenciados por Cáritas, modificariam sua prática, porque ainda falta muito para vivermos em um mundo feliz.

24.7.09

CRÔNICA: SEXTÃO EM NOVA LUZ

Sete e meia da manhã e a turma de evangelização infantil, com alguns agregados acima e abaixo da idade já se reuniam para um programa diferente. Os pré-adolescentes iriam ajudar a festa junina preparada para as crianças da evangelização do núcleo que funciona em uma das regiões mais carentes da Grande BH.

Autorizações escritas dos pais em mãos, aguardamos que uma mãe esquecida chegasse esbaforida de carro, trazendo o papel que esquecera para que a filha pudesse seguir com o grupo.



Figura 1: Sextão com as prendas preparadas para distribuir em Nova Luz


O bairro Rosaneves fica em Ribeirão das Neves, considerada cidade dormitório por alguns analistas econômicos e região de criminalidade violenta pela Polícia Militar. Seguimos a BR040 até a entrada para Esmeraldas e entramos à direita. O comboio de carros de passeio seguia em fila indiana, e dentro dos veículos a conversa era animada.

Ao chegar ao bairro, a paisagem modifica. Casas simples em uma arquitetura horizontal, um comércio ativo porque era manhã de sábado e uma comunidade evangélica em cada quarteirão. Muitas destas comunidades eram simples como o povo, mas a igreja da Universal se destacava com sua altura acima da linha dos telhados e as grandes janelas azuis, penso que indicando prosperidade em meio à simplicidade.


Figura 2: Vista da região ao fundo de Nova Luz
Apesar de já estarmos auxiliando nossos irmãos de Nova Luz há alguns anos, eu nunca havia estado pessoalmente. Vi através de fotos a construção pequenina no imenso terreno doado pela generosidade de um amigo do Sr. Arnaldo, ex-diretor de nossa casa. Com o passar dos anos, o Célia Xavier foi apoiando a construção de novos espaços para atividades.

Chegamos cedo, mas já havia crianças e mães à porta, esperando, álacres.

A coordenadora da evangelização e o diretor do núcleo nos receberam, com entusiasmo e afeto, apresentaram os trabalhadores voluntários da região e os que vêm de Belo Horizonte todas as semanas para auxiliar na cozinha e nas aulas. A maioria é de jovens, trabalhando lado a lado com adultos, como é o caso do Dr. Felipe, médico que ajuda na preparação do lanche e põe a mão na massa na hora da limpeza.


Figura 3: Voluntários da cozinha preparando o lanche do dia

As paredes são simples e o salãozinho estava decorado com frases da mediunidade de Chico Xavier e da codificação em banners feitos com dedicação e pequenos problemas de ortografia.

As salas de aula foram transformadas em barraquinhas de jogos: boca do palhaço, latas empilhadas, arremesso de argolas e outros, tão característicos das festividades juninas.

Aos poucos as crianças foram entrando e eu saí para a rua para conversar com os membros da população que foram atraídos pela curiosidade. Uma criança, que não publicarei o nome nem a foto, olhava por detrás do gradil procurando pelos colegas que já haviam entrado. Eu perguntei se ele conseguia ver alguma coisa, e nós dois ficamos meio decepcionados, porque as janelas abertas e as filas não permitiam ver os jogos. Eu perguntei porque ele não entraria e ele me respondeu chateado que não podia porque ali era um Centro Espírita e os pais evangélicos jamais o inscreveriam na evangelização espírita. Solidário, perguntei se ele não ia no culto ou na escola infantil da igreja evangélica que os pais freqüentavam, e ele apenas me disse que não gostava de lá.


Figura 4: Sextanistas em uma janela traseira de Nova Luz

As crianças entravam e recebiam cartões que indicavam o número de vezes que poderiam jogar (e ganhar alguma coisa, uma pipoca doce, uma prenda...) Os impressos eram do DCE da UFMG, iam ser jogados fora após seu uso em alguma comemoração, e a coordenadora resolveu dar uma nova utilidade antes de reciclá-los. Até o papel impresso enchia os olhos das crianças.

Os motoristas fomos visitar o terreno e ouvir os planos que os olhos brilhantes do Carlos tinham para aquela luz acesa na comunidade. Uma fábrica de vassouras, tendo em vista a auto-sustentação, uma plantação de flores, um novo espaço para as atividades que vão surgindo com a adesão dos moradores da região ao grupo e ao Espiritismo.

Fiquei de enviar a ele possibilidades de captação de recursos para a efetivação de seus projetos.



Figura 5: Crianças em fila com os cartões para o acesso aos jogos

Veio a quadrilha em um pátio pequenino, mas animado. Evangelizadores e evangelizandos dançavam juntos a tradição e as evoluções universais desta manifestação cultural brasileira.

Figura 6: Saindo...

Foi chegando a hora de arrumar tudo, e a turminha do sextão estava cansada. Sempre foram participantes, mas naquele dia eram trabalhadores. As crianças menores que vieram conosco aproveitaram para brincar nas salas vazias e alguns dos meninos da região aceitaram brincar sem ganhar prêmio, e foi minha vez de organizar a diversão.


Figura 7: Biblioteca de livros espíritas

Terminada a evangelização ainda encontramos membros da comunidade na biblioteca, trazendo e levando livros espíritas para casa. Outros estavam prontos para as aulas de informática, em um pequeno laboratório com máquinas já antigas, mas úteis para a inserção digital dos interessados.

Figura 8: O instrutor no laboratório de informática (à direita)

Tudo organizado, voltamos cansados e felizes para os carros e voltamos conversando durante os quarenta e cinco minutos de estrada. O Henrique, de sete anos estava satisfeito. Perguntei a ele se gostava mais da atividade ou das aulas de evangelização, que ele me respondeu com a honestidade franca infantil: - Você está brincando? É claro que a excursão é melhor!

7.7.09

CASA DIA: UM PROJETO DE APOIO A QUEM QUER FICAR DE "CARA LIMPA"



A Janete, da Fraternidade Luiz Sérgio, solicitou que o EC divulgasse sua atividade de ação social. Eles desenvolveram um conjunto de atividades para auxiliar pessoas que estão lutando para ficar livres da dependência química (Álcool, drogas, etc.).

É uma iniciativa inteligente, que atinge um segmento geralmente estigmatizado pela sociedade, parabéns à Fraternidade. Não sei informar sobre custos, peço à Janete que me auxilie enviando mais informações. Leiam o texto abaixo enviado pela Fraternidade.


Casa Dia - Projeto Afeto

Trata-se do acolhimento dos recuperandos no horário das 8:00 h às 18:30 h, com o objetivo de mantê-los em atividade e amparados espiritualmente, enquanto assimilam conhecimentos que os fortalecerão no processo de abstinência e na luta contra a dependência.
Atualmente estamos nos dedicando àqueles que, embora consigam manter-se abstinentes de segunda a sexta-feira, acabam sucumbindo aos sábados e domingos. Para esses mantemos toda uma estrutura de apoio e assistência aos finais de semana, oferecendo:

  • Grupos de apoio – Programa Renascer
  • Técnicas de abstinência
  • Dinâmicas de Grupo
  • Assistência e tratamento Espiritual
  • Meditação
  • Atendimento Fraterno
  • Arteterapia
  • Cerâmica
  • Desenho e Pintura
  • Esportes
  • Atividades alternativas (vídeos – informática - alfabetização)
  • Café da manhã, almoço e lanches

Aos sábados e domingos de 8:00h às 18:30h.
Rua Três Pontas 2055 – Padre Eustáquio – BH
Telefone: (31) 3082-6037

http://www.fraternidadeluizsergio.org.br

3.3.09

AS ATIVIDADES DO LAR DA CRIANÇA EMMANUEL

Foto 1: Crianças no Lar da Criança Emmanuel em 2008

Pedi ao Lar da Criança Emmanuel mais informações sobre as atividades que são realizadas com crianças da pré-escola e em idade escolar. Geni prontamente enviou-me o texto abaixo:


"...além da Creche com 230 crianças de 7 meses a 5 anos, temos o trabalho com a turma de 6 a 14 anos, mas este ano começamos com 50 crianças de 6 e 7 anos , devido a falta de parceiros (...) estamos atendendo 50 crianças nossa meta são 200 crianças.
Este projeto visa uma ação educativa complementar a escola, onde os educandos realizarão atividades de ampliação do universo cultural, descobrindo suas potencialidades com o objetivo voltado para o desenvolvimento da comunicação, da sociabilidade, da habilidade para a vida e fortalecimento da auto-estima sempre em sintonia com a escola, família e comunidade. As crianças e adolescentes que participarão deste projeto terão a oportunidade de vivenciar momentos de inteira aprendizagem além de aprender noções de respeito, cumplicidade e executar tarefas que lhes permitirão ensinamentos para suas vidas, além de aulas de reforço para aqueles com dificuldades no processo de aprendizagem, capoeira, dança, artes, judô, futebol, musica, jardinagem e informática."


Como se vê, a atividade complementa a ação do estado na educação infantil e retira crianças da rua, socializando-as e desenvolvendo seu potencial. Se toda comunidade em nosso país, seja religiosa, política ou social, realizasse este papel, teríamos um Estado diferente e uma sociedade diferente.

4.10.08

Toda Assistência é um Assistencialismo?



Assistência social: conjunto das medidas através das quais o Estado (ou entidades não governamentais) procura atender às pessoas que não dispõem de meios para fazer frente a certas necessidades, como alimentação, creches, serviços de saúde, atendimento à maternidade, à infância, a menores, velhos etc.; serviço social

Assistencialismo: 1 soc doutrina, sistema ou prática (individual, grupal, estatal, social) que preconiza e/ou organiza e presta assistência a membros carentes ou necessitados de uma comunidade, nacional ou mesmo internacional, em detrimento de uma política que os tire da condição de carentes e necessitados 2 pol pej. sistema ou prática que se baseia no aliciamento político das classes menos privilegiadas através de uma encenação de assistência social a elas; populismo assistencial

Não é preciso fazer uma revisão de literatura muito profunda para ver que existe uma diferença marcante entre a assistência social e o assistencialismo, como se pode observar nos verbetes do dicionário Houaiss. A primeira palavra tem o sentido de uma espécie de socorro, auxílio. A segunda palavra é seu pejorativo, ela focaliza o momento em que o socorro tem uma intenção pérfida, que é a de manter o socorrido necessitado com finalidades político-econômicas.

Apesar desta distinção gritante, a idéia de que toda assistência é um assistencialismo tornou-se vigente. Tem-se construído ao longo dos anos um preconceito imenso contra os trabalhos de auxílio empreendidos principalmente pelas instituições religiosas.

Eu já ouvi em uma reunião de estudantes a expressão “amansar o cordeiro” referindo-se às práticas assistenciais. Foi uma reunião curiosa, porque os acadêmicos “politizados” tinham medo de ter sua imagem associada a qualquer prática de auxílio, generosidade (esta sim, uma palavra mais aceita), socorro, apoio. Como se a omissão de socorro pudesse ser capaz de criar consciência social, pudesse mobilizar as pessoas a construir uma sociedade melhor, tivesse um valor em si.


Há mais de vinte cinco anos participo ativamente do movimento espírita, e tenho visto em poucos momentos a prática de assistencialismo, em muitos a prática de assistência. Os resultados são modestos (assim como os recursos que se consegue para obtê-los) mas atingem muitas vezes seu tímido papel transformador, ao contrário de muitas políticas de estado (que contam com grandes recursos e esparsos resultados).