23.3.21

FELIPE ESTABILE: MAIS UM TRABALHADOR ESPÍRITA LEVADO PELA COVID 19

 



No último sábado, na aula à distância de evangelização infantil (educação espírita) o grupo foi fazer uma prece de abertura. Alunos de 11 e 12 anos, uma aluna pediu que dirigissem seus pensamentos a um amigo de seus pais que estava internado com Covid 19 e grave: Felipe Estabile.

Assim ficamos sabendo, poucas horas antes da desencarnação, da luta do amigo contra a enfermidade. Obtivemos mais informações e acompanhamos em nossa rede de relacionamentos as notícias do estado de saúde, até a desencarnação, no meio da tarde de sábado, 20 de março.

A União Espírita Mineira assim o descreve em nota: “Natural de Niterói/RJ, espírita desde o berço, veio para Belo Horizonte ainda criança. No Movimento Espírita ficou conhecido pelas atividades no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, e atuação na Unificação pela União Espírita Mineira.”

Eu conheci o Felipe e a sua futura esposa, a Regina, na primeira Confraternização de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte – COMEBH, em 1983. Felipe era o coordenador da Comissão de Secretaria, responsável por toda a papelada que envolvia o evento para cerca de 100 jovens. 

Foto de Participantes da Primeira Comebh - Onde está Felipe?

O Felipe era a encarnação da tranquilidade. Fala mansa mas imensamente dedicado ao que fazia. Na época, ele frequentava o Grupo Scheilla. A COMEBH foi muito importante para o movimento espírita mineiro, porque estabelecemos laços de simpatia com frequentadores de um sem número de casas espíritas, da capital e, depois, do interior. Muitos dos participantes dos anos 80 são hoje lideranças ou mesmo fundadores de novas sociedades espíritas e nosso relacionamento é muito mais fácil que seria se não nos conhecêssemos pessoalmente. Felipe participou de muitas e tornou-se coordenador geral da 9ª COMEBH.



Felipe no papel de Chico Xavier, em uma das peças teatrais da COMEBH

Posteriormente, Felipe e Regina se ligaram à Confraternização da Família Espírita de Minas Gerais, encontro durante o período de carnaval em que participavam também as crianças.

Onde está o Felipe?

No LinkedIn de Felipe se vê o seu percurso profissional, no qual se encontra o concurso como assistente administrativo da UFMG (1982-1994), sua licenciatura em História (1985), atuação como professor na Prefeitura de Belo Horizonte (1994-2003), seu trabalho como chefe de gabinete e depois assessor de relações institucionais na Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (2003-2014) e depois ocupou diversos cargos na Secretaria Municipal de Educação (2015-2019). Felipe encerrou sua carreira como professor, na minha opinião, a mais nobre de todas as suas ocupações.



Mesa de Abertura do Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - 2019

Felipe foi um dedicado trabalhador no meio espírita da capital e de Minas Gerais, como um todo. Vinte anos depois, ele apresentou trabalho e participou, em nome da União Espírita Mineira, do 3º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que aconteceu na Associação Espírita Célia Xavier. Quando o evento voltou a Belo Horizonte, em 2019, ele recebeu em nome da União Espírita Mineira, a homenagem que a rede de pesquisadores espíritas lhe fez, por nos receber em suas dependências.

Placa concedida pela LIHPE à União Espírita Mineira - recebida pelo Felipe

Fiquei lembrando das ideias do Felipe para um mestrado em História que ele não realizou, por estar tão ocupado com o trabalho, a família e o movimento espírita. Ele queria estudar a influência do positivismo da república velha no meio espírita de então. O tempo se foi, mas a ideia fica registrada para quem possa dar-lhe sequência. 

O Carlos Malab ficou muito emocionado quando lhe dei a notícia do desenlace. Ele se lembrou da serenidade do Felipe, e depois de trocarmos lembranças disse: a Telma (Núbia Tavares) há de recebe-lo no plano espiritual. Telma foi a coordenadora, junto com o Carlos, da primeira COMEBH. Nada mais justo que dar apoio ao secretário que retorna ao “mundo invisível”, como o chamavam os espíritas franceses do século 19.


17.3.21

ESTIVE EM DOIS PROGRAMAS: RODA VIVA DO ESPIRITISMO E A FORÇA DO ESPIRITISMO

Com o desenvolvimento da internet e um "empurrãozinho" decorrente do isolamento social, muitos programas na internet referentes ao espiritismo ganharam visibilidade. Fui convidado a participar de dois: o Roda Viva do Espiritismo (de Franca - SP) e o programa A Força do Espiritismo (do espiritismo.net e apoiado pela CEERJ e vários parceiros).

No programa Roda Viva fui entrevistado pelas queridas Nadia e Cléria, criadoras da Coleção "Espiritismo na Universidade", que agora está no Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, e pela Rutineia Martins, que vem contribuindo com as pesquisas do núcleo francano de pessoas ligadas à Liga de Pesquisadores do Espiritismo.

Falamos de tudo, com muita liberdade. Os livros, os trabalhos, as traduções, política, trajetória e até "causos". O tempo passou rapidamente, de forma séria, mas bem humorada.


Link = https://www.youtube.com/watch?v=HZb_2vWnti0

O programa "A Força do Espiritismo", por sua vez, tem um de seus interesses voltado aos clássicos. Tivemos o prazer de lembrar de uma pesquisa de fontes biográficas que fizemos há muitos anos (muitos mesmo!) sobre Gabriel Delanne. O filho do casal espírita dos primeiros tempos (Alexandre e Marie Alexandrine) nos faz viajar pela França do século 19 e acompanhar os primeiros tempos da divulgação do espiritismo, seus atores, sua trajetória, e seus esforços de divulgação  e os debates que surgiram e se materializaram na revista "Le spiritisme" e na "Revue scientifique et moral du spiritisme". Muitas histórias esquecidas são o objeto desse vídeo relativamente curto.



Link = https://www.youtube.com/watch?v=BVKZFO5wutk

Foram diversas participações nos últimos meses, mas essas duas curtas inserções tiveram um tom especial. Confiram.



2.3.21

ESPIRITISMO, MISTICISMO, SENTIMENTO RELIGIOSO E POSITIVISMO: UMA RESPOSTA DE LÉON DENIS

 


Acabo de ler um artigo de Léon Denis, publicado na revista Le Spiritisme, de junho de 1889, no qual ele comenta a proposta do Sr. Marius George de criar em meio ao espiritismo um grupo positivista, que se apoiasse exclusivamente nos fatos e abandonasse tudo o que pudesse pertencer "ao domínio da hipótese".

Denis estava participando da organização de um congresso organizado pela União Espírita Francesa, e confirma ao seu correspondente que "sua forma de ver será acolhida não só pelo congresso, mas de forma permanente por todos os seus irmãos, com o respeito que é devido às convicções sinceras e esclarecidas" (p. 81)

A seguir, Marius afirma que a obra de Allan Kardec "está manchada com dogmatismo e misticismo" e que por isso guardaria pouca relação com "os gostos e aspirações" da época em que eles viviam.

Denis argumenta que Kardec agrupou e coordenou o ensino dos espíritos, de forma a lhe dar um "corpo" de doutrina. Ele afirma que isso levou o espiritismo à "idade adulta". Ele afirma que todos os que fugiram desse método, com teorias pessoais, edificaram obras efêmeras. Ele se refere a Roustaing, como exemplo, dizendo que ele merece o epíteto de místico com mais justiça.

Analisando Kardec ele cita o combate, com rigor, dos dogmas católicos em O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese. Mostra a diferença do conceito de Deus entre os católicos, e penso que também entre os deístas como Voltaire, porque fala do Deus-relojoeiro, e faz uma imagem muito interessante, que já havia percebido na leitura de O céu e o inferno, a substituição de um Deus visto como imperador do universo (cercado por seus anjos-cavaleiros), por uma "imensa república de mundos governada por leis imutáveis, acima dos quais paira a Razão, Razão consciente, que conhece a si mesma e que é dona de si, que é Deus." (p. 82)

Surpreendendo seu interlocutor, Denis afirma que a noção de Deus nos escapa (ele está discutindo com Marius George o misticismo da concepção de Deus) assim como as noções positivistas de infinito e eternidade. Em outras palavras, ele aponta uma contradição interna do positivismo: conceitos que não surgem da observação de fatos, mas da razão.

O autor espírita francês continua dizendo que Kardec entende "o sentimento religioso como uma força" que pode ser utilizada para o bem da humanidade. Ele afirma que a humanidade não tem menos necessidade do ideal que do real. 

Para ele, "o ideal é essa intuição do melhor que nos eleva acima do visível, do conhecido, do realizado, em direção de concepções e de formas mais perfeitas." (p. 82) Nessa frase, Denis mostra a seu interlocutor que uma visão exclusivamente positivista seria reducionista, defendendo certo idealismo (escola filosófica).

Outra colocação genial de Denis foi reconhecer que o sentimento religioso foi explorado por uma casta sacerdotal que produziu abusos em seu nome, mas que "fortificado pela ciência e pela Razão ele se tornará motivo de aperfeiçoamento individual e de transformação social". (p. 82)

O espírita de Tours faz um análise das religiões e mostra que sua parte exclusivamente humana e material é a "das definições, dos dogmas e de todo o aparato dos cultos e dos mistérios", da mesma forma que Kardec havia discutido em seu artigo de 1868.

Ele afirma que as experiências espíritas dão uma base sólida à crença na vida futura, retirando-a do domínio das hipóteses e situando-a no domínio dos fatos (ele estaria se referindo a uma teoria baseada em evidências, como se diz hoje?). Também afirma que "seria uma grande falta, deixar às igrejas o monopólio da ideia de Deus". 

Com uma frase contundente, Denis reafirma a insuficiência do positivismo e o valor do sentimento religioso, quando escreve: "A missão do espiritismo não é excluir o sentimento religioso do coração humano e a noção de Deus, mas sim secularizá-los, para para purificar, para elevá-los, para apoiá-los na razão, a fim de torná-lo o motivo de melhoria." (p. 83) 

O mais interessante do artigo é ver que mesmo se opondo claramente à tese da redução do espiritismo aos limites traçados pelo positivismo, Denis respeita seu interlocutor. Ele conclui seu artigo dizendo:

"Mas qualquer que seja sua opinião sobre este assunto, creia, meu amigo e irmão, que estamos de acordo em pontos suficientes para que certas diferenças de opinião não nos possam separar e que você vai me encontrar sempre disposto a caminhar de mãos dadas na conquista de destinos melhores para nós e para a humanidade." (p. 83)

Um texto muito importante para refletirmos no meio espírita, nos dias de hoje.

24.2.21

PANDEMIA E SUICÍDIO DE MULHERES NO JAPÃO


 

O jornal Estado de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre o aumento de suicídios de mulheres no Japão, durante a pandemia. Foi uma alta de 15% em 2020, com relação ao ano anterior. https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,com-pandemia-suicidio-de-mulheres-aumenta-no-japao,70003625957

As relações de trabalho no Japão vêm mudando, mas ainda espelhariam a ideia de que o salário do marido sustenta a família e o salário da mulher é exclusivamente para ela. Como resultado, é usual que o vínculo do trabalho feminino seja mais precário (meio horário, por exemplo), a remuneração menor (nos anos 90, era legal pagar menos para uma mulher que para um homem que ocupasse o mesmo cargo) e as mulheres ocupam postos de trabalho mais precários que os homens. Em outras palavras, as relações de trabalho no Japão espelhavam uma sociedade na qual a mulher adulta era criada para o casamento.

Outra característica que estudamos na nossa dissertação de mestrado é o papel exacerbado da vergonha da cultura japonesa. Não corresponder às expectativas, pode gerar muito sofrimento no Japão. Vez por outra vemos notícias de autoridades japonesas descobertas praticando corrupção, seguido de autoextermínio. 

Mais uma característica do povo japonês destacado pelo autor da matéria é o estoicismo, ou seja, o enfrentamento das dificuldades com tentativa de imperturbabilidade e uma aceitação resignada do que é visto como destino. Como consequência, os quadros de transtorno mental, sem tratamento, se agravam.

Uma última característica cultural que complica ainda mais a situação: "infelizmente a tendência atual é culpar a vítima", afirma uma professora de ciência política, Michiko Ueda.

Some-se a essa cultura os problemas da pandemia. Com o isolamento social, muitos negócios demitiram ou fecharam, e as mulheres sofreram mais o desemprego, seja porque tinham vínculos mais frágeis de trabalho (trabalho temporário ou de meio horário), seja porque trabalhavam em segmentos da economia muito atingidos, "como restaurantes, bares e hotéis". 

Algumas mulheres ficaram, então, sozinhas em casa, como mostram no artigo. Solidão, culpa, desesperança juntos, além de uma concepção de suicídio como saída honrosa, estão todos associados ao aumento do suicídio feminino na pandemia.

Por que estou escrevendo sobre o suicídio feminino no Japão em um blog sobre espiritismo? Inicialmente porque podemos orar por elas. Aprendemos com Yvonne Pereira a importância da prece para o suicida. 

Outra razão, é refletirmos sobre as pessoas que estão sozinhas e especialmente muitos espíritas que adotam uma posição estóica e não aceitam ajuda psicológica e psiquiátrica, acreditando, ingenuamente, que bastam os recursos do centro espírita para lidar com o sofrimento psíquico. Os passes e as reuniões são realmente úteis, assim como a relação de proximidade que nós espíritas estabelecemos entre nós, mas, na pandemia, e os centros espíritas respeitando as políticas de isolamento social, muitos desses recursos não ficaram acessíveis, principalmente aos grupos de risco.

Precisamos, então, usar dos recursos à distância nas casas espíritas, como muitas têm feito, e incentivar as pessoas a buscaram auxílio psicológico ou psiquiátrico quando começam a apresentar a ideação suicida (imaginar como suicidarem-se) e queixarem de não "dar conta" do peso dos conflitos em casa ou da solidão. O acolhimento fraterno das casas espíritas pode ser realizado por telefone, por exemplo. A prece direcionada às pessoas em sofrimento também pode ser feita. As reuniões mediúnicas, como já o dissemos antes, mesmo que reduzidas a encontro, prece, estudo e irradiação, empregando aplicativos, podem ser mantidas. Palestras ao vivo ("lives") com participação dos que assistem, mesmo que apenas através dos "chats", são um recurso importante contra a rotina e a solidão.

Faço um apelo para que os espíritas japoneses pensem em alguma forma de auxiliar os que se encontram sozinhos, presos em casa, em seu país. Muito pouco pode fazer a diferença entre suicídio e sobrevivência.

Precisamos também aceitar que somos frágeis, não somos "completistas", nem superiores aos nossos irmãos que apresentam outras crenças, e que podemos necessitar de "ajuda psi" para lidar com situações que nos tiram de nossa "zona de conforto" 

Meditemos sobre o que está ao nosso alcance e o que podemos fazer, além de aceitar nossas fragilidades e jamais evitar buscar ajuda profissional ou não quando necessário.

15.2.21

MEDIUNIDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS

 

Figura 1: Windbridge Research Center é o nome do grupo dirigido por Beischel que faz pesquisas profissionais sobre mediunidade.

Hoje uma amiga psicóloga me perguntou sobre a relação entre mediunidade e psicologia. Lembrei de imediato das pesquisas de Julie Beischel. No livro “Among Mediuns”, ela publicou resultados de pesquisas com médiuns norte-americanos. No capítulo 5 ela apresenta resultados de estudos sobre como se dá o fenômeno mediúnico. Como ela deseja fazer pesquisa empírica (e não empiricista, ou sem teoria) ela aplica testes psicológicos nos médiuns em estudo.

Um teste muito conhecido nos Estados Unidos é o Myer-Briggs Type Indicator. Ele tem por base a teoria junguiana de tipos psicológicos. Após a aplicação o sujeito estudado é analisado a partir de quatro dicotomias:

1. Extraversão/Introversão (E/I) (ou  ele é extrovertido ou introvertido)

2. Que usa principalmente os sentidos / Que usa principalmente a intuição (S/N)

3. Que principalmente pensa / que principalmente usa os sentimentos (T/F)

4. Que emite julgamentos / que percebe o outro (sem julgar) (J/P)

Depois disso, segundo Beischel, se classifica o sujeito em um de 16 tipos:

1. ESTJ (extravertido, que usa os sentidos, que pensa e julga)

2. INFP (introvertido, que usa a intuição, que sente e que percebe)

E segue-se alternando as dicotomias até formar as 16 possíveis. Cada sujeito teria quatro características preferenciais.

Resultados Encontrados

1. 83% dos médiuns estudados foram categorizados como intuitivos (N) e que usa sentimentos (F). (apenas 16% da população norte-americana tem esse perfil).

2. Ela apelidou os médiuns de NFs

3. Os grupos profissionais com grande incidência de NFs nos Estados Unidos são: clérigos (55%) e professores de arte, teatro e música (54%)

4. Os profissionais que apresentam menor número de NFs são: policiais e investigadores (4% de NFs)

5. Ela entende que talvez isso explique o mau relacionamento entre forças armadas e policiais com os médiuns. “Os dois grupos simplesmente interagem psicologicamente com o mundo externo de formas inteiramente diferentes”. (isso nos leva a crer que os militares e policiais são predominantemente STs ou seja usam os sentidos e pensam, principalmente).

Infelizmente, ela não apresenta mais informações no seu livro. 

Você é médium? Quais seriam suas classificações nas quatro dicotomias?


Beischel, Julie. Among Mediuns: a scientist's quest for answers. Tucson-AZ: The Windbridge Institute, 2013.  (Acessível via Kindle)

2.2.21

QUANDO ACONTECEU O PRIMEIRO ENCONTRO DA LIGA DE HISTORIADORES E PESQUISADORES ESPÍRITAS (ENLIHPE)?

 

Eduardo Carvalho Monteiro

Sempre me fazem a seguinte pergunta: Quando aconteceu o primeiro Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo?

O que foi considerado “1º Enlihpe”, na verdade foi uma mesa realizada no primeiro Congresso Espírita Brasileiro, realizado em Goiânia nos dias 1 a 3 de outubro de 1999.

A mesa se chamava “Pesquisas históricas no movimento espírita”, e foi coordenada por Eduardo Carvalho Monteiro.

Ela teve como expositores do tema “Metodologia para pesquisas históricas: organização e conservação de dados históricos nas instituições espíritas” Washington Luiz Nogueira Fernandes e Luciano Klein Filho. O tema Memória do movimento espírita e valorização de vultos espíritas” foi apresentado por Geraldo Campetti Sobrinho. Por fim, foi realizado um intercâmbio de experiências, discussões e pesquisas. (Fonte: Reformador, agosto 1999, p. 25)

Como se pode ver, a Liga de Pesquisadores do Espiritismo tem por origem a preservação da história e da memória, sob a direção consequente do Eduardo. Foi posteriormente que se abriu para outras áreas do conhecimento, deixando de ser Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas e se tornando Liga de Pesquisadores do Espiritismo, mas isso é história para outra publicação.

26.1.21

REUNIÕES MEDIÚNICAS À DISTÂNCIA: PSICOGRAFAR OU NÃO?

 

Chico Xavier psicografava na casa de Rômulo Joviano, às quartas-feiras, nos anos 1930 e posteriores


Com a pandemia e as políticas de isolamento social vieram novos desafios para as sociedades espíritas. O desafio central é: como funcionar com os cuidados para que não haja contágio? Uma das formas de adaptação que mais se desenvolveu foram as reuniões através da internet, nas quais cada um se mantém em sua residência, mas consegue interagir com os demais.

Talvez o maior desafio tenha sido as reuniões mediúnicas. Há muitos anos, no Brasil, os grupos deixaram de ser familiares, criaram “centros espíritas” ou “sedes de sociedades espíritas” para seu funcionamento e vêm praticando a mediunidade de forma coletiva (em grupos) nos centros espíritas. Obviamente, isso não acontecia em épocas e em países onde não há uma rede de centros espíritas. 

Em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo XVII da segunda parte (Da formação dos médiuns), Kardec sugere à pessoa que esteja desenvolvendo a psicografia, que o faça em solidão, silêncio e afastamento de tudo o que possa ser causa de distração. E sugere que renove “todos os dias” a tentativa, por dez minutos ou um quarto de hora, por meses. Em outras palavras, ele recomenda que os que desejam verificar se têm a capacidade da psicografia que façam esse exercício de forma particular, se necessário em casa. (segunda parte, capítulo XVII, §204)

Isso não significa que Kardec não observasse vantagens no trabalho mediúnico em grupo ou equipe. Ao falar da reunião de pessoas com o objetivo de desenvolver a mediunidade, ele argumenta que ao se reunir com um intento comum, os membros “formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontram acrescidas por uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade.” (segunda parte, capítulo XVII, §207)

Na história do espiritismo brasileiro, podemos registrar a existência de reuniões familiares nas quais um médium psicógrafo permitia a comunicação de um espírito familiar ou um espírito superior. Talvez, o maior registro impresso que tenhamos na atualidade, seja o livro “Sementeira de Luz”, todo psicografado por Chico Xavier nas reuniões de evangelho no lar da residência dos Joviano. Wanda Amorim Joviano guardou as mensagens que foram psicografadas na casa de seu pai desde os anos 1930, semanalmente, às quartas-feiras. Trata-se de um livro de 669 páginas, em sua grande maioria ditadas por Arthur Joviano, avô de Wanda, já desencarnado. 

Divaldo Franco, no livro “Diretrizes de Segurança” (questão 47), que foi fruto de um simpósio realizado em Belo Horizonte em conjunto com Raul Teixeira, desaconselha a prática mediúnica como hábito em reuniões domiciliares, mas “não impede que, excepcionalmente, ocorra o fenômeno com a anuência de um médium sob a inspiração dos bons espíritos”. Em outras palavras,  ele limita essa prática, mas não a proíbe. Na questão 48, ele recomenda de forma contundente que se realizem as reuniões mediúnicas nos centros espíritas, comparando-o a um centro cirúrgico e perguntando de forma retórica: “Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo, fazendo reuniões mediúnicas noutro lugar, se ele é o determinado para tal?”

Considerando todas essas informações, entendemos que no momento, e não sabemos até quando, a reunião mediúnica presencial nos centros espíritas se encontra interditada por razão de saúde pública, mas isso não significa que não possamos psicografar, durante as reuniões que se fazem através da internet, na qual se encontra reunido o grupo, comunicações de espíritos orientadores ou familiares. Em nossa experiência, a maioria dos médiuns psicógrafos dos centros que conhecemos é intuitivo, não havendo automatismos. Não vemos consequências mais graves para esse conjunto de fatores: médium intuitivo psicografando espíritos familiares ou superiores, em encontro à distância com os demais membros de reunião mediúnica. Neste caso, a interrupção pelo médium de uma comunicação importuna ou inadequada é fácil e voluntária não havendo outros inconvenientes.

Com esses cuidados, é aceitável que se mantenha a prática da psicografia de espíritos benfeitores ou familiares nas reuniões mediúnicas à distância, além das preces, dos estudos e das chamadas “irradiações”, que não são senão uma prece dirigida a um ou mais beneficiários. Temos obtido bons resultados em nosso grupo, sem incidentes dignos de registro até o momento.

24.1.21

DELANNE FALA DE KARDEC APÓS ANALISAR NOVOS FENÔMENOS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

 

Gabriel Delanne

“Rendamos justiça ao espírito eminente de Allan Kardec, que nos tem instruído, que nos tem indicado a boa direção, mostrando, com uma segurança maravilhosa, o caminho que nós devemos seguir. Nosso dever é o de render homenagens para este iniciador e, ao passar pelo crivo da razão e da experiência seus ensinos, saibamos lhe pagar o justo tributo de admiração que lhe é de direito, e reconhecer que ele tem o seu lugar no panteão dos benfeitores da humanidade.”

Gabriel Delanne, Revista Científica e Moral do Espiritismo, 1896, p. 209 e 210. 

Homenagem escrita após o término do artigo “Os raios X e a dupla vista dos sonâmbulos e dos médiuns, na referida revista.


14.1.21

PRINCÍPIOS DO ESPIRITISMO



Ainda na entrevista da PUC Minas, a entrevistadora perguntou:  Quais são os princípios do espiritismo? 

O espiritismo baseia-se na existência e sobrevivência da alma, cujas manifestações se dão através de uma faculdade denominada mediunidade, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados (não apenas na Terra reencarnam espíritos) e na existência de Deus, com base no axioma “um efeito inteligente (ser humano) há de ter uma causa inteligente”.



Traduzimos da New World Encyclopedia, o seguinte verbete: https://www.newworldencyclopedia.org/

"Princípio em filosofia e matemática significa um pressuposto ou lei fundamental. A palavra "princípio" é derivada do latim "principium" (começo), traduzida por Cícero do grego "arché" (ἀρχή); o começo, o primeiro princípio. 

Um princípio é fundamental, no sentido que ele geralmente não pode ser derivado de outros."

"Principle in philosophy and mathematics means a fundamental law or assumption. The word "principle" is derived from Latin "principium" (beginning), translated by Cicero from Greek "arche" (ἀρχή; the beginning, the first principle).

A principle is fundamental in the sense that it generally cannot be derived from others... "

A questão proposta pela Rosângela, da PUC, não tem uma resposta exata. Algumas das ideias espíritas são propostas pelos espíritos e analisadas racionalmente pelos espíritas, a começar de Allan Kardec. Dada a complexidade do espiritismo, sempre é possível analisar suas ideias centrais buscando seus princípios ou pressupostos, e o analista pode chegar a diferentes propostas ou conjuntos de princípios. 

Reduzindo o conceito de princípio ao de pressuposto, a existência de Deus, por exemplo, se fundamenta no axioma de que "um efeito inteligente tem uma causa inteligente", que foi inscrita no túmulo de Allan Kardec no cemitério Père Lachaise. Em outras palavras, o espiritismo fundamenta a ideia de Deus em um princípio racional, e não em uma afirmação que o crente deve aceitar independente da razão.

11.1.21

CARTA DE HERMÍNIO C. MIRANDA À LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO - LIHPE

Hermínio C. Miranda


Agora há pouco o amigo Pedro Nakano pediu que eu recuperasse a carta escrita por Hermínio C. Miranda à Liga de Pesquisadores do Espíritismo, por época de seu 7º encontro nacional. O tempo é pródigo em enevoar as memórias, e quando finalmente consegui, no portal "Espiritualidade e Sociedade" não consegui não reler o documento.

Ele foi obtido pela amiga e trabalhadora de sempre, a Dra Nadia Luz Lima, que teve contato mais próximo do "escriba" quando utilizou alguns de seus conceitos, como o de "simetrias históricas", em sua tese de doutoramento em história.

São curiosos a modéstia e o afeto do escritor pela proposta do Enlihpe. Como estamos em época de "chamada de trabalhos" para o 16º encontro, após um ano sem evento, devido à pandemia, gostaria de relembrar aos leitores do Espiritismo Comentado essa mensagem curiosa, de coração para corações.

Jáder Sampaio


Aos estudantes e participantes do 7º Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo


Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:

Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certo modo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minha cardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria eu administrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês?

Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo isto ao me lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menos assim: “Difícil é aquilo que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é que demora um pouco mais.”

As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumas impossibilidades pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, que misteriosamente desmaterializavam-se e me deixavam passar.

Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor!

Somente agora estou percebendo que os “impossíveis” começaram a acontecer, depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de 1957.

De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que a gente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo do estrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhos do materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica, avançamos consideravelmente nas badaladas e

sofisticadas conquistas tecnológicas. Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais do que isso, muito mais. E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitas do espaço imenso.

Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --os modelos políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Não apenas podemos, mas devemos mudá-los.Temos de mudá-los.

Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos e no qual, viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizado foro de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somos meros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes, sobreviventes e reencarnantes.

Convém lembrar, ainda, que, ao separar didaticamente o território das coisas materiais, do espaço reservado às imateriais, Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenas chamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigem abordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que se disponha honestamente a aprender com os fatos.

Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentes metafísicos da vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atenção de intelectuais que se prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada que nos ouça e ajude a retirar o estigma que pesa sobre realidade espiritual. O resto virá por acréscimo.

Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer por nós, mas ao que podemos fazer pelo mundo.

Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se não sonharmos, como é que nossos sonhos vão se realizar?

Eis o singelo recado do velho escriba.

Hermínio C. Miranda

Agosto de 2011

1.1.21

TRANSIÇÃO: UMA VISÃO RACIONAL



Há alguns meses fui convidado pela direção da reunião pública da Associação Espírita Célia Xavier para dialogar com o público sobre o tema “Papel do espírita em uma sociedade em transição”. Nesse trabalho, preparado originalmente para um encontro no C.E. Thiago Maior, também de Belo Horizonte, recuperamos o pensamento de Allan Kardec nos capítulos 16, 17 e 18 de “A Gênese, os milagres e as predições” de Allan Kardec.

A análise de Kardec sobre as predições é que elas não são uma espécie de “filme do futuro”, em que o “profeta” ou “médium” vê como se fosse um cinema o que vai acontecer. Ele associa a teoria da presciência a um agrônomo, por exemplo, que conhece o tempo da floração e do surgimento dos frutos de uma determinada plantação. Ele sabe quando deve acontecer, mas não é capaz de prever incidentes inesperados, como uma chuva de granizo que impeça o surgimento das flores e dos frutos. Quanto maior o conhecimento de um espírito, maior a capacidade dele falar de coisas que virão, embora não possa prever as escolhas das pessoas 

Isso é muito importante para entendermos a visão de transformação e de transição no pensamento de Allan Kardec. Ele faz uma interpretação do discurso apocalíptico de Jesus, o chamado Sermão Profético, como contendo descrições fortes para sensibilizar um povo com mentalidade rude. As guerras, os cataclismos e outras coisas descritas no sermão seriam apenas símbolos de conflitos de valores e de princípios que deveriam ser compartilhados no mundo, no futuro. Jesus defende uma sociedade regida pela fraternidade e solidariedade, ou seja, um mundo no qual todas as pessoas se tratam como merecedoras de respeito e que compartilham o mesmo status de sujeitos de direito, ou seja, como se diz, são iguais diante da lei (dos homens e de Deus).

Kardec chama a nossa atenção para o progresso material e moral do mundo. Reafirma que o progresso material, que tem por base o desenvolvimento do conhecimento, antecede o progresso moral. As transições podem ser lentas e graduais ou bruscas. Ele também diz que algumas partes do mundo podem avançar mais rapidamente que outras. 

O que se conclui é que a transição defendida por Allan Kardec não é a espera de um momento mágico a partir do qual se declara que o mundo deixou de ser de expiações e provas e se tornou um mundo de regeneração. Não é uma data. Não é uma declaração de entidade espiritual. É um processo de transformação das pessoas e das sociedades, uma mudança de mentalidades que gera transformações nas leis e na forma que vivemos.


21.12.20

O 16º ENLIHPE SERÁ EM SÃO PAULO, EM 2021 - CHAMADA DE TRABALHOS


 

16º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO

Tema central: 160 anos de O Livro dos Médiuns
28 e 29 de agosto de 2021
São Paulo - SP


CHAMADA DE TRABALHOS

Apresentação

O Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (ENLIHPE) é um espaço privilegiado no contexto brasileiro para apresentação e discussão de propostas e trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita. O sucesso alcançado nos anos anteriores tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos.

Um dos diferenciais do ENLIHPE é o seu formato, o qual incentiva a formação de redes de pesquisa e promove a aproximação de estudiosos de diferentes áreas do conhecimento.

Instruções aos autores

A data final para submissão de trabalhos é 30 de abril de 2021. A confirmação do recebimento e o parecer da Comissão Científica sobre o artigo serão enviados eletronicamente ao email do remetente.

A avaliação será feita utilizando-se o sistema Double Blind Review, no qual o trabalho é avaliado anonimamente por 2 por membros da Comissão Científica do encontro.

Os trabalhos devem ser, prioritariamente, relacionados à temática central do evento, em forma de artigo científico, conforme procedimentos definidos a seguir:

Artigo científico

•O artigo deverá ser gravado em 2 arquivos:

ARQUIVO 1 – contendo o nome do(s) autor(es), o título do trabalho e o resumo;
ARQUIVO 2 – contendo o título e o texto integral do artigo sem qualquer identificação de autoria.

Submissões de trabalhos

Por e-mail, envie os arquivos 1 e 2 na mesma mensagem para: submissao@lihpe.net

Formato do Trabalho:

Editor de textos: Word 97 ou Posterior
Número máximo de páginas: 15 (quinze)
Configuração das páginas
Margens: superior 3cm; inferior 2 cm; esquerda 3cm; direita 2 cm.
Tamanho do papel: A4 (largura 21 cm; altura 29,7 cm)
Fonte: Times New Roman, tamanho 12
Formato do parágrafo: Recuo especial: primeira linha 1,25 cm
Espaçamento entre linhas: simples.
Figuras, tabelas e gráficos: Fonte Times New Roman, tamanho 8 a 12
Resumo: Mínimo de 1150 caracteres (aproximadamente 10 linhas), máximo de 1750 caracteres (aproximadamente 15 linhas)

Revisão ortográfica a cargo dos autores

Informações adicionais: Envie uma mensagem para 16enlihpe@lihpe.net

Local do evento: União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – USE-SP. Rua Dr. Gabriel Piza, 433, São Paulo/SP



20.12.20

FREDERICO JÚNIOR, BEZERRA DE MENEZES E YVONNE PEREIRA

Foto: Frederico Júnior

Terminamos no ano passado a leitura do livro “A Tragédia de Santa Maria”, escrito por Yvonne Pereira e ditado por Bezerra de Menezes à médium. Uma coisa interessante foi a inserção do médium Frederico Pereira da Silva Júnior na trama.

A principal fonte que temos da vida do médium Frederico Pereira da Silva Júnior são os textos de Pedro Richard em Reformador, escritos em 1914, ano de sua desencarnação. Há muitos outros na revista Reformador, mas as informações são todas baseadas na narrativa de Richard.

Frederico nasceu em 1857, o ano do lançamento de “O Livro dos Espíritos” por Allan Kardec. Como Yvonne, tinha poucos estudos. Ainda jovem foi à “Sociedade Deus, Cristo e Caridade” conhecer o espiritismo no Rio de Janeiro e descobriu que era médium em 1878. Ele desejava notícias de um amigo desencarnado.

Pelo que diz Richard, Frederico tinha uma mediunidade composta de faculdades diversificadas. No texto de Bezerra, ditado a Yvonne, Frederico Júnior participa como médium de efeitos físicos, possibilitando a materialização de Esmeralda, já desencarnada, para Barbedo, seu pai inconsolável.

Como a grande maioria dos espíritas daquela época, Frederico Júnior deve ter sido conhecedor de Roustaing, que estudou com Bittencourt Sampaio , uma das expressivas lideranças espíritas da época. Sampaio, Frederico e outros romperam com a Sociedade Acadêmica “Deus, Cristo e Caridade” e fundaram a “Sociedade Espírita Fraternidade”.



Foto: Bittencourt Sampaio

Após a desencarnação de Bittencourt Sampaio, Frederico Júnior passou a psicografá-lo. Sua obra  tratava dos evangelhos com a influência dos livros psicografados por Madame Colignon: Os quatro evangelhos. Com tempo, a crítica a algumas de suas ideias mais polêmicas e contraditórias ao pensamento de Kardec, fez com que os livros psicografados por Roustaing fossem criticados no Brasil por espíritas estudiosos, como Herculano Pires. Hoje são objeto de estudo por poucos espiritas no Brasil, e por analistas com interesse histórico.

Bezerra, contudo, através da mediunidade de Yvonne Pereira, mostra a importância da mediunidade de Frederico Júnior para sua época e não poupa elogios.

“... existia na capital do país um médium portador de peregrinas qualidades morais e vastos cabedais psíquicos, que dele faziam, sem contestação possível, um dos mais preciosos intérpretes da Revelação Espírita no mundo inteiro, em todos os tempos.” 

Bezerra descreve o encontro do médium com o médico-fazendeiro da seguinte forma:

“Subitamente, o precioso veículo mediúnico, a quem eu tivera o cuidado de não informar do assunto a ser tratado na reunião, tornou-se como que espiritual, extático, olhos dilatados como em desdobramento, e exclamou, a voz transtornada grave como longínqua:”

Pedro Richard, ao tratar do desenvolvimento das faculdades do médium, afirma:

“De dez anos para cá, nova faculdade mediúnica se desenvolveu em Frederico Júnior: a mediunidade estática.”[1]  (p. 301)

Ele explica que era “difícil saber quando ele falava e quando era um espírito” que por ele se comunicava. Na introdução do livro “Jesus perante a cristandade”, Pedro Sayão o classifica como médium sonambúlico.



Foto: Pedro Richard

A descrição que Bezerra de Menezes faz da comunicação de Esmeralda, filha do consulente, é impressionante. Inicialmente o médium a descreve com um ramo de flor de laranjeira, símbolo das noivas à época. 

“Logo após vimos, respeitosos, algo chocados e muito enternecidos, que, na penumbra que se estabelecera, a mão de Esmeralda, reconhecida por seu próprio pai, como também por mim, oscilou gentilmente sobre a mesa, acariciando as cãs prematuras que ornavam a cabeça do antigo senhor de escravos, para, em seguida, dominar com graça e singeleza, a destra rude de Frederico, fazendo-a escrever ligeiramente...” (p. 226-227)

Essa é uma informação importante, porque não encontrei no texto de Richard ou nos demais nenhuma menção à faculdade de efeitos físicos de Frederico Júnior, mas sabemos que à época nos anos 80 e 90 do século 19, esse tipo de mediunidade era praticada e estudada no mundo ocidental.

O próprio Bezerra assina no final de “Jesus perante a cristandade”, junto com seus colegas de reunião mediúnica o texto “Últimas palavras”, no qual se tornam testemunhas da origem mediúnica do texto e da semelhança impressionante de estilo com o do falecido Bittencourt Sampaio. Alguns dos colegas foram esquecidos pela história, até mesmo pela história do espiritismo, mas alguns ainda chegam aos nossos dias, como Antônio Luiz Sayão e Pedro Richard, além do “médico dos pobres”. Esse livro foi publicado em 1898, dois anos antes da desencarnação de Bezerra. O que entendi é que o livro é fruto de psicofonia, e foi organizado e publicado por Pedro Luiz de Oliveira Sayão, a pedido de Bittencourt Sampaio, espírito. Não tenho como ter certeza.


[1] Kardec não usa as expressões mediunidade estática ou médium estático, mas trata do êxtase como uma forma de emancipação da alma, e uma forma de percepção do mundo espiritual. Ele assim diz no livro “Instruções práticas das manifestações espíritas”: ÊXTASE – do. gr. ekstasis, transbordamento do Espírito, do verbo existemi, ferir a admiração. Paroxismo da emancipação da alma durante a vida corpórea, de onde resulta a suspensão momentânea das faculdades perceptivas e sensitivas dos órgãos. Em tal estado a alma não se prende mais ao corpo senão por frágeis laços, que procura romper; pertence mais ao mundo dos Espíritos, que entrevê, do que ao mundo material. No mesmo livro ele coloca na categoria de médiuns inspirados, os que recebem, em estado normal ou em êxtase, pelo pensamento, comunicações ocultas, estranhas às suas ideias.


18.12.20

PAULO SÉRGIO DESENCARNA EM NITERÓI.

 



Foto: Paulo Sérgio 

 

Acordei hoje com a sensação de que faltava algo, e que não poderia ser reposto, dentro do coração.

Conheci o Paulo Sérgio no Célia Xavier. Era o dia do 3º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, em Belo Horizonte. 2004! Ele chegou pela manhã com uma quantidade enorme de banners sobre a história do espiritismo. Pediu para colocar no local, e como não tínhamos suportes para banner, ele trocou de roupa, colocou sua “roupa de trabalho”, que era uma bermuda, uma camiseta e um par de havaianas e começou a decorar o ambiente da casa.

Daí a uns momentos, ele me perguntou:

- Aqui pode se usar bermuda?

Eu respondi:

- Não é usual, mas fique à vontade. Não se preocupe.

Quando o presidente da casa chegou, ele ficou encantado! Depois ele acertou com o Paulo Sérgio de deixar os banners por uma semana no Célia Xavier e enviar depois, para que todos da casa pudessem ver.

Paulo Sérgio falava com uma imensa naturalidade, fora a empolgação de contar com detalhes seu empenho na aproximação entre espíritas lioneses e brasileiros. Fotos de reuniões dos espíritas europeus que ele participara. Até do filho político ele falou, para nossa surpresa, em sua participação no Enlihpe. O Paulo era a encarnação do entusiasmo.

Anos depois eu trabalhei com o Paulo Sérgio no Encontro França-Brasil, no Rio de Janeiro. Ele fez contato com os espíritas franceses e europeus. Acho que o Paulo acreditava no que chamamos de “corpo a corpo”, na proximidade pessoal como forma de unificação. Ele, o Alexandre Rocha e a Nadja Couto Valle não mediam esforços para fazer um encontro que ficasse à altura do espiritismo. Como entrei na comissão organizadora tardiamente, vi todos os esforços que ele fez para trazer e receber bem os espíritas franceses e os brasileiros. O evento, para ele, fechava um ciclo. A cidade de Niterói se tornava cidade-irmã de Lyon, e dois monumentos foram erguidos em homenagem a Kardec: um em Lyon e um em Niterói, em cuja inauguração não me foi possível estar presente por causa das limitações que a hemodiálise nos impõe. Demorei a chegar na abertura, em função de um problema nos voos e o trânsito do Rio de Janeiro na sexta à noite, mas assisti com alegria o Pedro Nakano representar a Liga de Pesquisadores do Espiritismo – LIHPE, na mesa de abertura.

Conseguimos trazer, não sem muito trabalho, uma equipe muito representativa de interessados na história do espiritismo de diversos lugares do Brasil e da Europa. Os telefonemas de Paulo Sérgio, ao mesmo tempo empolgado e zeloso, duravam 50 minutos, no afã de nos informar de cada detalhe para que pudéssemos tomar as melhores decisões nas reuniões da comissão organizadora.

No intervalo, no “olho do furacão” que foi organizar um evento no auditório maior da UERJ, para pelo menos 400 pessoas, ele me procurou para me passar uma lembrança. Trouxe uma coruja de metal da Grécia, atencioso. A coruja é o símbolo da LIHPE. Eu agradeci, meio sem graça, porque estava de mãos vazias.


Foto 2: Coruja da Grécia


Passou o evento, e a LIHPE estava mais próxima do Paulo e do Rio de Janeiro. Também pudemos trabalhar juntos com o Marcelo Gulão e com o Alexander. Os fios eram tecidos, e nos intervalos, ficamos conhecendo os franceses e os “franco-brasileiros” que trabalham pelo espiritismo na Europa. Uma cultura muito diferente da nossa no Brasil, mas uma identidade profunda, do coração, baseada no interesse legítima pelo espiritismo e pelas pessoas que trabalharam por ele. O Paulo, mais uma vez, conseguiu reduzir distâncias, nos colocando próximos, uns aos outros, e acreditando que nossas semelhanças falariam mais alto que nossas diferenças.

Nos preocupávamos com a forma apaixonada que ele se dedicava ao espiritismo. Ele levava às últimas instâncias a afirmação dos espíritos em “O Livro dos Espíritos” que diz que o limite do trabalho era o limite das forças. Nosso amigo comum, o médico português Paulo Mourinha, passando uns dias com o Paulo Sérgio, o viu cochilar na direção e se colocou à disposição para dirigir enquanto ele cochilava seguro no banco do “carona” do seu próprio carro. Eu cheguei a conversar sobre isso com os familiares, na condição de profissional de saúde e amigo, preocupado com os exageros do Paulo. O filho sorriu do lado de lá do telefone, e me explicou que eles sabiam de tudo. Ficou imp lícito que o Paulo era “difícil de parar”, que não adiantava conversar ou advertir, ele faria as coisas “do jeito dele”.

Eu cheguei ao Enlihpe de Fortaleza, no Ceará, um pouco atrasado pela perda de um voo, e quem estava lá? O Paulo Sérgio. Ele participou de todo o evento, com a alegria de sempre, assentou conosco na reunião administrativa da LIHPE e espontaneamente auxiliou o secretário na redação da ata. Era o jeito dele, desejava contribuir, auxiliar, participar. Conversando com Júlia e Pedro Nakano, fiquei sabendo da visita dele ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo. A foto tradicional na fachada com os amigos de São Paulo documenta a iniciativa.

Eu ainda conversaria com o Paulo por duas vezes. Ele organizava um evento em Niterói e desejava a presença da LIHPE. Já era a época da pandemia, essa ceifadora de corpos. Eu não poderia atender ao convite dele, e indiquei o amigo comum, Pedro Nakano. Conversei sobre o livro que estava lendo acerca dos mártires de Lyon, e ele queria marcar uma palestra o mais rápido possível. Como bom mineiro, pedi a ele que esperasse o final da leitura, que não aconteceu até o momento porque fui atropelado por outros encargos. Ele me deu notícias do Luiz Carlos Veiga, amigo comum desencarnado há anos, agora registrado pelos “radares mediúnicos” dos companheiros espíritas do estado do Rio de Janeiro.

Depois não falaria mais pessoalmente com o amigo de Niterói. Recebi pelo Alexandre Rocha a notícia da internação em decorrência da COVID. Já estava em tratamento intensivo. Eu realmente me preocupei, e na tentativa de ajudar de alguma forma, divulgamos a condição médica do Paulo no último programa “Esquina do Célia” e nosso presidente, o Humberto Cerqueira, pediu aos telespectadores e ouvintes que se unissem em prece por ele. Pedro Nakano me enviou há poucos dias os esforços dos espíritas de Niterói, que mentalizavam sua melhora e lhe davam forças para continuar a luta contra a doença insidiosa.

Ontem recebi a notícia pelo Pedro Nakano da desencarnação do Paulo. Avisei os amigos comuns. Hoje recebi um texto belíssimo e pessoal do Alexandre, se lembrando do “mais próximo da onipresença” que conhecemos, e recebi um agradecimento da família pelo facebook. Paulo Sérgio nos antecedeu na grande viagem. O Gepar perdeu um grande dirigente espírita e ganhou uma nova presença espiritual. Eu imagino que passado o período de perturbação, nem bem recuperado ele esteja, já estará em busca de trabalho, dos amigos, bem como querendo se enturmar com os espíritas de lá e com os que contribuem com o movimento espírita de Niterói, bem como com os trabalhadores do plano espiritual do Gepar, seu trabalho do coração.

Sei que a vida continua, mas aprendi com o Freud que não devemos recalcar nossos sentimentos. Eu me sinto triste, como se tivesse perdido alguém da família, que aprendemos a estimar com a convivência e a aceitar a personalidade marcante e dedicada, as ideias e projetos audaciosos que ele conseguia materializar. Se ele causa esse sentimento em mim, que convivi muito pouco, imagino os irmãos espíritas e os familiares.

27.11.20

LIDERANÇAS DO ESPIRITISMO NA FRANÇA E NO BRASIL

 


Mais uma pergunta da entrevista feita pela aluna da PUC MINAS.


03- Quais são os fundadores e principais líderes do espiritismo?


Resposta de Jáder Sampaio


"A pessoa que teve um papel central na elaboração do espiritismo foi o professor H.L.D. Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec para a obra espírita em geral. Ele era tratado pelos espíritas franceses como mestre, e pelos espíritas brasileiros como codificador, por ter realizado estudos com diversos médiuns, analisado as comunicações de diversos espíritos e escrito seus livros, além da publicação da Revue Spirite, que publicava os estudos de espíritas da França e de diversos países.

Na França, após o falecimento de Allan Kardec, outros autores se tornaram importantes para o movimento espírita, como Léon Denis, Gabriel Delanne e o astrônomo Camille Flammarion. 

A Europa passou por diversas dificuldades que afetaram o movimento espírita em geral. Regimes autoritários, como o de Franco, o de Salazar ou o da Hungria na época da cortina de Ferro proibiram a prática do espiritismo e desapropriaram imóveis. O espiritismo francês passou pelo que foi chamado de “processo dos espíritas” em decorrência de um médium que praticava fraudes, o que afetou a imagem no país de Napoleão.

As universidades francesas recusaram-se a aceitar os trabalhos de observação realizados pelos espíritas, e alguns autores europeus oriundos da psiquiatria, principalmente, tentaram explicar os fenômenos espirituais pela via da psicopatologia. As exigências feitas para o espiritismo, e depois para a metapsíquica francesa (uma corrente de pesquisas que aceita a existência de fenômenos como a telepatia, mas põe em suspenso a existência de médiuns) não foram feitas para outras áreas do conhecimento, e o espiritismo francês, após as duas guerras, ficou limitado a uma minoria e preocupado com a aceitação pela comunidade acadêmica.

No Brasil há um grande número de lideranças, expositores, autores e médiuns espíritas conhecidos, mas destacarei dois: Adolpho Bezerra de Menezes (médico e político nascido no Ceará, mas que se tornou espírita no Rio de Janeiro) e Chico Xavier (funcionário público, conhecido por sua mediunidade prolífica e pelo trabalho com as pessoas em vulnerabilidade social)."

21.11.20

ESPIRITISMO OU KARDECISMO? ENTREVISTA PARA A PUCMINAS 2


 


Dando continuidade à entrevista feita pela aluna da PUC Minas.


02- Espiritismo kardecista é a mesma coisa que espiritismo?

Resposta de Jáder Sampaio

"A palavra espiritismo foi criada em língua francesa por Allan Kardec que desejava distinguir a doutrina que ele publicava a partir de “O Livro dos Espíritos”, do spiritualism (espiritualismo ou espiritualismo moderno), que é um movimento mediúnico norte-americano que foi difundido na Europa.

No Brasil, contudo, o senso comum aproximou o espiritismo dos cultos afro-católicos, ambos recebidos com restrições por um país oficialmente católico. É uma aproximação estranha, porque o espiritismo foi desenvolvido filosoficamente e os cultos afro são tradições trazidas pelos povos africanos, essencialmente orais. 

Para que não houvesse confusão entre as práticas, algumas pessoas começaram a se referir ao espiritismo como “centros de mesa”, “centros de linha branca” ou “kardecismo”, mas essas designações não são aceitas pela maioria dos espíritas brasileiros, que preferem que se distinga o espiritismo, de umbanda, do candomblé e de outros cultos de matriz africana."

19.11.20

QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE "O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO" E OS TRÊS EVANGELHOS SINÓTICOS?

 


Encontrei hoje no texto de Milton Torres, professor da Universidade Adventista de São Paulo, um bom conjunto de explicações, acessíveis a todos nós, interessados no estudo dos evangelhos. Vou retirar literalmente as explicações dele, e interpolo meus comentários entre colchetes:

    1. “... ele [o evangelho de João] não faz nenhuma tentativa de se passar por uma biografia de Jesus.”

    2. “[O evangelho de João] não demonstra interesse por uma cronologia exata dos feitos de Cristo.”

    3. “... os longos discursos de Jesus ali registrados apresentam semelhanças formais com as preleções de Sócrates nos diálogos platônicos”

    4. “... como no caso de Platão, seu método é determinado pelo propósito que persegue, pois lança as ideias de Jesus em metáforas surpreendentes, dramatizando os momentos históricos para que alcancem uma sugestibilidade supra-histórica, para isso empregando símbolos e analogias”.

    5. “... o termo logos aparece, no prólogo de João, em íntima associação com outras expressões de longo pedigree filosófico: panta (“todas as coisas”, isto é, o “universo”); kosmos (“mundo”); sarx (“carne”); en archêi (“no princípio”), etc.

Com esses argumentos, ele tenta mostrar que o escritor de "O evangelho segundo João" produz um texto que é voltado não apenas aos hebreus e descendentes, mas também aos gregos e outros estrangeiros com acesso e influência da cultura helenista, e, dentro dela, de elementos da filosofia grega. É como se esse evangelho fosse uma produção em sintonia com a proposta de Paulo de levar a mensagem cristã para os gentios, através de um texto que é capaz de levar o cristianismo mais próximo à cultura dos membros das comunidades fundadas em cidades gregas e romanas.

Para quem desejar ler o texto todo, que se preocupa com o conceito de lógos, segue a fonte: 

TORRES, Milton R. A retórica joanina do Logos, Revista Caminhando v. 21, n. 2, p. 147-167 jul./dez. 2016. 

https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/Caminhando/article/viewFile/6992/5506


15.11.20

UM INDIANO NA REUNIÃO MEDIÚNICA

Rabindranath Tagore - 1909 (Fonte: Wikipédia)


Ontem estudávamos, em nossa reunião mediúnica, o capitulo 2 da terceira parte do livro “Amor e Ódio”, de Yvonne Pereira. O capítulo trata de um plano para incriminação de um personagem importante do livro. 

Na parte de comentários, alguns membros deixaram escapar sua impressão sobre a perversidade do malfeitor, causada por orgulho e egoísmo. Outro companheiro se incomodou com o mal que a influência pessoal pode causar em um processo jurídico, quando este não corre segundo as regras estritas do direito processual. Tocou-nos a impiedade do nobre, capaz de mobilizar influências e manipular pessoas para obter nada mais que uma vingança pessoal.

Passadas a leitura e os comentários, veio a parte mediúnica. Como a reunião se faz via um aplicativo, em decorrência dos cuidados com a COVID-19, não temos manifestação psicofônica, apenas psicográfica, preces em favor de terceiros e o relato das percepções mediúnicas (ou anímicas, quem vai saber?) na nossa terceira parte.

A médium “Carla” (nome fictício) relatou sua percepção. Viu um espírito de um indiano, com barbas, descreveu sua percepção com algum detalhe, que lhe dizia, apenas:

“Se o ódio pode tanto, imagine o amor!”

Ela percebia com os olhos da alma o espírito passando por um campo, com uma mão espalmada, e à medida em que passava sobre a vegetação, que chegava à altura do quadril, as flores se abriam. É uma espécie de "poesia visual" uma imagem que reforça a frase e lhe dá significado.

De fato, uma nova perspectiva da leitura vinda de um espírito superior a nós, despertando nossa atenção para outra ótica do texto.

As emoções não terminaram aí. O colega “Jacques” pesquisou no smartphone e perguntou à médium, mostrando uma fotografia:

- O espírito é esse aqui?

Com alguma dificuldade, por estar passando uma imagem digital por uma câmera de vídeo, sem nome, Carla, após analisar um pouco, disse: 

- Parece-se com ele. É sim. 

Era Rabindranath Tagore, que estava sendo estudado por Jacques no início do dia. A frase única lembra sua prosa como o espírito “Um Jardineiro”, psicografado por Dolores Bacelar e publicado pela editora Correio Fraterno.

Passada a reunião, encontrei o seguinte capítulo do livro, que passo a reproduzir:


RESUMO


- A Vida?

- É o Amor.

- E o Amor?

- Vida.


Um Jardineiro (Tagore), psicografia de Dolores Bacelar.

Livro: A Rosa Imortal

Editor: Correio Fraterno 

São Bernardo do Campo, 3ª. Edição - 1981