No último sábado, na aula à distância de evangelização infantil (educação espírita) o grupo foi fazer uma prece de abertura. Alunos de 11 e 12 anos, uma aluna pediu que dirigissem seus pensamentos a um amigo de seus pais que estava internado com Covid 19 e grave: Felipe Estabile.
Assim ficamos sabendo, poucas horas antes da desencarnação, da luta do amigo contra a enfermidade. Obtivemos mais informações e acompanhamos em nossa rede de relacionamentos as notícias do estado de saúde, até a desencarnação, no meio da tarde de sábado, 20 de março.
A União Espírita Mineira assim o descreve em nota: “Natural de Niterói/RJ, espírita desde o berço, veio para Belo Horizonte ainda criança. No Movimento Espírita ficou conhecido pelas atividades no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, e atuação na Unificação pela União Espírita Mineira.”
Eu conheci o Felipe e a sua futura esposa, a Regina, na primeira Confraternização de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte – COMEBH, em 1983. Felipe era o coordenador da Comissão de Secretaria, responsável por toda a papelada que envolvia o evento para cerca de 100 jovens.
O Felipe era a encarnação da tranquilidade. Fala mansa mas imensamente dedicado ao que fazia. Na época, ele frequentava o Grupo Scheilla. A COMEBH foi muito importante para o movimento espírita mineiro, porque estabelecemos laços de simpatia com frequentadores de um sem número de casas espíritas, da capital e, depois, do interior. Muitos dos participantes dos anos 80 são hoje lideranças ou mesmo fundadores de novas sociedades espíritas e nosso relacionamento é muito mais fácil que seria se não nos conhecêssemos pessoalmente. Felipe participou de muitas e tornou-se coordenador geral da 9ª COMEBH.
Felipe no papel de Chico Xavier, em uma das peças teatrais da COMEBH
Posteriormente, Felipe e Regina se ligaram à Confraternização da Família Espírita de Minas Gerais, encontro durante o período de carnaval em que participavam também as crianças.
No LinkedIn de Felipe se vê o seu percurso profissional, no qual se encontra o concurso como assistente administrativo da UFMG (1982-1994), sua licenciatura em História (1985), atuação como professor na Prefeitura de Belo Horizonte (1994-2003), seu trabalho como chefe de gabinete e depois assessor de relações institucionais na Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (2003-2014) e depois ocupou diversos cargos na Secretaria Municipal de Educação (2015-2019). Felipe encerrou sua carreira como professor, na minha opinião, a mais nobre de todas as suas ocupações.
Felipe foi um dedicado trabalhador no meio espírita da capital e de Minas Gerais, como um todo. Vinte anos depois, ele apresentou trabalho e participou, em nome da União Espírita Mineira, do 3º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que aconteceu na Associação Espírita Célia Xavier. Quando o evento voltou a Belo Horizonte, em 2019, ele recebeu em nome da União Espírita Mineira, a homenagem que a rede de pesquisadores espíritas lhe fez, por nos receber em suas dependências.
Fiquei lembrando das ideias do Felipe para um mestrado em História que ele não realizou, por estar tão ocupado com o trabalho, a família e o movimento espírita. Ele queria estudar a influência do positivismo da república velha no meio espírita de então. O tempo se foi, mas a ideia fica registrada para quem possa dar-lhe sequência.
O Carlos Malab ficou muito emocionado quando lhe dei a notícia do desenlace. Ele se lembrou da serenidade do Felipe, e depois de trocarmos lembranças disse: a Telma (Núbia Tavares) há de recebe-lo no plano espiritual. Telma foi a coordenadora, junto com o Carlos, da primeira COMEBH. Nada mais justo que dar apoio ao secretário que retorna ao “mundo invisível”, como o chamavam os espíritas franceses do século 19.