10.10.19

KARDEC, O FILME: NA SALA DE AULA


Uma charge de época sobre a Lei Falloux

Kardec, o filme, começa com uma aula de Rivail em uma sala só de meninos, possivelmente em 1850. São crianças que aparentam, pela idade, estar no ensino primário francês. Kardec faz um discurso simpático e afetivo. A aula é interrompida por um padre que inicia a “hora do catecismo”. Depois Kardec se indigna com a interferência da igreja no ensino.

# Fato: o ensino primário na França em torno dos anos 1850 não aceitava escolas mistas.

#Ficção: na época de 1850, Rivail era diretor do Liceu Polímático [1] . Os Liceus eram escolas de ensino secundário, segundo a lei de 1808 [2] que criou a Universidade Imperial e que tinha sob sua gestão as seguintes instituições :

Academias, que poderiam ter outras instituições sob seu controle e eram regionais. 

Faculdades: instituições de ensino superior, geralmente de medicina, direito, letras, filosofia, etc.

Escolas secundárias (Liceus), onde se estudavam línguas antigas, história, retórica, lógica (filosofia) e elementos das ciências

Escolas secundárias comunitárias (Colégios), nas quais se estudam línguas antigas e primeiros fundamentos das ciências

Instituições ou Institutos (Institutions), escolas administradas por instituteurs (um tipo de professor) particulares, semelhantes aos colégios. 

Pensionatos (pensionats) pertencentes a professores particulares (mâitres) e dedicados a estudos inferiores às instituições

Escolas Primárias (petites écoles ou écoles primaires) nas quais se aprende a ler, escrever e se obtém as primeiras noções de cálculo.

# Ficção: O padre interrompe a aula de Kardec para ensinar catecismo

Desde a reforma de Napoleão, em 1808, a moral cristã é objeto de ensino aos alunos das escolas primárias e secundárias na França. Em 1850, que parece ser o período indicado pelo filme, é aprovada a Lei Falloux. Falloux eram um conde católico que ocupou o cargo de Ministro da Instrução Pública e encaminhou uma lei que reformava o ensino francês. Ele tinha ideias como “Deus na educação. O papa à frente da igreja. A igreja à frente da civilização””. Todavia, sua reforma é bem mais modesta, e sofreu a oposição de intelectuais como Victor Hugo, que dizia “A igreja na casa dela. O estado na casa dele”.

O programa aprovado pela Lei Falloux inclui o respeito pelas hierarquias sociais, e prevê a presença de bispos nos conselhos superior e secundários. A lei que a antecedia, a Lei Guizot, de 1833, propunha originalmente a presença de curas ou pastores nas comissões locais, teve esse artigo vetado, e elas ficaram exclusivamente sob o controle de representantes do estado.

A lei Falloux trata de um controle maior sobre os Instituteurs (professores, diretores de institutos), que pleiteavam melhores salários ao estado. 

Falloux defende, na verdade, a liberdade de ensino proposta na constituição  e abre espaço para o funcionamento livre das escolas confessionais, particulares e mantidas por associações. É uma ação de desestatização parcial do ensino e de possibilidade de oferta a partir da livre iniciativa [3].

Um retrocesso da lei é a autorização de ensino para ministros de culto, pessoas com certificado de estágio e, para as freiras, uma carta de obediência ao bispo. Antes somente pessoas com formação normal ou diploma de bacharel (bachelier) poderiam ser professores [3].

A presença dos bispos nos conselhos permite que, na prática, eles possam transferir professores e que mediante um relatório, o prefeito possa demiti-los.

O século 19 foi marcado pela disputa entre o ensino laico, obrigatório e universal e o ensino religioso, com avanços e retrocessos ao longo do século. 

Não se trata, portanto, de se colocar padres nas escolas primárias e secundárias laicas, nem de uma invenção do ensino da moral cristã, que já existia desde Napoleão no ensino francês. A cena é ficcional, mesmo porque Kardec era o diretor do Liceu Polimático até 1850.

Referências

[1] Chibeni, Silvio. Quadro dos principais fatos referentes a Allan Kardec e às origens do Espiritismo. Disponível em  www.autoresespiritasclassicos.com/Allan%20Kardec/5/Quadro%20dos%20principais%20fatos%20referentes%20a%20Allan%20Kardec%20e%20às%20origens%20do%20Espiritismo.htm. Acesso em 10/10/2019
[2] Artigo 5 da lei que criou a Universidade Imperial, e que à época era responsável pela regulação e controle do ensino na França, do primário ao superior.
[3]  Loi Falloux. Disponível em: https://howlingpixel.com/i-fr/Loi_Falloux Acesso em 10/10/2019

8.10.19

POR QUE DISCUTIR O FILME KARDEC?

Jovens estudando a vida de Allan Kardec na Associação Espírita Célia Xavier



Nossa última publicação sobre o filme Kardec, que se encontra no Netflix, parece ter saído sem explicações, o que gerou comentários diversos, então gostaria de explicar nossas intenções.

O filme Kardec é uma ficção baseada na vida de HLD-Rivail/Allan Kardec, portanto entremeia eventos que aconteceram e estão documentados e eventos imaginados pelo autor e roteiristas. 

Recentemente fui convidado a falar sobre a vida de Rivail/Kardec até o lançamento de O Livro dos Espíritos para jovens de 13 e 14 anos em nossa casa e se sugeriu o uso do filme como mídia útil e de interesse dos jovens. Como usar o filme com essa finalidade?

Resolvemos, então, bem ao gosto da nova geração, fazer um “fato ou fake”, como forma de usar o filme e ao mesmo tempo apontar o que é ficção, para que os jovens possam, ao mesmo tempo, aprender sobre a vida de Kardec e curtir as imagens do filme.


Alguns livros de Kardec e sobre a vida de Kardec apresentados no estudo


Então resolvemos publicar o “Fato ou Fake”, não com o objetivo de criticar a produção (o que seria legítimo em outro contexto), mas de ajudar as pessoas que não estudaram a vida de Kardec a distinguir as licenças que o Wagner se deu para construir um filme que também fosse agradável de se ver, nas condições que o espaço de duas horas pudesse oferecer.

Não me coloco na posição de “dono da verdade” em matéria de Allan Kardec, e entendo a reação do Wagner expressa no Podcast Podser #035 (o link está abaixo deste texto) a algumas críticas, embora tenha me sentido meio desqualificado de fazer comentários. Ficou parecendo que quem critica algum ponto do filme é uma espécie de fanático, que não conhece as artes e muito menos o cinema, que quer fazer prevalecer seus pontos de vista sobre Kardec, e até mesmo que são atávicos ou mal fundamentados. Isso existe, ele não está errado, mas se o assunto fosse um grupo musical ou um grupo de fãs de um autor da literatura, talvez não se dirigisse aos fãs com esse tom meio defensivo, meio desqualificador.

Isso não é muito bom para o filme, porque o que notei é que os espíritas criticaram entre si nas redes sociais, a boca pequena, muitos incomodados com algumas escolhas de desfecho ficcional, mas praticamente não li na imprensa espírita um debate sobre o filme.

Se os leitores se interessarem em saber o que vimos que parece ser pura ficção, e que ao contrário do que o Wagner colocou, não nos parece factível, e desejar saber por que, manifeste-se para que eu possa usar o espaço do Espiritismo Comentado para fazê-lo. 

Um abraço a todos, e um especial ao Wagner de Assis que fez um trabalho "trabalhoso".

Jáder Sampaio


4.10.19

ALLAN KARDEC: O FILME - FATO OU FAKE?




Kardec - o filme, chegou  na Netflix com o título Kardec. Meu amigo cinéfilo, Marcus Vinícius Papa sugeriu que fizéssemos no Espiritismo Comentado um Fato ou Fake com diversas passagens do filme que merecem uma análise mais precisa sobre o que realmente aconteceu. (palavras do Papa) 

Vamos fazer alguns com base nas diversas fontes disponíveis sobre Rivail-Kardec.

Aos 11 minutos e 20 segundos o editor Didier lhe dá exemplares de seus livros e assim o diz:

"- São todos os que eu tenho por agora, professor! Aritmética, Gramática, Astronomia... Proposta de melhoria da escola pública! Acho que foi um dos primeiros que o senhor escreveu!"

Didier se equivoca quanto à ordem de publicação. O primeiro livro publicado por Kardec, em dezembro de 1823 foi Curso prático e teórico de aritmética  segundo o método de Pestalozzi. Na Gallica, a biblioteca digital da Biblioteca Nacional da França, se encontra um exemplar digitalizado de 1824. 

O Plano proposto para a melhora da educação pública escrito por Rivail saiu em 1828, cinco anos depois.

Embora Rivail desse aulas de astronomia, não encontrei livro atribuído a ele sobre o assunto.

Como Didier não tem certeza do que fala no filme, eu classificaria com um:

#Não é bem assim.

3.10.19

IMPRESSÕES DO FILME DIVALDO, O MENSAGEIRO DA PAZ


Ana Franco: mãe de Divaldo



Domingo à tarde e fui com minha esposa assistir ao filme Divaldo, o mensageiro da paz.

Depois de ter assistido o “Allan Kardec”, que entre fatos e fakes ficou com muitos “não é bem assim”, o Divaldo está bem próximo das histórias da própria vida que ele sempre nos contou, ao longo de anos de palestras e conferências.

O roteirista optou por contar a infância, a descoberta da mediunidade, as obsessões espirituais e a construção da Mansão do Caminho.

No domingo à tarde o público não era muito grande no cinema. Devia ter um terço ou um quarto da sala de exibições, mas as reações ao filme entregavam a filiação religiosa dos presentes. A história correu entre risos e lágrimas, e ao final, mais lágrimas que risos. As pessoas presentes aspiravam suas lágrimas, e os sons aconteciam em todos os espaços da sala de projeções.

O filme fala discretamente do suicídio de Nair Franco. O cineasta conseguiu fazer uma espécie de presença seguida de ausência, e da apreensão dos familiares seguida da dor. Ana Franco é a grande personagem da trama, na minha opinião, mais impressionante que o próprio Divaldo.

A ruptura dela com a comunidade católica em que se achava bem inserida, em função da antiga visão da igreja sobre o suicídio, talvez um pouco elaborada em termos do seu discurso, é um grande momento do filme. A busca pelo tratamento do filho, mesmo desgostando seu marido, em uma época na qual o patriarcalismo ainda era uma instituição forte, também me marcou.

O filme é cheio de mulheres fortes e admiráveis, mulheres capazes de enfrentar seu tempo, a ordem vigente, em favor de um ente querido, uma pessoa amada. Mulheres inteligentes, capazes de argumentar e explicar com elegância suas posições. Mulheres que amam, e que são capazes de oferecer sua capacidade de amar em favor de encarnados e desencarnados. Mulheres simples, sem a alta escolaridade comum ao nosso meio espírita de hoje, mas capazes de ações pragmáticas e corajosas. Mulheres como Joanna de Ângelis, companheira-mestra do médium, orientadora nas horas de dúvida, assertiva nas horas de sofrimento. Eu admiro essas mulheres. Entendo porque Lynn Sharp e outras historiadoras contemporâneas entreviram no movimento espírita uma forma de emancipação e expressão social das mulheres.

Eu não conhecia Laura. Sabia dos problemas de Divaldo e da presença de uma espírita em seu favor, mas não tinha ideia da dimensão da importância dela para ele. Foi uma espécie de anjo da guarda encarnado.

Não sei se foi a intenção da direção, mas não dá para não comparar os primeiros trabalhos do Divaldo, com os primeiros trabalhos do Chico. Os dois são pessoas naturalmente estudiosas, interessadas na doutrina, convivendo com pessoas que viviam sua participação na casa espírita como uma atividade, muitas vezes sem o mínimo conhecimento necessário.

Nos dois se vê o compromisso com a caridade material, que dizia Kardec, começando com o pouco, quase nada, quase inútil, da distribuição de alimento e se tornando aos poucos um trabalho de impacto em um número enorme de pessoas. Escolas, ensino de música, profissionalização, adoção, apoio à maternidade com parto natural, editora, e muitas e muitas iniciativas que vão nascendo ao redor do que foi uma cesta de alimentos. Um trabalho que seria mais responsabilidade do Estado que de uma associação de voluntários.

Quando saía da sala, uma pessoa me reconheceu. Perguntou se eu era filho do José Mário Sampaio e se apresentou como alguém que participou das suas reuniões de estudo sobre mediunidade na União Espírita Mineira. Ele era leitor do Espiritismo Comentado e me incentivou:

- Quero ver suas impressões sobre o filme!

Uma amiga me enviou um e-mail. Ela estava no Shopping em uma tarde de calor e tempo seco, e resolveu assistir a um filme para usufruir também do ar condicionado. Viu o nosso filme em cartaz, e não sei porque resolveu assisti-lo em meio aos outros. Acho que ela se emocionou como nós e ficou intrigada com o líder espírita (palavras dela) e sua mensagem.

Assim o filme vai cumprindo seu papel, como folhas ao vento dizia um amigo espiritual. Não se sabe onde vai parar, quem vai assistir, como vai percorrer sua trajetória incerta, mas se sabe que vai encontrar muitos em seu voo irregular. O filme não transformará as pessoas em espíritas, nem é esse seu objetivo, mas sensibilizará as pessoas ao bem e ao amor. É uma história, dirão alguns, mas é uma história boa de se contar e melhor ainda de se ouvir.

30.9.19

CONVERSANDO COM OS ESPÍRITAS: SÃO BERNARDO E CONTAGEM


Placa de 1960


Nas duas semanas que se passaram fizemos o 10º e o 11º seminários sobre o livro "Conversando com os espíritos", em São Bernardo do Campo - São Paulo, organizado pelo Lar da Criança Emmanuel e em Contagem - MG, organizado pela Aliança Municipal Espírita de Contagem.

Além do seminário, autografamos livros. No caso de São Bernardo, o valor que eles conseguiram obter com a venda foi para a creche mantida pela instituição há décadas. Em Contagem, os organizadores calcularam o lucro obtido, adquiriram mais livros com ele e os sortearam entre as instituições presentes. Os livros foram para as bibliotecas, servir a mais leitores.

O empenho dos organizadores na divulgação dos eventos atraiu espíritas não só da casa onde o evento acontecia, mas também de outras casas e de cidades vizinhas.


O Lar da Criança Emmanuel hoje, em São Bernardo do Campo - SP

Perguntando quem "conhecia O livro dos espíritos" e quem participava de reuniões mediúnicas, mais de noventa por cento dos presentes respondia afirmativamente. O conhecimento e a experiência de todos permitia uma participação mais qualificada, perguntas muito procedentes, troca de experiências muito rica.

O que mais me toca é a relação entre os espíritas. Muitos amigos de longa data que se encontram e se abraçam, fazem brincadeiras entre si, têm satisfação em falar dos seus trabalhos que fazem voluntariamente... Lembram-me os colonizadores norte-americanos, que se uniam para enfrentar problemas comuns, só que o problema deles é a dor alheia.

Nesse clima de fraternidade, os seminários começam sempre com um grau de expectativa, já que os participantes não conhecem o expositor, e aos poucos as resistências vão sendo quebradas, e os presentes vão reconhecendo nas narrativas e análises a sua própria experiência com mediunidade.


Vista parcial do público em São Bernardo do Campo

Creio que muitos veem novos caminhos no diálogo com os espíritos, na medida em que vão assistindo ao seminário. Contam histórias, pensam em voz alta, às vezes discordam com urbanidade, questionam bastante.

Acho que essa comunidade de propósitos faz uma mágica com o tempo, que passa rapidamente. Pouquíssimos participantes se sentem cansados após quatro horas de estudos (e um lanchinho, porque ninguém é de ferro). Ao final, fica uma impressão que ainda há muito o que ser visto e estudado, e muitas pessoas levam para casa não só o livro Conversando com os espíritos, mas também os livros O observador e outras histórias e Casos e descasos na casa espírita, fruto da nossa experiência mediúnica.

O expositor sempre recebe mais que doa. Sente o bem-estar de quando é lembrado nas preces, o carinho das pessoas que nunca o viram antes, mas o abraçam como se fossem amigos há muitos anos, agradece a confiança dos que compartilham suas experiências, em público ou nos momentos em que é possível conversar. Nem sempre dá para lanchar, por mais que os organizadores se preocupem e tragam o que comer e beber, mas sempre há o alimento espiritual.


Grupo Espírita Francisco de Assis nos acolheu em Contagem pela AME-Contagem

Nesses eventos lembro-me do conselho de Washington Fernandes, para que a doença não interrompesse o trabalho. E a doença, nessas horas, fica esquecida. Só aparece no meio das histórias contadas, como se fosse apenas um percalço, um incidente no caminho. Deixa de ser o centro das atenções e dos cuidados, e, talvez por isso, temporariamente esquecida, como se não existisse.

Agradeço a todos os que nos foram ver e ficaram até o final! Temos algo em comum, algo que nos liga uns aos outros, e, nesses tempos bicudos de notícias de corrupção e ódio, o que nos liga é a caridade cristã e a convergência de propósitos. Muito grato!

Prometi aos participantes do seminário de Contagem que responderia no EC as perguntas escritas que me foram dirigidas, mas que não tivemos tempo de responder. Vou colocá-las em conjunto com as perguntas do seminário no Thiago Maior, e começar a responder aos poucos. Obrigado a todos os que trabalharam e participaram para que os encontros se materializassem!

17.9.19

VAMOS ESCREVER TRABALHOS PARA O 16º ENLIHPE?



Já se iniciaram os trabalhos para o 16º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. Comemoramos 100 anos de publicação do livro "A Loucura sob novo prisma", de Bezerra de Menezes e 120 anos da desencarnação dele em 2020. Em memória às contribuições dele ao movimento e ao seu livro preferido, segundo Luciano Klein Filho, o tema de nosso encontro será "Psicopatologia e Espiritismo". Aguardamos trabalhos que tratem de história e pesquisa sobre o tema, como nos anos anteriores. 



16º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO
Tema central: Psicopatologia e Espiritismo
29 e 30 de agosto de 2020
Vitória - ES

CHAMADA DE TRABALHOS

Apresentação
O Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (ENLIHPE) é um espaço privilegiado no contexto brasileiro para apresentação e discussão de propostas e trabalhos de investigação científica sobre a temática espírita. O sucesso alcançado nos anos anteriores tem atraído pesquisadores de todo o Brasil, interessados na divulgação e discussão de seus estudos.
Um dos diferenciais do ENLIHPE é o seu formato, o qual incentiva a formação de redes de pesquisa e promove a aproximação de estudiosos de diferentes áreas do conhecimento.

Instruções aos autores

A data final para submissão de trabalhos é 31 de março 2020.
A confirmação do recebimento e o parecer da Comissão Científica sobre o artigo serão enviados eletronicamente ao e-mail do remetente. A avaliação será feita utilizando-se o sistema Double Blind Review, no qual o trabalho é avaliado anonimamente por dois membros da Comissão Científica do encontro.
Os trabalhos podem ser submetidos em qualquer área do conhecimento, desde que relacionado à temática espírita, em forma de artigo científico, conforme procedimentos definidos a seguir:

Artigo científico
O artigo deverá ser gravado em dois arquivos:
ARQUIVO 1 – contendo o(s) nome(s) do(s) autor(es), o título e o resumo do artigo;
ARQUIVO 2 – contendo o título, o resumo e o texto integral do artigo, sem qualquer identificação de autoria.

Submissões de trabalhos
Envie os arquivos para 16enlihpe@lihpe.net

Formato do Trabalho:
Tipo de arquivo: Microsoft Word (97 ou superior)
Número máximo de páginas: 15 (quinze)
Configuração das páginas
Margens: superior 3 cm; inferior 2 cm; esquerda 3 cm; direita 2 cm.
Tamanho do papel: A4 (largura 21 cm; altura 29,7 cm)
Fonte: Times New Roman, tamanho 12
Formato do parágrafo: Recuo especial: primeira linha 1,25 cm
Espaçamento entre linhas: simples.
Figuras, tabelas e gráficos: Fonte Times New Roman, tamanho 8 a 12
Resumo: Mínimo de 1150 caracteres (aproximadamente 10 linhas), máximo de 1750 caracteres (aproximadamente 15 linhas)
Revisão ortográfica a cargo dos autores

Informações adicionais: Envie mensagem para 16enlihpe@lihpe.net

Organização do evento: Federação Espírita do Estado do Espírito Santo – FEEES
Endereço: Rua Álvaro Sarlo, 35 – Ilha de Santa Maria – Vitória/ES



Não deixe para a última hora! Este ano desejamos evitar prorrogações de prazos que tanto prejudicam a divulgação do evento e a elaboração do livro com trabalhos escolhidos.

Agradeço à Mocidade da Associação Espírita Célia Xavier na pessoa de um dos seus coordenadores o Marcus Vinícius Papa Lobo, o auxílio compromissado com a divulgação do evento.

14.9.19

A TEORIA DA PRESCIÊNCIA EXPOSTA POR ALLAN KARDEC

O muro das lamentações, parte que sobrou "de um muro de arrimo que sustentava" o segundo Templo de Jerusalém


Jáder Sampaio


Estávamos discutindo o tema da transição , ao mesmo tempo falado e polêmico, em um grande centro espírita de Belo Horizonte, e retomamos os conceitos centrais do gênero apocalíptico, para argumentar em favor da existência de uma mentalidade apocalíptica existente em nossa cultura brasileira e cristã ocidental.

Os textos em que Kardec trata dos discursos apocalípticos de Jesus, geralmente conhecidos como o Sermão Profético, estão nos dois últimos capítulos do livro A Gênese. Para entendê-los, é necessário ler o capítulo 16, que trata da teoria da presciência.

Nesse capítulo em específico, Kardec não entende as predições como uma visão antecipada e detalhada dos fatos futuros, uma espécie de antevisão do que acontecerá. O vidente ou profeta não vê através do tempo segundo essa teoria. Allan Kardec faz uma imagem, de um homem que se encontra sobre uma montanha e é capaz de ver o caminho pelo qual um viajante irá trilhar. Ele é capaz de ver o que vem à frente, mas não é capaz de precisar exatamente quando o viajante chegará lá, porque o ritmo da caminhada depende do último. Dessa forma o fundador do espiritismo articula as ideias de livre arbítrio individual e presciência.

“... os detalhes e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre arbítrio dos homens, podem ser eventuais os caminhos e os meios” (cap. 16, item 14).

E para que não fique obscuro, Kardec exemplifica:

“É assim ... que os Espíritos podem, pelo conjunto das circunstâncias, prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens.”  (cap. 16, item 14)

E ao desenvolver essa questão, Kardec ainda reafirma:

“Por isso os Espíritos verdadeiramente sensatos nunca predizem coisa alguma para épocas determinadas, limitando-se a prevenir-nos do seguimento das coisas que nos seja útil conhecer.” (cap. 16, item 16)

Ao empregar o raciocínio da teoria da presciência para explicar a previsão de Jesus sobre a destruição do segundo templo de Jerusalém, se vê que possivelmente ele conhecia como agiam os romanos e como reagiam os judeus. Ele conhecia as histórias de resistência como a dos Macabeus contra a helenização do povo judeu por Epifanes Antíoco no século 2 a. C., mais que ninguém ele conhecia a esperança do surgimento de um messias guerreiro que salvaria o povo judeu da dominação romana, e também sabia que os romanos não perdoavam insurreições, destruindo, matando e repovoando os territórios com sua própria gente, geralmente militares que participaram das campanhas.

- Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada . (Mateus 24:2)


Como seria o segundo templo de Jerusalém

Disse Jesus sobre o Templo, talvez se referindo à civilização judaica nas terras da palestina.

Um participante da palestra reagiu.

- Isso não! Ele disse. Jesus sabia tudo!

Saber tudo, ou onisciência, seria uma qualidade de Deus, consequência de sua eternidade, segundo Fénelon, que julgamos, a partir do pensamento espírita, tratar-se de um ser distinto de Jesus e de todos os demais Espíritos. O opositor tem razão em nos questionar nossa capacidade de saber o que se passa ou não na mente de Jesus de Nazaré, mas se a teoria da presciência exposta em A Gênese, estiver correta, seria algo semelhante ao exposto que teria acontecido.

A divinização de Jesus é algo que dificilmente aconteceu na Judeia, tão ciosa de seu Deus Único. Possivelmente ocorreu na exposição do cristianismo à cultura romana, na qual a multiplicidade de deuses foi uma das formas encontradas para a consolidação do seu pacto civilizatório, e mesmo Jesus esteve próximo de ser aceito como Deus pelo senado romano.

- Eu fico com a minha ideia e você fica com a sua! Ele afirmou após uma tentativa de argumentação da minha parte. Só um reparo, não se trata da minha ideia, mas da teoria da presciência desenvolvida por Allan Kardec. No mais, ele ficará mesmo com sua ideia, graças à democracia e o laicismo do Estado brasileiro, que protege as crenças institucionalizadas e, ainda mais as crenças pessoais. Todavia, um exame rápido nos permite concluir que sua crença pessoal não é coerente com o pensamento espírita.

Estudar o espiritismo é aceitar a possibilidade de romper com o nosso passado atávico cultural e rever ideias à luz da razão e da evidência empírica. 

Referências:

FÉNELON. Tratado da existência e dos atributos de Deus: provas da existência de Deus. S.d., Salus, 2015. [Tradução de Roberto Leal Ferreira e comercialização sob a forma de e-book pela Amazon.com.br]

KARDEC, Allan. A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. Brasília, FEB, 2018. [Tradução da primeira edição francesa por Evandro Noleto Bezerra]

4.9.19

SENADO FEDERAL HOMENAGEIA BEZERRA DE MENEZES




O Senado Federal, a partir de iniciativa do senador Eduardo Girão e de parlamentares de orientação política diversa realizou uma sessão extraordinária para homenagear Adolfo (e não Antônio) Bezerra de Menezes, médico cearense, muito importante na história do espiritismo no Brasil.

Dois expositores espíritas trataram de Bezerra: Luciano Klein Filho, historiador e José Carlos de Lucca, juiz de direito.

Alexandre Caldini optou por falar do espiritismo para o público presente e a sociedade brasileira, escolhendo idéias básicas do pensamento espírita e expondo de maneira clara e fácil. Sua noção de religião é polêmica, mas se a religião for entendida como ele delimita o termo, o espiritismo não teria nada a ver com ela. 

Dois parlamentares, também falam rapidamente de Bezerra de Menezes, um deles se identificando com o espiritismo.

Recomendo aos leitores do Espiritismo Comentado que ouçam e reflitam sobre a homenagem prestada e a importância dos atos do homem que foi homenageado, bem como da imagem social que lhe é associada.

31.8.19

O ESPIRITISMO DA FRANÇA AO BRASIL


Capa do livro

Como foi escrito?

Os encontros nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE são espécies de congressos, para os quais os membros da LIHPE submetem trabalhos escritos que são avaliados por pareceristas com formação acadêmica e conhecimento doutrinário, geralmente doutores e mestres em suas áreas de atuação, que recomendam aprovação, reprovação ou aprovação com correções. 

Para evitar viés e conflitos, os avaliadores não sabem quem escreveu o artigo que analisam e os autores não sabem quem avaliou. Esse sistema é conhecido como duplo-cego (blind review em inglês)

O tema de 2019 para o ENLIHPE foi "Allan Kardec: 150 anos depois". Ele visava obter trabalhos que tratassem como surgiu o espiritismo na França e como ele foi difundido pelo Brasil. Os trabalhos podem ser históricos ou de pesquisa, desde que bem escritos.

Os estudos escolhidos

Quatro trabalhos foram escolhidos para compor o presente livro e serem apresentados no 15º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. 

O primeiro se atém às mudanças realizadas por Kardec em O livro dos espíritos, nas diversas edições que ele publicou ainda encarnado.

O segundo trabalho, ainda focalizado nos escritos do mestre francês, distingue reuniões mediúnicas de “auxílio ao próximo” de reuniões mediúnicas “voltadas para a pesquisa”. Ele descreve com detalhes o funcionamento do Grupo Lampejo, em Vitória – ES.

O terceiro trabalho tenta comparar textos ditados pelo espírito Camilo Castelo Branco, escritor português que se suicidou no século XIX, aos médiuns Fernando de Lacerda, Francisco Cândido Xavier e Yvonne A. Pereira. Detendo-se nas descrições que o escritor fez do próprio suicídio e suas primeiras impressões do mundo espiritual, o autor defende que dois médiuns que não se conheciam relatam eventos iguais, apesar de Yvonne escrever mais informações, e não há contradições.

O último trabalho nos leva ao último quartel do século XIX, e nos mostra as mulheres que participaram do início do movimento espírita no estado do Amazonas. Quem são? O que ficou registrado de sua ação no movimento espírita? Um início de um estudo de gênero no meio espírita, que possibilitará no futuro um entendimento do papel do movimento espírita na emancipação e atuação da mulher na sociedade.

Onde comprar?

O livro foi impresso a tempo do 15º ENLIHPE e já se encontra disponível para compra no Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM).

Ele pode ser pedido pela internet na livraria do CCDPE-ECM no seguinte endereço: http://www.ccdpe.org.br/livraria/

Outro parceiro do CCDPE-ECM é a distribuidora Candeia, que vende e distribui não apenas esse mas todos os outros oito livros da Série Pesquisas Brasileiras do Espiritismo.

Ficha do Livro

Título: O espiritismo da França ao Brasil: estudos escolhidos
Organizadores: Jáder Sampaio e Marco Milani
Autores: Jáder Sampaio, Joselita Nobre, Lenara Nunes, Luana Poltronieri, Luís Jorge Lira Neto, Raphael Carneiro
Editoras: CCDPE-ECM, USE Estadual e LIHPE
128 páginas
Agosto de 2019
ISBN: 978-85-64907-10-2


30.8.19

O QUE ANDA FAZENDO O NUPES-UFJF?


O Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora mantém um espaço na internet para veicular entrevistas, informações e notícias chamado de TV NUPES. Esse espaço completou 5 anos e publicou acima uma análise das realizações do núcleo. O trabalho é expressivo, se considerarmos a produção universitária média brasileira. Orientações concluídas, trabalho interdisciplinar, parcerias institucionais e internacionais realizadas, professores internacionais trazidos ao Brasil, publicações, eventos... Vale a pena assistir por menos de quatro minutos para conhecer o que eles fazem.

O NUPES interessa ao movimento espírita por ter realizado trabalhos de pesquisa séria com médiuns, interessar-se pela questão da relação mente-cérebro e mais recentemente estar divulgando novos estudos sobre as novas concepções das relações entre ciência e religião.

27.8.19

BEZERRA E A ORQUESTRA DE ESCRAVOS


Ponte dos Jesuítas, na Fazenda Imperial Santa Cruz

Continuamos a leitura do livro A tragédia de Santa Maria em nossa reunião mediúnica, e mais uma surpresa nos aguardava. Minha esposa preparou o capítulo 5 da segunda parte, que trata da volta de Esmeralda ao Brasil, e das festividades preparadas para recebê-la. Não acontece muita coisa no enredo literário, mas, mais uma vez, Bezerra de Menezes se aproveita da narrativa para tratar de uma questão que lhe foi muito cara em vida: a abolição da escravatura.

A primeira surpresa do capítulo é a preparação de uma orquestra de escravos para receber Esmeralda. Orquestra de escravos? Nunca havia ouvido falar nisso, e parti para a internet em busca de informações. Qual não foi minha surpresa quando encontrei uma orquestra de escravos na região em que a história se passa.

O comendador Souza Breves, considerado o maior senhor de escravos do Brasil Imperial, mantinha uma orquestra de escravos em suas propriedades para tocar em suas festas. Souza Breves era dono de fazendas na região de Piraí - RJ, situada no Vale do Paraíba a uma altitude de 387 metros do nível do mar.


Comendador Souza Breves

Os dados biográficos do Comendador Souza Breves não o tornam candidato a ser o personagem do livro, mas a localização e a altitude de tornam a região bem passível de ser próxima da Fazenda Santa Maria, quem sabe vizinha das fazendas de Souza Breves.

Ribeiro e Nogueira (2016) escreveram um artigo para a revista "Anais do museu paulista: história e cultura material" (1) , na qual, coincidentemente, explicam que em uma fazenda chamada Santa Maria, da região de Campinas-SP, havia uma orquestra de escravos (p. 64),  dirigida pelo maestro, compositor e professor Sabino Antônio da Silva, que morou por cerca de três anos na referida fazenda.



Fazenda Imperial Santa Cruz

Outro exemplo da existência de orquestras de escravos no Brasil Colônia e no Brasil Império é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, fundada em 1556, no Rio de Janeiro. Na Wikipédia se aponta o funcionamento de "uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania"

Dá para ver que a novela de Bezerra de Menezes apresenta alguns detalhes pouco conhecidos de quando viveu, especialmente com relação à escravidão. Ela também retrata uma época e os costumes da sociedade fluminense em que viveu. Embora não se possa falar em prova, é uma boa pista que o autor espiritual deixa no texto indicando sua autoria.


(1) http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672016v24n0202


20.8.19

NOVA EDIÇÃO DE VOLUNTÁRIOS




No dia 30 de julho publicamos no Espiritismo Comentado uma matéria sobre os lugares em que se encontravam os livros Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização de terceiro setor". 

Dias depois recebi um telefonema da Dra. Júlia Nezu, presidente do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, com uma proposta direta: 

- Vamos reimprimir o livro?

Estávamos na reta final da impressão do livro "O espiritismo da França ao Brasil: estudos escolhidos", mas a oportunidade era clara. Haveria trabalho para a nova reimpressão, mas boa parte dele cabia ao editor, e a nós caberia responder prontamente às demandas.

Para minha surpresa, vinte dias depois, chega uma caixa de livros trazida por transportadora. Abri os livros e eles ainda traziam aquele cheirinho de recém-impresso, que tantas pessoas apreciam. Os trabalhadores de São Paulo não "brincam em serviço".

O "Voluntários" é nossa tese de doutoramento, defendida em 2004, diante de uma banca muito dedicada e a presença de muitos amigos do meio espírita, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA-USP. 

Motivação, cultura organizacional, uma proposta de modelo para pesquisar a motivação de voluntários, como o espiritismo vê o mundo e o homem, a história da Creche Futuro, sua estrutura e organização no tempo, seus voluntários e o paradoxo da satisfação e sofrimento em seu trabalho são os principais temas do livro. 

Agora que estamos com os livros novamente no mercado editorial, quem sabe não teremos novos trabalhos acadêmicos e no meio espírita que darão sequência ao que se iniciou com esse livro?



Quem estiver no 15º Enlihpe, em Fortaleza-CE, terá acesso a este livro e ao livro com os trabalhos escolhidos do evento: O espiritismo da França ao Brasil

Título: Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização do terceiro setor
Autor: Jáder dos Reis Sampaio
Organizadoras: Cléria Bittar e Nádia Marcondes Luz
Editora: CCDPE-ECM e LIHPE
Coleção: Espiritismo na Universidade
248 páginas
23 x 16 cm
35 reais

Pedidos: pelo e-mail contato@ccdpe.org.br e em breve pela internet no www.ccdpe.org.br


10.8.19

YVONNE PEREIRA, AS IRMÃS DE SION E OS DETALHES DE SUAS NARRATIVAS



Estamos estudando o livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira e publicado pela Federação Espírita Brasileira, em nossa reunião de sábado.

Fiquei encarregado do capítulo 4 da segunda parte, que, a princípio, seria apenas uma mera narrativa do encontro dos personagens Esmeralda e Bentinho, via correspondência em Portugal e pessoalmente na Suíça.

Inicialmente é a descrição de um piano Pleyel para concertos, que é o tipo tocado por Chopin, por exemplo. Segundo o site do fabricante, ele começa a ser fabricado em 1807 (pleyel.com), ou seja, é provável que fosse comercializado e disponível em Portugal nos anos 1880.



Ao ler com cuidado, observam-se alguns detalhes muito curiosos. Primeiro é a descrição de flores e árvores da Quinta Feliz, em Coimbra-Portugal. Tive a curiosidade de procurar uma por uma na internet, e todas elas são encontradas no país lusitano. Algumas são trazidas de outros lugares, e são encontradas lá na época dos eventos da novela.

Depois, quando os personagens vão à Suíça, passar férias, a vegetação descrita é diferente e muito coerente com altitudes maiores e clima mais frio. Não há nenhuma flor igual à da primeira descrição. Algo muito difícil de ser feito apenas com imaginação, especialmente por uma pessoa que nunca saiu do Brasil.

O mais curioso, no entanto, é uma pequena frase escrita por Bentinho. Ele havia sido informado que Esmeralda iria estudar no “Educandário das Freiras de Sion em Paris”. À primeira vista, pareceu-me muito estranho. Freiras de Sion? Lembrei-me inicialmente do Sionismo, que era um movimento para a formação do estado de Israel. Olhando no dicionário, vi que Sion é uma palavra que originalmente designava uma fortaleza próxima a Jerusalém e que passou a ser usada para significar “a terra prometida dos Judeus”.

O que algo Judeu teria a ver com a igreja? Freiras de Sion? Saí à procura da expressão “Nossa Senhora de Sion”, em busca de alguma ordem religiosa católica, e da explicação do nome. Deu para descobrir muita coisa.

Théodore Ratisbonne era um descendente de judeus da cidade de Estrasburgo que se converteu ao cristianismo em 1827, ano em que batizou-se. Os textos consultados apontam para uma conversão pessoal, simultânea à conversão de outros amigos. Posteriormente ele converteu também seu irmão Alphonse, estudou e foi ordenado padre em 1830.



Alphonse o convenceu a fundar um espaço para a educação (catecumenato, segundo alguns autores) de filhas de judeus convertidos, em 1842, ano em que se encontrava em Paris. Eles fundaram, então a ordem de Nossa Senhora de Sion, com o objetivo de converter judeus à fé cristã. A ordem foi reconhecida por Roma em 1842. 

Nesse ponto da história, estava achando que havia algum erro na narrativa do médico dos pobres-espírito. Esmeralda não era descendente de judeus, mas uma filha de latifundiário brasileiro em estudo na Europa. Por que ela estudaria em uma instituição dessa ordem?

Entre 1843 e 1884, a ordem foi crescendo e criou uma espécie de segundo objetivo. Criou 13 internatos de elite, em decorrência da reputação de Madre Rose Valentin. Os internatos lhe davam recursos para que ela pudesse dar consecução ao seu objetivo maior que era a conversão de judeus. (E assim o foi até o Concílio Vaticano Segundo, no século 20).

Bezerra de Menezes estava certo. Havia em Paris uma ordem das freiras de Sion e um internato para moças da elite!

Passados alguns anos, o governo francês promoveu reformas de laicização do ensino, especialmente o fundamental, que envolveu gratuidade e a obrigatoriedade do primário. Algumas das irmãs foram, então, convidadas a fundar uma instituição de ensino aos moldes franceses no Rio de Janeiro, pela nobreza brasileira com o apoio da princesa Isabel. Elas vieram em 1888.

Encontrei uma escola das Irmãs de Sion em Paris, mas parece ter sido fundada no século 20, em parceria com outra ordem religiosa. 

A questão dos detalhes da literatura produzida por Yvonne Pereira, em contato com os autores espirituais é impressionante. Autores contemporâneos que fazem literatura com temas históricos, como Ken Follet, têm um número enorme de consultores, que são especialistas em aspectos pontuais da história e que o permitem escrever sem cometer equívocos. Yvonne tinha apenas lápis, papel e a assistência dos espíritos que lhe contavam as histórias.

5.8.19

CONVERSANDO SOBRE O CONVERSANDO



Fui convidado pelo Lourenço para fazer o Seminário "Conversando com os Espíritos" no Cenáculo Espírita Thiago Maior. Interessado e responsável, meu amigo leu o livro, e foi lendo os demais que escrevi, organizei ou psicografei. Acho que ele se tornou um bom especialista do que escrevi.

Nas atividades de preparação, Lourenço fez uma lista de questões sobre o livro, bem interessantes, do tipo que faz pensar. Esbocei as respostas de cada pergunta e levei, mas quando iniciamos o seminário, ele se tornou uma espécie de simpósio, porque na primeira hora e meia o público presente me sabatinou. Parte do público havia lido o livro, parte não. Então a segunda parte ficou para uma exposição mais sistemática do conteúdo, e não deu tempo para tratar das perguntas do Lourenço.

Agora que praticamente passaram os encargos com a organização do 15º Enlihpe, vamos publicar aos poucos as perguntas "lourencianas" e nossas respostas e comentários. Espero que sejam úteis aos interessados em mediunidade e espiritismo.