26.7.08

Auto-de-Fé de Barcelona

Figura 1: Capa do Livro de Barrera


Florentino Barrera é um autor espírita argentino, ainda pouco conhecido no Brasil, senão por círculos espíritas seletos. Intelectual, fez pesquisas cuidadosas, adquiriu livros e trabalhos raros durante sua longa existência junto a nós e disponibiliza em seus trabalhos informações de difícil acesso ao pesquisador espírita.
O título do livro não lhe faz justiça. Barrera trata de diversos assuntos do interesse dos que estudam a história do Espiritismo na Espanha e seus impactos na América Latina, o auto-de-fé de Barcelona
[1] está descrito e documentado, as fontes são apresentadas, mas ele é apenas um mote para tratar rapidamente da evolução do Espiritismo na Espanha.
A narrativa impessoal e sintética de Florentino inicia-se com uma descrição detalhada dos vínculos de Kardec com a livraria francesa do século XIX.
O capítulo intitulado Análise Bibliográfica trata do evento no qual o Bispo de Barcelona retém e manda queimar um envio de livros e revistas espíritas francesas para a Espanha. Florentino inicia então um trabalho instigante de recuperar os eventos ao redor do auto-de-fé. Ele trata das ações da Igreja junto ao Estado com a finalidade de policiar o pensamento divergente às doutrinas eclesiásticas.
O capítulo “livros, livreiros e censura” apresenta as origens dos livros e o papel da inquisição espanhola nas relações Estado – Igreja. Barrera mostra os impactos que a intolerância ao Espiritismo causa nos países latinoamericanos de língua espanhola: a proibição do Espiritismo no Equador, a expulsão de espíritas de Montevidéu, a tentativa de assassinato de Cosme Mariño por uma beata na Argentina.
A ditadura de Franco, passada a união entre a nobreza e a igreja católica, sob a pena de Florentino, acolhe e encobre todo tipo e ato torpe realizado pelo Santo Ofício: fecham sociedades espíritas, “seqüestram livros e efetuam prisões”. O movimento espírita permanece subterrâneo durante quarenta anos.
Barrera descreve o trabalho de Molina e o renascimento do Espiritismo Espanhol, a partir das mudanças políticas na Espanha de 1979.
O capítulo “Espanha 1853-1888” faz uma apresentação do vigor e dos principais atores sociais do Espiritismo Espanhol. O leitor encontra uma lista extensa fontes bibliográficas produzidas por eles neste período. A clandestinidade é parceira da difusão da obra espírita espanhola e Barrera mostra indícios de livros espíritas levados por contrabandistas à Porto Rico.
Em “Os Opositores”, Florentino lista as obras escritas (e às vezes as obras espíritas redigidas em resposta) por religiosos e outros autores contrários às idéias espíritas.
O final do livro dedica-se ao auto-de-fé. Barrera mostra sua peregrinação pelas principais bibliotecas do planeta em busca de originais e informação, apresenta um fac-símile da breve comunicação de Kardec ao movimento espírita do acontecido, através da “Revue Spirite” e relaciona os relatos de protagonistas e testemunhas do ato, deixando indubitável a sua existência e a precisão dos relatos espíritas.
Apesar da impessoalidade e de pequenos erros ortográficos da revisão, fiz a leitura em menos de duas horas. Este é daqueles livros que, iniciada a leitura, não se quer tirar os olhos do texto. Ele marca a consolidação da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas em parceria com o Centro de Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, desde os contatos feitos com Florentino pelo Eduardo, ainda encarnado, até sua realização em trabalho de equipe capitaneada pela operosa Emília Santos Coutinho.
[1] Auto-de-fé é um ato público de humilhação ou punição realizado geralmente por agentes do Estado contra expoentes de idéias contrárias às da Igreja. O auto-de-fé de Barcelona constituiu-se no seqüestro e queima de livros espíritas por ordem do bispo de Barcelona em 1861.


Livro: Auto-de-Fé de Barcelona
Autor: Florentino Barrera
Editor: CCDPE-ECM
96 páginas
14 X 21
ISBN: 9788590400035
1a. Edição
2007

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