22.7.09

LIVROS ESPÍRITAS OU DE MERCADO CONSUMIDOR ESPÍRITA?

Figura 1: Livros (foto de sharkinho)



Dalmo Duque dos Santos fez uma oportuna reflexão sobre o novo mercado de livros espíritas que está em funcionamento. http://observadorespirita.blogspot.com/2009/07/paixao-pelos-livros.html

A questão dos romances açucarados que ele comenta é real e gostaria de adicionar minha opinião ao tema.

O romance, os contos e outras formas narrativas costumam ocupar o lugar de entretenimento, mas grandes escritores articulam sua história com o seu olhar sobre o mundo, que pode ser de crítica social, às vezes de análise psicológica, ou discutindo um tema de interesse do seu público leitor (sem cair no pedagogismo, que na minha opinião costuma empobrecer a narrativa). Ele intercala sua intenção de proporcionar uma leitura prazerosa com um algo mais.

Quando penso na literatura espírita, tão desconhecida pela maioria dos nossos especialistas universitários, não me esqueço da experiência pessoal de se ler livros como “Renúncia”, de Emmanuel, Memórias de Um Suicida, de Camilo (com comentários de Léon Denis, como nos mostrou o Pedro Camilo), “A Mansão Renoir”, de Alfredo, “Dor Suprema”, de Vítor Hugo, o notável “Memórias do Padre Germano” escrito a partir do ditado psicofônico do espírito Germano por Amália Domingos Soler, “Os Luminares Tchecos” de Rochester, entre muitos outros.

Estou evitando os novos autores intencionalmente, por uma razão: tenho lido menos romances .

Penso que o Dalmo concorda comigo: ele não levanta sua pena (melhor falando, seu teclado) contra o gênero literário, mas contra uma mentalidade, que é a mentalidade meramente comercial.



Esta mentalidade não nasce nos editores, nem nos distribuidores, mas está no centro espírita, nas livrarias e bibliotecas espíritas, e pior, principalmente nos Clubes de Livro espírita. Está em quem consome e em quem forma opinião.

As livrarias acham cômodo comprar dos distribuidores, que estão cada vez mais influentes junto às editoras e divulgam com peso os livros que consideram comerciais, alguns de boa e outros de má qualidade.

Os Clubes do Livro, que também são viabilizadores da edição de livros, também optam pelos açucarados para evitar reclamações e fidelizar clientes. Primeiro eles formam seu público e depois reclamam de não ter opção. Em Belo Horizonte o CLUBAME, quase na contramão desta tendência, tem adotado uma conduta divergente, que é a de distribuir três gêneros de livros: um romance, um livro de estudos e um livro infantil. E estão cheios de leitores e projetos futuros.

As bibliotecas não compram livros. Geralmente fazem campanhas e escrevem cartas pedindo doações. Não fazem sequer um pedido orientado de doações junto aos frequentadores das sociedades espíritas, ou seja, não administram seu acervo. Quando compram, o fazem direcionadas pela procura dos leitores, ou seja, Kardec (ainda bem), André Luiz (geralmente a série a vida no mundo espiritual) e romances, muitos romances. Como são bibliotecas de empréstimo domiciliar e dificilmente de estudos, são poucas as que têm obras raras e edições antigas, tão necessárias à pesquisa séria.

Os expositores, contudo, são os grandes formadores de opinião na casa espírita. Fiquei curioso para ler Inácio de Antioquia, depois de uma palestra que minha esposa assistiu de um sério colega espírita mineiro. Se eles não apresentam e discutem os livros com seu público, não será um belo projeto gráfico que irá atrair o público leitor, geralmente conservador em matéria de Espiritismo. O público se interessa pelo que eles divulgam (e pelo que criticam também).

Isto nos leva a uma outra questão, os livros sensacionalistas, repletos de novidades improváveis e fantasiosas, geralmente sobre a vida no Plano Espiritual, mas isto fica para um outro artigo, porque este já está muito extenso...

6 comentários:

  1. Jáder, acho que o mercado de livros espíritas e/ou mediúnicos faz parte hoje do contexto da Nova Era, que envolve um amplo conjunto de práticas e crenças espiritualistas e seu respectivo e crescente mercado. Neste sentido, essa abrangência (o espiritismo sob a realidade da Nova Era) me parece irreversível. O livro da Sandra Stoll indica essa tendência, em seu último capítulo.

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  2. Alexandre,

    Conheço apenas a tese e alguns artigos da Sandra, que comentei na minha tese de doutorado. Ela estudou Gasparetto e comparou seu ethos ao de Chico Xavier. Neste caso específico, ele desenvolveu uma proposta tão divergente que já não mais se identifica com o Espiritismo, dizendo-se metafísico.

    Os cismas são uma constante na história do Espiritismo, como já previa Kardec.

    Se você entende que o movimento New Age faz parte da cutura do mundo atual e por isso o Espiritismo irá dialogar com ele, estamos de acordo. Se você entende que o Espiritismo está se transformando aos moldes da cultura new age, discordamos.

    Um abraço

    Jáder

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  3. Jáder,

    Sobre o post, concordo plenamente que o gênero do livro não tem nada a ver, a priori, com sua qualidade, de modo que podemos encontrar bons e maus romances, assim como bons ou maus estudos históricos, filosóficos, científicos ou o que for. O ponto que comentei, e que gerou dúvida, diz respeito ao mercado do livro espírita. Você sabe que, em torno da new age, um grande mercado (com interesses muito mais pragmáticos do que doutrinários) se formou nos últimos anos. Neste mercado new age, um dos produtos são os livros, DVDs, CDs espíritas e espiritualistas. Atualmente, qualquer grande livraria (vide Fnac, Cultura etc.) vende esses produtos; parece que tal comércio cresceu exponencialmente (não conheço pesquisas a respeito), transbordando em muito as livrarias de centros espíritas. Tenho a impressão de que, pela lei da oferta e da procura, esse entrelaçamento entre espiritismo e new age - no âmbito mercadológico - tende a permanecer. E, à medida que aumenta a demanda, aumenta também a produção de novos produtos espíritas, por enquanto sem grande exigência de qualidade pelo consumidor... É uma impressão que tenho; não sei se estou certo.

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  4. Jader,

    Se esses livros conseguem espaços nas prateleiras das livrarias espíritas e comerciais, encantando os leitores de auto-ajuda, de obras espiritualistas e new age como já foi dito aqui, não é de responsabilidade somente de quem as publica, mas também dos "espíritas" que continuam "calados" em nome de uma falsa caridade e de uma falsa bondade, deixando " A cada um segundo as suas obras"...

    São responsáveis em permitir tanto joio em meio ao trigo , através do silêncio e da omissão das grandes Instituições,Federações e centros espíritas,associações divulgadoras que também ganham muito com tudo isso.

    Tá na hora de dar nome aos bois...

    Precisamos realmente esclarecer as pessoas e dizer quem está iludindo-as !!!

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  5. Magali,

    O assunto é polêmico. Como expositor, se eu critico em público uma obra, pode acontecer duas coisas: ou as pessoas se interessam em ler (aí eu a estou divulgando), ou as pessoas passam a rejeitar tudo o que o autor publica (generalizando indevidamente).

    Eu vi uma federativa praticamente demonizar (publicou e divulgou que toda a sua obra era fruto de espíritos obsessores) um médium relativamente novo no meio editorial, por discordâncias, que não cabe aqui disccutir se eram bem ou mal embasadas.

    Outra federativa proibiu durante décadas a comercialização da obra de Divaldo Franco, porque seu presidente acreditava que se tratava de plágio da obra de Chico Xavier.

    Nós espíritas brasileiros temos muita dificuldade em lidar com a crítica, como Kardec o fazia. Além do mais, criticar é fácil, e há pessoas que se projetam apenas desconstruindo os demais, sem construir o conhecimento.

    Perdoe minha franqueza, mas penso que a mudança cultural começa dentro do centro espírita, e não nas Federativas, que devem dirigir seus esforços para a realização de ações de interesse do movimento que um centro não consegue fazer.

    Um abraço e obrigado pelo comentário.

    Jáder

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  6. Alexandre,

    Penso que a situação do movimento espírita ante o mercado é semelhante à da produção acadêmica. Precisamos de trabalhos de divulgação, que atinja o grande público e o faça interessar-se pelo Espiritismo. Isto tem que ser bem feito, para que o grande público não confunda Espiritismo com Espiritualismo ou New Age.

    Precisamos também de livros e revistas voltadas ao movimento espírita, para pessoas que já conhecem o que é o Espiritismo e desejam estudá-lo com profundidade. Este público fica prejudicado se as editora, distribuidoras, livrarias, bibliotecas e expositores só se interessarem pelo que dá lucro.

    Na Universidade publicamos livros que só interessam a um número restrito de pesquisadores, porque fazem avançar o conhecimento. Penso que o movimento espírita precisa conscientizar-se disto.

    Fraternalmente,

    Jáder

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