"Personalismo e espiritismo são dois polos que não se tocam.” Célia Xavier
Um dos fenômenos que tenho observado em instituições
espíritas é a territorialização. Podemos definir a territorialização em uma
organização como sua divisão em segmentos com regras próprias e núcleo de
poder, em dissonância com os elementos identitários da organização como um
todo.
A territorialização, no caso dos centros espíritas, pode
acontecer em associações grandes ou pequenas, mas é mais comum nas grandes
associações, geridas com estrutura, cargos e funções de gestão pensadas para
organizações menos complexas e de menor porte.
Não se confunde territorialização com departamentalização
das sociedades espíritas. Esta última prevê autonomia em determinados segmentos
ou departamentos, mas mantém coesão em torno de diretrizes gerais e de decisões
para a organização como um todo. A departamentalização reconhece que em
determinados segmentos, pode haver necessidades e características próprias, por
isso tem diretrizes gerais para o todo e permitem variações consistentes com estas
características gerais em departamentos específicos.
Este fenômeno vem acompanhado do surgimento de lideranças “individualistas”,
com aspirações, visão das tarefas e objetivos de seu(s) grupo(s) de trabalho
desconectadas da visão, missão e objetivos da organização como um todo. As
lideranças de territórios desenvolvem uma lógica de isolamento, evitar o
diálogo com lideranças organizacionais e não participação dos fóruns institucionais.
Para sustentarem-se, as lideranças são carismáticas, e atraem o respeito e a
fidelidade das pessoas que trabalham com elas. Aos poucos conseguem que as
pessoas percebam a direção institucional como uma espécie de “mal necessário”,
que se deve respeitar e tratar bem, mas não necessariamente seguir as diretrizes
que vêm dela, por mais democráticos e dialógicos que sejam os fóruns de
decisão.
Quando participam de órgãos deliberativos, os líderes
territoriais podem evitar o conflito verbal, mas boicotam as decisões coletivas
com as quais não concordam, considerando-se acima delas.
Tendo se acostumado com esta forma de liderar e coordenar,
se eleitas para cargos de nível organizacional, estas lideranças terão
dificuldades em lidar com as diferenças, tendendo ao autoritarismo e promovendo
conflitos nas relações. Em vez de promover o difícil e demorado caminho da
busca possível de consenso com base no diálogo, pretenderão normatizar a partir
de sua perspectiva individual. Transformam facilmente uma discussão de ideias
em um conflito pessoal, às vezes impondo seus pontos de vista e desqualificando
quem discorda deles.
Concebamos as sociedades espíritas territorializadas como
uma construção com rachaduras. Se não houver uma intervenção e uma
conscientização dos membros dos territórios que são também membros da sociedade
como um todo, e que precisam apoiar dentro do possível os projetos coletivos, a
construção de normas comuns, e os diretores, que tem o difícil papel de
articular uma organização cheia de pontos de tensão, a tendência é a ruptura ou
o isolamento, enfraquecendo a sociedade espírita como um todo.
Penso que todos nós temos uma tendência ou impulso ao
personalismo. É, portanto, um trabalho de autodesenvolvimento evitar que ele
se torne predominante na nossa vida de relação, aprendendo a ouvir e a
respeitar fóruns instituídos.
Não é à toa que Allan Kardec valorizasse muito o
entendimento e a colaboração entre os membros das sociedades espíritas.
O personalismo é um grande inimigo. Citando aquela frase em cartaz no Célia Xavier so personalismo...
ResponderExcluirLuiz H
Tenho visto exemplos desse comportamento, infelizmente. Parece que algumas pessoas levam "vicios" de sua vida profissional para dentro de sua atividade em Centros Espiritas (me atrevo a dizer, para dentro de suas igrejas, seja ela qual for). Resolver isso faz parte de nossa evolução!
ResponderExcluirLuiz Henrique, citei errado. Obrigado pela lembrança!!! Um abraço.
ResponderExcluirCarmine,
ResponderExcluirAssim fica difícil administrar uma casa espírita, não acha? Sem somatório de forças, sem colaboração, o trabalho estagna.
Um abraço