Foto: No solstício de inverno, após a noite mais longa, o sol nasce entre as árvores.
Estamos na véspera do Natal, ou pelo menos da data que foi
escolhida para comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Parece que na história
da igreja se escolheu o final de dezembro por ser a data do solstício de
inverno europeu, a noite mais longa do ano.
Em Roma se comemorava o “Dies natalis invicti solis”, festa
na qual os escravos agiam como se fossem homens livres. Nesta época também
havia a Saturnália e uma festa que alguns autores consideram germânica e outros
escandinava, o Yule. Nela o criador é representado como uma criança. Na exótica
China antiga, uma cultura tão diferente da nossa, também se comemora a
fertilidade.
No mundo católico, Júlio I ordenou que se fizesse uma
pesquisa e decretou, no ano 350 que o 25 de dezembro seria a data do nascimento
de Jesus. O imperador Justiniano, interessado no grande número de cristãos
romanos, decretou feriado. Outra religião influente em roma o Mitraísmo, o
culto do deus sol dos persas, que teria nascido no dia 25.
Não sou capaz de dizer quando teria sido o dia da
manjedoura, o dia em que nasceu um mestre humilde, capaz de dividir a história
apenas com suas palavras e ensinamentos. Ainda procuram algum fenômeno
astronômico que pudesse explicar a estrela de Belém, mas prefiro me ater ao
significado simbólico, de uma nova luz que se acende nos céus da humanidade. Há
historiadores preocupados com o suposto censo decretado por César, que teria
deslocado José e Maria, de Nazaré até Belém, a cidade do rei David de Israel,
mas acho mais comedido entender que a realeza de Jesus não vem de Israel, mas do
reconhecimento dos que aceitam sua mensagem como imperiosa, sem ser imperial.
Também sou incapaz de avaliar a virgindade de Maria, semelhante às histórias
antigas de mulheres que concebiam de deuses pagãos, então prefiro observar
atentamente sua castidade interior e a angelitude de seus propósitos descrita
pelo evangelista Lucas. Prefiro me ater à bênção da maternidade, uma
instituição milenar na qual uma mulher passa a se dedicar ao filho de forma tão
íntima e abnegada, que faz pensar em uma humanidade mais irmã e menos patroa.
Como o leitor pode ver, não sei muita coisa, mas sei que as
famílias se reúnem, sei que as pessoas se saúdam, desejando felicidade umas às
outras, que se faz um esforço para estar bem, uns com os outros. Vejo os carteiros levarem desejos de paz, saúde e até prosperidade. Vejo os telefones soando diferente, vencendo distâncias para levar uma palavra de alegria. Vejo as pessoas se acotovelando nas lojas para comprar presentes, mas vejo também que tentam encontrar algo que desperte um sorriso, que satisfaça a um pequeno desejo, que revele que eles se importaram.
E se nesta
hora conseguimos, ainda que por um momento passageiro, construir uma
experiência de paz e de trégua das coisas do mundo, vale a pena vivê-lo e
compartilhá-lo. Os filmes contam histórias de pessoas que deixam de lado seus
rancores e mágoas e tentam a reconciliação com antigos amores, parentes, pais,
filhos, nesta época diferente. Quem sabe não seria uma oportunidade?
Como espírita, sei também que os mortos costumam aproveitar
para falar de Jesus em nossos grupos e reuniões. Sei que à noite, mesmo no lar cristão
mais simples, ergue-se uma prece em memória do filho de Maria. Sei que médiuns
se emocionam, e que os grupos vivem uma experiência diferente. Quem sabe não encontramos um tempo em nossas assembleias para falar do Mestre?
Em nossa casa já
se distribuíram as cestas de natal, e se elas não mudaram a pobreza, acenderam
uma luz fugidia nos olhos de quem sofre, e uma chama no coração de quem
participou do milagre de sua construção e distribuição.
Desejo que todos os que leem esta crônica possam usufruir de
um minuto memorável de encontro com Jesus, através do encontro amoroso e desinteressado com os homens.
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