29.9.16

A PRÁTICA DE ABORTO AFETA A SAÚDE MENTAL DA MULHER?




Estava falando de aborto em um grupo espírita de Belo Horizonte, quando apresentei um resultado de pesquisa de revisão que mostrava a existência de uma síndrome pós-abortiva, na qual os distúrbios psicológicos com mulheres aumentavam de 9 a 59% após o aborto, de acordo com diversos estudos. Esta síndrome independia da crença no aborto como algo ético ou não.

Foi levantada uma questão de interpretação do fenômeno: a síndrome pós-abortiva não seria o mesmo que a depressão pós-parto, e não poderia ser explicada a partir de categorias apenas psicanalíticas? Ficamos em uma situação de impasse, porque eu não tinha informações suficientes sobre o estado da arte para apresentar de pronto, sobre a distinção entre depressão pós parto e síndrome pós-abortiva, embora a lógica me levasse a crer que os pesquisadores e revisores não teriam deixado “passar batido” uma questão como esta.

Há alguns dias, recebi um trabalho de Priscilla Coleman, do Dr. Roberto Lúcio, intitulado “Aborto e saúde mental: síntese quantitativa e análise das pesquisas publicadas entre 1995 e 2009”, publicado no British Journal of Psychiatry em 2011. (DOI: 10.1192/bjp.bp.110.077230)

É também um artigo de revisão (metanálise) no qual ela procura medir associação entre aborto e indicadores adversos de saúde mental, e mostrar a comparação com outros subgrupos, dentro dos quais, mulheres que levaram a gravidez a termo.

As mulheres que passaram pela experiência de aborto aumentaram o risco de ter problemas mentais em 81% e quase 10% podem ser atribuídas ao aborto (ou seja, os resultados são superiores aos de gravidez a termo, e quando se referem ao uso de substâncias e comportamento suicida).

A tabela que sintetiza os resultados utiliza um indicador epidemiológico denominado PAR. Ela pode ser interpretada da seguinte forma: o quanto haveria redução do transtorno mental da população feminina estudada se não houvesse praticado aborto?

Resultados
PAR (%)
Ansiedade
8,1
Depressão
8,5
Uso de álcool
10,7
Uso de maconha
26,5
Todos os comportamentos suicidas
20,9
Suicídio
34,9
Todos
9,9
Tabela 1: Percentuais do risco atribuível à população (PAR) baseados nas medidas de resultados.

Interpretando o dado do suicídio, a tabela informa que as mulheres cometeriam 34,9% menos suicídios se não realizassem aborto. O mesmo serve para ansiedade, depressão, uso de álcool e maconha, além dos demais comportamentos suicidas (como a ideação suicida, por exemplo).

Um dos resultados de comparação das mulheres que realizaram aborto com as que levaram a gravidez a termo, é o seguinte:

“A descoberta que o aborto é associado com riscos significativamente maiores de problemas de saúde mental, comparados com levar a gravidez a termo, é consistente com a literatura, demonstrando os efeitos protetores da gravidez a termo com relação a certas respostas de saúde mental.” (p. 183-184)

Há alguns resultados muito interessantes, como a referência ao estudo de Gissler e outros que mostra que a razão das chances de suicídios de mulheres que abortaram é 5,9, ou seja, muito maior que a da população que levou a gravidez a termo.

Considerando as informações obtidas neste estudo, há diferenças significativas na saúde mental de quem aborta e de quem leva a gravidez a termo. Neste caso, uma explicação psicanalítica precisaria ser capaz de explicar esta diferença entre sintomas de depressão pós-parto e síndrome pós-abortiva.


ATENÇÃO - O texto do British Journal of Psychiatry foi fortemente criticado e autores e editor reconheceram alguns erros com a composição da amostra. Em breve publico a retificação que fizeram. Agradeço ao Christiann Lavarini a disponibilização da informação.

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