Raul Teixeira, expositor e médium espírita
Uma de minhas grandes influências
na formação como espírita foi o professor Raul Teixeira. Eu o conheci ainda na
adolescência e pelo menos uma vez ao ano ele vinha em nossa casa. Físico, com
um conhecimento amplo das obras de Kardec, dos clássicos, das obras
complementares e de autores encarnados, como Carlos Imbassahy e Deolindo
Amorim, que ele conheceu, Raul era um misto de orador e professor, sempre trazendo
conteúdo com um raciocínio claro e direto.
Raul sempre exprimia, de forma
clara, a posição doutrinária e a sua interpretação em suas exposições, e cobrava
de nós a precisão do que falávamos. Certa vez ele perguntou quem era Andrew
Jackson Davis ao público, e como ninguém respondesse, eu arrisquei:
- Médium norte-americano do
século XIX, considerado o profeta da terceira revelação, autor de Penetrália e
outros livros.
Ele anuiu, mas corrigiu:
- Terceira revelação fica por
conta do Jáder, ele é considerado profeta da nova revelação.
Ele tinha razão. A ideia de três
revelações está em Allan Kardec, e não era empregada (talvez por
desconhecimento mesmo) pelos autores ligados ao espiritualismo moderno, de onde
se origina Davis.
Ao contrário do que se pode
pensar, suas exposições não eram excessivamente eruditas. Penso que ele se
preocupava em falar para o grande público, embora sempre trouxesse alguma coisa
nova, fruto de sua pesquisa pessoal, muitas vezes embaladas com sua grande
capacidade narrativa.
Posteriormente estudei didática
do ensino superior, com o professor Florêncio, da Universidade de Brasília, e
ele nos explicou o método indutivo na educação, que é amplamente utilizado no
movimento espírita, como uma espécie de provocação para que os alunos pensem e
não percam a linha de raciocínio do professor, que apenas expõe. É algo que se
deve fazer com critério, porque se pode consumir muito tempo, e sacrificar o
conteúdo das aulas.
Sócrates usava deste recurso,
pelo que lemos nos textos de seus discípulos, e o chamava de maiêutica, como
comparação ao trabalho de sua mãe, que era parteira. Na maiêutica, acredita-se
que os alunos conhecem a verdade (episteme), então o professor faz perguntas,
geralmente criticando e apontando os pontos obscuros de sua argumentação, até
que o aluno chegue à verdade (e não à sua verdade, como diz o Houaiss). Os
gregos influenciados pelo pensamento socrático entendiam que mais que uma
opinião (doxa), o conhecimento (episteme) deveria ser verdadeiro e justificado.
Sócrates se opunha aos sofistas,
que ensinavam retórica, no sentido de ser capaz de convencer os outros de seu
ponto de vista, sem se preocupar com a verdade, mas apenas com a imposição de
seu ponto de vista. Isto está bem atual em nosso país. Os sofistas eram muito
valorizados pelos pais que desejavam que os filhos fossem importantes, em uma
sociedade na qual os cidadãos decidiam o que fazer na cidade (polis) de forma
democrática.
Vimos acompanhando ao longo dos
anos um uso indevido do método indutivo, nas casas espíritas, e, talvez nas
mocidades espíritas. Não sei dizer se se deve a um uso indevido do
construtivismo, no qual se valoriza a obtenção do conhecimento (episteme) pelos
alunos, sem dependerem exclusivamente da exposição dos professores, e
utilizando de sua capacidade de pesquisa e obtenção de informação, que está
bastante multiplicada pelas novas mídias e tecnologias.
O abuso chegou ao ponto de um
expositor apenas perguntar, inúmeras vezes, questões diferentes, sem nada
concluir. O argumento que ouvi é que se deixa a cada um o trabalho de
responder, subjetivamente, as questões que são levantadas. Sessenta ou noventa
minutos, com dezenas de perguntas sem resposta. Na minha ótica, voltamos ao
mundo da opinião (doxa) e abandonamos o conhecimento (episteme).
Quando penso em um programa de
estudos todo baseado nesta forma de ensino-aprendizagem, preocupa-me que o
pensamento de Kardec, por exemplo, que usava do recurso de perguntas e respostas para que
um texto complexo se tornasse mais claro, se transforme em uma grande confusão,
já que cada um conclui à sua maneira, sem as devidas informações.
Penso que os jovens devem
realmente usar de diversas formas de ensino-aprendizado, até mesmo usando das
artes e de outros recursos para que suas reuniões sejam mais agradáveis e
prazerosas, mas sem abandonar sua finalidade principal, que é o acesso ao
conhecimento espírita.
Muito feliz sua abordagem, Jáder! E bem a propósito.
ResponderExcluirUma variante disso, que tenho observado, é a quantidade excessiva de perguntas. Em vez de permear a exposição com uma ou outra indagação, que quebre a monotonia e instigue o raciocínio, o expositor joga uma pergunta atrás da outra, como se estivesse lidando com crianças. A exposição fica truncada, perde-se um tempo danado esperando que alguém ou o expositor responda à pergunta feita e dê andamento na exposição...
Bom senso, parece, é o que parece faltar em algumas situações.
De pleno acordo, Lourenço!
ResponderExcluirBrilhante texto, Jader...
ResponderExcluirObrigado, amigo!
ResponderExcluirÓtimo texto para reflexão, prezado Jáder. Nas aulas de evangelização costumo, às vezes, dependendo do plano de aula, fazer perguntas para logo após introduzir o conteúdo de maneira dialogada, mas sempre pontuando com os ensinamentos da codificação espírita. Utilizo sempre "O Livro dos Espíritos" para estimular aos evangelizandos o interesse pelo mesmo e até que tem dado certo. É frequente que a turma sempre me pergunte "o que diz O Livro dos Espíritos" sobre isto? Ou sobre aquilo? Evangelizo crianças de 11 e 12 anos (3º ciclo de infância) e muitas delas já vem das turmas anteriores com uma boa bagagem de Doutrina Espírita. Acredito que uma aula que tenha um espaço para o diálogo seja bem proveitosa, mas que o instrutor sempre pontue o assunto com o ponto de vista do Espiritismo.
ResponderExcluirPrezado leitor (a)
ResponderExcluirUm bom exemplo do uso do método indutivo corretamente!
Muito bom que eles conheçam Kardec. É a base do espiritismo.
Continue seu trabalho!
Fraternalmente,
Jáder