Allan Kardec utilizou alguns conceitos próprios de sua época para a exposição de teses espíritas. Alguns deixaram de ser usados pelas respectivas áreas da ciência, o que exige do leitor da codificação um resgate do sentido dos termos na época e do contexto teórico no qual eles foram utilizados para uma compreensão clara do raciocínio do codificador e dos espíritos que dialogaram com ele.
Letargia e Catalepsia são conceitos associados à tese da emancipação da alma e que com o passar do tempo foram ganhando novos sentidos até caírem em desuso na Medicina e na Psicologia.
É possível que o sentido utilizado por Kardec tenha sido obtido nas teorias do magnetismo animal desenvolvidas depois de Mesmer, especialmente na obtenção do sonambulismo provocado.
Letargia, em “O Livro dos Espíritos” significa em estado de “perda temporária da sensibilidade e do movimento”, em que o corpo parece morto, no qual os sinais vitais se tornam quase imperceptíveis, a respiração reduz-se bastante e a pessoa pode ser tomada como morta.
Catalepsia em Kardec é uma espécie de letargia parcial, que atinge apenas alguns órgãos do corpo e que pode não prejudicar a comunicação com o seu portador, que poderia ter este estado induzido pelo magnetismo animal (passes, como dizemos hoje).
Alguns fenômenos parapsicológicos (humanos, mas não estudados convenientemente pela Psicologia) podem ser encontrados concomitantemente a estes dois estados. Um deles é a hiperestesia, ou seja, uma ampliação paradoxal da capacidade dos sentidos. Há registros de casos de sonâmbulos que, em estado cataléptico, eram capazes de descrever o que acontecia a uma distância muito superior à capacidade de nossos órgãos, ou de descrever, por exemplo, percepções que eles alegavam ter de órgãos internos do organismo de pacientes que lhes eram trazidos.
Kardec analisou situações de quase-morte na Revista Espírita. Há diversos casos de letárgicos, pessoas que chegaram a ser consideradas mortas pela medicina da época como a Sra. Schwabenhaus (Revista Espírita, 1858) ou que passaram por situações de claro risco de morte, ou como o Dr. D. (Revista Espírita, 1867), que ficou mais de meia hora debaixo d’água e foi resgatado e retomou a consciência.
Outro caso apresentado por Kardec é o da jovem cataléptica de Souabe, que após um evento traumático (morte da irmã), entrou em um estado entre cataléptico e letárgico e passou a ser capaz de descrever pessoas enterradas, bastando ser levada próxima ao túmulo e a descrever a aparência de pessoas idosas que a visitavam quando eram jovens e sem modificações do tempo e das doenças.
Eles narram histórias envolvendo o contato com pessoas desencarnadas e descrições do plano espiritual. Por esta razão, Kardec teorizou que os sonâmbulos, letárgicos e catalépticos perceberiam o plano espiritual, ou dariam notícias de eventos à distância porque perceberiam com a alma, semi-liberta do corpo (emancipação) que transmitiria suas sensações espirituais ao cérebro.
Posteriormente, o hipnotismo e a neurologia dariam um outro sentido à letargia e à catalepsia, que hoje se encontram em desuso (muitos hipnotizadores ainda os utilizam), substituídas pelo conceito mais preciso de “coma”, mas os estranhos fenômenos descritos por Kardec continuam acontecendo, como se pode ler no livro “Vida além da Vida” do Dr. Raymond Mood Jr. e nos estudos de experiências de quase-morte, que se transformou em linha de pesquisa de médicos e parapsicólogos modernos.
17.9.08
Letargia e Catalepsia
Figura 1: Yvonne Pereira, médium brasileira, quase foi enterrada na tenra infância por ter sido considerada morta pelos médicos (letargia).
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MUITO BEM ESCRITO , O AUTOR DÁ SINAIS DE SER UM ESTUDIOSO SÉRIO.
ResponderExcluirUMA LEITURA AGRADÁVEL
Estava procurando algo sobre Letergia e Catalepsia para meus estudos e encontrei esse blog sugerido pela pesquisa Google, achei perfeito e tudo postado de forma clara para que não reste muitas dúvidas ao leitor.
ResponderExcluirParabéns
pessoal isso está ERRADO, passe não é um fluido animal como disse o texto. estão errados por tanto não tirem informações deste blog, pois assim como tem este erro terão muitos outros que na leitura rápida não os encontraremos. cuidado!!!
ResponderExcluirVamos pesquisar mais... o fluido é do magnetizador.
ExcluirA que exatamente se refere?
ExcluirAmigo, eu não afirmei que o passe é um fluido animal. Magnetismo animal é uma teoria que remonta a Mesmer e que faz parte da formação de Kardec e do vocabulário que ele usa.
ResponderExcluirNo capítulo XIV de A Gênese, Kardec classifica os fluidos em humanos e espirituais e trata da sua interação (parágrafo 33), ou seja, amplia a teoria mesmeriana do magnetismo animal.
Você pode ler sobre o magnetismo animal na Revista Espírita, organizada por Allan Kardec (outubro de 1858, maio de 1859, outubro de 1859, janeiro de 1860, etc.)
Recomendo também a leitura do livro "Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos" publicado pela Lachâtre e o livro "Magnetismo Espiritual", publicado pela FEB.
Quanto a pessoas usarem meus textos como sendo a verdade, junto minha voz a sua. Não o façam. Estudem antes, pergutem o que não entenderem, avaliem com a obra espírita.
Lamento muito que você tenha tomado uma posição tão extremada e supostamente paladina, sem antes dialogarmos.
Verdade. Eu já tinha lido essa expressão em um site espírita e se referiam ao passe magnético, numa expressão utilizada por Allan Kardec.
ExcluirQue as pessoas questionem, educadamente, ao autor da postagem, o que querem saber ao invés de tomarem atitudes movidas por impulsos agressivos.
Grata por seu texto.
A catalepsia é algo ainda muito estudado pela ciência e pela doutrina espírita.
A primeira vez que tive pensei estar em coma.
Por ter tomado conhecimento de um caso de um homem que caiu de um prédio, sofrido traumatismo craniano e entrado em coma.
Segundo me contaram esse homem ouvia tudo que os médicos, familiares, enfermeiros, etc, falavam porém não conseguia se mover.
Então, a primeira coisa que pensei foi "estou em coma." Eu era adolescente e me senti muito angustiada e ansiosa.
Esse evento ocorreu durante muitos anos, e eu sempre ficava muito ansiosa e angustiada.
Até que com o passar dos anos fui aprendendo a relaxar e despertava mais rápido.
Hoje, e muito raro ocorrer.
E quando ocorre sei relaxar e acordar.
A partir do momento que perdi o medo passei á ter catalepsia muito, muito raramente.
Certa vez, li que a catalepsia ocorria porque o portador teria medo de se desdobrar durante o sono.
Não sei se está associada a isso, contudo eu, de fato, tenho muito medo de passar por um desdobramento consciente. rsrs
Gratidão, mais uma vez.
Sandra, obrigado por compartilhar sua experiência conosco!
ExcluirNão nenhuma dúvida quanto ao embasamento doutrinário contido nas colocações do autor. São bastante esclarecedoras e simples de serem compreendidas. É claro que o que aqui está postado não constitui um tratado sobre letargia e catalepsia, mas, de qualquer forma é bastante esclarecedor. Parabéns Jader.
ResponderExcluirObrigado pelo incentivo, amigo. Você tem razão, não tenho pretensão, nem conhecimento suficiente para fazer um tratado, mas aquilo que publico normalmente é objeto de estudo e consulta.
ResponderExcluirSonambulo cataleptico e letargico nao sao sinonimos. Sao coisas completamente distintas. Alguem pode apresentar um sem necessariamente apresentar outro. O trato desses assuntos exije maturidade a fim de nao incorrer em generalizacoes pueris.
ResponderExcluirExplique-nos, então, por gentileza.
ResponderExcluirQuem entra anonimamente, nao merece atençao, provavelmente algum discrente.
ResponderExcluirEu não consegui entender a catalepsia... Poderia citar um exemplo por favor
ResponderExcluirHerika, a catalepsia é uma letargia parcial, ou seja, a perda da sensibilidade da mão ou da perna, por exemplo, ou da capacidade de movimentação de um membro, sem que haja qualquer problema no sistema nervoso. Os praticantes de hipnose falavam em fases do transe, que iriam da consciência plena à letargia (transe profundo). Eles testavam a catalepsia perfurando o membro com uma agulha, e o sujeito nada sentia, porque estava anestesiado. Isso fez com que alguns médicos e dentistas tentassem usar a hipnose como método de anestesia, mas foi abandonado, porque nem todas as pessoas conseguiam atingir este estado e às vezes eram necessárias muitas sessões até que se constatasse a catalepsia.
ResponderExcluirTínhamos em nossa reunião mediúnica médiuns de desdobramento (sonambulismo mediúnico, segundo Kardec), que ao voltarem do transe perdiam a sensibilidade dos braços.
Boa Noite Jader!
ResponderExcluirGostei muito de suas explicações. Estamos trabalhando o Tomo III e o tema é: Sonambulismo, Letargia . Catalepsia. Estava procurando exemplos de Catalepsia e os encontrei, aqui no seu Blog. Valeu!
Continue postando. pois dá para perceber que você se baseia nas Obras Espíritas. Muito Obrigada!
Iara.
Obrigado pelo incentivo, Iara. Aos pouquinhos vamos escrevendo e publicando...
ResponderExcluirPrezado Jáder, parabéns pelo seu blog, muito instrutivo. Se possível, gostaria de saber o seguinte: o fenômeno conhecido hoje como "Paralisia do Sono" é algum tipo de catalepsia?
ResponderExcluirPrezado Leitor,
ResponderExcluirConfesso que não conhecia a "paralisia do sono". Pelo que li, é uma síndrome, na qual a pessoa acorda, mas não consegue mover-se. Do pouco que li, o cérebro estaria em estado REM (movimento rápido de olhos, quando são comuns os sonhos) e a pessoa acorda. Esta condição está associada a baixos níveis de melanina e triptofano (wikipédia).
Como não havia estudos mais profundos de neurofisiologia na época em que se usavam os termos catalepsia e letargia, estes conceitos estavam associados à perda de mobilidade e sensibilidade do corpo (parcial ou total) sem que haja lesão do sistema nervoso, como apresentamos no texto. Pouco, não é?
Portanto, penso que se pode dizer que na paralisia do sono o paciente apresenta um estado de quase-letargia, explicado, até o momento, por razões neurofisiológicas.
Contudo, achei muito interessante as descrições de associações deste estado com "demônios", "fantasmas" e "seres sobrenaturais". O autor do artigo interpreta estas percepções como alucinações, e podem ser, mas me pergunto se, além da explicação neurológica, apenas como hipótese, o estado não poderia ser induzido hipnoticamente por espíritos em médiuns.
Se me permite, caro Jáder, indico para nosso enriquecimento o post abaixo do blog Era do Espírito, de Ademir Xavier:
ResponderExcluirhttp://eradoespirito.blogspot.com.br/2015/10/esboco-de-explicacao-espirita-para.html
Acredito que os espíritas podem avançar em estudos sobre a tal e tão comentada paralisia do sono.
Prezado Leitor,
ResponderExcluirO Ademir é um estudioso dedicado do espiritismo e dos autores clássicos, com boa formação em física e filosofia. Seu blog é muito sério e seus trabalhos sempre profundos. Você está bem acompanhado.
Jáder
Muito bom esses esclarecimentos, até os comentários anônimos são úteis prq acabam "forçando" uma resposta mais esclarecedora ainda.
ResponderExcluirParabéns Jader,teve paciência inclusive para responder para um anônimo!
ResponderExcluirDemonstrando competência e humildade ao mesmo tempo! Tudo que um verdadeiro espírita prega e pratica!
Jader, parabéns pelo texto. vai em ajudar na elaboracao de um estudo! fiquei contente em ler esta sua resposta: "Quanto a pessoas usarem meus textos como sendo a verdade, junto minha voz a sua. Não o façam. Estudem antes, pergutem o que não entenderem, avaliem com a obra espírita." eu faco a mesma recomendacao quando facilito algum estudo no grupo espírita.
ResponderExcluirBom dia, querido irmão Jáder obrigada pela materia, e pbrigada pelo aprendizado, me ensinou em poucas linhas uma sabedoria de Um verdadeiro espirita para lidar com pessoas....
ResponderExcluirQuanto a ser sinônimo ou não, refere-se Allan Kardec, no livro do Espíritos que ambos, letargia e catalepsia derivam do mesmo princípio que é a perda temporária da sensibilidade e do movimento por uma causa biológica ainda inexplicada, portanto não são sinônimos no sentido literal, porém requer uma análise e estudo do ponto de vista da espécie que os diferencia.
ResponderExcluirAo meu ver a doutrina não é excludente como exige o dicionário português, então, o preciosismo é da língua e não da interpretação do contexto. O estudioso transcreve o seu sentimento, como um todo e no caso do capítulo VIII do LE ele abrange "da emancipação da alma" e com isso ele busca comprovar que o Espírito tem atividade ininterrupta e que o seu conhecimento jamais se perde, mesmo quando não se recorda,que são os casos do estudo do referido capítulo.
Parabéns pela abordagem, para quem estuda não há nenhuma distorção e sim complementação do conhecimento realizado e construído por cada um.
Nossa amigo, muito interessante sua pesquisa e texto. Agradeço muito seu trabalho e inclusive sua ética. Percebamos as infinitas bençãos de companheiros dedicados e que nos informam conteúdos que nos enriquecem. Gratidão!
ResponderExcluirLuisete 4 março 2023.
ResponderExcluirMuito obrigada aos estudiosos da doutrina espírita, ela me está valendo muito... acontecimentos do passado me trouxeram até aqui. Estou a ler e reler os livros dos Espíritos e dos médiuns, que muito me ajudam.
Gratidão ❤️