2.11.08

Raul Teixeira Visita Minas Gerais


Foto 1: Raul Teixeira no Lar Espírita Esperança

Nas comemorações de seus 40 anos, com o apoio da Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, a mocidade da Associação Espírita Célia Xavier promoveu palestra do expositor fluminense Raul Teixeira.

Encontro de Gerações

O evento possibilitou o reencontro e a confraternização de diversas gerações da mocidade. Desde fundadores a atuais membros dos quatro ciclos, alguns ainda na casa de Célia, outros na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis e até mesmo “jovens” que se afastaram do movimento espírita estiveram presentes e “mataram a saudade”.

Apresentação de Luiz Fernando e Virgílio Almeida

Luiz Fernando recordou alguns dos pioneiros da casa de Célia Xavier ligados à criação da Mocidade: Virgílio Pedro de Almeida e “Seu” Aphrodísio. Em sua fala de abertura, outros espíritas já desencarnados da casa foram lembrados.

Virgílio Almeida do SEJA abriu o evento, recordando as experiências que compartilhou com os amigos na década de 80. Ele reafirmou as diretrizes da mocidade AECX que se baseiam no tripé amizade, estudo e trabalho.

Mais Recordações

Raul, emocionado, recordou-se de sua primeira palestra na Mocidade da AECX, a convite de Wanderley Coutinho, há 36 anos. Referiu-se a pessoas e acontecimentos que marcaram sua trajetória durante todo este tempo, como a visita à casa da “Vovó Adelaide”, a desencarnação de Evaristo e outras histórias, algumas hilárias, outras tocantes.

Um Personagem do Evangelho

Ele tornou contemporânea a história evangélica do “mancebo rico”, dando um novo sentido à distribuição das riquezas. “A capacidade de ler é uma riqueza ante a pessoa analfabeta. Ensiná-la a ler é distribuir riquezas”.

Religião e Religiosidade.

O conferencista reafirmou que a ação do homem no mundo pode ser uma forma de atender ao chamado do Cristo. Não se deveria cindir a vivência da mensagem cristã, enclausurando-a no Centro Espírita e nas práticas dos grupos espíritas. O expositor referiu-se ao trabalho e às conquistas que o homem realiza em outras instâncias sociais, mostrando verdadeiros testemunhos no trabalho cotidiano dos enfermeiros, dos médicos, dos professores, dos lixeiros e de todas as profissões que possibilitam um serviço à pessoa humana e uma vivência cotidiana dos preceitos cristãos.

As Trajetórias

Raul se referiu às muitas trajetórias dos jovens da mocidade que conheceu há muitos anos. Suas conquistas e dissabores, suas esperanças e frustrações, sua condição, enfim, de homens encarnados no mundo, às vezes equivocados, às vezes enfrentando as agruras próprias do homem no mundo, como as dores, as doenças, os conflitos.

Um comentário psicológico

O autor fluminense inseriu em sua fala um convite ao autoconhecimento, com um toque psicanalítico. Ele mostrou cenas do cotidiano espírita em que a exterioridade do compromisso com valores entendidos como cristãos e espíritas predispõem ao desenvolvimento de reações e comportamentos neuróticos. A pessoa que não trabalhou sua sexualidade pode passar a ver nos demais intenções sexuais em gestos de cordialidade, que não existem, exemplificou. Ele distinguiu este tipo de personalidade do que dirigiu sua carga erótica em função de um projeto humano e cultural.

A reafirmação de valores cristãos

Recordando “O Livro dos Espíritos”, Raul Teixeira conduziu o público a uma reflexão sobre o conhecimento que antecede a reforma moral. Ilustrou com inúmeras histórias de confrades que, conscientes das implicações de seus atos, passam a não adotar práticas sociais, consideradas lícitas no mundo, mas inconvenientes às pessoas, diante de uma visão ampliada da vida, das relações entre os homens e da conservação do corpo humano.

Pains

No dia 01 de novembro o expositor visitou Pains, levado pela família de Walter e Marlene Assis. O Centro Espírita Messe de Luz tornou-se pequeno e a palestra foi levada a um auditório ao lado da Prefeitura Municipal.

Foto 2: Público de Pains
Espíritas de toda a região prestigiaram o orador.

Ghandi, Lincoln, Luther King e Madre Teresa

Raul traçou a trajetória de quatro ícones da humanidade: Ghandi, Lincoln, Martin Luther King e Madre Teresa de Calcutá. Ghandi obteve a liberdade da Índia a partir da sua política de não violência e de ações coordenadas de boicote aos produtos ingleses.

A abordagem de Lincoln focalizou-se na participação da médium Nettie Colburn Maynard (Sessões Espíritas na Casa Branca - Editora O Clarim) e dos espíritos que apoiaram o presidente na luta pela abolição da escravatura e, depois, na guerra de secessão.

Ghandi e Lincoln foram assassinados por seus ideais, assim como Luther King, com sua famosa frase "I have a dream" (eu tenho um sonho) e sua luta pacífica pela igualdade de direitos entre negros e brancos nos Estados Unidos, que antecederam o "civil acts" (a lei de direitos civis).

Foto 3: Mesa formada em Pains - Da esquerda para a direita Marlene Assis, Raul Teixeira, Ângela e seu "braço direito"
Madre Teresa foi focalizada em seu desprendimento em favor dos menos favorecidos na Índia. Homens e mulheres colocados no lixo para morrerem, crianças nas ruas, sem acesso a educação, e a religiosa abandonou o conforto do ensino das classes superiores na Índia para atender as dores da periferia de Calcutá. Na falta de todos os recursos, ela alfabetizou crianças com gravetos e areia, tratou os indigentes em um galpão, conseguido com dificuldades.

Dois políticos e dois religiosos a serviço dos homens, três deles cristãos, um deles hindu.
SEJA
O professor ainda fará um seminário na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em Belo Horizonte, hoje dia 02 de novembro.

26.10.08

Lideranças na Casa Espírita



Foto 1: Melody Lewwellen recebe o prêmio de voluntária do mês por cuidar de crianças enquanto as mães se qualificavam profissionalmente, nos Estados Unidos

Caiu em minhas mãos um artigo no qual Michael Brown tenta ensinar executivos a liderar com base na experiência do "setor voluntário". Ao contrário do que diz a literatura, em vez de copiar a experiência das empresas nas associações voluntárias (como um centro espírita), ele faz o contrário.

O texto é muito rico, mas queria focalizar apenas algumas sugestões que ele aprendeu com os coordenadores de atividades:

1. O coordenador melhora as habilidades dos voluntários que trabalham com ele.

2. Ele pensa nas forças e fraquezas dos companheiros.

3. Ele se interessa pelas pessoas que estão na sua equipe ou grupo (em nosso caso, os frequentadores de reuniões públicas)

4. Ele conversa pessoalmente com os possíveis voluntários, para conhecer qual é o seu interesse pessoal, o que o motiva, com o que se importa, de onde veio e quais são seus valores familiares.

5. O coordenador não manipula as pessoas, sua intenção é desenvolvê-las e facilitar sua integração com as equipes de trabalho.

6. Inicialmente ele convida a pessoa a fazer algo dentro de suas possibilidades, algo pontual.

7. As colaborações pensadas ajudam a pessoa a se inserir no grupo e a interagir com outras pessoas;

8. Depois o líder auxilia as pessoas a avaliarem seu desempenho, perguntando: como eles sentiram a situação, porque disseram o que disseram, foram surpreendidos pela reação, foram surpreendidos por sua própria reação, o que poderiam ter feito diferente ou melhor e o que aprenderam da experiência.

9. Com a avaliação as pessoas entendem como colaboraram, o que foi importante para elas e aos poucos podem se disponibilizar a assumir mais responsabilidades se se sentirem bem trabalhando em equipe.

Valorizando as pessoas e auxiliando-as a se autodesenvolverem as sociedades espíritas terão menos conflitos, menos frequentadores e mais trabalhadores, porque partilharão com os que a procuram seu mais precioso bem.

Liderar não é dar ordens, é envolver as pessoas em um projeto comum.

Notícias do 4o. ENLIHPE


Foto 1: Mesa de Abertura do 4o. ENLIHPE
Foi realizado nos dias 27 e 28 de setembro de 2008 o 4o. Encontro Nacional da Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas. O Espiritismo Comentado esteve lá e irá fazer uma série de matérias sobre o evento.

Eduardo Carvalho Monteiro foi o idealizador da LIHPE, que é uma rede de intercâmbio entre pesquisadores espíritas no Brasil. Funciona continuamente em um espaço virtual eventualmente promove encontros, concursos, publica livros, coletâneas, etc. Ele também foi o idealizador do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, que funciona em São Paulo (veja uma publicação no EC que mostra uma visita no CCDPE).


O Centro se reformou para receber o ENLIHPE. Tendo à frente a advogada e trabalhadora incansável, Júlia Nezu (à mesa, à minha direita), que agregou uma equipe operosa, o CCDPE ofereceu condições mais que ideais para o evento.


O evento teve o apoio de duas federativas: a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, que se fez presente na abertura com o Sr. Paulo Ribeiro (vice-presidente) e a União Espírita Mineira, que enviou a SAMPA o Prof. Marcelo Gardini, membro da diretoria e responsável pelo acervo histórico da federativa mineira. Marcelo apresentou um slide-show que emocionou os presentes, mostrando o passado e o presente da federativa, o que incluiu todos os seus presidentes e o recente Congresso Espírita Mineiro.

Nas extremidade dirreita da mesa de abertura temos o Oceano Vieira de Melo, amigo do Eduardo que fez um video documentário sobre a obra do trabalhador paulistano, de cerca de 20 minutos. O vídeo foi apresentado no evento e logo a seguir homenageou-se a família do empreendedor espírita (foto 2).

Representando a família na mesa de abertura está Leonardo Carvalho Monteiro, irmão do Eduardo.


Foto 2: Homenagem á família do Eduardo

Neyde Schneider, diretora de eventos do CCPDE e presidenta do Centro Espírita 12 de Outubro entrega flores à família do Eduardo na pessoa da Márcia (irmã e voluntária do CCDPE).

Nas próximas publicações apresentaremos uma síntese breve das exposições do ENLIHPE.

16.10.08

Alcoolismo e Drogas

Figura 1: Capa do Livro


A modernidade nas grandes cidades, com seu consumismo viciante, as valorização das pessoas a partir de seu poder de consumo, a competitividade excludente, a fragilização dos vínculos de família e a criação de um exército de sub-cidadãos na periferia das grandes cidades tem como nova "endemia social" o uso e a dependência de bebidas alcoólicas e de drogas.
Medo, depressão, frustração contínua, a construção de uma identidade marginal, rebeldia, estresse, ansiedade, desejo de aceitação social, oposição aos valores cristãos, suporte social precário, são alguns dos fatores psicossociais que acompanham a trajetória de pessoas em uma espiral descendente rumo a este tipo de vício.
Em março de 2008, aconteceu o 5º Seminário Beneficente Divaldo Pereira Franco, no Rio de Janeiro, tendo a drogadicção como tema. Ele foi montado em cima de comentários de Joanna de Ângelis - Espírito, na obra psicografada pelo médium baiano, a partir dos quais expositores espíritas e especialistas da área de saúde desenvolveram uma diversidade de abordagens sobre o tema. Encontram-se também depoimentos de drogaditos, que conferem um caráter vivencial ao livro.
A iniciativa se tornou livro, apoiada pelo MAP (Movimento de Amor ao Próximo), que o está relançando no dia 28 de outubro, no G. E. Joana D'Arc, situado à Av. Vicente Carvalho 203 em Vaz Lobo, Rio de Janeiro.
A renda do livro irá para o "Centro de Tratamento de Dependentes de Drogas", Projeto Cristo Consolador, que é uma parceria do MAP com o Centro Espírita Irmão Samaritano.
Ajude a divulgar, adquira o livro, informe-se, participe.

12.10.08

Espiritismo e Religião



Figura 1: Daniel Dunglas Home

Kardec publicou na Revista Espírita de março de 1858 a seguinte consideração, após analisar a mediunidade de Daniel Dunglas Home.

"A religião nos ensina a existência da alma e a sua imortalidade; o Espiritismo disso nos dá prova palpável e viva, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. O materialismo é um dos vícios da sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu para quem tudo relaciona com a matéria e a vida presente? A Doutrina Espírita, intimamente ligada às idéias religiosas, esclarecendo-nos sobre a nossa natureza, nos mostra a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra o homem quanto aos seus deveres para com Deus, a sociedade e a si mesmo; ajudar a sua propagação é dar um golpe mortal na praga do ceticismo, que nos invade como um mal contagioso; honra, pois, àqueles que empregam, nessa obra, os bens com que Deus os favoreceu na Terra!"

Observe o leitor, que mesmo no início dos trabalhos da codificação, quando Kardec pensava ser possível desenvolver uma metafísica baseada no ensino dos espíritos que servisse de fundamento às religiões em geral, porque demonstrava a existência da alma, ele não negava o papel do cristianismo e de sua ética, na proposta social espírita, assim como combatia as idéias céticas e materialistas às que reputava a ilusão de perceber a vida com base exclusiva na vida presente.

11.10.08

Comunicação sobre Obsessões Coletivas

Em fevereiro de 1865, Kardec publicou na Revista Espírita a comunicação de um espírito protetor através da conhecida mediunidade da Sra. Delanne. Ela trata das obsessões coletivas e explica um caso em Madagascar e o dos endemoniados de Morzine, que acabamos de comentar.


Figura 1: Capa atual da Revista Espírita, publicada pela FEB

"Esta noite eu vos ouvi ver os fatos de obsessão que se passaram em Madagascar; se o permitis, emitiria minha opinião sobre esse assunto.

Nota.- O Espírito não tinha sido evocado; estava, pois, lá, no meio da sociedade, escutando, sem ser visto, o que ali se dizia. É assim que, com o nosso desconhecimento, temos sem cessar, testemunhas invisíveis de nossas ações.

Essas alucinações, como as chama o correspondente do jornal, não são outra coisa senão obsessão, obsessão no entanto de um caráter diferente daquelas que conheceis. Aqui, é uma obsessão coletiva produzida por uma plêiade de Espíritos atrasados, que, tendo conservado suas antigas opiniões políticas, vêm por manifestações tentar perturbar seus compatriotas, a fim de que estes últimos, tomados de medo, não ousem apoiar as idéias de civilização que começam a se implantar nesse país onde o progresso começa a nascer.

Os Espíritos obsessores que impelem essas pobres pessoas a tantas manifestações ridículas, são os dos antigos Malgaches, que estão furiosos, e eu o repito, de ver os habitantes dessas regiões admitir as idéias de civilização que alguns Espíritos avançados, encarnados, têm a missão de implantar entre eles. Também os ouvis freqüentemente repetir: "Mais preces, abaixo os brancos, etc." É vos fazer compreender que são antipáticos a tudo o que pode vir dos Europeus, quer dizer, do centro intelectual.

Não é uma grande confirmação de vossos princípios, essas manifestações à vista de todo um povo? Elas são menos produzidas por essas populações semi-selvagens do que para a sanção de vossos trabalhos.

As possessões de Morzine têm um caráter mais particular, ou por melhor dizer, mais restrito. Podem estudar-se, sem sair do lugar, as fases de cada Espírito; observando os detalhes, cada individualidade oferece um estudo especial, ao passo que as manifestações de Madagascar têm a espontaneidade e o caráter nacional. É toda uma população de antigos Espíritos atrasados que vêem, com despeito, sua pátria sofrer o impulso do progresso. Não tendo progresso por si mesmos, procuram entravar a marcha da Providência.

Os Espíritos de Morzine são comparativamente mais avançados; embora brutos, julgam mais sadiamente do que os Malgaches; discernem o bem e o mal, uma vez que sabem reconhecer que a forma da prece nada é, mas que o pensamento é tudo; vereis, de resto, mais tarde, pelos estudos que fareis, que não são tão atrasados quanto o parecem à primeira vista. Aqui, é para mostrar que a ciência é impotente para curar esses casos por seus meios materiais; no fundo, é para atrair a atenção e confirmar o princípio."

Os Possessos de Morzine

Figura1: Morzine no mapa francês

Allan Kardec publicou um estudo sobre "possessos" na região de Morzine, Alta Savóia, pequena cidade com cerca de 2500 pessoas. O fenômeno iniciou-se com duas estudantes que alegavam ver Maria, mãe de Jesus, e que apresentavam convulsões. Elas foram exorcizadas pelo abade Pinguet em 1857 e pararam temporariamente de apresentar suas visões e convulsões.


A França anexou a Savóia em 1860 e as autoridades francesas proibiram a prática de exorcismo, tido como superstição (Harris, 1997). Outras pessoas começaram a apresentar não apenas as convulsões, mas diziam-se tomadas pelo demônio, o que levou o Dr. Artháud, de Lyon, a diagnosticar o acontecimento social de "histero-demonopatia". Cabe comentar que nesta época mal se distinguia a histeria da epilepsia, posto que pouco se sabia sobre os neurônios e seu funcionamento.



Figura2: Igreja de Morzine

As pessoas "endemoniadas" aumentaram e chegariam a quase duzentas até 1863. Morzine tornou-se um problema para a administração francesa, que, influenciada pelo espírito racionalista e materialista oriundo da revolução francesa, entendia tratar-se de ignorância, superstição ou algum quadro clínico de causas naturais.

O governo francês enviou o Dr. Adolphe Constant (ou Constans) para o local. Ele defendeu em seu relatório que a demonopatia era causada pelos seguintes fatores: insalubridade das habitações, má qualidade da alimentação e estado histérico dos doentes do sexo feminino (à época acreditava-se que a histeria era relacionada ao útero, sendo uma doença feminina). Não restringindo-se a diagnosticar, o alienista iniciou uma "cruzada" contra os doentes. Segregou-os do meio social, internando-os em hospitais de alienados e até em quartéis. Posteriormente ele viria a criar bibliotecas e cursos de dança (Harris, 1997), mas continuou suprimindo violentamente as manifestações. Algumas mulheres, em 1863 chegaram a fugir para a Suiça, com medo de serem extraditadas para as américas.

A suposta demonopatia continuou até cerca de 1873. Ruth Harris afirma que com os atos de repressão das autoridades francesas, muitos "endemoniados" passaram a dar vazão ao demônio em suas casas, sendo acobertados por seus familiares.

Vê-se que as ações propostas pelo médico não guardam muita relação com sua análise de causas. Esta última tornou-se uma espécie de "discurso científico" que justificaria os atos arbitrários que cometeu.



Figura 3: Vista atual de Morzine

A história chegou a Mirville (magnetizador) e a Kardec. Kardec trocou correspondências com médicos e espíritas locais e dá a entender que chegou a visitar a região e a ver alguns dos "possessos".

Ele publicou em dezembro de 1862 o seu primeiro artigo sobre o evento, e mais quatro outros em 1863. Constans leu alguns dos artigos e os dois entraram em debate franco sobre a questão.

Kardec desconstrói a análise de Constans. Segundo ele, não há como afirmar que a localidade fosse miserável e insalubre (outros lugares na França e na Suiça seriam mais e não apresentariam os mesmos fenômenos), não há outros sinais de má alimentação (ele encontrou poucas pessoas com raquitismo ou bócio), e a tese da histero-demonopatia, além de meramente descritiva pelo frágil avanço das ciências da época, não explicava alguns fenômenos que aconteceram no povoado.


O Dr. Alexander sintetizou os argumentos de Kardec no trabalho publicado recentemente na "Transcultural Psychiatry" da seguinte forma:

"(...) a expressão de habilidades não adquiridas (falar francês fluente e responder em linguagens diferentes, como o alemão e o latim), o conhecimento de eventos à distância (clarividência), a leitura do pensamento de outros (telepatia), transfiguração, referir-se a si mesmo na terceira pessoa ("ela", "a filha", etc.), a manifestação corrente de uma personalidade que se considera o demônio, o paciente afirmar que um poder externo o controla, o comportamento normal nos intervalos entre os episódios, pressão arterial normal apesar da intensa agitação, ódio intenso da religião e amnésia entre os episódios."

Kardec argumenta que se trata de uma obsessão coletiva, que abateu-se na localidade "uma nuvem de espíritos malfazejos", da mesma forma que já aconteceu em outros lugares. As vítimas têm sensibilidade mediúnica e "o eu do espírito estranho neutraliza momentaneamente o eu pessoal".


Figura 4: Mesmerismo
O codificador entende que "os espíritos curadores e consoladores, atraídos pelo fluidos simpáticos, substituirão a maliga e cruel influência que desola aquela população." Ele cita a correspondência do Sr. A..., de Moscou, que passou por problemas semelhante em suas terras e que tratou dos obsediados com "imposição de mãos" e "fervorosa prece".

Estes artigos de Kardec, ao lado dos que discutem a chamada "loucura espírita" são as bases de muitos dos trabalhos e terapêuticas que dispensamos hoje a médiuns, doentes mentais e pessoas em sofrimento psíquico que procuram os centros espíritas.

Um olhar espírita do século XXI, já distante no tempo, seguramente manteria a análise do codificador: há indícios de mediunidade e obsessão nestes fenômenos. Isto não significa que, em um fenômeno coletivo como este, também não pudesse haver epilépticos (que infelizmente foram asilados), histéricos ou simplesmente neuróticos impressionáveis e pessoas que viveram uma situação de estresse e de desenraizamento, devido à mudança de pátria e à intervenção repressora cultural das autoridades francesas. Junte-se tudo isto e temos uma explicação plausível para as proporções e temporalidade das pretensas possessões de Morzine.

5.10.08

Vinte e Cinco Mil


Neste dia eleitoral no Brasil comemoramos 25 mil acessos do Espiritismo Comentado. Em setembro atingimos um recorde de pessoas e acessos, mais de 120 pessoas realizaram mais de 240 acessos em um único dia.
A comunidade internacional continua presente no EC. Em setembro tivemos acessos da Oceania (Austrália), do Japão, Europa, África, de países de língua espanhola na América Latina e do leste ao Oeste dos Estados Unidos. Cabe uma nota importante para a comunidade norte-americana e canadense: obrigado pelo esforço em acessar e muitas vezes traduzir o conteúdo para sua(s) língua (s).
No continente europeu, os portugueses são nossos assíduos parceiros, auxiliando até nas campanhas que o EC tem mantido, como foi o caso da Sociedade Espírita Joanna de Ângelis - BH. Os espanhóis estão cada vez mais presentes em nossos acessos, e surpreeendeu-nos o interesse de "navegantes" das ilhas atlânticas, portugueses e espanhóis.
A comunidade espírita Brasileira, contudo, tem sido de longe a grande parceira neste projeto. Acessa e comenta ativamente as publicações, faz pesquisas de temas novos que ainda não tivemos a oportunidade de publicar, envia mensagens de apoio ao blog e ao meu e-mail pessoal. Muito grato aos conterrâneos pelo incentivo que dão ao EC!

4.10.08

Toda Assistência é um Assistencialismo?



Assistência social: conjunto das medidas através das quais o Estado (ou entidades não governamentais) procura atender às pessoas que não dispõem de meios para fazer frente a certas necessidades, como alimentação, creches, serviços de saúde, atendimento à maternidade, à infância, a menores, velhos etc.; serviço social

Assistencialismo: 1 soc doutrina, sistema ou prática (individual, grupal, estatal, social) que preconiza e/ou organiza e presta assistência a membros carentes ou necessitados de uma comunidade, nacional ou mesmo internacional, em detrimento de uma política que os tire da condição de carentes e necessitados 2 pol pej. sistema ou prática que se baseia no aliciamento político das classes menos privilegiadas através de uma encenação de assistência social a elas; populismo assistencial

Não é preciso fazer uma revisão de literatura muito profunda para ver que existe uma diferença marcante entre a assistência social e o assistencialismo, como se pode observar nos verbetes do dicionário Houaiss. A primeira palavra tem o sentido de uma espécie de socorro, auxílio. A segunda palavra é seu pejorativo, ela focaliza o momento em que o socorro tem uma intenção pérfida, que é a de manter o socorrido necessitado com finalidades político-econômicas.

Apesar desta distinção gritante, a idéia de que toda assistência é um assistencialismo tornou-se vigente. Tem-se construído ao longo dos anos um preconceito imenso contra os trabalhos de auxílio empreendidos principalmente pelas instituições religiosas.

Eu já ouvi em uma reunião de estudantes a expressão “amansar o cordeiro” referindo-se às práticas assistenciais. Foi uma reunião curiosa, porque os acadêmicos “politizados” tinham medo de ter sua imagem associada a qualquer prática de auxílio, generosidade (esta sim, uma palavra mais aceita), socorro, apoio. Como se a omissão de socorro pudesse ser capaz de criar consciência social, pudesse mobilizar as pessoas a construir uma sociedade melhor, tivesse um valor em si.


Há mais de vinte cinco anos participo ativamente do movimento espírita, e tenho visto em poucos momentos a prática de assistencialismo, em muitos a prática de assistência. Os resultados são modestos (assim como os recursos que se consegue para obtê-los) mas atingem muitas vezes seu tímido papel transformador, ao contrário de muitas políticas de estado (que contam com grandes recursos e esparsos resultados).

3.10.08

Florentino Barrera traduzido para o português

A Madras Espírita, em parceria com a USE-SP lançaram "O Processo dos Espíritas - A História de uma Injustiça", escrito pelo espírita argentino Florentino Barrera.

O tema não é novo. Hermínio Miranda fez uma tradução do livro escrito por Marina Leymarie (esposa do então presidente da Sociedade para a Continuação das Obras de Kardec), que teve seu marido preso por uma acusação de estelionato envolvendo-o em conjunto com o Sr. Buguet (o fotógrafo médium) e o Sr.Firman.

O livro de Barrera traz novas informações obtidas em fontes de língua espanhola, que desconhecíamos. Ele mostra a possível influência clerical nas origens do processo, não deixa dúvidas sobre a intencionalidade em atingir Leymarie e dá detalhes do processo, como o conteúdo das testemunhas de defesa, que mostram que as fotografias não poderiam ter sido montadas com bonecos, como o afirmou o Sr. Buguet (que ganhou a liberdade com esta mentira).

Há uma biografia de Leymarie, contando sua infância e juventude, contribuição importante para o conhecimento de um personagem vilipendiado pela sociedade francesa no século XIX.

O leitor terá a oportunidade de ver a carta que Buguet escreveu para Leymarie pedindo desculpas pelas calúnias dirigidas e ele, peça fundamental para a libertação do espírita francês no recurso que ele encaminhou a uma corte superior.

Uma curiosidade, o livro apresenta uma foto atribuída a Jesus de Nazaré, obtida na sede da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Esperamos que a Madras melhore a qualidade das inúmeras fotografias que enriquecem o texto de Barrera nas próximas edições, mas recomendamos aos interessados na históra do espiritismo após Kardec sua leitura imediata.


2.10.08

Divaldo Franco é entrevistado na Rede TV

O médium e orador Divaldo Pereira Franco foi entrevistado recentemente pela jornalista Sônia Abrão na Rede TV. Assista a entrevista no You Tube.
PARTE 1: http://br.youtube.com/watch?v=EV_uBeNipVI
PARTE 2: http://br.youtube.com/watch?v=4I_ZFSBuy90


A entrevista faz parte da estratégia de lançamento do programa TRANSIÇÃO – A Visão Espírita para um novo Tempo. Ele estréia em Rede Nacional, dia 05 de outubro de 2008, das 15:00h às 15:30h, na REDE TV.


Espiritismo e Universidade: Tese de Doutorado na UNICAMP

Autor da Tese: Alexandre Caroli Rocha

Anote o link: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434

Ele vai levar você à tese "O caso Humberto de Campos : autoria literaria e mediunidade".

Leia o resumo: Entre 1937 e 1969, publicaram-se 12 livros que o médium Francisco Cândido Xavier atribuiu ao escritor Humberto de Campos e a Irmão X. O objetivo desta tese é estudar o funcionamento autoral desses textos. Ela foi dividida em cinco capítulos: uma apresentação de Humberto de Campos; um breve histórico da mencionada atribuição de autoria; uma análise da construção de um autor espiritual; uma leitura de cinco textos do conjunto mediúnico; e uma interpretação das noções autorais despertadas por tais livros

Read the Abstract: Between 1937 and 1969, the medium Francisco Xavier published 12 books that he attributed to Humberto de Campos and Brother X. The purpose of this doctoral thesis is to investigate the authorial functioning of this system. The present work is divided into five chapters: a presentation of Humberto de Campos; a short historical overview of the socalled authorship attribution; an analysis of the construction of a spiritual author; a critical reading of five texts taken from the mediunic set of writings; and an interpretation of the authorial notions suscitated by such books

1.10.08

Revista Espírita é Lembrada em Evento de BH




A Associação Espírita Célia Xavier promove mais uma edição da Semana de Kardec em comemoração ao nascimento do codificador do Espiritismo. Em 2008 a Revue Spirite faz 150 anos de lançamento. Escolheram-se temas ligados ao período em que Kardec foi o editor (1858-1869).


Participem.

29.9.08

Espiritismo e Universidade: Chico Xavier e a Antropologia


Bernardo Lewgoy publicou na Revista de Antropologia da USP o artigo "Chico Xavier e a Cultura Brasileira". Neste trabalho ele faz o seguinte destaque:

"O ponto mais importante na consideração do lugar de Chico Xavier na cultura e na religiosidade do Brasil do século XX reside na peculiar combinação que este realiza, através de sua biografia, entre o espiritismo kardecista com um catolicismo familiar e popular bastante tradicional." (LEWGOY, 2001, p. 62)

Lewgoy descreve com detalhes uma grande quantidade de pontos na obra de Chico Xavier que a aproxima ao catolicismo. Seu trabalho é bem fundamentado, contudo, ele supervaloriza o racionalismo em Kardec, esquecendo-se de textos importantes do codificador, como por exemplo o final de "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (com o título como "A Prece Segundo o Espiritismo"), no qual o codificador defende idéias cristãs, ponto de contato entre o Catolicismo e o Espiritismo, como na passagem abaixo:

"Além do anjo guardião, que sempre é um Espírito superior, temos os Espíritos protetores que, embora menos elevados, são igualmente bons e generosos. Eles são, geralmente, parentes, amigos ou quaisquer pessoas que não conhecemos em nossa existência atual. Eles nos ajudam pelos seus conselhos, e muitas vezes intervindo nos atos de nossa vida."

No 4º ENLIHPE, a historiadora Míriam Hermeto apresentou um folheto de inauguração de um Centro Espírita de Belo Horizonte, que teve a presença de Chico Xavier. Na capa encontra-se impresso "Comemoração do Dia dos Mortos", e no seu interior uma mensagem de Emmanuel desconstruindo as prática então vigentes de comportamento nesta data, sob o argumento de que não há morte.
Penso que grande parte das passagens que Lewgoy utiliza para mostrar um sincretismo católico, são desdobramentos ou referências diretas ao pensamento kardequiano. Gostaria de, respeitosamente, remetê-lo ao capítulo 7 da minha tese no qual defendo um ponto de vista diferente do apresentado por ele.

Outra questão a ser levantada, que corrobora a tese da existência de algum sincretismo entre o Espiritismo Brasileiro e o Catolicismo vigente, espécie de "zeitgeist" de nossa cultura, são os textos de Telles de Menezes, no qual ele afirma não ver diferenças importantes entre o Espiritismo de Kardec e a Doutrina Católica e defende idéias como a da ressurreição dos corpos. Esta posição seria criticada elegantemente por Desliens (informação de Jorge Damas), ex-secretário de Kardec, na Revue Spirite.

Sugiro a Lewgoy direcionar seus para uma perspectiva histórica e que considere a ótica oposta em uma releitura da obra de Chico Xavier. É bem possível que se venha a chegar à conclusão de que, mesmo mantendo práticas católicas, grande parte da obra de Chico Xavier desconstrói práticas sociais e idéias católicas vigentes não apenas no meio espírita, mas em grande parte da sociedade brasileira.

Referência: LEWGOY, Bernardo. Chico Xavier e a cultura brasileira, Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 44, n. 1, p. 53-116, 2001.

24.9.08

Experiência de Quase-Morte em Estudo


O site da BBC Brasil está divulgando a realização de um estudo com cerca de 1500 pacientes de 25 hospitais da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Ele envolve experimentos para verificar a alegação de percepção de pessoas durante a experiência de quase-morte.

23.9.08

ATENÇÃO: 4o. ENLIHPE SERÁ REALIZADO NO CENTRO DE CULTURA


Interessados em participar do 4o. ENLIHPE: Notícia Recente.
O encontro não acontecerá mais no Instituto Espírita de Educação, tendo sido transferido para o seguinte endereço:
Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro
Alameda dos Guaiases, 16. Bairro: Planalto Paulista - São Paulo-SP
Informações e Inscrições:
(11) 3661-3028 (antecipadas)
(11) 5072-2211 (nos dias do evento)

Sai a lista de hotéis do 4o. ENLIHPE

Participantes do ENLIHPE oriundos de outras cidades já têm uma lista de hotéis oferecida pela RW turismo, agência oficial do evento. São os seguintes:






Hotel Quality Moema
Endereço Rua Rouxinol, 57 – Moema – SP - Telefone: (55 11) 2197-7100
Pagamento No local – com cartão ou em dinheiro
Obs: Inclui café da manhã

Hotel Comfort Moema
Endereço: Av Sabiá, 825 – Moema – SP - Telefone: (55 11) 2197-7200
Pagamento
No local – com cartão ou em dinheiro
Obs: Inclui café da manhã

Hotel Golden Flat
Endereço: Rua Baronesa Bela Vista, 499 – SP - Telefone: (55 11) 5536-9488
Sem taxas
Obs.SEM café da manhã – Tem Frigobar e permite o uso sem custo adicional.
Obs. Hotel terminando reforma. Em condições para acomodar os hóspedes, mas não para oferecer Café da Manhã.
Emília Coutinho hospeda-se neste hotel. Ela o recomenda e irá se hospedar nele.
Pagamento no local em espécie ou cheque – as máquinas dos cartões ainda não foram ligadas.

Hotel IBIS
Endereço: Rua Baronesa Bela Vista, 801 – SP - Telefone: (55 11) 5097-3737
Sem taxas
Obs: Café da manhã opcional: R$ 9,50 por pessoa

Informações sobre tarifas podem ser obtidas na RW Turismo

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R W - Viagens e Turismo e Eventos Ltda.

Tel. 11-3667-3506/ 3661-3026 - Fax. 3825-1562

E-Mail = rwturismo@rwturismo.com.br
E-Mail = wanda@rwturismo.com.br
E-Mail = marcia@rwturismo.com.br_
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19.9.08

Convênios de Creches Espíritas com o Poder Público


Foto 1: Crianças de uma Creche.
O movimento espírita lançou-se na construção e manutenção de instituições pré-escolares há mais de cinqüenta anos, em uma época na qual a população de baixa renda necessitava e não tinha acesso a este tipo de serviço.

A lei de diretrizes e bases, nos anos 90, atribuiu ao município a responsabilidade pela educação infantil. Nesta época, as atenções do legislador criaram uma série de exigências, muito justas, que transformou o perfil destas instituições e, com estas mudanças, o volume de recursos necessário para mantê-las.

A antiga monitora, que na verdade trabalhava mais como cuidadora que como educadora, passou a ser substituída por educadoras com formação em nível de ensino médio, o que alterou substantivamente os custos da folha de pagamento, principal despesa deste tipo de organização.

As instituições espíritas passaram a aceitar o estabelecimento de convênios com as prefeituras, para cobrirem as despesas adicionais que começaram a surgir.

Algumas prefeituras, por sua vez viram nesta parceria uma forma de atender uma quantidade maior da população, destinar recursos para a área de educação e de reduzir despesas com pessoal, já que os empregados são contratados das instituições espíritas, e não são (s.m.j.) computados como servidores públicos (o que facilita o problema do limite de gastos com pagamento de servidores). Tudo isto, sem contar que em curto e médio prazos, as prefeituras não necessitam investir em aluguel ou construção de prédios.

Após a celebração de convênios, a política da prefeitura de Belo Horizonte tem sido exigir mudanças e adaptações aos espaços existentes, o que caiu em um espaço de arbitrariedades imensas, cometidas pelos fiscais, uma vez que o conjunto dos convenentes tem instalações muito diferentes entre si.

Não bastassem as arbitrariedades, a PBH (falo desta porque não tenho dados de outras), após a assinatura dos convênios deixa de ser parceira e age como se fosse dona da instituição: transforma problemas de comunicação em negligências (nas quais as socidades espíritas pagam a conta), baixa portarias e deliberações, sem negociação clara com seus parceiros, envia fiscais para verificar o cumprimento de suas decisões e não dá o devido suporte em áreas de sua responsabilidade, como é o caso da saúde.

A questão que originou esta publicação surgiu quando começamos a observar que a Prefeitura, ao celebrar convênios com instituições espíritas, passou a exigir que estas abrissem mão de práticas espíritas oferecidas à comunidade. Em uma das instituições tentou-se proibir o passe aplicado nas crianças, por entender que se trata de prática religiosa, e alegando o princípio da laicidade do ensino.

O órgão público tem razão, quando alerta que uma prática religiosa não pode ser imposta a crianças ou famílias que não a aceitem, em um espaço aberto à população em geral, contudo, em meu entendimento, não tem poder para proibir a prática de passes para quem o desejar receber em uma instituição que por força de convênio presta serviço de cunho social mas continua sendo espírita.

Os convênios, com o passar do tempo, tornam-se um problema para a manutenção das creches. As sociedades espíritas passam a depender dele, e evitam confrontação com o município, por medo de não conseguir manter financeiramente as despesas com as creches. Chegará um tempo em que o poder público irá adotar uma política de desapropriação das creches espíritas? Viveremos no Brasil situação semelhante à que enfrentaram nossos irmãos portugueses e espanhóis na triste época da ditadura em seus países? Espero que não.

Este relacionamento precisa ser revisto e cabe ao movimento promover uma discussão com especialistas na área de direito público para orientar as instituições como celebrar parcerias que não exijam das sociedades espíritas abrirem mão de sua identidade essencial, identidade esta que motivou os associados a se unirem para tentar colaborar na solução de uma chaga social que estava aberta em uma época na qual o poder público não tinha olhos de ver a necessidade do ensino pré-escolar para as populações de baixa renda.