29.2.16

LER OU NÃO LER OS EVANGELHOS?





A médium Yvonne A. Pereira escrevia na Revista Reformador com o pseudônimo de Frederico Francisco, nome que emprestou do grande compositor Chopin. Estamos lendo o livro À luz do consolador, publicado pela FEB, em nossa reunião mediúnica, que é uma coletânea desses artigos.

Fiquei encarregado de ler e comentar o texto intitulado “Panorama”, que originalmente foi publicado pelo Reformador em 1970. Para minha surpresa, é um dos “textos indignados” da médium.

Yvonne recebeu carta de um jovem que se mostrava confuso em função de uma palestra que assistira na sua casa espírita. Ele diz que o expositor defendia que não era necessário “o estudo completo dos Evangelhos, bastando que apenas conheçamos os pontos esclarecidos por Allan Kardec em “O evangelho segundo o espiritismo”. “ Disse ainda que o estudo dos evangelhos é perigoso e que o estudo das parábolas é inútil porque cada um as interpreta a seu bel-prazer. Concluindo, o jovem comunicou ter ouvido que o estudo das epístolas é inútil porque “nem mesmo se sabe se Pedro e Paulo existiram”.

Yvonne vai à carga, alegando que o projeto do expositor é destrutivo e que ele nada repõe no lugar dos Evangelhos que ataca. Questiona se poder-se-ia interpretar “A parábola do filho pródigo”, do “Bom samaritano” e da “casa sobre a rocha” sob diversas óticas, focalizando, assim, a mensagem central das mesmas.

Não vou me estender, deixando aos interessados o link para que ele possa ler o artigo completo:



Yvonne fecha o texto focalizando a importância dos evangelhos para os que sofrem, e recomenda a estes que busquem a companhia de Pedro e Paulo “a fim de se consolarem meditando no heroísmo deles a frente das penúrias suportadas, ao mesmo tempo que aproveitando dos ensinamentos por eles deixados há dois mil anos aos corações humildes e de boa-vontade.”

Quanto à existência ou não de Paulo e Pedro, a leitura que venho fazendo das cartas dos cristãos dos primeiros séculos é repleta de citações dos textos evangélicos. Vez por outra tenho comparado o texto dos documentos que leio com os da tradução da vulgata ou dos textos gregos contemporâneos, e são em sua grande maioria, iguais. Ou estaríamos diante de uma conspiração de ampla monta, na qual foram forjados os textos evangélicos em diferentes pontos do mundo, depois modificados em todos eles e apagados da história todos os documentos contrários, ou eles são o registro possível da experiência dos primeiros cristãos com Jesus.

25.2.16

O QUE PENSA O ESPIRITISMO DO TERRORISMO?




Tenho recebido e lido com satisfação os exemplares da Revue Spirite. A revista em francês é atualmente o “órgão oficial do Conselho Espírita Internacional” e apresenta uma boa variedade de assuntos, que compreendem os diversos aspectos do espiritismo.

A Revue tem influência do movimento espírita brasileiro, mas definitivamente não se reduz a ele, o que me parece fruto do amadurecimento das relações entre movimentos espíritas de diferentes países.

No último carnaval fui convidado a tratar de religião e sociedade no encontro do GELPE e pude me servir do excelente trabalho intitulado “Reflexões espíritas após os atos terroristas recentes”, assinada por Charles Kempf e pelo comitê de redação da revista.

O texto  inicia-se com o pensamento de Kardec, aos moldes dos atuais artigos de pesquisadores franceses, que se movem sobre um ou mais autores de referência para desenvolver depois seu pensamento. Kardec aparece como um filósofo, o espiritismo como filosofia, racionais, bem fundamentados e fundantes para as reflexões que serão desenvolvidas.

A análise parte de uma explicitação sobre violência, fé e fanatismo, liberdade e livre arbítrio, moral, educação e laicidade. Os eventos e posições atuais estão contextualizados e os autores efetivamente fazem uma análise espírita de um problema sério e contemporâneo que os tem afetado na Europa.

O texto surge do atentado contra o Charlie Hebdo, evita jargões e faz propostas para a sociedade francesa calcadas no pensamento espírita. Ele se posiciona com relação ao grave problema social.


Ver o pensamento espírita vivo, para mim, é uma satisfação imensa. Ver autores competentes em outros países, mais ainda. Pena que grande parte dos brasileiros hoje não conheça a língua francesa, para poder acompanhar os novos números da Revue. Se eu puder, continuo dando boas notícias oriundas desse belo órgão de divulgação espírita.


Jáder Sampaio

22.2.16

CANÇÃO DA ALEGRIA CRISTÃ

Cheguei quase no horário do início da reunião. Já havia estado naquela sala no mesmo dia, lendo as atas escritas pela mocidade da casa nos anos 70. Alguns dos personagens, cujos estudos estavam sintetizados brevemente, já estão no plano espiritual.

Passados os estudos, iniciou-se a parte da prática mediúnica. O silêncio imperava, alguns passes foram indicados pelo dirigente. Um espírito começou uma comunicação e no meio da fala pediu o médium que cantasse a música de Leopoldo Machado e Oli de Castro, Canção da Alegria Cristã. Inibindo a sugestão ele começou a recitar a letra, mas tropeçava nos versos. O espírito comunicante insistia que a música fosse cantada, mas o médium não tomava a inciativa. De repente, um dos membros, não se contendo, começou a cantar. Uma voz puxa a outra. Daí a pouco homens e mulheres presentes se alternavam fazendo uma bela “segunda voz” como nos tempos da mocidade.

De repente percebemos que era uma das músicas que cantávamos com o arranjo que surgiu, espontâneo, há trinta anos, nas reuniões de jovens da casa. A canção ergueu-se, bela, pela sala. Uma comunicação emocionada surgiu. O sentimento de profunda harmonia foi compartilhado por todos.


Os médiuns com alguma percepção haviam visto alguns dos personagens da leitura da manhã e alguns outros, ligados à casa e à mocidade, desde o início da reunião. Deixo então esta interpretação coletiva da canção da alegria cristã para sua apreciação. Aconteceu na comemoração dos 98 anos do nascimento de Leopoldo Machado, no Lar de Jesus, instituição fundada por um ele e por sua esposa na baixada fluminense, com a presença de trabalhadores notáveis da história do movimento espírita do estado do Rio de Janeiro.




17.2.16

FILME POLONÊS "BODY" CITA DIVALDO FRANCO

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A Rede Boa Nova está divulgando este filme polonês que trata de luto e mediunidade. Se você estiver em São Paulo, Rio de Janeiro ou Porto Alegre, está em cartaz. 

Agradeço a dica à Regina K. Duarte.

Filme polonês “Body” cita Divaldo Franco | Jornal Nova Era: Longa que retrata o espiritismo prossegue em cartaz em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.

13.2.16

AME BRASIL SE POSICIONA COM RELAÇÃO AO ABORTO DE CRIANÇAS COM RISCO DE MICROCEFALIA POR VÍRUS ZIKA.






A Associação Médico-Espírita do Brasil produziu um texto coletivo e instigante sobre a questão do aborto a partir dos últimos eventos de microcefalia no Brasil e em outros países, associados ao vírus Zika.

Os argumentos oriundos principalmente do ensino dos espíritos, como a questão da reencarnação a partir da concepção, não foram empregados, como pude observar. O texto é bem informativo e apresenta em linguagem fácil as alternativas médicas de tratamento e as incertezas sobre o desenvolvimento de portadores de microcefalia.

Outra perspectiva, já conhecida, mas oportuna, são os estudos sobre depressão após o aborto, e sua não associação com as crenças religiosas das mulheres que se submeteram a este procedimento. É uma outra perspectiva da saúde da mulher que normalmente não é discutida pelos partidários da legalização do aborto.

Entendo que este texto pode ser objeto de uma boa discussão entre os interessados no tema.

Boa leitura.

Jáder Sampaio - pelo Espiritismo Comentado


Zika Vírus e o Aborto

Associação Médico-Espírita do Brasil

Os que defendem a legalização do aborto encontraram na associação do aumento da microcefalia com o surto de zika vírus uma oportunidade para retomar a discussão da liberação do aborto no Brasil.

Recentemente foi noticiado que grupo liderado pela Débora Diniz, do instituto de bioética Anis, prepara uma ação no STF para a liberação do aborto em casos de microcefalia. É o mesmo grupo que propôs a ação para interrupção da gravidez de anencéfalos, acatada pelo STF em 2012.

A bióloga e feminista Ilana Löwy, numa entrevista para a Revista ÉPOCA, vê no surto de zika vírus uma oportunidade para se debater o direito de decisão da mulher de ter ou não o bebê, como aconteceu com a epidemia de rubéola no Reino Unido. Interessante é que a Rubéola hoje em dia é uma doença totalmente controlável e passível de prevenção através da vacinação, deixando de ser um risco epidêmico, usado como justificativa para a liberação do aborto na Europa.

Os argumentos utilizados se baseiam na liberdade da mulher poder escolher o que é melhor para si, esquecendo que existe uma vida a qual se está negando o primeiro e mais fundamental dos direitos humanos, o direito à vida.

Cabe ressaltar que os fundamentos utilizados para liberar o aborto dos fetos anencéfalos não se aplicam nesses casos.

O diagnóstico da microcefalia é tardio, em torno da 28ª semana, diferentemente da anencefalia, que é feito a partir da 12ª semana de gestação.

As lesões da microcefalia geralmente aparecem na ultrassonografia depois da 24ª e não são incompatíveis com vida, como nos casos de anencefalia.

Além disso, o diagnóstico ecográfico de lesão neurológica não é 100% seguro, já que depende da análise de um profissional passível de equívocos. Existem inúmeros relatos de erros em fetos com diagnóstico de mal-formações neurológicas e que nasceram perfeitamente normais.

No entanto, os que argumentam em favor do aborto querem transformar o diagnóstico de microcefalia em atestado de morte para todas as crianças das mães que contraíram o zika vírus e que optarem pela interrupção da gravidez, mesmo com possibilidades de nascerem normais ou com poucas sequelas neurológicas.

Com o avanço da medicina fetal e da genética médica, hoje é possível a detecção, ainda no útero, de várias anomalias fetais. Diversas técnicas como ultrassom morfológico, ultrassom de terceira dimensão, a biópsia de vilos coriais, a amniocentese, a cordocentese, o desenvolvimento da técnica citogenética molecular permitem o diagnóstico intrauterino de várias doenças. O diagnóstico permite iniciar o tratamento antes do nascimento, como cirurgias intrauterinas para correções de más-formações, assim como a preparação psicológica dos pais para o enfrentamento das graves anomalias.

Querer selecionar apenas as crianças saudáveis com direito à vida é retomar a prática da eugenia feita na Grécia antiga e pelo nazismo, abrindo um precedente para a liberação do aborto em outros casos de microcefalia como as causadas por hipóxia neonatal, desnutrição grave na gestação, fenilcetonúria materna, rubéola congênita na gravidez, toxoplasmose congênita na gravidez, infecção congênita por citomegalovírus ou em doenças genéticas como Síndrome de Down, Síndrome de Cornelia de Lange, Síndrome Cri du Chat, Síndrome de Rubinstein – Taybi, Síndrome de Seckel, Síndrome de Smith-Lemli–Opitz e Síndrome de Edwards.

Nesses casos pessoas como Ana Carolina Dias Cáceres, moradora de Campo Grande (MS), hoje com 24 anos e formada em jornalismo, e tantas outras crianças em situações parecidas, não teriam direito à vida.

Ao saber da iniciativa de alguns em defender o aborto de fetos com microcefalia, Ana Cáceres veio a público dar seu depoimento a BBC do Brasil em defesa dos portadores de microcefalia.

Nos casos microcefalia não se pode falar na opção de abortamento, pois não se trata de patologia letal que inviabilize a vida extrauterina. Embora as limitações que possam surgir, a expectativa de vida das crianças com microcefalia não são diferentes das outras crianças, exigindo, no entanto, estimulação e cuidados especiais para melhorar a sua qualidade de vida.

A discussão do aborto em casos de microcefalia retrata bem o momento pós-moderno em que vivemos, o que Bauman, um dos maiores pensadores da atualidade, chama de modernidade líquida. Na modernidade líquida os indivíduos não possuem mais padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitem, ao mesmo tempo, construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão.

A modernidade líquida trouxe descentramento do homem, do sujeito, produzindo identidades híbridas, locais e globais, efêmeras sobre tudo. É a cultura do efêmero, da destruição criativa, “tudo que é sólido desmancha no ar” na imagem trazida por Bauman.

Para a maioria dos autores, a pós-modernidade é marcada como a época das incertezas, das fragmentações, do narcisismo, da troca de valores, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, da apatia, do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos.

A educação recebida dos pais e das escolas, os valores morais que orientam as boas relações sociais, o fortalecimento da família e a busca do bem comum está perdendo espaço para novas formas de comportamento regidas pelas leis do mercado, do consumo e do espetáculo.

Existe uma crise de valores com perda de referenciais importantes em detrimento de uma vida superficial e de um discurso liberal.

Na sociedade pós-moderna predomina o ter acima do ser, o prazer pelo prazer, o prazer acima de tudo, a permissividade que justifica que tudo é bom desde que me sinta bem, o relativismo no qual não há nada absoluto, nada totalmente bom ou mau e as verdades são oscilantes, o consumismo, se vive para consumir, e o niilismo caracterizado pela subjetividade, a paixão pelo nada, numa indiferença assustadora.

Renata Araújo descreve muito bem o sujeito pós-moderno:


“A pós-modernidade nos apresenta um sujeito imediatista, fragmentado, narcisista, desiludido, ansioso, hedonista, deprimido, embora também informatizado, buscando independência, autonomia e defesa de seus direitos. Mas, a supervalorização e autonomia geram um individualismo, um egocentrismo, uma ênfase na subjetividade, sendo o outro apenas para a consecução de seus objetivos pessoais.” (ARAÚJO, p. 1 e 2)

Vive-se numa época de grande competitividade e de pouca solidariedade. Em nome dessa nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores fundamentais.

A coisificação da vida e o predomínio dos interesses pessoais em detrimento do coletivo são bem característicos dessa fase em que vivemos.

Entretanto, aprendemos com a genética que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso da microcefalia, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, preservado e respeitado.

Necessário se faz proteger também a gestante, dando a ela apoio em sua gravidez e proporcionando tratamento ao seu futuro filho.

Reconhecemos que a mulher que gera um feto deficiente precisa de ajuda psicológica por longo tempo; constatamos, porém, que, na prática, esse direito não lhe é assegurado.

O aborto provocado é um procedimento traumático com repercussões gravíssimas para a saúde mental da mulher e que geralmente aparecem tardiamente.

O aborto produz um luto incluso devido à negação da ocorrência de uma morte real, mas esse aspecto é totalmente desconsiderado.

As mulheres sofrem uma perda e suas necessidades emocionais são relegadas ou escondidas. Elas não conseguem vivenciar o seu luto e lidar com a culpa. Esse processo vai gerar profundas marcas e favorecer o surgimento da Síndrome pós-aborto (PAS).

Psiquiatras e psicólogos especializados em atender mulheres que abortaram alertam para o aumento dos transtornos emocionais causados pelo aborto provocado. Eles afirmam que os efeitos psicológicos do aborto são extremamente variados e não são determinados pela educação recebida ou pelo credo religioso. Esclarecem que a reação psicológica ao aborto espontâneo e ao aborto involuntário é diferente, está relacionada com as características de cada um desses dois eventos. O aborto espontâneo é um evento imprevisto e involuntário, enquanto o aborto provocado interrompendo o desenvolvimento do embrião ou do feto e extraindo-o do útero materno contempla a responsabilidade consciente da mãe. As mulheres que se submeteram ao aborto afirmam que a culpa não é gerada de fora para dentro, infundida nelas por outras pessoas ou pela religião, ao contrário, ela surge e cresce em seu mundo íntimo a partir do ato abortivo.

Os problemas emocionais gerados pelo aborto são tão graves, que em muitos países onde ele é legalizado, foram criadas, pelas próprias mulheres vitimadas pelo aborto, associações como a Women Exploited by Abortion (Mulheres Exploradas pelo Aborto) nos EUA, e a Asociación de Víctimas del Aborto (Associação de Vítimas do Aborto) na Espanha, que orientam e alertam sobre as consequências prejudiciais do aborto.

O aborto não é definitivamente uma "solução fácil" como afirmam muitos, mas um grave problema, um ato agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher.

As consequências danosas provocadas pelo aborto à saúde mental nos países onde ele foi legalizado é tão grave como a depressão profunda, que o Royal College of Psychiatrists (associação dos psiquiatras britânicos e irlandeses), alertaram que a mulher deve ser comunicada para os graves riscos emocionas que se submete caso opte pela interrupção da gravidez.

Portanto, aborto nunca será uma solução, sempre um lado ou ambos serão prejudicados. Não é dando a mulher autonomia para matar seu filho dentro de seu ventre que resolveremos os problemas sociais. Isto não passa de demagogia. É necessário investir na educação das massas para prevenção da gravidez indesejada, mas jamais matar uma criança inocente. Os fins não podem justificar os meios.

A sociedade que apela para o aborto declara-se falida em suas bases educacionais, porque dá guarida à violência no que ela tem de pior, que é a pena de morte para inocentes. Compromete, portanto, o seu projeto mais sagrado que é o da construção da paz.

A Associação Médico-Espírita do Brasil reitera seu posicionamento contra qualquer forma de violência a uma nova vida que não põe em risco a vida materna e que surge aguardando o auxílio de braços fortes e sensíveis que lhe ampare em sua fragilidade.

Concitamos a todos os colegas das AMEs para continuarmos firmes em defesa da vida e da paz.


AME-Brasil
REFERÊNCIAS
1) ARAÚJO, Renata Castro Branco. O Sofrimento Psíquico na Pós-Modernidade: Uma Discussão Acerca dos Sintomas Atuais na Clínica Psicológica. Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica. Disponível em:http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0311.pdf Acessado em 09/02/2016.
2) BAUMAN, Zygmunt. Ética Pós-moderna. São Paulo: Paulus Ed., 1997.
3) BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
4) BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
5) BAUMAN, Zygmunt. Cegueira Moral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2014
6) BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar. São Paulo: Schwarce ed., 1986.
7) CÁCERES, Ana Carolina Dias 'Existo porque minha mãe não optou pelo aborto', diz jornalista com microcefalia. Disponível em:


8) LÖWI, Ilana. A rubéola levou à legalização do aborto no Reino Unido. O zika fará o mesmo no Brasil? Disponível em:http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/02/rubeola-levou-legalizacao-do... Acessado em 09/02/2016.
9) RAZZO, Francisco. Um novo nome para uma velha fantasia. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/um-novo-nome-para-uma-vel... Acessado em 09/02\/2016.

7.2.16

O FRATERNISTA PUBLICA "QUEM É O SAL DA TERRA ?"




O jornal O Fraternista, do Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, publicou no último número um texto nosso de reflexões sobre a instrução de Jesus aos discípulos no Sermão da Montanha, quando afirma que são o "sal da terra". 

O leitor do Espiritismo Comentado pode acessar diretamente do link: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/acontece/ofraternista/fraternista70.pdf

Aguardo comentários e análises dos interessados.

5.2.16

PROPOSTA DE ENSINO INTER-RELIGIOSO DE DORA INCONTRI




Abrindo o carnaval, fui convidado a conversar sobre religião e ensino inter-religioso com os amigos do Grupo Espírita Luz e Paz. A autora talvez mais produtiva sobre este tema no movimento espírita é a professora Dora Incontri, que desenvolveu metodologia para adoção desta forma de educação religiosa nas escolas e universidades. Esta entrevista rápida, de apenas cinco minutos, mostra alguns de seus princípios de ação e faz uma bela defesa da religião e da religiosidade, com uma visão diferente das desconstruções iluminista. marxista e niilista, infelizmente muito presentes no meio universitário atual.

20.1.16

DESENCARNA ÊNIO WENDLING

Ênio Wendling


Recebi ontem a notícia da desencarnação de Ênio Wenling, médium e liderança muito expressiva do Grupo de Fraternidade Irmão Glacus, da capital mineira. Foi no dia 17 de janeiro do corrente.

Conheci o Ênio, ou melhor, o vi em atividade mediúnica pela primeira vez no Grupo de Fraternidade Irmã Scheilla, em Belo Horizonte, no início dos anos 80. Papai (José Mário Sampaio) havia sido convidado para fazer uma palestra em uma tarde de domingo e fui assistir. Era organizada pelo Grupo da Fraternidade Irmão Glacus, que ainda não tinha sua sede no bairro Padre Eustáquio. Era uma espécie de reunião de confraternização, e o Glacus tinha por prática separar um tempo para que médiuns de psicofonia e psicografia pudessem permitir a manifestação dos espíritos. Ênio foi o médium de José Grosso e Palminha. Um deles conversou em voz alta com meu pai.
A construção da sede do Glacus no Padre Eustáquio foi cheia de histórias. Houve a aquisição de um terreno na Nova Suíça, cuja construção foi interrompida com um grande incêndio. Vendido o terreno e adquirido outro, lembro-me dos automóveis que foram expostos na Praça Sete, coração de Belo Horizonte, para o esforço de venda de rifas autorizadas pelo governo federal, com a finalidade de arrecadação de recursos. O Glacus, hoje conta com a sede no Padre Eustáquio e outra, imensa, com creche, parque gráfico e outros espaços, na região do Ceasa.



Anos depois passei por uma situação interessante com o médium. Já construída a sede do “Glacus”, fui convidado a fazer uma palestra, durante a semana, à noite. Nunca havia feito qualquer exposição nesta casa, e não conhecia os organizadores da reunião, excetuando o Ênio, que lá estava, e que não conhecia pessoalmente. O salão da casa ficou enorme e estava cheio. Neste dia, atrasei-me e quando cheguei a reunião já havia iniciado. Resolvi não me identificar e assentei ao fundo, no cantinho, para assistir à reunião. Vieram as exposições e depois as comunicações, como de praxe. Não me recordo bem quando, mas iniciaram-se os passes. O Glacus seguia uma orientação, talvez iniciada no antigo Centro Oriente, que cada passista deveria aplicar apenas três passes. Eles não acatam a orientação do espírito André Luiz, no livro Conduta Espírita, de “jamais temer a exaustão das forças”. Daí a pouco fui procurado pelas pessoas deste serviço, que me pediram que aplicasse passes. Ante minha expressão de dúvida, disseram que foi orientação espiritual e que havia vindo da mesa de trabalhos. Jamais soube se alguém me identificou ou se foi pela via mediúnica que souberam que eu sabia e tinha condições de aplicar passes. Depois do terceiro, agradeceram minha contribuição.

Já publiquei no Espiritismo Comentado sobre o Grupo da Fraternidade Irmã Ló, onde Ênio trabalhou como médium, ainda no período em que se tratava apenas de uma residência onde se faziam reuniões de materialização, com a presença de outros médiuns que ganharam expressão no movimento espírita, como Peixotinho.  Estes trabalhos deram notoriedade a Jair Soares, que doaria no futuro a casa para a construção de um centro espírita.
http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2008/11/grupo-da-fraternidade-irm-l.html Fiquei devendo os artefatos materializados, que eles guardam até hoje em uma pequena cristaleira.

Ênio retornou à pátria espiritual, após uma longa existência dedicada à mediunidade e à caridade. O movimento espírita da capital mineira lhe deve o reconhecimento e uma multidão de pessoas o agradece por tudo o que conseguiu realizar.

Localizei uma biografia no site da FEIG e uma entrevista com ele, do jornal Evangelho e Ação, para o leitor que se interessar por sua biografia:




5.1.16

TERTULIANO E OS CRISTÃOS DO SEGUNDO SÉCULO



Tertuliano


Consegui na internet uma tradução para o português do livro Apologia (feita por José Fernandes Vidal e Luiz Fernando Karpss Pasquotto), escrito por Tertuliano no ano 197. O autor é citado por Léon Denis no seu Cristianismo e Espiritismo, pela proximidade de algumas ideias com o espiritismo. Ele foi mestre de Orígenes, que defendeu abertamente a preexistência das almas, como forma de explicar a justiça divina, entre outras posições que lhe valeram, no futuro, a acusação por heresia.

Tertuliano era de Cartago, no continente africano. "e exercia a profissão de advogado quando se converteu".

Nos primeiros capítulos de sua Apologia, Tertuliano faz uma peça de defesa contra o "crime de ser cristão", que é encantadora. Neste texto se vê o que já li em Amélia Rodrigues e outros autores espirituais, que bastava ao cristão negar ser cristão publicamente, e sacrificar aos deuses, para ser absolvido.

Tertuliano desenterrou um texto de Plínio, o moço, no qual ele questiona ao imperador Trajano por que perseguir os cristãos, que, em suma, nada de mal faziam ao império, a não ser não sacrificar aos deuses. Trajano afirma que não deveriam ser perseguidos, mas se fossem trazidos diante dele, deveriam ser punidos.

O advogado cartaginês vai apontar passo a passo todas estas contradições do discurso imperial, comparando o cristão ao criminoso comum. Ele mostra que o criminoso comum costumava ser torturado até admitir seu crime, enquanto o cristão, entregava-se imediatamente se questionado. - "Sou cristão". Ao contrário do criminoso, iniciava-se toda uma manobra para que ele mentisse em público e fosse inocentado.

Usando de ironia, ele escreve:

"Assim, o nome odiado é usado preferencialmente a uma reforma de caráter. Alguns até trocam seus confortos por este ódio, satisfazendo-se em cometer uma injúria para livrarem sua casa dessa sua mais odiosa inimizade. O marido, agora não mais ciumento, expulsa de sua casa a esposa, agora casta. O pai, que costumava ser tão paciente, deserda o filho, agora obediente. O patrão, outrora tão educado, manda embora o servo, agora fiel. Constitui grave ofensa alguém reformar sua vida por causa do nome detestado."

O texto, longe de ser monótono, é muito interessante. Ressalvada a intenção do autor, que é de defesa do cristianismo, um texto desta época é um documento importante para conhecermos melhor o que aconteceu com o cristianismo em sua trajetória. Com certeza, há uma diferença marcante entre os cristãos dos primeiros séculos descritos pelo cartaginês, e os clérigos renascentistas ironizados por Boccaccio em Decamerão.

23.12.15

POESIA DE MEIMEI SOBRE O NATAL




Fiquei aqui pensando o que publicar por época do Natal. Passei em revista as publicações dos outros anos e tive boas recordações. Reli uma mensagem ditada pelo Companheiro de Trabalhos em 2007:


Quase a publiquei novamente, até que recordei de uma mensagem de Meimei, que li na juventude e desejo compartilhar com o leitor.


Canção para Jesus

Desejava, Jesus,
Ter um grande armazém
De bondade constante
Maior do que os maiores que conheço
Para entregar sem preço
As criaturas de qualquer idade
As encomendas de felicidade
Sem perguntar a quem.

Eu desejava ter um braço mágico
Que afagasse os doentes
Sem qualquer distinção
E um lar onde coubesse
Todas as criancinhas
Para que não sentissem solidão.
Desejava, Senhor,
Todo um parque de amor
Com flores que cantassem,
Embalando os pequeninos
Que se encontram no leito
Sem poderem sair,
E uma loja de esperança
Para todas as mães.

Eu queria ter comigo
Uma estrela em cuja luz
Nunca pudesse ver
Os defeitos do próximo
E dispor de uma fonte cristalina
De água suave e doce
Que pudesse apagar
Toda palavra que não fosse
Vida e felicidade.

Eu queria plantar
Um jardim de união
Junto de cada moradia
Para que as criaturas se inspirassem
No perfume da paz e da alegria.
Eu queria, Jesus,
Ter os teus olhos
Retratados nos meus
A fim de achar nos outros,
Nos outros que me cercam,
Filhos de Deus
E meus irmãos que devo compreender e respeitar.

Desejava, Senhor, que a bênção do Natal
Estivesse entre nós, dia por dia,
E queria ter sido
Uma gota de orvalho
Na noite em que nasceste
A refletir,
Na pequenez de minha condição,
A luz que vinha da canção
Entoada nos Céus:
- “Glória a Deus nas Alturas,
Paz na Terra,
Boa Vontade em tudo,
Agora e para sempre!...”

Meimei / Chico Xavier


Feliz Natal a todos e obrigado pela companhia ao longo de 2015!

22.12.15

CANTATA DE NATAL NA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA




Sábado à tardinha. Rodamos três vezes o quarteirão (quadra, para os de fora de Minas Gerais) da rua Guarani, em busca de um estacionamento ou vaga de estacionamento. Os estacionamentos estavam fechando e não nos aceitavam, quando finalmente conseguimos uma vaga “milagrosa”. Já estávamos quase desistindo.

Entrar na União Espírita Mineira depois de tantos anos não foi um ato sem emoção. Estávamos indo para a Cantata de Natal, evento que acontece anualmente. A livraria estava fechada (que tristeza) e havia uma portaria improvisada. Com as portas semicerradas, alguém poderia ter achado que a federativa estava fechada.

Subi as mesmas escadas até o salão. Ato contínuo e semanal quando meu pai estava ainda encarnado e era responsável pelo ciclo de estudos sobre mediunidade na salinha do final do segundo andar. O auditório continuava o mesmo. Trezentas cadeiras de madeira no primeiro andar e um balcão imenso no segundo andar. Alguns ventiladores fixos nas paredes laterais lutavam contra o calor, mas era uma luta quixotesca. O público já havia ocupado os lugares ao alcance do vento, quando conseguimos alguns lugares na última fileira. A casa estava cheia.

Afonso e Wadson nos abraçaram. Estavam de pé, cuidadosos, como anfitriões do evento. Procurei entre a multidão e não encontrei ninguém da diretoria antiga. Talvez alguns dos trabalhadores desta casa que conheci estivessem por lá, já sem o corpo físico.

Marcelo Gardini terminava as últimas palavras da apresentação, possivelmente em nome da diretoria. Os atos musicais começaram. Não conhecíamos o primeiro grupo, nem suas músicas. As vozes eram bonitas e o uso de tons dissonantes lembrou um pouco a melodia da bossa nova. A música sobre o evangelho no lar soou didática.

Tim e Vanessa apresentaram-se, profissionais. A poesia das canções de Gladston Lage invadiu a alma dos que ouviam. Personagens do evangelho ganharam vida. João, Pedro... Depois o público os acompanhou em seu último número, uníssono. Eram quatrocentas vozes um pouco tímidas e uma canção.

Mais um grupo, desfalcado de um de seus membros, que foi substituído, entrou em cena com baixo e violão. Duas vozes masculinas e uma feminina. Como curiosidade, encerrou sua apresentação com uma canção em estilo “country” norte-americano.

O grupo Laboro iniciou sua peça, “O Encontro”. Quando ou vi o nome de D’Arsonval, lembrei-me do personagem de Humberto de Campos/Irmão X, pela pena de Chico Xavier. A trupe encadeou o texto simples com ensinos espíritas e situações circenses, que deixaram a apresentação mais leve. Mendigos entremearam personagens medievais, às vezes temperados à brasileira. D’Arsonval finalmente encontrou-se com Jesus, a quem apenas havia deixado esmolas generosas ao longo da história.



Tivemos que sair mais cedo, em função de compromissos já assumidos.


A Cantata foi um sucesso de público, mas o prédio histórico da União Espírita Mineira encheu minha alma de tristeza. Quase cinquenta anos se passaram desde que fui pela primeira vez, menino ainda, e ele continua, essencialmente, com sua mesma estrutura. A Sede Federativa ainda não tem um auditório com capacidade ampla ou uma estrutura de centro de eventos, capaz de tornar real toda a potencialidade da cantata, por exemplo. Recordei-me de Virgílio Almeida. Como sua capacidade de empreender, agregar e construir está fazendo falta! Pedi aos diretores da “velha guarda”, hoje no plano espiritual, um grande presente: um movimento espírita que se importe com sua federativa e que pudesse se unir para dar-se o presente de uma casa capaz de realizar os projetos cujo fôlego exigisse mais que um centro espírita, e cuja abrangência pudesse ser todo o estado que um dia foi sede dos desejos de justiça e modernidade dos inconfidentes.

18.12.15

ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA CÉLIA XAVIER FARÁ SETENTA ANOS EM 2015

A casa que frequento há mais de três décadas está comemorando 70 anos de funcionamento neste mês. Para marcar esta data, estamos escrevendo uma série de artigos que está sendo publicada no nosso boletim digital, intitulado “Conheça Aqui”.

Da dor da perda de uma jovem filha, passando pela doação de terrenos e campanhas de obtenção de recursos, hoje a Associação Espírita Célia Xavier conta com quatro unidades localizadas em lugares diferentes da grande Belo Horizonte: Prado, Salgado Filho, Citrolândia (Betim) e Rosaneves (Ribeirão das Neves).

Conheça um pouco da história de cada uma destas realizações, que hoje possivelmente seriam consideradas não apenas como instituições religiosas, mas também como empreendimentos sociais.




 Criação da sede da Associação, no Prado – Belo Horizonte





Criação do Lar Espírita Esperança, no Salgado Filho – Belo Horizonte


Criação da Casa de Etelvina, em Citrolândia – Betim





Criação de Nova Luz, em Rosaneves – Ribeirão das Neves


10.12.15

CAMPANHA DE LIVROS ESPÍRITAS PARA O JAPÃO



No ano de 2015, a comunidade espírita japonesa iniciou uma campanha de doação de livros espíritas, para diversos objetivos.


Eles têm um trabalho nas prisões japonesas, onde identificam os presidiários que se interessam pelo espiritismo. Eles visitam estes presidiários, doam "O evangelho segundo o espiritismo" e os auxiliam no entendimento da leitura. Nesta campanha foram doadas 100 unidades de "O evangelho segundo o espiritismo", que duram apenas poucos meses. Interessa a eles livros em português, espanhol e inglês.



A Associação de Divulgadores Espíritas está fundando bibliotecas no Japão. Recentemente receberam os livros abaixo, que foram motivo de alegria para os membros da ADE. Eles pretendem formar duas bibliotecas, uma em Aichi-Ken e outra em Gunma-Ken.




Venho convidar os leitores do Espiritismo Comentado a auxiliar os espírita japoneses. Eles têm trabalhado de forma articulada, e as doações desta campanha atingem muitas casas e cidades do Japão. Peço que doem livros novos, para que possam chegar em bom estado no outro lado do mundo.


Os brasileiros que moram no Japão, via de regra, são trabalhadores que às vezes dispendem doze horas diárias em sua jornada de trabalho. Eles enfrentam o alto custo imobiliário para poderem se reunir, e têm usado de sua criatividade e vontade forte para divulgar o espiritismo no Japão. 




Agradeço ao Adalberto o carinho para conosco, e desejo a todos os "tomodatis" japoneses sucesso em seus trabalhos. 

2.12.15

O MÉDIUM DE JERÔNIMO DE PRAGA ESTUDOU O CRISTIANISMO




Léon Denis publicou em 1900 um livro intitulado “Cristianismo e espiritismo”, que li nos anos 1980, mas confesso que à época saltei a introdução e o prefácio. Depois o consultei muitas vezes e preparei estudos com ele, mas não voltei a estes dois escritos.

Com o passar dos anos, fiquei fã dos prefácios do autor francês, porque ele costuma explicar e contextualizar seus livros.

Na introdução do livro, Denis se preocupou muito em explicar que seu trabalho não é um ataque ao catolicismo, religião que ele abandonou ainda jovem pela “filosofia espírita”. Ele se detém na exterioridade do catolicismo (que confessa ainda causar algum encanto nele) para elogiar a interioridade do protestantismo, que parece ter conhecido a partir de algumas das fontes que ele consultou para escrever sobre o cristianismo.

Minha primeira surpresa foi identificar algumas ideias de origem deísta ou da religião natural que encontrei em sua argumentação inicial. Elas influenciaram a constituição do espiritismo, embora este não possa ser reduzido a elas.

“Consagramo-nos à tarefa de destacar da sombra das idades, da confusão dos textos e dos fatos, o pensamento básico, pensamento de vida, que é a fonte pura, o foco intenso e radioso do Cristianismo, ao mesmo tempo que a explicação dos estranhos fenômenos que caracterizam as suas origens, fenômenos renováveis sempre, que efetivamente se renovam todos os dias sob os nossos olhos e podem ser explicados mediante leis naturais.” (p. 8 e 9)

No prefácio, escrito dez anos depois, Denis não poupou críticas ao catolicismo. Este havia sido separado definitivamente do estado francês, pelo que pude entender, a partir de uma lei conhecida como concordata, que proibiu o ensino religioso para a infância e a juventude, tornando-o leigo.

O autor analisou o declínio da influência do catolicismo na sociedade francesa, tendo ficado restrito a “um punhado de adeptos”. Ele afirma que a igreja vivia uma crise com o direito novo francês.

Denis entende que há uma doutrina cristã, pura (p. 10), que não se confunde com o catolicismo, construído após Constantino (p. 18), que acabou por influenciá-lo na direção da hierarquização, da politização em favor dos “grandes e poderosos”, da teologização que a afastou do “sermão da montanha”. (p. 19)

“Jesus não havia fundado a religião do Calvário para dominar os povos e os reis, mas para libertar as almas do jugo da matéria e pregar, pela palavra e pelo exemplo, o único dogma de redenção: o amor.” (p. 21)

Não posso deixar de comentar que o filósofo espírita deteve-se no espírito de sua época, preocupado com o hedonismo e o materialismo, posicionando-se, como Kardec, na oposição das “filosofias negativas” (p.13) Ele mergulhou na essência do Cristianismo para fazer oposição a ideologias que defendiam uma vida sem sentido, o fim da existência com a morte do corpo, “sofrimentos inúteis”, “trabalho sem proveito” e “provas sem compensação”. Estaria Denis fazendo uma menção a Nietzsche, ou a Darwin, quando escreveu o parágrafo abaixo?
“Em lugar desse campo cerrado da vida em que os fracos sucumbem fatalmente, em lugar dessa gigantesca e cega máquina do mundo que tritura as existências e de que nos falam as filosofias negativas, o Novo Espiritualismo fará surgir, aos olhos dos que pesquisam e dos que sofrem, a portentosa visão de um mundo de equidade, de amor e de justiça, onde tudo é regulado com ordem, sabedoria, harmonicamente.” (p. 13)

Assim Denis iniciou uma obra que aborda o cristianismo em uma perspectiva histórica e filosófica, e que encerra-se com a contribuição das descobertas experimentais da vida após a morte, da reencarnação e da mediunidade que o espiritismo trouxe com suas pesquisas. Ele articula cristianismo e espiritismo nas luzes do novo século, dando sua própria contribuição em forma de pesquisa e reflexão ao trabalho iniciado por Allan Kardec em 1864, com a publicação de “O evangelho segundo o espiritismo”.