Foto: André Trigueiro no Mater Dei
Dia dos namorados, sexta-feira à noite. O hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, abriu as portas em parceira com o programa Sempre Um Papo, para organizar uma palestra e autógrafos de André Trigueiro. Já havíamos comentado sobre seu livro "Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo."
O espaço não é grande, mas
agradável. Um auditório com cadeiras removíveis, estilo poltronas,
confortáveis. O público foi chegando aos poucos e se acomodando. Médicos, espíritas,
voluntários do CVV (centro de valorização da vida). A palestra seria gravada e
em algumas semanas todos poderão vê-la nas telinhas, mercê da internet e da
equipe do Sempre um Papo.
Trigueiro fala muito bem. Ele
combina a clareza de jornalista com a emoção que permeia sua fala rica de
informações, às vezes engraçada. Sua palestra é uma quebra de tabu, muito cuidadosa e bem pensada.
Desde o livro “Os sofrimentos do
jovem Werther”, de Goethe, preocupa-se com os impactos que o relato dos
suicídios podem ter no público vulnerável. André mostrou muito bem, que a
imprensa tem como diretriz não falar do assunto sob hipótese alguma, mas como
se vai combater um mal social e individual que não se conhece? O jornalista
entende que precisamos nos deter na forma que a informação é passada, e propõe
alguns cuidados para se falar do suicído em público.
No Werther, o personagem
principal, com o qual o leitor pode se identificar, suicida-se como uma saída
romântica para um problema amoroso. As pessoas em geral leriam a história como
uma ficção emocionante, mas pessoas com alguma forma de vulnerabilidade, identificadas
com o personagem e com o discurso romântico e justificativo da morte, impressionadas
com a descrição minuciosa do modus operandi de Werther, podem ser negativamente
influenciadas por ele.
Outro ponto que André Trigueiro
enfatiza bastante em seu trabalho é que o suicídio não tem causa única. É um
fenômeno multifatorial, ou seja, o ato que desencadeia a morte é influenciado
por muitas razões e oportunidades, ao contrário do que pensa o senso comum. Os
transtornos de humor estão muito associados à tentativa de suicídio, mas a
grande maioria das pessoas não sabe o que é depressão ou transtorno bipolar, e
fazem julgamento de valor, acreditando tratar-se de covardia, preguiça ou
acomodação, para maior sofrimento dos que padecem o mal.
O acesso aos instrumentos usados
do ato também é um fator. Por esta razão se tem criado mecanismos de proteção
em lugares usados para o suicídio, como bem lembra Trigueiro, como pontes,
shopping centers e prédios altos. A alteração da composição do gás de cozinha e
a dificuldade de acesso aos agrotóxicos são outras medidas de cunho político e
social que diminuíram em seus respectivos países as tentativas do ato.
Trigueiro destacou a importância
de ouvir e ser ouvido, que é a essência do trabalho do Centro de Valorização da
Vida – CVV. Em uma sociedade na qual as pessoas vivem em função do relógio,
sobram jargões e pequenas receitas que os amigos dão aos que resolvem abrir a
alma e relatar seu sofrimento, o que não ajuda. A literatura especializada
chama este fator de “apoio social” ou “suporte social”, cuja presença pode
fazer pesar a balança para o lado da vida. Este trabalho lembra o “atendimento
fraterno” feito nos centros espíritas.
Ao ouvir Trigueiro descrevendo o
trabalho do CVV, recordei-me dos princípios da psicologia humanista,
desenvolvida por Carl Rogers. Não diretividade, é um destes princípios.
Enquanto ouvia pensávamos, minha esposa e eu, sobre a necessidade das pessoas
que trabalham com atendimento fraterno estudarem a fundo, tanto o livro de
André Trigueiro, quanto a técnica do CVV e um pouco da psicologia humanista.
Isto evitaria o risco de se ouvir um pouco as pessoas que procuram o centro
espírita e interromper o processo com a “receita de três passes” e “cinco
reuniões públicas”. O passe pode ser um poderoso aliado para o portador de
depressão, a ida à reunião pode quebrar por um instante o isolamento social que
realimenta os pensamentos negativos, mas é preciso algo mais, e o trabalho de
atendimento fraterno pode ser uma forma de enfrentamento social mais efetivo da
depressão e do suicídio, sem pretender concorrer com a psicoterapia e o
atendimento psiquiátrico.
Poderia ficar escrevendo páginas
e páginas, tal a riqueza do trabalho do jornalista, mas deixo ao leitor o livro
dele e, quando estiver no ar, divulgo o link desta palestra. Vieram os
autógrafos e ele nos acolheu pacientemente, comentando com entusiasmo sua nova
frente de trabalho. André Trigueiro, desejo-lhe sucesso! Cada pessoa que ouvir
seu convite à vida e resolver enfrentar seus impulsos e ideias obsessivas, é um
ponto de luz que se acende na teia da sociedade brasileira, a contaminar o todo
com o desejo de superação.
Anteontem recebi meu exemplar e vou lê-lo nos próximos dias! Enquanto lia sua postagem, fazendo referência ao Werther do Goethe, lembrei-me também do Anna Karenina do Tolstoi e dos relatos deste, através de Yvonne, do quanto ele se sentia triste por tê-lo escrito e um dos motivos dele ter voltado através da mediunidade de Yvonne para influenciar de outra maneira seus leitores. Vou aguardar de modo ansioso/tranquilo a postagem do vídeo! :) :) :)
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