13.6.15

O CONVITE À VIDA DE ANDRÉ TRIGUEIRO





Foto: André Trigueiro no Mater Dei



Dia dos namorados, sexta-feira à noite. O hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, abriu as portas em parceira com o programa Sempre Um Papo, para organizar uma palestra e autógrafos de André Trigueiro. Já havíamos comentado sobre seu livro "Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo."


O espaço não é grande, mas agradável. Um auditório com cadeiras removíveis, estilo poltronas, confortáveis. O público foi chegando aos poucos e se acomodando. Médicos, espíritas, voluntários do CVV (centro de valorização da vida). A palestra seria gravada e em algumas semanas todos poderão vê-la nas telinhas, mercê da internet e da equipe do Sempre um Papo.

Trigueiro fala muito bem. Ele combina a clareza de jornalista com a emoção que permeia sua fala rica de informações, às vezes engraçada. Sua palestra é uma quebra de tabu, muito cuidadosa e bem pensada.

Desde o livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, preocupa-se com os impactos que o relato dos suicídios podem ter no público vulnerável. André mostrou muito bem, que a imprensa tem como diretriz não falar do assunto sob hipótese alguma, mas como se vai combater um mal social e individual que não se conhece? O jornalista entende que precisamos nos deter na forma que a informação é passada, e propõe alguns cuidados para se falar do suicído em público. 

No Werther, o personagem principal, com o qual o leitor pode se identificar, suicida-se como uma saída romântica para um problema amoroso. As pessoas em geral leriam a história como uma ficção emocionante, mas pessoas com alguma forma de vulnerabilidade, identificadas com o personagem e com o discurso romântico e justificativo da morte, impressionadas com a descrição minuciosa do modus operandi de Werther, podem ser negativamente influenciadas por ele. 

Outro ponto que André Trigueiro enfatiza bastante em seu trabalho é que o suicídio não tem causa única. É um fenômeno multifatorial, ou seja, o ato que desencadeia a morte é influenciado por muitas razões e oportunidades, ao contrário do que pensa o senso comum. Os transtornos de humor estão muito associados à tentativa de suicídio, mas a grande maioria das pessoas não sabe o que é depressão ou transtorno bipolar, e fazem julgamento de valor, acreditando tratar-se de covardia, preguiça ou acomodação, para maior sofrimento dos que padecem o mal.

O acesso aos instrumentos usados do ato também é um fator. Por esta razão se tem criado mecanismos de proteção em lugares usados para o suicídio, como bem lembra Trigueiro, como pontes, shopping centers e prédios altos. A alteração da composição do gás de cozinha e a dificuldade de acesso aos agrotóxicos são outras medidas de cunho político e social que diminuíram em seus respectivos países as tentativas do ato.

Trigueiro destacou a importância de ouvir e ser ouvido, que é a essência do trabalho do Centro de Valorização da Vida – CVV. Em uma sociedade na qual as pessoas vivem em função do relógio, sobram jargões e pequenas receitas que os amigos dão aos que resolvem abrir a alma e relatar seu sofrimento, o que não ajuda. A literatura especializada chama este fator de “apoio social” ou “suporte social”, cuja presença pode fazer pesar a balança para o lado da vida. Este trabalho lembra o “atendimento fraterno” feito nos centros espíritas.

Ao ouvir Trigueiro descrevendo o trabalho do CVV, recordei-me dos princípios da psicologia humanista, desenvolvida por Carl Rogers. Não diretividade, é um destes princípios. Enquanto ouvia pensávamos, minha esposa e eu, sobre a necessidade das pessoas que trabalham com atendimento fraterno estudarem a fundo, tanto o livro de André Trigueiro, quanto a técnica do CVV e um pouco da psicologia humanista. Isto evitaria o risco de se ouvir um pouco as pessoas que procuram o centro espírita e interromper o processo com a “receita de três passes” e “cinco reuniões públicas”. O passe pode ser um poderoso aliado para o portador de depressão, a ida à reunião pode quebrar por um instante o isolamento social que realimenta os pensamentos negativos, mas é preciso algo mais, e o trabalho de atendimento fraterno pode ser uma forma de enfrentamento social mais efetivo da depressão e do suicídio, sem pretender concorrer com a psicoterapia e o atendimento psiquiátrico.

Poderia ficar escrevendo páginas e páginas, tal a riqueza do trabalho do jornalista, mas deixo ao leitor o livro dele e, quando estiver no ar, divulgo o link desta palestra. Vieram os autógrafos e ele nos acolheu pacientemente, comentando com entusiasmo sua nova frente de trabalho. André Trigueiro, desejo-lhe sucesso! Cada pessoa que ouvir seu convite à vida e resolver enfrentar seus impulsos e ideias obsessivas, é um ponto de luz que se acende na teia da sociedade brasileira, a contaminar o todo com o desejo de superação.


11.6.15

ENLIHPE E O OBSERVADOR




O programa Roteiro, da Rádio Boa Nova de São Paulo, nos entrevistou na última terça-feira sobre o 11o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, sobre o livro "O espiritismo, as ciências e a filosofia" e sobre o livro que publicamos em 2014: "O observador e outras histórias".

Falamos sobre o tema central do ENLIHPE, que trata das pesquisas contemporâneas sobre reencarnação, da forma de organização dos trabalhos, dos conteúdos da parte filosófica do último livro da LIHPE e de como foi preparado o livro "O observador..."

A entrevista começa em torno dos dezoito minutos, após notícias sobre um movimento contra o aborto em Brasília.

Para ouvir, basta clicar no link abaixo.

http://radioboanova.com.br/ouvir-now/?off=43725&src=http://www.arquivorbn.com.br/programasgravados/2015/06/201020615.mp3

5.6.15

I ENCONTRO DA CULTURA E PESQUISA ESPÍRITA FRANÇA-BRASIL



O 38o. Conselho Espírita da Unificação de Niterói, ligado ao CEERJ e o Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões do Centro de Ciências Sociais da UERJ estão organizando o 1o. Encontro da Cultura e Pesquisa Espírita e, ao mesmo tempo, o XII Colóquio França-Brasil.

Este evento conta com pesquisadores e estudiosos do movimento espírita dos dois países. Ele tem por objetivo aproximar brasileiros e franceses interessados no estudo do espiritismo. 

Já estão confirmados: Alexander Moreira-Almeida, Antônio Cesar Perri de Carvalho, Evandro Noleto Bezerra, Dora Incontri, François Gaudin, Jorge Brito, Luciano Klein Filho, Marcelo Gulão, Marion Aubrée, Nadja do Couto Valle, Olivier Geneviève, Paulo Peixoto, Samuel Magalhães, Vincent Fleurot e Yasmim Madeira. 

O evento se realizará no Teatro Odylo Costa Filho, que tem espaço para 900 pessoas, contará com tradução simultânea para as duas línguas e está aberto a todos os interessados.

A UERJ fica na Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã - Rio de Janeiro-RJ, quase em frente ao Centro Espírita Regeneração, fundado por Bezerra de Menezes no século XIX.

É uma ótima oportunidade para espíritas do Brasil e da Europa se encontrarem, estabelecerem laços, e conhecerem o que se tem produzido sobre o espiritismo pelas universidades. 

A taxa de inscrição de 50 reais dá direito ao livro "Em torno de Rivail: o mundo em que viveu Allan Kardec", da Editora Lachâtre. Inscrições e informações, no momento, já podem ser feitas nos telefones do GEPAR - 021-2619-2448 ou 021-3026-5831, com Paulo Menezes ou Márcia Stephano, no horário comercial.

Estão apoiando o evento (ordem alfabética): 

Conselho Espírita Internacional- CEI, Conseil Spirite Français- CSF, ,  Correio Espírita, Correio Fraterno, CEERJ TV, Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro - CCDPE-ECM, Grupo Espírita Paz, Amor e Renovação - GEPAR, Instituto Lachâtre, Liga dos Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, Programa de Estudos e Pesquisas das Religiões - PROEPER, Rádio Boa Nova, Rádio Rio de Janeiro, Webtv Espírita Nova Luz

A partir do dia 30/06/2015, estará disponível a inscrição no site http://www.1epce.com.br

O evento acontece nos dias 31 de julho a 2 de agosto próximos.

Será um grande prazer encontrar neste evento, leitores do Espiritismo Comentado que conhecemos apenas pela internet. 

Ajudem a divulgar, por gentileza. Repassem esta matéria.




CORREÇÃO: Publicamos originalmente um cartaz que contém o nome de Charles Kempf, na lista de expositores. Gostaríamos de explicar que o nome dele estava cotado para participar presencialmente do evento, mas ele foi impedido de estar presente por razões profissionais. Estamos providenciando mudanças no cartaz digital e voltaremos a publicar com a lista correta.

3.6.15

DANIEL DUNGLAS HOME E O TEÓLOGO




Em 1851, Daniel visitou o Sr. C., em Nova York (Brooklin), onde ficou conhecendo o Prof. George Bush. Tratava-se de um teólogo eminente e professor de hebreu e línguas orientais em Nova York. Ele estava preparado para reconhecer os fenômenos que envolviam Home, porque estava familiarizado com os escritos de Swedenborg e com o mesmerismo, além das experiências espirituais de Julian Stilling e de outros. Ao declarar-se publicamente favorável aos trabalhos de Swedenborg, Bush prejudicou seu próprio futuro na igreja.

Seu maior interesse era nos fenômenos mentais que ocorriam com Daniel. Ele recebeu, segundo Home, comunicações tais que não deixavam espaço à dúvida em sua mente da presença dos que já haviam falecido. Bush afirmou que o médium havia dado o nome de um colega antigo de escola, de quem já havia esquecido há muitos anos, e que este colega se referiu a um sonho que o professor havia tido na noite de sua morte. No sonho, eles brincavam juntos, quando o pequeno Bush viu subitamente seu colega de escola ser tirado dele, e ouviu uma voz que dizia: “Eu deixo você, George, mas não para sempre”. O sonho de quarenta anos atrás veio à sua mente imediatamente.


George Bush ficou tão impressionado que convidou Home para morar com ele, a fim de estudar para ser ministro swedenborguiano (adepto da doutrina de Emmanuel Swedenborg, médium precursor do espiritismo na Europa). Daniel voltou para casa com a intenção de fazê-lo, mas em 48 horas ele viu, estando desperto, o espírito de sua mãe, que dizia: “Meu filho, você não deve aceitar este tipo de oferta, porque sua missão é maior que a de um pregador.” Home contou ao professor a mensagem do espírito. Ele ficou pesaroso, mas não surpreso e Home retornou à casa do Sr. C.

Adaptado do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home

1.6.15

NO CÉU DA VIBRAÇÃO



Sábado de noite na Praça Sete, coração do centro de Belo Horizonte. Eu já havia assistido muito cinema no Cine Teatro Brasil, que foi totalmente restaurado há alguns anos com a parceria da Vallourec e tornou-se novamente um espaço de cultura da capital.

Fomos assistir “No Céu da Vibração” um musical sobre a vida de Chico Xavier. Ao chegarmos no teatro, já fui vendo luz. A fachada exterior ganhou uma iluminação interna, que passa pelos vitrais e ilumina toda a frente e lateral do teatro. Ele estava morto e reviveu.



Como comprei de véspera, o que não é hábito de mineiro que se preza, consegui lugar apenas a última fila da plateia, embaixo do balcão, mas já encontrei uma colega de mocidade espírita que ficou ao lado da minha esposa e pudemos trocar impressões ao longo da peça.

Como todo musical, tinha um belo e chamativo figurino, uma caracterização dos personagens genial, especialmente a do nosso Chico, que vai da infância à idade avançada ao longo dos nossos olhos. Chapéu, peruca e boina, uma boina bem paulistana, ítalo-paulistana, saída das mãos de Marlene Nobre. Os artistas cantavam, dançavam, representavam. A iluminação completava o figurino.



O maestro, com um chapéu-boné que evocava o personagem Chico Xavier, regia a pequena orquestra que ficou ao fundo do palco, meio escondida pelo cenário, porque o Cine Teatro é mais cine que teatro, mesmo depois da reforma.

O espetáculo aos olhos mineiros tem algo que, por exemplo, não se vê na direção carioca do filme de Daniel Filho. Trata-se da mineiridade. Aos olhos das pessoas de centros mais tradicionais e ricos de nosso país, a mineiridade soa a brejeirice ou a ser jeca, um tolo alegre de quem todo mundo gosta. No texto do musical, o sotaque atrai gargalhadas gostosas, mas os personagens apresentam uma grandeza, uma luta, uma humanidade que não os torna inferiores, mas sublimes aos nossos olhos.

Daniel Kostás, diretor do musical, captou o espírito das lavadeiras, das beatas, dos homens de cidade pequena do interior, até mesmo das intrigas em torno do padre, que foi o menos mineiro dos personagens. Li algures que nosso sotaque deve muito à escravidão, que foi extensa por aqui, por causa do ouro, da colonização, da roça. E entendi bem a negritude da alma mineira quando vi os personagens em ação. A história do Chico, muito abrandada pela habilidade do roteiro, é uma história de muita violência, de morte, de dor. É uma história triste da violência que herdamos da relação entre senhor e escravo. Chico é o homem da superação. Ele tinha tudo para adoecer, para encher-se de bebida, para ser um homem mesquinho, mas resolveu trilhar um caminho diferente. Ele é o fraco que ficou forte na dor.

O personagem do pai de Chico não é o vendedor de bilhetes de loteria que povoa a minha infância. Daniel fez um upgrade. Ele é um jovem, e sua violência não convence. Penso que a violência do pai de Chico, hoje livre da carne, foi uma violência rude.

O romance com sua segunda esposa também não retrata o que vi com olhos de menino das relações verticais de marido e mulher, que como uma balança romana, a cada momento pendia para um lado, mercê da força e capacidade da mulher mineira. Cidália é uma jovem apaixonada e cheia de convicções, que escolheu o amado e teve romance. Essa Cidália saiu do fundo da alma de Daniel e não de relatos reais, mas encheu nossos olhos, porque é cheia de mineiridade.

Maria, conhecida nas casas espíritas como Maria João de Deus, é um espírito superior, mulher bonita e vistosa, mas humilde e altaneira, como uma montanha. Seu sotaque carregado atrai a admiração da multidão de cabeças que estava na minha frente.

A Rita, a madrinha-madrasta, é também um arquétipo, mais que uma pessoa. Eu escuto até agora o grito da infância “Chiiiiico!”, bem à moda dos lugares cheios de espaços e com poucos vizinhos para incomodar. A agressão foi oculta, minimizada pelo cenário, mas povoou nossas mentes. Doses homeopáticas.

Faltou dor nos olhos de Maria-espírito. Ela parecia superior à violência contra seu filho. Na minha mente pequena, seu lugar é o de quem não tem como interferir, que precisa dar forças ao pequeno, mas duvido que faltasse dor nos seus olhos, aquela dor estoica que ensinou o Chico a lidar com as atribulações da vida.



Emmanuel é um arquétipo da masculinidade, uma masculinidade estrangeira. É diferente do Emmanuel que fui construindo na mente ao ler a obra e ouvir os "causos" que falam do Chico. Por sinal, em Minas o Chico é mais um personagem de causos que um autor ou médium excepcional. É mais um homem bom, que uma liderança incansável de uma obra imensurável. É mais um homem simples, que uma potência política. Ele nos enganou direitinho. Tanto falou que é um cisco, que nós perdemos a real dimensão de quem estava conosco.

André Luiz é um personagem secundário. Entra, aparece e some. Falta a todos nós espíritas entender a intimidade do doutor com o Chico, intimidade que sobrou na relação com o senador romano. Ele é um sofredor que dita suas histórias após o resgate.

Os espíritos são um show à parte. Daniel os enfiou literalmente no meio das pessoas encarnadas, com uma roupagem clara esvoaçante, mas nada semelhante ao branco pobre das produções globais. Eles não são seres desumanos, sem cor nem nada. Estão com suas emoções preservadas, como o seu “dos Anjos” poeta simbolista, cuja morte não o tornou sem alma.



A cena do espírito que fala pelo Chico é sem adjetivos. Perfeita! Não posso falar muito para não roubar a surpresa do show.

Gostei da dor. A dor das mães sem filhos, das esposas sem marido, dos maridos sem esposa que procuravam o Chico. Gostei da dor dos que não encontraram na mediunidade um telefone que toca e recebe. Gostei da dor da espera, da paciência. Gostei da dor do médium que gostaria de poder fazer o impossível para alentar a dor dos que o procuravam. Os artistas se superaram.

Uma palavra de desprezo aos historiadores que enxergam Chico Xavier apenas como colaboracionista da ditadura. Um pouco de profundidade, doutores! Um pouco de psicologia não faria mal à sua história. Só entenderão resistência quando a matizarem, quando virem mais que apenas a resistência das armas e das revoltas. Se os autores de seus textos tivessem humanidade, talvez vocês entendessem mais. Isso o Daniel Kostás conseguiu.



Entendi perfeitamente o que é unificação quando vi o musical. Música do paranaense Plínio Oliveira, que ganhou corpo e expressão no trabalho de Kostás, completamente mineiro, em meio ao sotaque paulistano de dona Marlene. Uma encarnação! Esta foi a impressão que tive quando vi a música de Plínio ganhar forma diante de meus olhos.


O musical terminava. Aquela multidão de cabeças na minha frente, assoava os narizes, enxugava lágrimas discretamente. Por um momento, não havia homens e mulheres na minha frente. O musical interpretava “um cisco”. Os mortos vivem para sempre em nossas memórias.

30.5.15

O ESPIRITISMO NO JAPÃO




Parque Abana Achi Ken - Túnel de flores e luzes, 

Adriano Marques, conhecido na mídia como o mochileiro, fez recentemente uma extensa visita para o Japão, fazendo estudos pelo movimento deste país. O Espiritismo Comentado conversou com ele sobre suas impressões e experiências no outro lado do mundo, e ele nos acolheu de forma atenciosa, jovial e pronta.



Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo. 


EC – Adriano, você esteve recentemente visitando o movimento espírita japonês. Quantas horas de viagem de São Paulo até Tóquio?
Mochileiro – Jáder, são 30 horas de voo sendo 14 até Abu Dhabi e depois mais 12 até o Japão com mais ou menos 3 a 4 horas de espera entre um voo e outro.

EC – Suas palestras foram traduzidas para o japonês?
Mochileiro - Não tivemos essa alegria e necessidade, até porque são poucos os Japoneses que frequentam ou conhecem o espiritismo. Porém, nessa segunda vez que estivemos no Japão, mais japoneses estiveram em nossas palestras e os acompanhantes, geralmente esposa ou marido, traduziam ao longo da palestra os pontos principais.



Cidade de Suzuka-shi - Província Mie Ken - Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz

EC – Nas grandes cidades japonesas os imóveis são muito caros e geralmente menores que os que temos no Brasil. Qual é o tamanho dos centros espíritas que você visitou? Há muitos anos li no GEAE que havia um grupo no qual as pessoas se reuniam em uma pequena sala e parte dos assistentes ficava em um van, na rua, acompanhando por meios eletrônicos a reunião.
Mochileiro - Não tenho essa informação sobre a van, mas, por exemplo, o grupo de orações na cidade de Honjo, na província/estado de Saitama durante 2 anos se reuniu dentro de um automóvel pequeno para fazer evangelho no lar nas ruas na cidade. Em média, as casas são pequenas e os grupos se reúnem em reuniões de 10 a 20 pessoas, exceto alguns grupos que chegam a 40 60 pessoas, como em Honjo, Toki e Kakegawa.
Para se ter uma ideia, Ginza, um bairro de Tokyo, é o metro quadrado mais caro do mundo. Com isso imaginamos qual o valor de um imóvel em Tokyo. Porém, a maioria das casas espiritas estão situadas em casas de presidentes ou de fundadores do grupo, ou em espaços alugados da prefeitura onde se pagam por hora, uma média de mil yenes, o equivalente a 25 reais por 3 horas de uso, aos sábados ou domingos. Outros grupos possuem sede própria e outros ainda dividem o espaço físico com casas de umbanda.

EC – O movimento espírita no Japão é nipo-brasileiro ou apenas de brasileiros que foram trabalhar por lá?
Mochileiro - Se compreendi bem sua pergunta, o movimento espirita no Japão é feito por brasileiros para brasileiros, sendo descendentes ou não.


Grupo de Orações Cidade Honro Shi - Província Saitama Ken

EC – A sociedade japonesa recebe bem os núcleos espíritas?
Mochileiro - Não há divergência, até porque o movimento espirita todo é realizado na língua portuguesa. Então até para que os japoneses não recebam bem, terão que compreender o que está sendo feito. Devido ao incidente há alguns atrás, da seita que matou centenas de pessoas no metrô de Tokyo, o governo proibiu a regulamentação de novas seitas religiões etc. Com isso o espiritismo não é visto pelos japoneses como uma religião.

EC – Como podemos apoiar o movimento japonês?
Mochileiro - Primeiramente, com prece, orações e buscar ajudá-los à medida que os pedidos dos grupos forem sendo realizados. A nossa ida até o Japão demorou 6 anos, devido aos grupos fechados, desconfiança etc., pois, infelizmente, muitas pessoas ao longo dos anos tentaram se aproximar somente para obter vantagens chegando ao ponto de cobrarem pelas palestras. Em outros momentos temos palestrantes no Brasil que fazem muitas exigências como passagem de primeira classe, hotel cinco estrelas, público acima de X número de pessoas e etc. Com isso, é natural o bloqueio e a insegurança dos dirigentes e trabalhadores.


EC – Você entrevistou crianças japonesas sendo evangelizadas, como foi isto?
Mochileiro - Não entrevistei porque não existe esse trabalho sendo realizado, pelo menos nas 15 casas espiritas que visitei. O que existe são trabalhos esporádicos sendo realizados por pessoas dentro de alguns grupos, porém com filhos de trabalhadores e frequentadores, em português, até porque são crianças brasileiras que até falam japonês, porém tudo é feito em português.

EC – O Japão é a terceira economia do mundo, com uma distribuição de renda muito melhor que a nossa. Você teve contato com trabalhos de assistência e promoção social lá? Qual é a diferença dos nossos trabalhos?
Mochileiro - Sim, realmente o Japão é um país de primeiro mundo e somente isso já dá uma visão geral das grandes diferenças entre eles e nós. Visitei e trabalhei em dois grupos assistenciais, tanto na primeira como dessa segunda vez que visitamos o Japão. A diferença, basicamente. é a forma que é conduzido trabalho, os alimentos, a preparação, e os dias de funcionamento. Basicamente, os trabalhos sociais se resumem em atendimento aos homeless, moradores de rua. O grupo que participei fica na cidade de Hamamatsu na província de Shizuoka talvez o lugar com mais brasileiros no Japão, devido à grande quantidade de brasileiros. Até as placas na estação de metrô e shinkansen - trem bala - em hamamatsu estão escritas em português. E, por incrível que pareça, todos os assistidos, dessa vez que participei, 89, eram japoneses. Ano passado havia brasileiros e outras nacionalidades.






EC – Nas reuniões mediúnicas, há médiuns japoneses, psicografando ou falando em japonês? Já existem publicações de livros espíritas produzidos por “filhos do sol”?
Mochileiro - Não se tem notícia de japoneses nas reuniões mediúnicas nem à frente de trabalhos espíritas. Tive contato com pessoas que afirmam ter grupos espíritas criados por japoneses para japoneses, porém não obtive êxito em conseguir contato ou entrevista para a rádio Boa Nova.
Livros, existem sim. O mais conhecido é o evangelho segundo o espiritismo, traduzido pelo Sr Tomoh Sumi, que é japonês e morou no Brasil, em Juiz de Fora-MG, onde fez faculdade de Letras. Há também O livro dos médiuns, O céu e o inferno em dois volumes e O livro dos espíritos, mas traduzido por grupos diferentes, inclusive por não espíritas.
Nas reuniões mediúnicas, cheguei a participar de algumas, quando a comunicação pode ser realizada na língua japonesa. Em um dos grupos havia pessoas capacitadas para fazer a doutrinação em japonês, noutro grupo fizemos prece e encaminhamos o espírito, já que não havia como dialogar, devido a ninguém na sala conhecer a fundo a língua nativa.

EC – Conte para nós como foi a entrevista na Globo – Japão.
Mochileiro - A entrevista aconteceu devido à ajuda da Alice, dirigente do Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz, da cidade de Suzuka que, em contato com Edson Xavier, combinou nossa participação. Fui muito bem atendido pelo apresentador e o bate papo fluiu tranquilo. Confesso não imaginar a repercussão que a entrevista daria, quando fosse ao ar. Até hoje tenho recebido e-mails do Japão inteiro dizendo que ouviram e assistiram a entrevista. Em meu face o vídeo chegou a mais de 3 mil visualizações. De uma maneira tranquila, falamos aquilo que em duas viagens ao Japão, sendo 30 dias cada visita, conseguimos conhecer. Como dissemos anteriormente, o movimento espirita japonês ainda está no início e muita coisa precisa ser esclarecida aprendida e ensinada. Por isso há muita desconfiança, no sentido de conhecer nosso trabalho para abrir as portas dos grupos, até porque muitos estão localizados nas próprias residências das pessoas etc. Mas muito nos alegra termos participado dessa entrevista num veiculo mundialmente conhecido e termos falado por mais de 4 minutos.

EC – Você pode contar ao nosso leitor alguma peculiaridade dos centros espíritas japoneses?
Mochileiro - São várias, mas tentarei resumir. O fato de, na entrada, você ter que tirar o sapato, como é o costume japonês, já nos causa estranheza. O segundo ponto é que, como a grande maioria, arrisco dizer que como 90% dos espíritas japoneses conheceu o espiritismo no Japão, ainda existem as orações reminiscentes do catolicismo como o Pai Nosso, Ave Maria etc., seja no estudo do evangelho ou nas reuniões mediúnicas e palestras públicas. As comunicações de espiritos na reunião mediúnica, em Japonês, na minha opinião é a peculiaridade mais especial. Como sou apaixonado pela língua japonesa acaba sendo gostoso e nos desperta mais amor no momento da comunicação, por exemplo, de espíritos que, sofredores ainda, não conseguem discernir que já estão desencarnados e são levados pela espiritualidade maior para tratamento.

EC – Que autores/médiuns ocidentais espíritas são lidos pelos japoneses, além de Kardec e Chico Xavier?
Mochileiro - São muitos, porém Zíbia Gasparetto é a mais lida, sem sombra de duvida, devido aos romances.




IV Simpósio Espírita da ADE Japão - Cidade Isesaki-Shi, Província de Gunma-Ken

EC – O que emocionou você na viagem?
Mochileiro - Jáder, a viagem toda, em si, é uma emoção. Há muitos anos sonhávamos viajar o mundo levando livros, espiritismo e a Rádio Boa Nova, e por duas vezes em dois anos demos a volta ao mundo. Ir ao Japão é a realização não somente de um sonho, mas sim, de um projeto que provavelmente durará por longas décadas. Primeiro, pelo que plantamos e por todo trabalho iniciado na seara espirita. Segundo, porque há muito o que ser feito e realizado e graças ao nosso trabalho e temos tido total apoio, respeito e convite para retornarmos e darmos continuidade ao trabalho iniciado em 2014.
Passar 30 horas de voo, com a sensação de que tudo será novo, é algo imensurável. Em 2014 não conhecíamos ninguém, nem sequer onde ficaríamos hospedados, eram ouvintes que nos convidaram e nós aceitamos. Imagina o nervosismo, as dúvidas, o medo, porém a fé em cristo foi maior e colocamos a mochila nas costas e levamos 310 livros para distribuição em 2014. Neste ano foram 450 livros da lavra de Francisco Candido Xavier doados pela editora GEEM. Então entregar os livros, dar palestras, entrar ao vivo pela Rádio Boa Nova em nosso programa Roteiro, direto do Japão, foi algo esplendoroso até porque a Radio Boa Nova tem 50 anos de existência e fomos os primeiros a ir ao outro lado do mundo.
E, por fim, mas não menos importante, fazer amizades, conhecer uma nova cultura, lugares, religiões, grupos que, com muita dificuldade, longe da família e do pais de origem, seguem firme, mantendo alto a bandeira do espiritismo.

EC – Você tem um link que possibilite, aos espíritas latino-americanos e aos japoneses interessados, conhecer um centro espírita no Japão?
Mochileiro - Não tem um link especifico, mas quem quiser pode nos adicionar no Facebook - Adriano Marques - Programa Roteiro - que indicaremos os grupos de cada região: http://radioboanova.com.br/wp-content/uploads/2014/02/adriano_marques.png



28.5.15

UMA ANIMAÇÃO COM AS IRMÃS FOX E COM ALLAN KARDEC







Chrystiann Lavarini escreveu-me da Escócia, indicando um vídeo de animação de cerca de quatro minutos.

É uma delícia de se assistir. Trata dos eventos das irmãs Fox nos Estados Unidos e de uma rápida biografia de Allan Kardec, toda ilustrada sob a forma de animação acelerada.

Pensei como seria útil em aulas de evangelização infantil, em cursos de introdução ao espiritismo, como apoio didático-pedagógico. Já imaginei as crianças conversando sobre a animação, perguntando, opinando, desenhando...

O trabalho foi desenvolvido pela TV Mundial de Espiritismo - Associação Mundo Espírita. Eu não a conheço mas espero que tenha mais trabalhos com esta qualidade e utilidade.

Clique no link abaixo para assistir.

22.5.15

BANCO DE TROCA DE LIVROS ESPÍRITAS EM BELO HORIZONTE



A FECFAS é uma instituição espírita que fica no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte-MG. Ainda não tenho detalhes sobre sua mais nova iniciativa, mas parece ser uma ideia muito interessante: um banco de troca de livro espírita.

Muitos dos livros que compramos são lidos por uma ou duas pessoas em casa e ficam tomando poeira nas estantes, sem uso. O banco possibilita às pessoas com hábito de leitura e aos colecionadores o acesso mais fácil e desburocratizado aos livros espíritas, delimitando melhor o papel de uma biblioteca em um centro espírita, porque possibilita a adoção de uma política de acervo voltada à preservação e acessibilidade do conhecimento.

Antevejo algumas questões que envolvem a classificação dos livros (o que é ou não livro espírita? O que pode ser trocado?) e as condições dos livros (pode-se aceitar um livro muito velho, ou faltando páginas?) De qualquer forma, estas questões não são impeditivas, se a finalidade do trabalho for a divulgação do conhecimento espírita.

Saudamos a iniciativa e aguardamos a experiência deste grupo e de outros que talvez já estejam realizando algo semelhante, nos comentários do blog ou na página Espiritismo Comentado do Facebook.

19.5.15

VIVER: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DO SUICÍDIO




Fechei a página 190 com a clara impressão de ter navegado por dois dias em um texto suave e muito informativo, em alguns momentos, reflexivo. Esta foi minha experiência com o livro “Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.”

André Trigueiro, o autor, é conhecido jornalista da Rede Globo, engajado em temas ligados à ecologia e à preservação da vida. Atuante no movimento espírita há muitos anos, discretamente, ele retoma neste livro o tema que o motivou no início dos seus trabalhos: o suicídio.

A primeira parte do livro informa e desconstrói muitos mitos que se tem propagado sobre o suicídio. Trigueiro dá dicas ao profissional de mídia para superar o tabu de se falar do suicídio e os cuidados para que a informação seja benéfica, e não indutora do ato. Uma contribuição importante para o entendimento do tema é a insistência que se trata de um ato com diversos fatores explicativos, ou seja, não pode ser explicado apenas pelo que pode ser visto como um fator desencadeante (uma desilusão amorosa, uma falência ou outro acontecimento estressor na vida do autocida).

Trigueiro destaca bastante a influência da depressão e de outros transtornos mentais, bem como do alcoolismo e do uso de drogas,  na maioria das histórias de pessoas que tentaram o ato. Ele explica com clareza e objetividade como as políticas públicas podem agir na prevenção do suicídio e como nós podemos, em escala menor, identificar pessoas que correm o risco de matar-se e como auxiliá-las.

O Centro de Valorização da Vida é tratado e historiado de forma muito interessante para nós, espíritas, mas não vou me deter no assunto para não estragar a surpresa da leitura.

A segunda parte do livro trata da visão espírita do suicídio e apresenta de forma clara o  pensamento de Kardec e o de autores atuais, como Yvonne Pereira, Joanna de Ângelis, Simonetti e Jáider de Paula, por exemplo.

Uma palavrinha sobre a edição: o projeto editorial do livro é muito cuidadoso, agradável de ver e ler. Descansa os olhos.


O livro merece ser lido pela comunidade espírita com atenção e, ao contrário do que o autor humildemente propõe, ele traz novas questões e abordagens ao que já conhecemos e lemos na literatura espírita. Como pessoas com este tipo de problema nos procuram diariamente na casa espírita, seria um livro interessante para ser estudado e discutido pelas equipes de atendimento fraterno ou acolhimento.

17.5.15

OS ESPÍRITOS REÚNEM UMA FAMÍLIA AMERICANA ATRAVÉS DE HOME




A tia de Daniel Dunglas Home era avessa aos fenômenos de efeitos físicos em sua casa, mas seus vizinhos não tinham tantos escrúpulos religiosos, e convidaram o jovem médium para realizar uma sessão em sua casa. 

A Sra. Force, uma das interessadas, usou um alfabeto para dialogar com a origem inteligente dos raps (batidas ou pancadas) que se manifestavam em sua casa. Ela obteve o nome de sua mãe, e, a seguir, houve uma comunicação em que a Sra. Force foi advertida por ter se esquecido de sua meia-irmã, que havia se casado com um fazendeiro há mais de trinta anos e mudado para o oeste dos Estados Unidos. Os "raps" deram-lhe o nome da cidade em que a irmã morava com o marido, o número de filhos e o nome de cada um deles. Force escreveu para o endereço e recebeu uma carta em resposta, confirmando todas as informações obtidas. A comunicação reuniu a família.

8.5.15

A TIA DE DUNGLAS HOME

Foto: Home, jovem, e sua tia


Após a desencarnação da mãe de Home, iniciaram-se raps (batidas) na mesa da casa de sua tia. Eles haviam ouvido falar nos fenômenos de Hydesville e nas irmãs Fox. A tia disse-lhe, ao ver que os fenômenos continuavam:

- “Então, você trouxe o diabo para a minha casa, não trouxe?” E atirou-lhe uma cadeira.

Ela chamou três ministros de diferentes orientações religiosas (todos protestantes) para rezar em sua casa, por Home, e expulsar o demônio. O ministro Batista ouvia os raps aumentarem, quando ele falava em Jesus ou em Deus, vindos de diferentes partes do cômodo em que se encontravam.

Home ficou muito emocionado com todos estes fenômenos, e, orando de joelhos, colocou-se à disposição de Deus.

Em outra oportunidade, uma mesa movia-se em direção a Daniel Douglas Home, na casa de sua tia, enquanto ele se via no espelho. Incomodada com o fenômeno, a tia jogou uma Bíblia sobre a mesa, dizendo:

-“Vai levar o diabo para longe!”

Ao contrário do que ela esperava, a mesa moveu-se ainda mais vividamente. Atônita, ela decidiu subir sobre a mesa para terminar aquela movimentação de uma vez por todas. A mesa elevou-se acima do solo, para uma surpresa ainda maior.

Preocupado com os incidentes, que haviam começado, não havia uma semana, Home orava quando viu a mãe, que lhe disse:

“Meu filho, não tema. Deus é por você, quem será contra? Procure fazer o bem. Seja verdadeiro e amante da verdade, e você irá prosperar, minha criança. A sua é uma missão gloriosa. Você irá convencer as pessoas sem fé, curar os doentes e consolar os que choram”


Pouco depois, aos dezoito anos, foi expulso da casa de sua tia.

Fonte: adaptação do livro "Incidents of my life" de Daniel Dunglas Home.

6.5.15

EXPIRA ESTE MÊS A SUBMISSÃO DE TRABALHOS PARA O ENCONTRO DA LIHPE - SÃO PAULO



A Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, está fazendo a chamada de trabalhos para o encontro de 2015, que acontecerá nos dias 29 e 30 de agosto, no auditório da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE-SP).

Se você tem algum trabalho escrito, fruto de pesquisa bibliográfica ou de campo, convido-o a colocá-lo no formato proposto em http://www.lihpe.net/wordpress/?p=1450 e submetê-lo à comissão organizadora (nesta mesma página há os links de submissão). Ele será encaminhado a dois pareceristas que o avaliarão e selecionarão os melhores trabalhos para apresentação. Você receberá o resultado das análises, sigilosamente.

O tema de 2015 é "Panorama Atual das Pesquisas Científicas sobre Reencarnação". Basicamente, a coordenação do evento fez um levantamento dos artigos científicos sobre reencarnação na base Periódicos CAPES, selecionou os que efetivamente tratam do tema e dividiu-os em assuntos, uma vez que conseguiu-se dezenas de trabalhos.

Vamos apresentar temas como Reencarnação e História, Reencarnação e Medicina, além de trabalhos sobre os principais pesquisadores do fenômeno no século XX e XXI.

Pesquisas de outras temáticas podem ser submetidas, mas dar-se-á preferência ao tema central do evento. 

Agradeço todo esforço para divulgação no meio espírita e no meio universitário.

5.5.15

O PRIMEIRO FENÔMENO MEDIÚNICO DE DANIEL DUNGLAS HOME


Foto: Daniel Dunglas Home, adulto


Daniel Dunglas Home foi uma famoso médium de efeitos físicos, contemporâneo a Allan Kardec. Ele nasceu em Edimburgo (Escócia) em 1833, e foi adotado pela tia com um ano de idade. Não sabemos ao certo porque isto aconteceu, já que sua mãe era viva e teve contato com ele até a adolescência, quando desencarnou.

Daniel, assim como outros médiuns de efeitos físicos, tem percepções espirituais desde a infância. Aos treze anos, ele tinha um amigo cristão chamado Edwin e fizeram um acordo de mostrar-se um ao outro após a morte. Home mudou-se para uma cidade norte-americana a cerca de 300 milhas distante da residência do amigo.


Um mês depois, quando fazia suas preces, sentou-se na cama e a escuridão invadiu a sala, que até então estava bem iluminada pela luz da lua. Home percebeu uma presença espiritual que apareceu em uma nuvem brilhante. Ele reconheceu a face do seu amigo Edwin, sem diferenças marcantes, apenas os cabelos mais longos. O amigo sorriu para Daniel, que ficou sabendo dias mais tarde que ele havia desencarnado, vítima de uma disenteria maligna.

(Fonte: Incidents of my life, de Daniel Dunglas Home. Guilford - UK, White Crow, 2009)

1.5.15

A TERRA DA BRUMA



Há alguns meses meu amigo Alexandre Caroli me sugeriu a leitura do livro “A Terra da Bruma”, que acabava de ser publicado em língua portuguesa, depois de um século em inglês e total desconhecimento por parte do público espírita do nosso país. Conan Doyle ainda é conhecido apenas como o “autor de Sherlock Holmes”, personagem que continua estimulando filmes e séries de TV até os nossos dias. Os espíritas conhecem o seu História do Espiritualismo Moderno (traduzido com o nome de História do Espiritismo), e talvez conheçam “A Nova Revelação”, publicado pela Federação Espírita Brasileira.

A Terra da Bruma é uma ficção com raízes profundas na realidade. Ele gira ao redor de dois ou três personagens que vão aos poucos conhecendo o Espiritualismo Moderno inglês e europeu, em princípio, para escrever matérias para um jornal. Céticos, eles vão a diversos espaços onde a mediunidade é praticada.

Não vou falar muito do enredo, para não estragar a leitura de quem ainda não o fez. Apenas antecipo que é diferente do texto de suspense de Doyle. Ele parece ter escolhido instituições e situações que desejava apresentar ao leitor e inseriu no enredo. É um livro para quem deseja conhecer mais do espiritismo e do espiritualismo europeus do século XIX, e não para quem deseja um romance de suspense.

O que mais me chamou a atenção no livro são as diferenças entre o modern spiritualism, a cultura inglesa e o espiritismo brasileiro. Creio que é uma leitura boa para quem já conhece bem nosso movimento espírita e a obra de Allan Kardec. Pode gerar alguma confusão nos iniciantes ou desconhecedores do espiritismo. Vou destacar algumas diferenças:

Mediunidade paga: o autor defende a mediunidade paga, ao contrário de Allan Kardec, como uma forma do médium poder se dedicar ao desenvolvimento de sua faculdade e poder atender a um público maior de consulentes. No próprio livro, Doyle mostra também pessoas que resolvem se fazer passar por médiuns apenas pelo dinheiro e a ação da polícia inglesa, implacável, mesmo com os médiuns honestos. Do pouco que conheço da história, apesar de ficção, está muito próxima do que realmente aconteceu na Inglaterra do início do século XX.

Relação com padres da Igreja Anglicana: A Igreja Católica adotou uma posição de rechaço ao espiritismo de Allan Kardec ainda no século XIX. Conan Doyle tem personagens que são padres, possivelmente anglicanos, e que articulam sua fé cristã à mediunidade. Lembrei-me de pessoas como Dale Owen, Stainton Moses e Haraldur Nielson. Qual terá sido a posição oficial da igreja anglicana, uma vez que o modern spiritualism é visto como uma religião pelos ingleses?

Relações com doutrinas orientais: Doyle apresenta ideias esotéricas e de origem oriental como aceitas pelos espiritualistas. A doutrina das esferas celestes e a doutrina dos sete céus (judaica, hindu e cristã medieval), por exemplo, aparecem na boca de guias e expositores. Eliphas Levi (pseudônimo de Papus), que chegou a ser lido pelos espíritas brasileiros da primeira metade do século XX, é referido como uma influência de parte do movimento inglês. Como se deu a aproximação entre o movimento espírita francês e o movimento espiritualista inglês com o esoterismo, a teosofia e outras doutrinas ocidentais de influência oriental?

Interesse em fenômenos da mediunidade de efeitos físicos: Doyle vive a época posterior às pesquisas de Crookes, mas o Instituto Metapsíquico Internacional, criado por Jean Meyer, está em seu auge. Gustave Geley é um dos personagens que aparecem na trama com  nome trocado, e as reuniões de materializações, transportes, transfigurações, voz direta e outros parecem ser comuns em círculos restritos.

Casas mal-assombradas: como não poderia passar batido, há uma visita a uma casa mal assombrada, coisa que não é muito valorizada hoje por aqui como objeto de discussão pelos espíritas (exceção feita ao livro sobre Poltergeist, escrito por Carlos A. F. Guimarães e Carlos Alberto Tinoco). A relação do espiritualistas ingleses com os espíritos perturbadores é muito curiosa.

Preces: As preces estão presentes nas reuniões públicas, onde se fazia mediunidade pública, ao contrário do que acontece hoje nos centros espíritas brasileiros. O pai nosso aparece como uma referência cristã, mas há preces ditadas pelos espíritos. Não me recordo de haver lido fazerem preces espontâneas, muito comuns em nosso meio.

Maçonaria: Há uma citação da maçonaria na página 90. Parece que havia uma proximidade entre os maçons e os espiritualistas ingleses, assim como com os espíritas brasileiros, na mesma época.

Mediunidade curativa: Há um relato de trabalhos envolvendo médiuns curadores. Não me recordo de menção à homeopatia no livro de Conan Doyle, como acontecia no movimento espírita brasileiro daquela época.

Cientistas pesquisando fenômenos espirituais: Conan Doyle cita em diversos momentos do texto cientistas da época interessados nos fenômenos espirituais. Eles são quase todos conhecidos pelo movimento brasileiro de hoje, embora estejam sendo lidos cada vez menos. Hoje temos um pequeno número de cientistas dedicados ao estudo da mediunidade, reencarnação, entre outros fenômenos, embora haja um grande número de antropólogos de franceses e brasileiros interessados no espiritismo como movimento.

Hábitos da sociedade inglesa e europeia: Alguns hábitos dos espiritualistas ingleses nos causam hoje algum desconforto. Frequentar sala de fumantes, discussões regadas a vinho e agressão física a médiuns farsantes, buscando retratação pública, certamente seriam vistos como inadequados entre nós.

O médium como pessoa, e não como santo: Para concluir, acho a visão que Conan Doyle tem dos médiuns muito próxima à de Kardec. Ele não os endeusa, não os aproxima à imagem dos santos. Os médiuns ingleses são humanos, talvez “demasiado humanos”. Eles não leram “O evangelho segundo o espiritismo”, nem “o livro dos médiuns”, então os personagens não parecem se preocupar com uma transformação moral, embora não sejam devassos. Gostei muito de uma frase que Conan Doyle escreveu, após um personagem se incomodar com um médium: “É preciso separar o homem, da coisa” (pág. 241)

A Terra da Bruma
Arthur Conan Doyle
332 páginas
Zahar
2014
1ª Edição Portuguesa
Encontra-se também em formato de e-book