Sete pesquisadores de
instituições dinamarquesas realizaram um estudo com tratamento ou cura espiritual
(spiritual healing[1])
para estudar os efeitos no tratamento de artrite reumatoide. Foram estudadas 85
mulheres divididas em três grupos: cura ativa (CA), falsa cura (FC) e nenhum
tratamento (NT). Após o tratamento foram feitas consultas de acompanhamento
(follow-up) com 82 das mulheres que participaram do estudo.
A seleção das pacientes foi
aleatória (selecionados de 96 clientes que queriam ser tratadas), o tratamento
foi com cegamento e controlado por falsos curadores. As pacientes eram vendadas e
eram colocados protetores de ouvidos. Assim eram submetidas a 8 sessões em 21
semanas e depois mais 8 sessões de acompanhamento. O falso tratamento era feito
apenas com base na presença de um estudante de medicina, sem experiência ou
conhecimento de “cura espiritual”. O tratamento foi feito por um curador
profissional de vinte anos de experiência, com uma técnica denominada “cura
energética”, na qual não há qualquer toque no corpo do paciente. O tratamento
convencional em curso foi mantido durante a terapia “energética”.
A remissão de sintomas da doença
foi avaliada através de uma escala denominada DAS28-CRP, (Escala de atividade
da doença) baseada na proteína C reativa e medidas com ultrassom Doppler
colorido. O DAS mede a resposta do paciente ao tratamento em uma escala de 0 a
9,4.
Os resultados do DAS e do Doppler
podem ser vistos na figura abaixo:
Como se pode ver, há resultados
favoráveis aos pacientes que foram tratados pelo curador, mas a diferença só é
significativa quando comparados os grupos de tratamento e de falso tratamento.
(p = 0.047). Quando se compara os pacientes do grupo de tratamento com os que
não receberam nenhum tratamento espiritual (NH), há uma diferença favorável ao
tratamento, mas os valores não permitem generalização estatística (p = 0,14).
Apesar da diferença estatística
do DAS e do Doppler, os pesquisadores estabeleceram um terceiro critério, que é
o da diferença clínica, que foi arbitrada em uma melhora na saúde geral do
paciente maior ou igual a 50%. Esta melhora foi pequena, tendo atingido apenas
6% dos pacientes dos grupos de tratamento espiritual e falso tratamento
espiritual (na mesma proporção).
Os pesquisadores percebem que os
resultados encontrados não podem ser explicados por placebos e admitem que os
pacientes do grupo sem terapia espiritual “mostraram uma grande tendência a procurar
terapia adicional, o que talvez explique a melhora inesperada do grupo”. (p. 7)
Outra hipótese seria a esperança de melhora dos sujeitos do grupo sem
tratamento, mesmo tendo parecido satisfeitos com sua terapia usual, o que foi
verificado pelos pesquisadores.
As conclusões (ou "inconclusões")
dos autores seguem duas possíveis interpretações:
- . Conservadora: o estudo “tropeçou” em um grupo de pacientes recebendo tratamento espiritual, que, por acaso teve um decréscimo em sua artrite, se comparado com o grupo de falso tratamento.
- O tratamento espiritual (“energy healing”) é de fato capaz de influenciar processos biológicos relevantes para a artrite reumatoide através de mecanismos ainda não compreendidos pela ciência convencional. (mas esta interpretação não explica a melhora do grupo sem tratamento).
Os autores admitem que eram
céticos com relação à eficácia do tratamento espiritual e que os pacientes
tinham “baixa expectativa”, mas sugerem que sejam feitos novos ensaios bem
controlados para que se forneça evidência contra ou a favor do tratamento
espiritual.
Bliddal, H., Christensen, R., Hejfaard, L.,
Bartels, E.M., Ellegaard, K., Zachariae, R., Danneskiold-Samsoe, B. Spiritual
healing in the treatment of rheumatoid arthritis: an exploratory single centre,
parallel-group, double-blind, three-arm, randomized, sham-controlled trial,
Evidence-based complementary and alternative medicine,
http://dx.org/10.1155/2014/269431
"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/
[1]
Mantive o termo tratamento espiritual no texto, em função do termo ter sido
operacionalmente definido pelos autores, mas ele não está sendo empregado com o
mesmo sentido que usamos no movimento espírita. Para Kardec, no capítulo XIV,
parágrafo 33, de A Gênese, seria um tratamento a base do “fluido do
magnetizador ou do magnetismo humano”.