Estamos estudando pela segunda vez o livro "Nos bastidores da obsessão", psicografado por Divaldo Franco e escrito pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Para o dia de hoje, ficou a nosso encargo parte do capítulo quatro que trata sobre o hipnotismo.
Após um histórico extenso das teorias sobre o hipnotismo no século XIX, início do século XX, com uma passagem pela questão da sugestibilidade de Bernheim, o instrutor espiritual começa a falar de obsessão entre desencarnados-encarnados e sobre influenciação entre desencarnados.
Ele parte do princípio que há ondas mentais exteriorizáveis, capazes de estabelecer conexões entre as mentes de pessoas e Espíritos. Nesse intercâmbio, ainda que não consciente, ocorrem os fenômenos de sugestão, que ele classifica como negativa ou positiva (do ponto de vista moral, ao que entendemos).
Com base nesse fenômeno ele se volta à questão da interação entre Espíritos no plano espiritual e diz:
"Céu ou inferno, portanto, são dependências que construímos em nosso íntimo, vitalizadas pelas aspirações e mantidas a longo esforço pelas atitudes que imprimimos ao dia-a-dia da existência".
Após mostrar que se trata do estado psicológico dos Espíritos desencarnados, ele continua mostrando suas interações:
"Por tais processos, províncias de angústia e regiões de suplício, oásis de ventura e ilhas de esperança nascem no recôndito de cada mente e se reúnem, em todos os departamentos do planeta." (p. 95 da 2a. edição)
O autor explica que ocorre a sintonia entre mentes a partir das afinidades. Podemos deduzir que esse fenômeno gera imagens, pensamentos e sentimentos que passam a ser compartilhados, pelos Espíritos que sintonizam na mesma faixa "psicológica".
Allan Kardec não usa os termos "colônia espiritual", "umbral", "regiões inferiores" ou outros, mas trata da vida no mundo espiritual. No seu "O céu e o inferno", após desconstruir a ideia de inferno no capítulo IV, afirma sobre o purgatório:
"O espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nos achamos."... (p. 65)
Certamente, Kardec não subscreve a ideia de purgatório, assim como não subscreve a ideia de anjos. Ele apenas diz que os princípios dessas ideias são coerentes com o pensamento espírita. Ao ler essa passagem, à qual remeto o leitor, perguntei-me: Ele se refere apenas ao sofrimento das pessoas encarnadas ou também ao purgatório como condição de sofrimento das pessoas desencarnadas? No mesmo texto, mais à frente se lê:
"Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde que que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto."
O mestre francês está preocupado com a tese da justiça divina, e não com a descrição dos sofrimentos nesse capítulo, por isso critica diversas vezes a "irremissibilidade dos erros".
Ele ainda retorna à questão da circunscrição do espaço do "purgatório", e diz que:
"... eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores" (p. 66)
Note o leitor que ele associa o conceito ao sofrimento, e por isso o amplia. Há muito sofrimento na Terra entre os encarnados, assim como existe sofrimento moral (ou psicológico) entre os desencarnados. Kardec não exclui o conceito de purgatório do "Espaço infinito", apenas o aproxima do sofrimento dos Espíritos encarnados.
Outra diferença entre o pensamento de Kardec e a tradição medieval cristã, é que o sofrimento não é o fim da inferioridade humana, mas meio, através do qual o Espírito pode conscientizar-se e empreender a reparação dos seus erros.
"Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências" (p. 93)
Outro ponto pouco conhecido, no mesmo livro, é o capítulo IV, que trata dos espíritos sofredores. Allan Kardec publica um ditado do espírito Georges, que explica como ficam os espíritos endurecidos e maus após a morte. Destaquei o seguinte parágrafo:
"Não elevam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos" (p. 263)
Essa é uma descrição de Georges sobre o mundo espiritual, no parágrafo posterior ele trata da ação desses espíritos na Terra, e trata da ação espiritual entre os homens.
Allan Kardec continua seu trabalho, identificando essa instrução nos relatos de espíritos em sofrimento.
Novel (p. 265-266), descreve sua perseguição pelos maus Espíritos no plano espiritual.
O Espírito de um boêmio (p. 269-270) segue com a influência da matéria no além túmulo, "sem que a morte lhes ponha termo aos apetites que a sua vista ... procura em vão os meios de os saciar."
O príncipe Ouran (p. 275) explica que "liberto da matéria, o sentimento moral aumentou-se, para mim, de tudo quanto as cruéis sensações físicas tinham de horrível".
Ferdinand Bertin (p. 279) assim descreve sua situação no mundo espiritual:
"Estou num medonho abismo! Auxilia-me... Oh! Meu Deus! Quem me tirará desse abismo?" E ele se sente ainda colhido pelo mar, onde faleceu.
Claire, descreve sua experiência no mundo espiritual: "Também eu posso responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados, depois das provações terrenas são impelidos à fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino.
Palmyre (p. 306-308), que suicidou-se juntamente com o Sr. D., seu amante, ao descrever sua vida após a morte refere-se aos Espíritos que estão com ela no mundo espiritual, e diz que ouve "risos infernais e vozes horrendas que bradam: sempre assim!"
Se continuarmos a pesquisa, com certeza teremos mais elementos sobre as relações entre os Espíritos no mundo espiritual na obra de Kardec.
Este tipo de descrição da interação e das relações entre Espíritos inferiores ou superiores no mundo espiritual foi realizado também por médiuns brasileiros, como Francisco Cândido Xavier, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Pereira Franco e também através da série Histórias que os espíritos contaram, escrita pelo estudioso Hermínio C. Miranda.