11.4.20

O ESPIRITISMO NA ZONA RURAL FLUMINENSE

Foto: Fachada da Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói-RJ

Escrevo essas recordações para tornar público um ponto no tempo do movimento espírita. Alguns dos participantes ainda estão encarnados, outros já nos antecederam na grande viagem. A memória é uma fonte “traidora” e vai se esfumando com o tempo. Algumas coisas ficam bem marcadas, enquanto outras vão se apagando lentamente, até que quem recorda não tenha mais certeza do que realmente aconteceu.

No final dos anos 1970, início dos anos 1980, havia uma proximidade muito grande entre a Associação Espírita Célia Xavier-MG e a recém-nascida Sociedade Espírita Fraternidade, de Niterói-RJ. Raul Teixeira vinha pelo menos semestralmente a Belo Horizonte, fazer palestras, seminários e cursos com os espíritas do Célia Xavier, que geralmente eram abertos ao público. Ele também fazia viagens, por diversas cidades do interior mineiro, que acompanhávamos, de carro. Era um bom grupo e ficou um bom relacionamento dessas viagens.

Em um dos primeiros anos de funcionamento da Sociedade Espírita Fraternidade, fez-se uma coisa excepcional. Os jovens da mocidade da SEF vieram a Belo Horizonte acompanhar as nossas festividades do Natal. Fazíamos uma festa para a distribuição de cestas de alimentos, com um teatro e música para os acompanhantes que vinham buscar o farnel.

Já não me recordo bem se estávamos no Lar Espírita ou se ainda o fazíamos no antigo auditório da sede da AECX. O importante é que se estabeleceram laços entre os membros das mocidades. Eu já conhecia o Luiz Carlos Teixeira da Veiga, de outras palestras em que ele veio a BH com o Alexandre Rocha, mas me recordo que nesse evento ele namorava a Gilda. Luiz Carlos se formou posteriormente em Serviço Social, informação dada pelo Alexandre Rocha.

Os anos se passaram e fui ao Rio de Janeiro com meu amigo Ivan, que frequentava a mocidade AECX, se a memória não me trai. Eu geralmente ficava na casa de minha tia, em Manguinhos, mas fomos convidados a visitar o Luiz Carlos e a Gilda, que haviam se casado.

Foi um final de semana excepcional. Eles nos acolheram, levaram à praia no domingo de manhã, fomos à mocidade da Sociedade Espírita Fraternidade e para variar, falei bastante, porque quando mais jovem eu era tão falante quanto a Emília, personagem de Monteiro Lobato. Na casa deles, reencontrei com o amigo Alexandre Rocha, que iniciava a criação da editora Arte e Cultura, que hoje é a Lachâtre. Luiz Carlos me mostrou alguns livros espíritas e espiritualistas que pretendiam traduzir e publicar, clássicos em sua maioria. Ele me mostrou um dos livros de De Rochas, possivelmente “As Vidas Sucessivas”, e me mostrou um livro de Carl Reichenbach, sobre as forças ódicas, que creio que não foi traduzido e publicado até hoje.

Convivíamos e conversávamos muito. Fazíamos planos, projetos para o futuro. Quem diria que uma visita de final de semana pudesse influenciar o futuro? O terceiro membro do conselho editorial da Arte e Cultura era o Hermínio Miranda, que só viria a conhecer rapidamente alguns anos depois.

A história que gostaria de contar foi de um convite para assistir a uma palestra do Luiz Carlos na região dos lagos, em zona rural. Estávamos no Rio de Janeiro, gostávamos de espiritismo, então aceitamos com muito gosto o convite.

Se me recordo bem, foi um jovem pertencente à comunidade quem o convidou. Entramos na Brasília (marca de automóvel) que eles tinham e ganhamos estrada. Acho que Gilda dirigiu na ida, fomos pelo asfalto, depois entramos na estrada de terra, e chegamos a uma fazenda.

Foi uma experiência muito diferente. Os participantes da reunião chegavam de todos os lados, pelas trilhas abertas no meio dos pastos e mata. Um senhor, dirigente da reunião, nos acolheu com gentileza e alacridade. Ele se admirou do caderno universitário que eu carregava comigo, para anotar uma síntese das palestras. A frase foi algo assim:

- Puxa! Ele trouxe até um caderno para anotar!

Eu me senti um pouco deslocado, fora dos padrões locais, mas nunca me importei muito com isso. 

Começou a reunião, e com ela uma prece, e depois da prece uma leitura de uma lista de pessoas para serem atendidas pelos espíritos. Era uma espécie de irradiação, que pelo que entendi, fazia parte do trabalho público do grupo. Havia algumas dezenas de participantes. 

A leitura foi se estendendo, seu conteúdo faz parte da memória que se “esfumaçou”, mas o nome completo e o motivo da pessoa estar na lista era falado em voz alta. Passaram-se cinco, dez, vinte, trinta minutos, e a leitura continuava. Era uma prova de resistência espiritual, talvez um dos exercícios de disciplina espiritual de Inácio de Loyola. Todos acompanhando a leitura no mesmo tom. Acho que após quase uma hora de reunião, passaram a palavra ao expositor “que veio de longe”. O público (eu pelo menos) já estava bastante cansado com a leitura. O que Luiz Carlos iria fazer?

Ele foi sensato e fez bonito. Fez uma saudação, uma introdução rápida e contou a história “Há um século”, de Irmão X, psicografia de Chico Xavier. Luiz Carlos falava bem, envolvia seus ouvintes e dava um toque de emoção discreto ao que falava. Encerrou sua fala com vinte ou trinta minutos, e devolveu o público refeito da maratona de irradiações para o dirigente da reunião.

Despedimo-nos, acho que foi servido um lanche, em clima de fraternidade. Luiz Carlos tomou o volante e foi dirigindo, até que passou uma marcha e o câmbio travou. Estávamos no meio da estrada 
de terra, e não sabíamos o que fazer. 

Em uns quinze minutos, alguém havia avisado aos moradores da fazenda e surgiu uma Kombi. A van veio com uma corda mediana, que uniu a Brasília à Kombi. Os passageiros passamos para a Kombi e um motorista foi na Brasília, dirigindo. Enquanto estava plano, o arranjo funcionava. Quando entrávamos em uma subida mais inclinada, a corda se rompia. Então surgiu o plano B. Quando começava a subida, nós, homens, descíamos da Kombi e empurrávamos a Brasília para que a corda continuasse íntegra.

E foi assim até chegarmos a uma cidade próxima, se não me engano, Araruama. A Brasília ficou em uma oficina mecânica e terminamos de chegar em Niterói.

Rimos bastante, e a amizade foi se consolidando. Fiquei admirado com a disposição dos espíritas da fazenda para prestar socorro da forma possível. Tive uma experiência que nos mostra como o isolamento dos grupos espíritas faz com que sua prática fique muito singular, diferente mesmo do que é realizado nos outros centros espíritas. Daí a importância do intercâmbio, que muitas sociedades espíritas evitam, trabalhando isoladas e até se acreditando superiores, sem qualquer parâmetro de comparação.

Alguns anos depois o Luiz Carlos desencarnou. Nunca trocamos cartas, como o fazia com outros espíritas de então. Não fiquei sabendo. Em uma das vindas de Raul Teixeira, pedi notícias a um dos jovens que trabalhava na venda de livros sobre ele e sobre a Gilda. 

- Ele desencarnou! Me informou, lacônico e sem sensibilidade.

Creio que foi um tumor. E ele devorou a saúde de um jovem trabalhador espírita, de muito potencial. Saí de perto para ficar sozinho e recordar dele. Uma lágrima escorreu. Tomara que esteja bem no mundo espiritual, pelo bem que fez a muita gente durante sua curta estada na Terra.

3.4.20

REVISTA GRATUITA COMEMORA CENTENÁRIO DE HERMÍNIO MIRANDA




O Instituto Lachâtre publicou um exemplar gratuito da revista Leitura Espírita, comemorando o centenário de nascimento do escritor Hermínio C. Miranda.

O sumário está muito interessante e traz novas informações sobre o escritor.

Apresentação
Um homem bom – Marta Chiarelli de Miranda
De Bernardo a Hermínio – Mauro Camargo
O desafio das religiões – Hermínio Miranda –
Confia em Jesus! – Lygia Barbiére
Lembranças e previsões do futuro da humanidade – Carlos Villarraga
O cristianismo espírita de Hermínio Miranda – Jáder Sampaio
Uma crônica para um escriba – Eduardo Lima
O embrulhinho morno – Ana Maria Miranda

Marta e Ana Maria são as filhas do escritor e fazem dois textos muito pessoais e humanos.

Para obter a revista, basta clicar no link abaixo, fornecer nome, e-mail e telefone e baixar o arquivo em notebook ou smartphone.

https://leherminioapp.gr8.com/

1.4.20

HERCULANO PIRES, ERNEST RENAN E CHARLES GUIGNEBERT



Uma das contribuições que Herculano Pires deu ao pensamento espírita foi o diálogo com os autores acadêmicos de sua época. Estou estudando o livro “Revisão do Cristianismo”. Estilo jornalístico, ele escreve um texto contínuo e apenas indica ao leitor os autores que comenta no corpo do texto, mas à medida em que se vai lendo, percebe-se com quem ele “conversa”.


Logo no início do texto há uma citação de Charles Guignebert. Quem é ele? Por que foi retirado do texto dele a epígrafe do livro?

Guignebert é um autor francês que nasceu dez anos após a publicação de “O livro dos espíritos”, mas que efetivamente começou sua contribuição à universidade então chamada de Sorbonne, em 1919, quando assumiu a cadeira de história do cristianismo. Em sua “aula inaugural” ele diz que vai fazer da história do cristianismo, “uma história como as outras”.

Por uma história como as outras, se entende que os professores de história do cristianismo deviam pertencer à igreja ou às confissões de fé cristãs da época, e de alguma forma mesclavam a história com a apologia ao cristianismo.

Nessa mescla se encontra o caráter mitológico imiscuído nos estudos históricos. Possivelmente os dogmas se articulavam com a razão. Guignebert se propõe a fazer um trabalho de caráter laico. 

Antes de Guignebert, temos Ernest Renan, que escandalizou sua época denominando Jesus como “homem incomparável”. A frase aparentemente comum para nós, espíritas, que o concebemos como espírito superior, causou espécie entre seus contemporâneos que enxergavam Jesus como Deus.

Renan e Guignebert estão no texto de Herculano, que vai em busca da distinção entre Jesus de Nazaré, o homem, e Jesus Cristo, o mito construído ao longo da história. Iniciativa talvez inédita nos meios espíritas, apesar do texto já existente de Allan Kardec, referindo-se (e criticando também) Ernest Renan na Revista Espírita.

Em que ano foi publicada a primeira edição de Revisão do Cristianismo? Como o livro foi acolhido pelo meio espírita da época? Isso fica a encargo dos historiadores e dos leitores de Herculano Pires, e, quem sabe, se torna objeto de outra publicação.

POST SCRIPTUM

Recebi, fruto da gentileza do Herculano Pires Filho, a informação abaixo:

"Mestre Jáder, eis as informações solicitadas: 

Revisão do Cristianismo 1a edição 1977 - Editora Paideia
        
Barrabás 1ª edição 1954 (recebeu o PRÊMIO DO DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE CULTURA  DE S.P.)
  
Lázaro 1ª edição 1971 Edicel

Madalena 1ªa edição 1979 Edicel"

Agradeço a contribuição ao Espiritismo Comentado!       

31.3.20

COMO DEVEMOS CONVIVER COM O COVID 19?

Viver um dia de cada vez

Por diversas vezes temos tratado da questão dos flagelos no Espiritismo Comentado. Usada por Allan Kardec em sua lei de destruição (O Livro dos Espíritos) a palavra tem muitos sentidos, mas hoje se empregam mais as palavras catástrofe, calamidade e epidemia, como quase sinônimas de flagelo. No passado, falamos do terremoto no Haiti https://espiritismocomentado.blogspot.com/2010/03/entre-o-chile-e-o-haiti.html, do incêndio na casa de shows em Santa Maria-RS https://espiritismocomentado.blogspot.com/2013/01/deja-vu-o-incendio-em-santa-maria-rs.html e do rompimento da barragem de Brumadinho-MG https://espiritismocomentado.blogspot.com/2019/02/como-o-espiritismo-ve-questao-da.html.

Em todas as situações, o que fomos buscar de ajuda em Allan Kardec e no espiritismo foi a questão 741 de O Livro dos Espíritos, que diz que “muitos flagelos resultam da imprevidência do homem” e que é possível preveni-los na medida em que conhecemos suas causas. Uma frase que ainda não citei, mas que talvez lance luz sobre a pandemia de COVID-19 que enfrentamos agora é que muitas vezes o homem agrava os males por sua negligência.

O que há de igual e de diferente entre eventos aparentemente tão distintos? 

De igual é o que podemos chamar de mortes coletivas. A desencarnação de um número grande de pessoas em um período de tempo muito curto, por uma causa comum e de difícil controle. Essa perda inesperada, e, no caso do COVID 19, a iminência da perda, o risco de se perder pessoas próximas e amadas, gera medo e ansiedade.

A diferença principal é que o combate e a prevenção da pandemia do novo vírus não depende exclusivamente de autoridades de Estado ou de empresas. O COVID-19 pode e deve ser “combatido” por todos.

No momento, qual é o nosso papel na prevenção da doença? As pessoas em geral devem isolar-se socialmente para evitar a rápida propagação do vírus e a superlotação do sistema de saúde para que não haja mortes por falta de atendimento. A outra coisa que podemos fazer são as medidas de higiene: lavar as mãos, usar máscara quando resfriado ou gripado, vacinar-se e evitar contato com objetos que possam ter sido expostos a pessoas com a COVID 19.

E como evitar o medo e a ansiedade? Há pessoas que estão mais expostas a estas duas formas de sofrimento psíquico, porque, entre outras coisas, ficam imaginando o que pode acontecer no futuro. Pensam na perda dos entes queridos. Pensam no adoecimento. Pensam na morte. Esses pensamentos vão criando estados emocionais de sofrimento profundo e podem prejudicar o dia-a-dia dessas pessoas, que não dormem, perdem o apetite, preocupam seus afetos mais próximos e chegam até a não conseguir fazer suas atividades diárias.

O que recomendamos, então, é viver um dia de cada vez. Em tempos de guerra, se tenta manter ao máximo a vida que levamos, para que os estados mentais não venham a gerar o pânico e a dissolução social. Temos que mudar nosso dia-a-dia por causa do isolamento social, mas devemos manter ao máximo nossa rotina de trabalho, descanso e lazer. 

Não podemos, talvez, ir ao trabalho, mas podemos manter alguma coisa de nossas atividades laborais ou dedicar parte do tempo que usávamos para o trabalho para treinamento e aperfeiçoamento profissional.

Podemos tentar manter a rotina diária de alimentação, os horários de refeições ou estabelecer uma nova rotina mais adequada às mudanças impostas pelo isolamento social.

Podemos cumprimentar pela manhã todas as pessoas que vivem conosco, com carinho.

Os estudantes devem participar normalmente das atividades propostas por suas escolas, e manter suas leituras e realização de trabalhos acadêmicos.

Não podemos ir ao centro espírita, mas podemos nos reunir com nossos colegas pelas redes sociais nos dias em que normalmente o fazíamos. Na impossibilidade disso, podemos reunir no horário de nossas reuniões em casa, fazer uma prece e ler uma página espírita.

Não podemos sair com a família, mas podemos fazer alguma atividade lúdica juntos, no horário em que dedicávamos ao lazer.

Podemos continuar com nossas leituras e estudos.

Não podemos ir a academias de ginástica, pilates ou qualquer outro lugar de atividade física coletiva, mas podemos separar um tempo para exercitar o corpo.

Podemos ouvir música.

Continuamos tendo que cuidar da saúde, seguir as condutas prescritas pelos médicos, especialmente os doentes crônicos.

Continuamos tendo que adquirir alimentos, e devemos fazê-lo da forma mais objetiva e breve possível, evitando aglomerações de pessoas. Saindo, comprando e voltando direto para casa.

Continuamos tendo nossa rede de amigos, para quem podemos escrever ou conversar à distância, sem perder o contato.

Manter a vida mais próxima o possível da nossa rotina diária, sem quebrar o isolamento social, é a nossa forma, no momento, de combater a doença e manter a cabeça “ventilada”, sem dar guarda a estados emocionais de medo e ansiedade.

Evitemos a exposição excessiva à internet e à televisão, bem como a ruptura de nosso cotidiano usual. Informar-se é importante, mas ficar à deriva dos meios de comunicação não nos ajuda a enfrentar o flagelo que agora nos atinge.

22.3.20

UM CONGRESSO CIENTÍFICO SOBRE ESPIRITUALIDADE E SAÚDE?

Conferência do Dr. Alexander

Há décadas que “espiritualidade” tornou-se objeto de estudo e intervenção na área de saúde e nas disciplinas que a compõem. Medicina, enfermagem, odontologia, psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, todas elas entendem que a espiritualidade, antes considerada uma ilusão pelo credo positivista, muito influente nas ciências, não é apenas vilã da saúde e reduto de explicações erradas e fantasiosas sobre o adoecer, mas também pode ser um espaço de tratamentos complementares e ter um papel importante no processo saúde-doença e na busca de sentido para a vida.

Esse ano fomos no terceiro congresso internacional de espiritualidade e saúde do Núcleo de Pesquisas de Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora, nos dias 13 de 14 de março últimos. Seu tema central foi “Experiências Espirituais: pesquisas e implicações clínicas”.


O Dr. Francis Lu fala de sua casa na Califórnia

Os temas foram diversos, saio indicando alguns:

- Ensaios clínicos sobre imposição de mãos.

- Espiritualidade e dependência de substâncias.

- Experiências espirituais: uma revisão de clássicos nos estudos psicológicos e autores contemporâneos.

- Experiência de quase-morte.

- Experiência espiritual e pacientes terminais.

- Como a psiquiatria norte-americana passou a distinguir problemas religiosos e transtornos mentais (o caso do DSM 4 e DSM5).

- Como ensinar espiritualidade e saúde na universidade?

- Uma psicologia das conversões religiosas. 

- As muitas formas de ateísmo e a espiritualidade.

- O que se publica hoje sobre experiências espirituais?

- Um estudo psiconeuroendocrinológico com médiuns. A alteração dos hormônios da pineal estão associadas à prática da mediunidade?

- Quem são as pessoas que relatam supostas memórias de vidas passadas?

- Como a psiquiatria passou a respeitar as diferentes culturas, evitando diagnosticar como transtorno mental o que era apenas uma crença partilhada por um grupo social.


O salão do hotel Trade, em Juiz de Fora-MG, recebeu mais de quinhentos profissionais de saúde e interessados nos temas. Alguns autores, presos em casa em decorrência da pandemia de COVID19, não se furtaram a participar à distância, como o caso do simpático Dr. Francis Lu, titular emérito da Universidade da Califórnia.

Visão geral do público do CONUPES

Ao contrário do que possam pensar alguns críticos, especialmente céticos de carteirinha, tratou-se de atividade acadêmica. Pesquisadores de dois continentes apresentaram resultados de suas linhas de pesquisa, doutorandos comunicaram resultados parciais de suas teses, discussões metodológicas, revisões de literatura e metanálises, resultados positivos e negativos, tudo isso ocorreu em um clima de aprendizagem e estudo racional. Não houve nenhuma tentativa de proselitismo (religioso ou cético) ao longo do evento, que ficou no campo dos fatos, fenômenos e das construções teóricas explicativas diversas que emergem deles.

Ao ampliar o conceito de saúde, a Organização Mundial de Saúde refletiu um passo à frente dado pela comunidade científica para uma abordagem mais completa do ser humano, sua cultura e suas práticas religiosas e espirituais Não apenas um corpo fisiológico que adoece e sofre intervenções químicas e cirúrgicas, não apenas sofrimento psíquico em busca de alívio ou compreensão, não só um indivíduo, mas o ser humano, inserido em grupos sociais, com toda a sua complexidade em busca de sentido. Um ser que se reúne ou se isola em busca de transcendência. Um ser que convive com seus semelhantes e encontra na convivência possibilidades para escolher caminhos para sua vida. Um ser diante da morte, que vive a terminalidade e demanda uma morte saudável, até então desconhecida por ciências que se voltaram apenas ao conceito de cura. Uma proposta de entendimento de uma ecologia humana. São os novos desafios para os profissionais de saúde.


Nossa intenção é entrevistar alguns dos participantes para o Espiritismo Comentado. Aguardem.

19.3.20

NOVOS ESTUDOS SOBRE A REENCARNAÇÃO


Nós já tivemos outras vidas? Há cientistas investigando essa hipótese? Muitas pessoas pensam que a reencarnação é uma crença religiosa, quase uma fantasia a ser apenas tolerada em sociedades democráticas. No entanto, muitos pesquisadores se interessaram por estudar fenômenos raros, mas que dão suporte à teoria da reencarnação.

Pessoas que em estado de hipnose afirmam ter vivido anteriormente tiveram, quando possível, suas informações verificadas. Crianças na primeira infância que relatam lembrar-se de outra vida, têm suas informações descritas e checadas por psiquiatras, psicólogos e outros estudiosos com formação em pesquisa científica. Marcas de nascença e má formação são explicadas a partir de experiências vividas no passado distante, relatadas pelas pessoas estudadas.

Nesse livro você conhecerá autores como Albert de Rochas e Ian Stevenson, já considerados clássicos nesse campo de conhecimento e terá contato com pesquisadores posteriores a eles, como Antonia Mills e Jim Tucker, bem como com estudiosos espíritas que produziram conhecimento a partir de observação, como Hernani Guimarães Andrade e Hermínio C. Miranda.

Título: Novos estudos sobre a reencarnação
Organizadores: Marco Milani e Jáder Sampaio
Editores: CCDPE-ECM, LIHPE e USE (São Paulo)
Ano de Publicação: Agosto de 2016
152 páginas
Preço: 30 reais (há promoções na internet)

Sumário:

Reencarnação: crença ou objeto de estudo? - Jáder Sampaio
O que é pesquisar cientificamente a reencarnação? Raphael Casseb e Sílvio Chibeni
O pensamento de Ian Stevenson e suas contribuições ao estudo da reencarnação - Eric Ávila, Janaíne Oliveira e Décio Iândoli Jr.
Evidências biológicas sugestivas de reencarnação: causalidade, complexidade e criticismo - Chrystiann Lavarini, Janaíne Oliveira e Leandro Franco
Síntese dos trabalhos de Antonia Mills sobre a temática da reencarnação - Marco Milani
Hermínio C. Miranda: pesquisador espírita sobre a reencarnação - Adilson Assis

Onde adquirir?

Livraria do CCDPE-ECM - http://ccdpe.org.br/livraria/




11.3.20

ESPÍRITOS SUGEREM A KARDEC COMO REVISAR "A GÊNESE"



Recebi do Adair a publicação de uma carta psicografada para Allan Kardec por espíritos que sugerem que mudanças deveriam ser feitas em A gênese, os  milagres e as predições segundo o espiritismo.

Há sugestão de revisões "de comparações nos primeiros capítulos", possivelmente ambíguas, para "condensação das ideias" que já foram tratadas em outros lugares e de "adição de elementos novos, mas urgentes".

O autor espiritual sugere também deixar intactas  "todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público". Ele não fala em princípios ou princípios doutrinários, como comentou um dos leitores do EC.

No texto se lê também que os espíritos falam da revisão como algo em curso, recomendam que Kardec "não espere muito para realizá-la", mas que não se apressasse.

Há uma curiosidade que merece destaque: Kardec se refere à terceira e quarta edições, como se estivessem sendo feitas simultaneamente e decorrentes da venda rápida das primeira e segunda edições. O espírito considera que os exemplares continuarão sendo bem vendidos, como aconteceu com as primeiras edições.

A mensagem é de 22 de fevereiro de 1868. A Gênese foi publicada em 06 de janeiro de 1868 e, portanto, um mês após a publicação Kardec já está conversando com os espíritos sobre sua revisão e sobre a terceira e quarta edições. Outro detalhe importante: o médium é Armand Desliens, que sucederá Kardec após sua desencarnação sendo membro da diretoria das sociedades fundadas para dar continuidade ao trabalho do fundador do espiritismo.

Veja abaixo o link para ler a mensagem, sua transcrição e sua tradução na página do Facebook AllanKardec.online.

10.3.20

MEDIUNIDADE E ATENDIMENTO DOS ESPÍRITOS EM REUNIÃO MEDIÚNICA




Mais uma pergunta do seminário realizado em Contagem-MG.

O médium ostensivo pode ser dialogador? Ou fazer preces?

Em nossa experiência tentamos preservar o exercício da mediunidade no momento da reunião mediúnica aos que têm faculdades ostensivas. Isso não significa que estejam impedidos de contribuir de outras formas na reunião se for necessário. Na falta de atendentes, ou de médiuns-passistas, um médium ostensivo pode ser convidado a realizar essa atividade no grupo, em caráter excepcional.

Nesse caso, o dirigente da parte mediúnica da reunião pede ao médium para atuar como tal, e ele evita a prática da mediunidade naquela sessão, ou a realiza após o atendimento ou atividade de passes.

Cabe à direção da reunião evitar esse tipo de situação, compondo seu grupo com médiuns e atendentes suficientes para a realização cotidiana de suas atividades.

3.3.20

A EDIÇÃO DE 1869 DE A GÊNESE É CLANDESTINA?




Desde quando Carlos Seth Bastos publicou a descoberta de um exemplar de A Gênese publicado em 1869, e Samuel Magalhães publicou imagens de propaganda do mesmo em um exemplar de O Livro dos Médiuns, do mesmo ano, surgiu uma acusação feita pelo estudioso Paulo Henrique de Figueiredo, que denominou a edição de clandestina. Diversos leitores do EC me enviaram o texto desse autor. Carlos já fez comentários ao texto, estou publicando minhas observações. 

Como se pode ver, a ideia de uma edição clandestina é especulativa, inconsistente com as informações publicadas na capa e atingiriam não apenas os diretores da Sociedade Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo, como a própria Amélie Boudet, que era dona dos direitos autorais do livro e participou da fundação da Sociedade e a partir de julho de 1869 como membro do Conselho Supervisor. 

Segue abaixo o texto de Paulo Henrique e meus comentários em cor vermelha.

Agradeço aos colegas que me auxiliaram com o texto. 

Jáder Sampaio, 03 de março de 2020

SOBRE A 5ª EDIÇÃO CLANDESTINA DE A GÊNESE DE 1869

Esclarecimentos do Pesquisador e Historiador Espírita
Paulo Henrique de Figueiredo

Foi encontrado um exemplar da 5ª edição de La Genèse, les Miracles et les Prédictions selon le Spiritisme, que possui em sua capa o ano de 1869. Uma relevante descoberta, que está relacionada com a questão da adulteração da obra em 1872. (A ideia da adulteração de A Gênese é especulativa).
Já sabíamos da existência dessa edição desde o ano passado e passamos a estudar profundamente o contexto desse fato novo.

Todavia, seria impossível para a Simoni Privato Goidanich citar essa edição em sua obra O Legado de Allan Kardec, (Se ela tivesse encontrado, a citaria e possivelmente reinterpretaria o material de estudo) quando pesquisou os documentos na França, pois ela é não só uma adulteração, mas também clandestina! (Afirmação especulativa; se fosse levada a sério, deveríamos considerar clandestinas outras edições de livros de Kardec, conforme aponta a pesquisa do Carlos Seth) Vamos demonstrar.

Compare a 4ª edição e a 5ª edição de A Gênese, ambas de 1869. Simplesmente analisando os detalhes das duas capas, já se pode deduzir informações importantes.

O pedido de impressão da 4ª edição foi feito em 4 de fevereiro de 1869. Allan Kardec pediu que fizessem 2.000 exemplares. Todavia, por desencarnar em 31 de março, no mês seguinte, não pode anunciar essa reimpressão na Revista Espírita. Ele morreu antes (um dia antes) do estabelecimento da Livraria Espírita, em seu novo endereço. Por isso, indica na capa, como em todas as suas edições: “bureau de la Revue Spirite, 59, rue et passage Ste-Anne”.

Veja agora a 5ª edição de 1869 agora encontrada, na capa: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”. Isso registra que essa edição foi publicada pelos continuadores responsáveis pela livraria após a morte de Kardec, ou seja, em data posterior à sua morte. (Possivelmente) Assim sendo, não foi publicada por Allan Kardec! (Possivelmente)

E quanto aos documentos legais desta 5ª edição que confirmariam oficialmente todas as informações sobre ela, existem? Não existem. (Especulativo, pois os documentos levantados comportam mais de uma interpretação) Simplesmente, após uma pesquisa minuciosa tanto na Biblioteca Nacional quanto nos Arquivos Nacionais da França, empreendidos por mais de uma vez este ano, por pessoas diferentes, confirmam que NÃO existe (não encontraram) nem pedido de impressão nem depósito legal. (Carlos Seth Bastos mostra que isso aconteceu em outra oportunidade na qual Kardec estava vivo. O Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas, nova edição aumentada, de 1865, não consta no registro dos depósitos legais.) 

Como se trata de conteúdo novo em relação à edição original, seria obrigação legal fazer tanto o pedido ao Ministério do Interior como depositar um exemplar na Biblioteca. (Na Biblioteca, não, na Prefeitura de Polícia) Temerariamente, nada disso foi feito! (Especulação) Trata-se de uma edição clandestina! (Uma edição cujos registros não foram encontrados até o momento) Poderíamos até dizer, criminosa. (Segundo a lei vigente à época, não há crime, deixar de registrar é contravenção. Só há crime se houver a intenção de atacar a França ou o Imperador)

Nada foi noticiado na Revista Espírita sobre essa nova edição revista, corrigida e aumentada. Nem uma nota. Quando seria fundamental avisar aos espíritas sobre isso! (Houve diversos pedidos de publicação de novos livros em 1869, além dos problemas da constituição da nova Sociedade) Kardec não o fez, pois foi posterior à sua morte. Os responsáveis pela livraria não o fizeram, pois se tratava de uma edição adulterada e clandestina. (Mega-especulação. A gráfica que trabalhou anos a fio com Kardec colocou seu nome em uma obra clandestina, correndo o risco de incorrer no artigo 41 da lei de Napoleão I, e de ser acionada judicialmente pela livraria? Como diz Carlos Seth Bastos, foram feitas quase 400 mudanças no período entre 31 de março e junho de 1869, mudados os clichês, impresso, em um período no qual se estava praticamente fundando a Sociedade  Anônima da Caixa Geral e Central do Espiritismo?)

Há uma menção a essa edição clandestina de A Gênese de 1869. E é a única. Está na referência das obras de Allan Kardec em Le Livre des Médiums, edição 11ª. na contracapa foi grafado: “ La Genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme, 1 vol., in-12, 5e édition”. (Então ou houve um erro do tipógrafo, ou a Livraria é responsável pela edição)

Temos a declaração do impressor e depósito legal dessa edição de O Livro dos Médiuns: Declaração de impressor em 09/07/1869 e depósito legal em 16/07/1869. Ou seja, a única menção sobre essa quinta edição clandestina de A Gênese de 1869 foi feita somente em julho (feita em julho, mas referente a junho, segundo a Revista Espírita) de 1869, quatro meses após a morte do professor Rivail. Pelos mesmos responsáveis por essa edição clandestina de A Gênese! (Diretoria aclamada em abril: Levent, Canguier, Ravan, Desliens, Delanne, Tailleur e Mallet – este último presidente. Diretoria eleita em julho de 1869 na residência de Amelie Boudet: Desliens, Tailleur, Monvoisin, Guilbert, Bittard e Joly, sendo que Amélie Boudet e Guilbet eram membros do Conselho Supervisor)
Como essa edição de A Gênese de 1869 foi, além de adulterada (especulação), também clandestina (especulação), o que fez Leymarie quando precisava publicar uma edição nova da obra em 1872? Ele sabia que a 5ª de 1869 era falsa (especulação), pois, tratando-se de um conteúdo novo, teve que fazer um depósito legal em 23/12/1872. Deveria ter declarado tratar-se de uma sexta edição. Revela sua culpa, ao repetir a numeração, omitir o ano na capa e publicar essa nova como sendo novamente 5a edição! (No registro, consta 5ª edição e 2ª edição, segundo Simone Privato. O que entendo é que foi registrado que era uma reimpressão (ou segunda impressão) da quinta edição. A explicação de Simone não faz sentido. Ela diz que é quinta edição porque veio após a quarta e que é segunda porque foi a primeira a conter alterações. Pág. 164-166 do livro O Legado de Allan Kardec)

A garantia da autenticidade da obra e de que seu conteúdo de fato espelha a vontade do autor repousa sobre o preenchimento dos requisitos formais de autorização de impressão e do depósito legal. (Sem o depósito legal, não há como provar que a obra foi publicada na data do registro, e se cria a possibilidade de alguém registrar a obra em seu nome. Não é o caso.) Sem isso, seu conteúdo é falso, apócrifo, (Mais uma dedução incorreta, sem isso fica mais complicado provar a autoria) segundo a legislação da época. (Não está escrito isso na lei) Alguém imagina, por absurdo, que o professor Rivail, tão cuidadoso com todos os seus documentos e sem nunca ter incorrido em qualquer ilegalidade em suas publicações, faria uma edição sem registro oficial? (Quem fez a edição foi A Livraria Espírita, em um período de extrema influência de Mme Kardec.)

Portanto ilegal, clandestina e toda modificada? (Frase de efeito, vimos que não há como provar isso. Atribuir crime à Livraria Espírita, sem provas, é calúnia) Sem avisar ninguém pela Revista Espírita? Está claro que Kardec pretendia fazer modificações nesse livro segundo os seus manuscritos, mas não o fez até a sua morte. (A FEAL tem os manuscritos, mas não deu ainda acesso às pessoas. Sem uma análise desses documentos, é também uma especulação) Nem foram certamente essas falsas que encontramos nas edições adulteradas. (Outra especulação)

Conclusão: tudo o que a Simoni Privato Goidanich afirmou em sua obra está vigente e intocável. (O trabalho dela é muito bom, especialmente a recuperação de informações e documentos. As conclusões e análises que ela faz se baseiam neles. Quando surgem novos documentos, há que se rever as análises. Não há nada de errado nisso, e nenhum demérito para ela.)  Apenas se acrescenta que a conspiração para adulterar a obra de Allan Kardec já se iniciou logo após a sua morte, (uma metaespeculação: especulação fundamentada em especulações)  alguns meses depois, por aqueles, como Desliens, que passariam o bastão do desvio (um ataque sem provas, que atinge a esposa de Kardec, que era membro do Conselho Supervisor, como nos mostra Privato) para Leymarie desde 1871.

Temos muitas outras informações e documentos sobre o caso. (Que não estão públicas, por isso, não se constituem como documentos a serem verificados. Nós temos que confiar que o argumentador tem acesso privilegiado e que por isso está interpretando corretamente os documentos a que teve acesso, ainda que Carlos Seth também tenha acesso aos mesmos documentos e tenha chegado a diferente conclusão) Mas uma investigação adequada deve ser divulgada publicamente somente quando todos os fatos e detalhes estão apurados e esclarecidos ao máximo. (Então poderemos rever nossas posições) Uma conclusão precipitada serve apenas para causar dúvidas, polêmica e divisão. (É o que está acontecendo, e esse seu texto se presta a isso, ao fazer acusações sem provas documentais) Nada disso interessa à divulgação do Espiritismo. (Concordamos) Portanto, vamos voltar ao assunto somente daqui a algumas semanas, quando vamos apresentar trabalho completo, como já havíamos planejado anteriormente. (Aguardamos)

Esperamos, assim, contribuir com os estudos desta Doutrina libertadora que não nos pertence, mas sim aos Espíritos Superiores que deram seus ensinamentos. Nós, espíritas, somos todos estudantes, e devemos divulgar e restabelecer a teoria original de Allan Kardec, com o objetivo de colaborar com a Regeneração da Humanidade. Os tempos estão chegados!

Paulo Henrique de Figueiredo, 2 de março de 2020.

SOBRE A LEI DE PUBLICAÇÃO NA FRANÇA DE ALLAN KARDEC



Napoleão I decretou uma lei em 05 de fevereiro de 1810, que é considerada uma “lei de censura” em nossos dias. Ela pode ser vista em https://archive.org/details/dcretimprialcont00fran_1/mode/2up

Nessa lei, os impressores e as livrarias ficavam sob o controle de um diretor geral, ligado ao Ministro do Interior francês. A lei designa seis auditores sob o controle do diretor geral. No ano seguinte à publicação da lei, Napoleão reduziu o número de impressores para sessenta, possibilitando que cada auditor cuidasse das publicações de dez impressores.

O artigo 10 considera crime “imprimir qualquer coisa que possa afetar os deveres do sujeito com relação ao soberano”, ou seja, um Estado sem liberdade de imprensa.

O controle da imprensa se faria com um livro, rubricado pelo prefeito da região, no qual se registra por ordem de data, cada livro que se deseja imprimir e o nome do autor. (art. 11) As livrarias seriam “juramentadas e licenciadas”. Essas licenças seriam aprovadas pelo Ministro do Interior! (art.29) Para ser licenciados, os livreiros teriam que demonstrar “sua boa vida e seu apego à pátria e ao soberano”. (art. 33)

A lei controla a entrada de livros do exterior e estabelece um imposto “não inferior a cinquenta por cento do valor das obras”. (art. 35). Napoleão assinou um decreto imperial que estabelece como cobrar os impostos de livros importados em 14 de dezembro de 1810. 

A lei estabelece confisco e multa se o livro sair sem o nome do autor e da gráfica, se “o autor ou o impressor não tiver efetuado o registro e a declaração do artigo 11”, se a obra for pedida para exame e a impressão não tiver sido suspensa enquanto se faz, se a obra for publicada sem a autorização do ministro da polícia geral, se for uma falsificação ou se for impressa “sem o consentimento e em detrimento do direito do autor ou do editor."

O artigo 39 assegura o direito de propriedade ao autor e à sua viúva, e aos filhos por vinte anos.

Por fim, no artigo 48, se decide sobre a guarda dos livros impressos: 

“Cada impressor deverá depositar na prefeitura da polícia cinco cópias de cada obra, a saber: duas para a biblioteca imperial, uma para o Ministro do Interior, uma para a biblioteca de nosso Conselho de Estado, uma para a diretor administrativo das obras de impressão.”

Após ler a lei como um todo, o que podemos concluir? Que a lei foi criada para evitar que ideias em conflito com o regime fossem veiculadas sem controle do Estado. Escrever era considerado “caso de polícia” na França, e a maior preocupação da lei não é com a preservação dos direitos de autor e editores, mas com o uso da imprensa contra o Estado estabelecido e o imperador.

O registro cuidadoso visava evitar a veiculação de ideias contra o regime político vigente (principalmente o imperador), e até as livrarias seriam objeto de licença especial do Estado para funcionamento. 

Esta legislação estava em vigor no período de 1857 a 1869, enquanto Allan Kardec estava encarnado e publicando sua obra espírita.

Uma lei baseada na liberdade de imprensa, que garante a livre circulação dos jornais, sem regulamentação governamental foi aprovada em 1881 e está em vigor até hoje.

2.3.20

MAIS UM DOCUMENTO TRATA DA QUINTA EDIÇÃO DE A GÊNESE EM 1869



Samuel Magalhães acaba de publicar imagens de O Livro dos Médiuns, de 1869, fazendo propaganda, na quarta capa, da quinta edição de A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. O livro custava 3 francos, então.


A capa do livro original.

 A folha de rosto do mesmo livro. O Samuel informa que essa edição de O Livro dos Médiuns foi publicado em junho de 1869, três meses após a desencarnação de Allan Kardec.

1.3.20

NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE A 5ª EDIÇÃO DE A GÊNESE




O CSI – Codification Séances Investigation: Imagens e Registros Históricos do Espiritismo encontrou um exemplar da quinta edição de A Gênese - revista, corrigida e aumentada, publicada em 1869 - catalogado na biblioteca da Université de Neuchâtel, na Suíça. Carlos Seth Bastos entrou em contato com o bibliotecário, pedindo imagens dos dados bibliográficos do livro e recebeu o arquivo de imagem em pdf acima.

As informações desse livro sugerem que foi Allan Kardec quem fez as modificações que foram posteriormente publicadas em 1872, no que seria uma espécie de reedição da quinta edição. Possivelmente, Simoni Privato não encontrou a autorização dessa edição nos livros de registro franceses, uma vez que considero como pessoas de boa-fé tanto as que concluíram que Leymarie poderia ter feito as alterações quanto as que nos apresentam essa imagem. Cada uma concluiu com base nas informações que obteve.

Considerando correta a informação do bibliotecário suíço, Kardec teria feito as anotações das modificações de A Gênese depois da primeira edição, tendo um período de alguns meses para a revisão. Quando e como foram modificadas as placas matrizes, não o sabemos.

Observe nas marcas da imagem que o livro já sai com o nome da Livraria Espírita e de Ciências Psicológicas, na Rue de Lille, no. 7, para a qual Kardec iria fazer sua mudança quando desencarnou.

Outra curiosidade: as notas tipográficas, na página anterior à da folha de rosto, apontam que a tipografia que fez a quinta edição foi a mesma que fez a primeira edição (e as outras três).

O leitor interessado pode acessar as páginas de Facebook abaixo para obter as informações sobre este novo capítulo da pesquisa de A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo, de Allan Kardec.


https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/650310282399424  Link da publicação sobre a pesquisa de A Gênese (5ª edição).

Acho que toda essa polêmica chamou a atenção do movimento espírita para as mudanças realizadas por Kardec ao longo das edições de suas obras, e também nos convida a sermos ainda mais prudentes com as fontes de informação do passado.

27.2.20

AVALIAÇÃO DE REUNIÕES MEDIÚNICAS



No Seminário oferecido em Contagem-MG, em 2019, foi feita uma pergunta sobre avaliação de reuniões. Passamos a experiência do nosso grupo mediúnico:

Que você pode nos falar sobre as avaliações periódicas da reunião e dos médiuns?

Todas as sessões temos um tempo reservado à análise das comunicações e das percepções de todos os membros da reunião durante a parte mediúnica. Como ela é feita imediatamente após o encerramento das comunicações, ficou conhecida como “terceira parte” pelos membros do grupo, mas poderia ter outro nome mais formal.

Nessa parte da reunião, como realizamos comunicações simultâneas, as duplas médium-atendente narram de forma objetiva e resumida como foram as comunicações que aconteceram. Os médiuns podem falar ao grupo os sucessos e insucessos das escolhas do atendente durante sua atividade, os atendentes podem explicar o que não entenderam bem do relato durante a comunicação, outros membros podem falar de suas percepções enquanto a comunicação se dava e que podem estar associadas a ela, e, sem criar constrangimentos ou censurar, das sugestões para os participantes da reunião. Outra coisa que pode ser feita é o próprio médium falar ao grupo de suas inseguranças quanto à comunicação e das suspeitas de animismo ou do que consideram ser suas influências sobre a comunicação.

Se essa atividade não for realizada logo após as comunicações, passados alguns dias, tendemos a esquecer o que aconteceu, perder detalhes e falar de eventos que os demais membros não se recordam bem.

Além da “terceira parte”, fazemos avaliações mais amplas, semestrais ou anuais. Nessas avaliações colhemos a opinião dos membros do grupo para decidir a necessidade ou não de mudanças, seja de função, seja do ambiente material, seja da rotina da reunião (preces, leituras, estudos, parte mediúnica, terceira parte), seja da troca de funções na reunião (geralmente a troca de dirigentes), seja a análise de insatisfações e de aspectos positivos ou realizações importantes feitas pelo grupo. Os encontros de cunho social fora do centro espírita são discutidos nessas oportunidades, e a participação em campanhas da casa, atividades sociais e outras. Sempre realizamos mudanças, preferencialmente a partir de consensos do grupo.

24.2.20

PRIMEIRO CONTATO DE CHICO XAVIER COM O LIVRO MEMÓRIAS DE UM SUICIDA





Ontem estivemos conversando sobre a trajetória de Camilo Castelo Branco, desde sua vida em Portugal até sua notícia de reencarnação em um centro espírita da capital mineira. Entre outras coisas, apresentamos a comparação entre as descrições dadas por ele de sua desencarnação a Yvonne Pereira, a partir de 1926 e a Chico Xavier em 1936, que foi publicada no livro O Martírio dos Suicidas, da editora da Federação Espírita Brasileira - FEB, compilado por Almerindo Martins de Castro.

Na saída, Danilo chamou minha atenção para o livro Testemunho de Chico Xavier, escrito pela Suely C. Schubert, que analisa a correspondência entre o Chico e os dirigentes da Federação Espírita Brasileira. Foi muito boa a referência.

Encontramos duas cartas escritas pelo médium mineiro, que tratam da médium fluminense. As duas referem-se aos dois primeiros livros publicados pela FEB. 

A primeira carta escrita pelo Chico data de 28/11/1955. Ele recebeu um exemplar do livro Nas telas do infinitoassinado pela Yvonne, e ficou curioso quanto ao contato da médium com o espírito Léon Denis. O Chico confessa que não conhece o “estilo camiliano”, não se colocando em condições de analisar a pequena novela O tesouro do castelo, que é uma das duas narrativas que compõem o livro, mas gosta muito do conteúdo doutrinário do texto. Esta carta nos permite supor que ele não conhecia pessoalmente a médium, já que pedia notícias que poderiam ter sido dadas por ela, pessoalmente.

A segunda foi escrita em 12 de dezembro do mesmo ano e trata do livro Memórias de um suicida. Faz sugestões muito pontuais para o texto do livro, o que dá a entender que a FEB teria enviado uma prova do livro ou cópia do texto datilografado para obter as impressões do médium mineiro. Ele antevia o sucesso do livro, que realmente aconteceu.

Agradeço ao Danilo a lembrança que contribui com o trabalho que publicamos no livro O espiritismo, da França ao Brasil, ano passado. Mais uma evidência de que o Chico não conhecia pessoalmente Yvonne, nem teve acesso ao texto do Memórias quando psicografou Camilo Castelo Branco em 1936.