18.3.16

ESPIRITISMO DE OITIVA?




Estamos estudando ainda o livro “À luz do consolador”, de Yvonne Pereira, que é constituído de artigos que ela publicou na revista Reformador, entre as décadas de 1960 e 1980, a maioria sob o pseudônimo de Frederico Francisco.
Ela escreveu o seguinte:

“Está-nos a parecer, pois, que determinados leitores desprezam o verdadeiro estudo doutrinário, preferindo aceitar o espiritismo por ouvirem dele falar.” (PEREIRA, 2014, p. 145)

Lembrei-me  de um expositor que trabalhava em nome de uma federativa. Fiquei muito amigo dele e o estimava muito, mas ele só falava de oitiva. Quando alguém perguntava ou questionava algo, ele dizia: fulano disse assim, ou é a opinião de beltrano.

Uma vez alguém tomou a liberdade de falar com ele que ele deveria ler, para conhecer a origem e o sentido claro daquilo que ele falava. Ele redarguiu:

- Tenho um filho pequeno que exige minha atenção, por isso não posso ler.

Fiquei pensando como alguém pode expor sem estudar, com todo o respeito à dedicação do companheiro.

Uma das primeiras críticas que recebi na vida acadêmica veio de uma professora muito experiente, que analisou meu texto e questionou se algumas coisas que eu houvera escrito não eram “de oitiva”. Tive que rever e citar corretamente as fontes das partes do texto analisado.

O espiritismo não pode ser conhecido apenas por “ouvir falar”. No Brasil o movimento espírita sempre promoveu a divulgação do livro impresso, montou livrarias, criou bibliotecas, inventou “feiras do livro espírita”, fez edições populares para dar acesso aos que tinham poucos recursos financeiros. Nosso grupo de mocidade tinha um “mimeógrafo” à tinta, onde se imprimiram muitos textos de apoio aos estudos, apostilas, jornaizinhos entre outros.

Yvonne tem razão. É preciso que os centros espíritas prezem o incentivo à leitura, principalmente dos clássicos, cujo tempo tornou a linguagem mais distante da empregada hoje, para que o movimento não fique à mercê de opiniões.


2 comentários:

  1. Muito pertinente.
    Suas considerações evocam-me, ainda, outros vieses: além da questão da responsabilidade, merece atenção a hipótese de uma eficácia terapêutica intrínseca à leitura de obras espíritas clássicas. A leitura configura um caminho terapêutico próprio, advindo das múltiplas camadas de significação dos livros espíritas, cujo conteúdo é um enclave espiritual que suscita a meditação profunda.
    Por outro lado, nem mesmo a leitura se furta à necessidade de vigilância, já que pode facilmente dispersar-se na multiplicidade da curiosidade, ou, ao contrário, fechar-se num sistema circular auto-referenciado. Observo a tendência de que autores clássicos sejam explicados a partir de interpretações polêmicas de autores recentes e vice-versa, configurando uma espécie de petição de princípio.

    Abs.
    Rubens Nunes Sobrinho.

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  2. Rubens,

    Muito obrigado pelos comentários. Aos leitores que não conhecem filosofia, petição de princípio é quando o autor tenta afirmar que sua tese é verdadeira, mas em seu argumento já parte do princípio de que ela é verdadeira? Ou seja, ele não tem argumentos válidos para defender sua tese?

    Explique para todos nós, por gentileza, o sentido do termo "caminho terapêutico" aplicado ao conhecimento.

    Grato pela atenção

    Jáder

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