7.2.16
O FRATERNISTA PUBLICA "QUEM É O SAL DA TERRA ?"
O jornal O Fraternista, do Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, publicou no último número um texto nosso de reflexões sobre a instrução de Jesus aos discípulos no Sermão da Montanha, quando afirma que são o "sal da terra".
O leitor do Espiritismo Comentado pode acessar diretamente do link: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/acontece/ofraternista/fraternista70.pdf
Aguardo comentários e análises dos interessados.
5.2.16
PROPOSTA DE ENSINO INTER-RELIGIOSO DE DORA INCONTRI
Abrindo o carnaval, fui convidado a conversar sobre religião e ensino inter-religioso com os amigos do Grupo Espírita Luz e Paz. A autora talvez mais produtiva sobre este tema no movimento espírita é a professora Dora Incontri, que desenvolveu metodologia para adoção desta forma de educação religiosa nas escolas e universidades. Esta entrevista rápida, de apenas cinco minutos, mostra alguns de seus princípios de ação e faz uma bela defesa da religião e da religiosidade, com uma visão diferente das desconstruções iluminista. marxista e niilista, infelizmente muito presentes no meio universitário atual.
20.1.16
DESENCARNA ÊNIO WENDLING
Ênio Wendling
Recebi ontem a notícia da
desencarnação de Ênio Wenling, médium e liderança muito expressiva do Grupo de
Fraternidade Irmão Glacus, da capital mineira. Foi no dia 17 de janeiro do corrente.
Conheci o Ênio, ou melhor, o vi
em atividade mediúnica pela primeira vez no Grupo de Fraternidade Irmã
Scheilla, em Belo Horizonte, no início dos anos 80. Papai (José Mário Sampaio)
havia sido convidado para fazer uma palestra em uma tarde de domingo e fui
assistir. Era organizada pelo Grupo da Fraternidade Irmão Glacus, que ainda não
tinha sua sede no bairro Padre Eustáquio. Era uma espécie de reunião de
confraternização, e o Glacus tinha por prática separar um tempo para que
médiuns de psicofonia e psicografia pudessem permitir a manifestação dos espíritos.
Ênio foi o médium de José Grosso e Palminha. Um deles conversou em voz alta com
meu pai.
A construção da sede do Glacus no
Padre Eustáquio foi cheia de histórias. Houve a aquisição de um terreno na Nova
Suíça, cuja construção foi interrompida com um grande incêndio. Vendido o
terreno e adquirido outro, lembro-me dos automóveis que foram expostos na Praça
Sete, coração de Belo Horizonte, para o esforço de venda de rifas autorizadas
pelo governo federal, com a finalidade de arrecadação de recursos. O Glacus,
hoje conta com a sede no Padre Eustáquio e outra, imensa, com creche, parque
gráfico e outros espaços, na região do Ceasa.
Anos depois passei por uma
situação interessante com o médium. Já construída a sede do “Glacus”, fui
convidado a fazer uma palestra, durante a semana, à noite. Nunca havia feito
qualquer exposição nesta casa, e não conhecia os organizadores da reunião,
excetuando o Ênio, que lá estava, e que não conhecia pessoalmente. O salão da
casa ficou enorme e estava cheio. Neste dia, atrasei-me e quando cheguei a
reunião já havia iniciado. Resolvi não me identificar e assentei ao fundo, no
cantinho, para assistir à reunião. Vieram as exposições e depois as
comunicações, como de praxe. Não me recordo bem quando, mas iniciaram-se os
passes. O Glacus seguia uma orientação, talvez iniciada no antigo Centro
Oriente, que cada passista deveria aplicar apenas três passes. Eles não acatam
a orientação do espírito André Luiz, no livro Conduta Espírita, de “jamais
temer a exaustão das forças”. Daí a pouco fui procurado pelas pessoas deste
serviço, que me pediram que aplicasse passes. Ante minha expressão de dúvida,
disseram que foi orientação espiritual e que havia vindo da mesa de trabalhos.
Jamais soube se alguém me identificou ou se foi pela via mediúnica que souberam
que eu sabia e tinha condições de aplicar passes. Depois do terceiro,
agradeceram minha contribuição.
Já publiquei no Espiritismo
Comentado sobre o Grupo da Fraternidade Irmã Ló, onde Ênio trabalhou como
médium, ainda no período em que se tratava apenas de uma residência onde se
faziam reuniões de materialização, com a presença de outros médiuns que ganharam
expressão no movimento espírita, como Peixotinho. Estes trabalhos deram notoriedade a Jair Soares, que doaria no futuro a casa para a construção de um centro espírita.
http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2008/11/grupo-da-fraternidade-irm-l.html
Fiquei devendo os artefatos materializados, que eles guardam até hoje em uma
pequena cristaleira.
Ênio retornou à pátria
espiritual, após uma longa existência dedicada à mediunidade e à caridade. O
movimento espírita da capital mineira lhe deve o reconhecimento e uma multidão
de pessoas o agradece por tudo o que conseguiu realizar.
Localizei uma biografia no site da FEIG e uma entrevista com ele,
do jornal Evangelho e Ação, para o leitor que se interessar por sua biografia:
5.1.16
TERTULIANO E OS CRISTÃOS DO SEGUNDO SÉCULO
Tertuliano
Consegui na internet uma tradução para o português do livro Apologia (feita por José Fernandes Vidal e Luiz Fernando Karpss Pasquotto), escrito por Tertuliano no ano 197. O autor é citado por Léon Denis no seu Cristianismo e Espiritismo, pela proximidade de algumas ideias com o espiritismo. Ele foi mestre de Orígenes, que defendeu abertamente a preexistência das almas, como forma de explicar a justiça divina, entre outras posições que lhe valeram, no futuro, a acusação por heresia.
Tertuliano era de Cartago, no continente africano. "e exercia a profissão de advogado quando se converteu".
Nos primeiros capítulos de sua Apologia, Tertuliano faz uma peça de defesa contra o "crime de ser cristão", que é encantadora. Neste texto se vê o que já li em Amélia Rodrigues e outros autores espirituais, que bastava ao cristão negar ser cristão publicamente, e sacrificar aos deuses, para ser absolvido.
Tertuliano desenterrou um texto de Plínio, o moço, no qual ele questiona ao imperador Trajano por que perseguir os cristãos, que, em suma, nada de mal faziam ao império, a não ser não sacrificar aos deuses. Trajano afirma que não deveriam ser perseguidos, mas se fossem trazidos diante dele, deveriam ser punidos.
O advogado cartaginês vai apontar passo a passo todas estas contradições do discurso imperial, comparando o cristão ao criminoso comum. Ele mostra que o criminoso comum costumava ser torturado até admitir seu crime, enquanto o cristão, entregava-se imediatamente se questionado. - "Sou cristão". Ao contrário do criminoso, iniciava-se toda uma manobra para que ele mentisse em público e fosse inocentado.
Usando de ironia, ele escreve:
"Assim, o nome odiado é usado preferencialmente a uma reforma de caráter. Alguns até trocam seus confortos por este ódio, satisfazendo-se em cometer uma injúria para livrarem sua casa dessa sua mais odiosa inimizade. O marido, agora não mais ciumento, expulsa de sua casa a esposa, agora casta. O pai, que costumava ser tão paciente, deserda o filho, agora obediente. O patrão, outrora tão educado, manda embora o servo, agora fiel. Constitui grave ofensa alguém reformar sua vida por causa do nome detestado."
O texto, longe de ser monótono, é muito interessante. Ressalvada a intenção do autor, que é de defesa do cristianismo, um texto desta época é um documento importante para conhecermos melhor o que aconteceu com o cristianismo em sua trajetória. Com certeza, há uma diferença marcante entre os cristãos dos primeiros séculos descritos pelo cartaginês, e os clérigos renascentistas ironizados por Boccaccio em Decamerão.
23.12.15
POESIA DE MEIMEI SOBRE O NATAL
Fiquei aqui pensando o que publicar por época do Natal. Passei em revista as publicações dos outros anos e tive boas recordações. Reli uma mensagem ditada pelo Companheiro de Trabalhos em 2007:
Quase a publiquei novamente, até que recordei de uma mensagem de Meimei, que li na juventude e desejo compartilhar com o leitor.
Canção para Jesus
Desejava, Jesus,
Ter um grande armazém
De bondade constante
Maior do que os maiores que conheço
Para entregar sem preço
As criaturas de qualquer idade
As encomendas de felicidade
Sem perguntar a quem.
Eu desejava ter um braço mágico
Que afagasse os doentes
Sem qualquer distinção
E um lar onde coubesse
Todas as criancinhas
Para que não sentissem solidão.
Desejava, Senhor,
Todo um parque de amor
Com flores que cantassem,
Embalando os pequeninos
Que se encontram no leito
Sem poderem sair,
E uma loja de esperança
Para todas as mães.
Eu queria ter comigo
Uma estrela em cuja luz
Nunca pudesse ver
Os defeitos do próximo
E dispor de uma fonte cristalina
De água suave e doce
Que pudesse apagar
Toda palavra que não fosse
Vida e felicidade.
Eu queria plantar
Um jardim de união
Junto de cada moradia
Para que as criaturas se inspirassem
No perfume da paz e da alegria.
Eu queria, Jesus,
Ter os teus olhos
Retratados nos meus
A fim de achar nos outros,
Nos outros que me cercam,
Filhos de Deus
E meus irmãos que devo compreender e respeitar.
Desejava, Senhor, que a bênção do Natal
Estivesse entre nós, dia por dia,
E queria ter sido
Uma gota de orvalho
Na noite em que nasceste
A refletir,
Na pequenez de minha condição,
A luz que vinha da canção
Entoada nos Céus:
- “Glória a Deus nas Alturas,
Paz na Terra,
Boa Vontade em tudo,
Agora e para sempre!...”
Ter um grande armazém
De bondade constante
Maior do que os maiores que conheço
Para entregar sem preço
As criaturas de qualquer idade
As encomendas de felicidade
Sem perguntar a quem.
Eu desejava ter um braço mágico
Que afagasse os doentes
Sem qualquer distinção
E um lar onde coubesse
Todas as criancinhas
Para que não sentissem solidão.
Desejava, Senhor,
Todo um parque de amor
Com flores que cantassem,
Embalando os pequeninos
Que se encontram no leito
Sem poderem sair,
E uma loja de esperança
Para todas as mães.
Eu queria ter comigo
Uma estrela em cuja luz
Nunca pudesse ver
Os defeitos do próximo
E dispor de uma fonte cristalina
De água suave e doce
Que pudesse apagar
Toda palavra que não fosse
Vida e felicidade.
Eu queria plantar
Um jardim de união
Junto de cada moradia
Para que as criaturas se inspirassem
No perfume da paz e da alegria.
Eu queria, Jesus,
Ter os teus olhos
Retratados nos meus
A fim de achar nos outros,
Nos outros que me cercam,
Filhos de Deus
E meus irmãos que devo compreender e respeitar.
Desejava, Senhor, que a bênção do Natal
Estivesse entre nós, dia por dia,
E queria ter sido
Uma gota de orvalho
Na noite em que nasceste
A refletir,
Na pequenez de minha condição,
A luz que vinha da canção
Entoada nos Céus:
- “Glória a Deus nas Alturas,
Paz na Terra,
Boa Vontade em tudo,
Agora e para sempre!...”
Meimei / Chico Xavier
22.12.15
CANTATA DE NATAL NA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA
Sábado à tardinha. Rodamos três
vezes o quarteirão (quadra, para os de fora de Minas Gerais) da rua Guarani, em
busca de um estacionamento ou vaga de estacionamento. Os estacionamentos
estavam fechando e não nos aceitavam, quando finalmente conseguimos uma vaga
“milagrosa”. Já estávamos quase desistindo.
Entrar na União Espírita Mineira
depois de tantos anos não foi um ato sem emoção. Estávamos indo para a Cantata
de Natal, evento que acontece anualmente. A livraria estava fechada (que tristeza)
e havia uma portaria improvisada. Com as portas semicerradas, alguém poderia
ter achado que a federativa estava fechada.
Subi as mesmas escadas até o
salão. Ato contínuo e semanal quando meu pai estava ainda encarnado e era
responsável pelo ciclo de estudos sobre mediunidade na salinha do final do
segundo andar. O auditório continuava o mesmo. Trezentas cadeiras de madeira no
primeiro andar e um balcão imenso no segundo andar. Alguns ventiladores fixos
nas paredes laterais lutavam contra o calor, mas era uma luta quixotesca. O
público já havia ocupado os lugares ao alcance do vento, quando conseguimos
alguns lugares na última fileira. A casa estava cheia.
Afonso e Wadson nos abraçaram.
Estavam de pé, cuidadosos, como anfitriões do evento. Procurei entre a multidão
e não encontrei ninguém da diretoria antiga. Talvez alguns dos trabalhadores
desta casa que conheci estivessem por lá, já sem o corpo físico.
Marcelo Gardini terminava as
últimas palavras da apresentação, possivelmente em nome da diretoria. Os atos
musicais começaram. Não conhecíamos o primeiro grupo, nem suas músicas. As
vozes eram bonitas e o uso de tons dissonantes lembrou um pouco a melodia da
bossa nova. A música sobre o evangelho no lar soou didática.
Tim e Vanessa apresentaram-se,
profissionais. A poesia das canções de Gladston Lage invadiu a alma dos que
ouviam. Personagens do evangelho ganharam vida. João, Pedro... Depois o público
os acompanhou em seu último número, uníssono. Eram quatrocentas vozes um pouco
tímidas e uma canção.
Mais um grupo, desfalcado de um
de seus membros, que foi substituído, entrou em cena com baixo e violão. Duas vozes
masculinas e uma feminina. Como curiosidade, encerrou sua apresentação com uma
canção em estilo “country” norte-americano.
O grupo Laboro iniciou sua peça, “O
Encontro”. Quando ou vi o nome de D’Arsonval, lembrei-me do personagem de
Humberto de Campos/Irmão X, pela pena de Chico Xavier. A trupe encadeou o texto
simples com ensinos espíritas e situações circenses, que deixaram a
apresentação mais leve. Mendigos entremearam personagens medievais, às vezes
temperados à brasileira. D’Arsonval finalmente encontrou-se com Jesus, a quem
apenas havia deixado esmolas generosas ao longo da história.
Tivemos que sair mais cedo, em
função de compromissos já assumidos.
A Cantata foi um sucesso de
público, mas o prédio histórico da União Espírita Mineira encheu minha alma de
tristeza. Quase cinquenta anos se passaram desde que fui pela primeira vez, menino ainda, e ele continua, essencialmente, com sua mesma estrutura. A Sede Federativa ainda não tem um auditório com capacidade ampla ou uma estrutura de centro de eventos, capaz
de tornar real toda a potencialidade da cantata, por exemplo. Recordei-me de Virgílio Almeida. Como sua capacidade de empreender, agregar e construir está fazendo
falta! Pedi aos diretores da “velha guarda”, hoje no plano espiritual, um grande presente: um movimento
espírita que se importe com sua federativa e que pudesse se unir para dar-se o
presente de uma casa capaz de realizar os projetos cujo fôlego exigisse mais
que um centro espírita, e cuja abrangência pudesse ser todo o estado que
um dia foi sede dos desejos de justiça e modernidade dos inconfidentes.
18.12.15
ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA CÉLIA XAVIER FARÁ SETENTA ANOS EM 2015
A casa que frequento há mais de três décadas está
comemorando 70 anos de funcionamento neste mês. Para marcar esta data, estamos
escrevendo uma série de artigos que está sendo publicada no nosso boletim
digital, intitulado “Conheça Aqui”.
Da dor da perda de uma jovem filha, passando pela doação de
terrenos e campanhas de obtenção de recursos, hoje a Associação Espírita Célia
Xavier conta com quatro unidades localizadas em lugares diferentes da grande
Belo Horizonte: Prado, Salgado Filho, Citrolândia (Betim) e Rosaneves (Ribeirão
das Neves).
Conheça um pouco da história de cada uma destas realizações,
que hoje possivelmente seriam consideradas não apenas como instituições religiosas,
mas também como empreendimentos sociais.
Criação da sede da Associação, no Prado – Belo Horizonte
Criação da Casa de Etelvina, em Citrolândia –
Betim
Criação de Nova Luz, em Rosaneves – Ribeirão das
Neves
10.12.15
CAMPANHA DE LIVROS ESPÍRITAS PARA O JAPÃO
No ano de 2015, a comunidade espírita japonesa iniciou uma campanha de doação de livros espíritas, para diversos objetivos.
Eles têm um trabalho nas prisões japonesas, onde identificam os presidiários que se interessam pelo espiritismo. Eles visitam estes presidiários, doam "O evangelho segundo o espiritismo" e os auxiliam no entendimento da leitura. Nesta campanha foram doadas 100 unidades de "O evangelho segundo o espiritismo", que duram apenas poucos meses. Interessa a eles livros em português, espanhol e inglês.
A Associação de Divulgadores Espíritas está fundando bibliotecas no Japão. Recentemente receberam os livros abaixo, que foram motivo de alegria para os membros da ADE. Eles pretendem formar duas bibliotecas, uma em Aichi-Ken e outra em Gunma-Ken.
Venho convidar os leitores do Espiritismo Comentado a auxiliar os espírita japoneses. Eles têm trabalhado de forma articulada, e as doações desta campanha atingem muitas casas e cidades do Japão. Peço que doem livros novos, para que possam chegar em bom estado no outro lado do mundo.
Os brasileiros que moram no Japão, via de regra, são trabalhadores que às vezes dispendem doze horas diárias em sua jornada de trabalho. Eles enfrentam o alto custo imobiliário para poderem se reunir, e têm usado de sua criatividade e vontade forte para divulgar o espiritismo no Japão.
Agradeço ao Adalberto o carinho para conosco, e desejo a todos os "tomodatis" japoneses sucesso em seus trabalhos.
2.12.15
O MÉDIUM DE JERÔNIMO DE PRAGA ESTUDOU O CRISTIANISMO
Léon Denis publicou em 1900 um livro intitulado “Cristianismo
e espiritismo”, que li nos anos 1980, mas confesso que à época saltei a
introdução e o prefácio. Depois o consultei muitas vezes e preparei estudos com
ele, mas não voltei a estes dois escritos.
Com o passar dos anos, fiquei fã dos prefácios do autor
francês, porque ele costuma explicar e contextualizar seus livros.
Na introdução do livro, Denis se preocupou muito em explicar
que seu trabalho não é um ataque ao catolicismo, religião que ele abandonou
ainda jovem pela “filosofia espírita”. Ele se detém na exterioridade do
catolicismo (que confessa ainda causar algum encanto nele) para elogiar a
interioridade do protestantismo, que parece ter conhecido a partir de algumas
das fontes que ele consultou para escrever sobre o cristianismo.
Minha primeira surpresa foi identificar algumas ideias de
origem deísta ou da religião natural que encontrei em sua argumentação inicial.
Elas influenciaram a constituição do espiritismo, embora este não possa ser
reduzido a elas.
“Consagramo-nos à tarefa de destacar
da sombra das idades, da confusão dos textos e dos fatos, o pensamento básico,
pensamento de vida, que é a fonte pura, o foco intenso e radioso do Cristianismo,
ao mesmo tempo que a explicação dos estranhos fenômenos que caracterizam as
suas origens, fenômenos renováveis sempre, que efetivamente se renovam todos os
dias sob os nossos olhos e podem ser explicados mediante leis naturais.” (p. 8
e 9)
No prefácio, escrito dez anos depois, Denis não poupou
críticas ao catolicismo. Este havia sido separado definitivamente do estado
francês, pelo que pude entender, a partir de uma lei conhecida como concordata,
que proibiu o ensino religioso para a infância e a juventude, tornando-o leigo.
O autor analisou o declínio da influência do catolicismo na
sociedade francesa, tendo ficado restrito a “um punhado de adeptos”. Ele afirma
que a igreja vivia uma crise com o direito novo francês.
Denis entende que há uma doutrina cristã, pura (p. 10), que
não se confunde com o catolicismo, construído após Constantino (p. 18), que
acabou por influenciá-lo na direção da hierarquização, da politização em favor
dos “grandes e poderosos”, da teologização que a afastou do “sermão da montanha”.
(p. 19)
“Jesus não havia fundado a
religião do Calvário para dominar os povos e os reis, mas para libertar as
almas do jugo da matéria e pregar, pela palavra e pelo exemplo, o único dogma
de redenção: o amor.” (p. 21)
Não posso deixar de comentar que o filósofo espírita deteve-se
no espírito de sua época, preocupado com o hedonismo e o materialismo,
posicionando-se, como Kardec, na oposição das “filosofias negativas” (p.13) Ele
mergulhou na essência do Cristianismo para fazer oposição a ideologias que
defendiam uma vida sem sentido, o fim da existência com a morte do corpo, “sofrimentos
inúteis”, “trabalho sem proveito” e “provas sem compensação”. Estaria Denis
fazendo uma menção a Nietzsche, ou a Darwin, quando escreveu o parágrafo
abaixo?
“Em lugar desse campo cerrado da vida em que os
fracos sucumbem fatalmente, em lugar dessa gigantesca e cega máquina do mundo
que tritura as existências e de que nos falam as filosofias negativas, o Novo Espiritualismo
fará surgir, aos olhos dos que pesquisam e dos que sofrem, a portentosa visão
de um mundo de equidade, de amor e de justiça, onde tudo é regulado com ordem,
sabedoria, harmonicamente.” (p. 13)
Assim Denis iniciou uma obra que aborda o cristianismo em
uma perspectiva histórica e filosófica, e que encerra-se com a contribuição das
descobertas experimentais da vida após a morte, da reencarnação e da mediunidade
que o espiritismo trouxe com suas pesquisas. Ele articula cristianismo e
espiritismo nas luzes do novo século, dando sua própria contribuição em forma
de pesquisa e reflexão ao trabalho iniciado por Allan Kardec em 1864, com a
publicação de “O evangelho segundo o espiritismo”.
30.11.15
O CRISTIANISMO NOS PRIMEIROS SÉCULOS - 10o. ENLIHPE
No Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo de 2014 - ENLIHPE, apresentamos um trabalho sobre o Cristianismo Primitivo. Ele se encontra embrionário, mas traz informação para quem deseja conhecer mais a construção do pensamento e comunidade cristãos nos primeiros séculos.
Tivemos que parar com o projeto em função de outras atividades, mas espero retomar a leitura dos textos escritos pelos cristãos primeiros em breve.
Estou evitando ler terceiros, indo preferencialmente aos documentos (traduzidos para o português, infelizmente). Agradeço a Allan Kardec, Hermínio Miranda, Canuto Abreu, Herculano Pires, Amélia Rodrigues, Humberto de Campos, Pedro de Camargos, Cairbar Schutel Wallace Leal V. Rodrigues e outros autores espíritas, encarnados e desencarnados, o despertamento do interesse pelo pensamento cristão.
27.11.15
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA
A revista Cultura Espírita, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) publicou um trabalho nosso neste mês de novembro de 2015 - intitulado: "Recordando o dia dos mortos na época de Kardec". Agradeço à Dra. Nadja do Couto Valle, a editora, o convite e a confiança.
Trata-se de um relato breve sobre a comemoração do dia dos mortos pelas tradições pagãs, pela tradição cristã católica e pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ainda à época em que Kardec a dirigia.
Allan Kardec criou uma "sessão anual comemorativa dos mortos" na SPEE em função de algumas comunicações obtidas em 1860 e 1862.
Conheçam um pouco mais sobre a revista e o Instituto em http://www.portaliceb.org.br/wordpress/
25.11.15
COMO FOI A EXECUÇÃO DE PEDRO?
"Crucifixion of Saint Peter-Caravaggio (c.1600)" por Caravaggio
Não há registro no livro dos Atos
dos Apóstolos, atribuído a Lucas, sobre a prisão e execução de Pedro. No Novo
Testamento, há duas citações entendidas como “proféticas” (segundo Eusébio de
Cesareia) de sua crucificação: a do episódio descrito no evangelho de João, que
descrevemos há pouco (http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2015/11/pedro-tu-me-amas.html)
capítulo 21, versículos 18 e 19:
“Amém, amém te
digo: Quando eras jovem, cingias a ti mesmo e andavas onde querias; quando
envelheceres, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá, e [te] levará aonde
não queres. Disse isso indicando com que tipo de morte glorificaria a Deus.”
Outro versículo está na segunda
epístola de Pedro (1:13-14).
“Entendo que é
justo despertar-vos com as minhas admoestações, enquanto estou nesta tenda
terrena, sabendo que em breve hei de despojar-me dela, como, aliás, nosso Senhor
Jesus Cristo me revelou.”
Onde estaria, então, a fonte
bibliográfica que explica a tradição, que diz que Pedro foi crucificado em
Roma?
Eusébio de Cesareia tem um livro
chamado História Eclesiástica, que escreveu nas primeiras décadas do ano 300. O
texto vai até 324 e termina com a vitória do imperador Constantino (apesar dele
ter participado do Concílio de Niceia, Eusébio adotou uma posição intermediária
entre Ario e Atanásio, para não desagradar o imperador).
Neste livro ele afirma que Pedro
foi crucificado em Roma (livro segundo, cap. 25, item 5) e argumenta com base
nos nomes dos cemitérios desta cidade, que levavam à época o nome de Pedro e
Paulo. No livro terceiro (capítulo 1, item 2) ele afirma que Pedro “...
finalmente foi para Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo, conforme
ele mesmo desejara sofrer.”
24.11.15
UM OLHAR CENTENÁRIO SOBRE ALLAN KARDEC, GABRIELLE BOUDET E SEU TRABALHO
Esperava receber este livro com
muita curiosidade. Jean Prieur é um espírita francês, centenário, nascido em
Lille, na França, ocupada pelos alemães. Quando Jean nasceu, o trio Flammarion,
Delanne e Denis ainda estava encarnado e publicando livros importantes.
Prieur viveu duas guerras
mundiais. Como francês, foi literalmente testemunha da história, acompanhou as
grandes transformações que sofreu o mundo nestes agitados últimos cem anos.
Seu texto é delicioso de ler. Ele
escreve lendo e comentando, fazendo pequenas paradas e viajando no tempo, fazendo
Kardec e o espiritismo conversarem com o mundo que vivemos. O autor não viveu
em uma redoma de vidro. Ele dá notícia das principais transformações do mundo,
às vezes com uma pitada de ironia, outras com uma lucidez profunda.
Sua relação com Kardec é
curiosíssima. O codificador (termo que ele defende) parece ser seu colega de
letras, seu companheiro, com quem ele não se importa de conversar, divergir às
vezes, admirar. Às vezes fiquei frustrado pela própria forma do texto, porque
Jean descreve passagens desconhecidas, sem se preocupar em citar as fontes.
Uma análise bem contemporânea, e
um tanto francesa, é o olhar que ele lança sobre Espiritismo e Feminismo. Ele é
um admirador do casal Rivail, de sua forma companheira de viver. No seu texto,
Amélie Boudet tem um papel de frente na elaboração do espiritismo. Ela
secretaria Kardec, revê seus textos, discute com ele. É uma Gabi que justifica
seu papel protagonista após a desencarnação do companheiro. O Espiritismo
Kardequiano é um precursor do feminismo moderno, e sua concepção de mulher na
sociedade é de vanguarda. A concepção de ser humano que reencarna alternando gêneros, é tão revolucionária
quanto a de pessoas que alternam classes sociais, que podem nascer em contextos
muito diferentes do que ora participam.
Uma parte genial do livro é um suposto diálogo feito entre Don Pantaleão, bispo de Barcelona, Allan Kardec e Jean Prieur. Recomendo.
Se você se interessou pelo livro, prepare-se para viajar no tempo e na história. Recolha-se em um cantinho onde possa fazer a leitura sem ser perturbado, para que sua mente possa ir recriando os cenários e situações que o autor resolveu compartilhar conosco. Para aproveitar o livro, faça uma "suspensão de juízo" e beba aos poucos a taça que Jean nos oferece. Deixe a análise e a crítica para depois da degustação.
Ainda não concluí a leitura, mas
não me contive de compartilhar minhas primeiras impressões com o leitor do
Espiritismo Comentado. Não sei como o Alexandre Rocha conseguiu este texto tão
oportuno, e agradeço a ele a leitura heroica, feita em parte dentro das paredes
de um hospital, sob cuidados médicos.
Allan Kardec e sua época
Jean Prieur
Tradução: Irène Gootjes
Revisão: Alexandre Caroli Rocha
366 páginas
Instituto Lachâtre
1a. Edição Brasileira - Setembro de 2015
13.11.15
EM BUSCA DA RECONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA DA ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA CÉLIA XAVIER
Célia Xavier
A Associação Espírita Célia Xavier completa 70 anos de sua criação em dezembro próximo. Como parte das comemorações, uma das ações com que temos contribuído é a recuperação e publicação das memórias da casa. As matérias que ora focam nas instituições, ora em pessoas, tentam fugir da estrutura de necrológios, buscando eventos e situações interessantes, vivências, além das realizações das pessoas e das datas biográficas.
Até o momento já publicamos cinco matérias no Newsletter "Conheça Aqui". Estou deixando no Espiritismo Comentado para os companheiros da casa e para os interessados na trajetória do movimento espírita em Belo Horizonte, sem pretensão de fazer história, os links que possibilitam ler as histórias que selecionamos. Temos mais material que o publicado, mas a forma do veículo de divulgação exige um texto mais curto e objetivo.
Ainda temos mais de uma dezena de artigos a serem publicados, mas, com certeza, não conseguiremos falar de todos e de tudo, por maiores que sejam nossos esforços, por isso peço a compreensão e o apoio dos companheiros da casa, e reafirmo meu empenho pessoal para fazer este trabalho, prometido há mais de vinte anos à Assembleia Geral da Casa, em resposta ao pedido do Dr. Ysnard.
Criação da Associação Espírita Célia Xavier
Casa de Etelvina
Virgílio Pedro de Almeida
José Pedro e Orlanda Xavier
Martins Peralva
Ysnard Machado Ennes
5.11.15
PEDRO, TU ME AMAS?
Vista aérea de Cafarnaum nos dias de hoje. O espaço coberto é considerado ser o local da casa de Pedro e vê-se ao fundo o Mar de Tiberíades, também chamado de Lago de Genesaré.
Há mais de três décadas, no tempo da máquina de escrever,
preparei um estudo sobre Simão Pedro para fazer na sociedade espírita de mesmo
nome em Belo Horizonte. Tendo aceito este ano para falar nas comemorações da
casa espírita em Caeté-MG, combinamos que o mesmo tema seria abordado.
Como se tratava de uma palestra biográfica, que vai seguindo
os episódios que envolvem o apóstolo ao longo da narrativa dos evangelhos e do
livro de atos, aproveitei a oportunidade para revisitar o texto, consultando a
tradução de Haroldo Dutra de “O novo testamento”.
Gostaria de compartilhar com os leitores algumas reflexões
sobre o episódio narrado por João, do encontro de Jesus, após a morte, com
Pedro, em Cafarnaum.
O episódio é bem curioso, e aparenta ser uma espécie de
história contada pelos apóstolos e não um acontecimento real. Uma das razões é
geográfica. Pedro estava em Jerusalém após a crucificação de Jesus. O rabi
retorna da morte e apresenta-se diversas vezes aos apóstolos e a outras
pessoas. De repente, o episódio narrado por João acontece em Cafarnaum, na
Galileia, a mais de cem quilômetros de caminhada da capital da Judeia. Pedro já
está novamente instalado, pescando, com barcos e redes, juntamente com outros
discípulos. Concluído o evangelho de João, temos o livro dos Atos, com Pedro
novamente em Jerusalém, no episódio mediúnico do dia de Pentecostes. Teria ele
se deslocado, mesmo tendo visto Jesus após a morte, no episódio que envolve o
ceticismo de Tomé, e depois voltado novamente a Jerusalém para construir a
primeira comunidade cristã?
O segundo motivo é literário. O episódio soa a história,
porque Jesus aparece novamente aos discípulos, reedita a pesca do dia em que
converteu os primeiros quatro, e reedita a negação de Pedro, após a refeição da
manhã, fazendo-o repetir três vezes uma declaração de amor fraternal. É uma
espécie de texto de regeneração dos apóstolos, e principalmente de Pedro, após os
eventos da crucificação.
O terceiro motivo é hermenêutico. Um episódio tão marcante
deveria aparecer em mais de um evangelho, e encontrei apenas no evangelho de
João, considerado espiritual.
A leitura do texto traduzido por Haroldo é interessante.
Jesus pergunta três vezes a Pedro:
- Simão, [filho de] João, tu me amas mais do que a estes?
Ante as três respostas afirmativas do apóstolo, Jesus faz
três pedidos convergentes, mas diferentes:
- Alimenta meus cordeiros.
- Apascenta minhas ovelhas.
- Alimenta minhas ovelhas.
Alimentar e apascentar são verbos relacionados a cuidados. Apascentar
(e não pacificar), envolve as ações de conduzir e vigiar no pasto, pastorear,
ou como lemos na tradução de Haroldo, “todas as funções do pastor, tais como
guiar, levar ao pasto, nutrir, cuidar, vigiar”.. Alimentar, segundo as notas da
tradução de Haroldo Dutra, pode ser entendido como levar para pastar, oferecer
pasto.
No antigo testamento, o profeta Ezequiel (capítulo 34) diz
ter ouvido de Deus uma profecia contra os pastores de Israel. Com a leitura do
capítulo, percebe-se logo que ele não fala de ovelhas, cordeiros e pastores,
mas do povo e dos sacerdotes. Ele acusa os pastores de comer a gordura,
servir-se da lã e matar o cevado, mas não apascentar o rebanho (v. 3), ou seja,
aproveitarem-se das leis que obrigam o povo de Israel a sustentá-los, mas não
cumprir com o seu trabalho de dar assistência religiosa.
Ezequiel escreve que as ovelhas de Deus passaram a servir de
pasto às feras e foram entregues à rapina. Considerando os sacerdotes ineptos
para cuidar do povo, Ezequiel escreve que o próprio Deus distinguiria a ovelha
gorda da ovelha magra (v. 20) e que Davi se tornaria pastor de Deus e
apascentaria o rebanho (v. 23), ou seja, ele institui um novo cuidador ao mesmo
tempo em que traz de volta a si uma função que era atribuída aos sacerdotes.
A passagem de João parece fazer uma referência ao capítulo
34 de Ezequiel. Pedro é convidado por Jesus a ser o pastor das ovelhas e
cordeiros, ou seja, a executar uma função sacerdotal no lugar dos sacerdotes do
culto judeu.
Tendo ou não acontecido como está escrito, a passagem do
Evangelho de João marca a construção de uma ekklesia
cristã, de caráter religioso e comunitário, o que justifica as descrições da
comunidade de Jerusalém que encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos. Nesta
comunidade não apenas se estudavam os evangelhos, mas também se redistribuíam
alimentos e outros bens entre os que necessitavam. O episódio das viúvas
helenistas e da instituição de diáconos (Atos, capítulo 6) ilustra bem esta
função.
(http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2010/03/judeus-e-helenistas-no-cristianismo.html)
Ouça também a música Pedro, interpretada por Tim e Vanessa. http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2012/03/pedro-interpretado-por-tim-e-vanessa.html
Ouça também a música Pedro, interpretada por Tim e Vanessa. http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2012/03/pedro-interpretado-por-tim-e-vanessa.html
21.10.15
EDSON AUDI DESENCARNA EM AGOSTO
Outubro de 1999. No apagar das luzes do século passado, o amigo Alexandre Rocha pediu que auxiliasse o lançamento de um novo livro da Lachâtre em Belo Horizonte. Era um livro sobre Allan Kardec, e eu pensei: mais um? Será que é mais do mesmo? Pedi, na minha mineirice, um exemplar para avaliar o trabalho, mas recebi por resposta que ele só chegaria no dia do lançamento.
A Lachâtre fez contato com uma livraria de shopping para o lançamento e eu consegui hospedagem na casa de uma grande amiga. Organizamo-nos para o "dia D", e fui à casa anfitriã para ver se estava tudo bem. Minha amiga perguntou-me:
- Você já viu o livro dele?
Eu disse que não, curioso, e Edson mesmo mostrou-me o exemplar.
Confesso que meu mundo caiu. Um livro de texto simples, direto, que ambicionava mostrar o racionalismo de Kardec aos franceses, que ainda têm uma visão do espiritismo construída no palco dos tribunais do século XIX. As imagens eram belíssimas. Fotos em preto-e-branco, entremeadas à narrativa, como se saltassem dela. O papel escolhido cuidadosamente, creio que trazido do exterior, transformando o livro em um daqueles livros de arte, que costumamos comprar aqui em casa só pelo prazer de folhear.
Audi estava tranquilo, mas bem humorado. Contou-me do encontro com Zêus Wantuil, falou-me do espiritismo na França e de sua experiência, explicou-me a sorte que teve ao fotografar o apartamento da Passagem Sainte-Anne, que havia acabado de ser pintado, e hoje está situado em uma parte velha de Paris, habitada por estrangeiros.
Edson estava com uma camiseta de mangas curtas, e comentou sobre isto, sobre como os espíritas podiam se vestir de forma mais moderna...
O lançamento foi trágico. Uma dúzia de pessoas, atraídas por nós e frequentadores do nosso centro espírita apareceram lá. Menos de dez livros vendidos. Levei meu exemplar ao Edson e uma caneta, que ele recusou gentilmente mostrando-me o que usaria para autografar. Era uma caneta com uma tinta cinza, brilhante, que escrevia sobre o preto escuro da primeira página após a capa da bela brochura.
Conversei com o gerente, que me mostrou as propagandas feitas no Estado de Minas. Certamente, não foi uma estratégia muito efetiva. Conversei então com um dirigente do Célia Xavier e com a anfitriã de Edson Audi. Todo estávamos chateados com o desempenho. Então, no meio do espaço reservado para o lançamento, decidimos fazer algo.
Telefonamos para a dirigente da reunião de quinta-feira, que, para nossa alegria, era a Juselma. Ela nos acolheu com gentileza e entusiasmo, cancelou o palestrante do dia seguinte e abriu as portas da reunião para fazermos uma noite de autógrafos no Célia Xavier. Não havia tempo de divulgar, conversamos com o gerente da editora, passamos o endereço e ele levou cerca de quarenta livros para o novo lançamento, do outro lado da cidade.
Pedimos ao Edson que ficasse mais um dia em Belo Horizonte. Ele já tinha comprado passagens para Juiz de Fora e tinha um novo anfitrião esperando por lá.
- Troque, Edson. Avise ao anfitrião. Você não tem compromisso em JF amanhã, não haverá prejuízo.
Ele aceitou.
Na noite seguinte, Juselma nos acolheu com boa-vontade, e brincou:
- Da próxima vez me avisem com alguns dias de antecedência para eu conseguir um coral!
A reunião se desenvolveu. Edson falou do processo de preparar o livro e mostrou o material ao público. Duas ou três pessoas de nosso grupo comentaram a realização. Os quarenta livros foram totalmente vendidos.
Passados 16 anos, encontrei mais uma vez o gerente da livraria. Era mais um lançamento nela. Ele se recordou do acontecido, mas não me reconheceu.
Agora o Edson retornou à pátria espiritual, após enfrentar um câncer, aos 57 anos. Deixou-nos três belos trabalhos de arte e cultura para o movimento espírita. Ainda este mês sairá seu filme sobre Herculano Pires, que nos foi notificado semana passada pela Tatiana Pires, da editora Paideia.
Ele, portanto, continua conosco. E fazendo arte!
16.10.15
ANIMAÇÃO DE "O TRAPEIRO DA RUA NOYERS"
Chrystiann Lavarini nos indicou uma animação feita por Luis Hu Rivas a partir de uma história contada por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns". Ela faz parte de um projeto que é a revista mensal Espiritismo Kids, que pode ser assinada por 66 reais ao ano. Ela é voltada para o público jovem, com metade das publicações dirigida ao público de 6 a 10 anos e a outra metade para crianças de 10 a 14 anos.
Mais informações sobre assinatura podem ser obtidas no blog: http://www.espiritismokids.com/
Veja mais informações sobre a revista no vídeo abaixo.
14.10.15
HERCULANO PIRES E A PARAPSICOLOGIA
Já faz um ano que a Fundação Maria Virgínia e Herculano Pires me convidou para falar do livro de Herculano: Parapsicologia, hoje e amanhã. Fui deixando a publicação para depois, em função de alguns errinhos que cometi na fala, geralmente trocas de nomes. Passado tanto tempo, acho melhor deixar o trabalho ao leitor, que pode ir comentando os equívocos. Peço desculpas antecipadas, porque estava bem febril neste dia.
Agradeço de coração à família de Herculano que me recebeu como se fosse "de casa", aos amigos do CCDPE-ECM que nos auxiliaram durante a estada em São Paulo e a todos os interessados que foram ao evento e fizeram uma bela discussão.
Expresso minha admiração por Herculano Pires, que mesmo sem ser formado na área de parapsicologia ou psicologia, deu mostras de um conhecimento íntimo e de acompanhar o que se publicava na época, apesar de todas as dificuldades de trânsito de informação que existia, então.
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