20.7.17

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE MEDICINA ALTERNATIVA E MEDICINA COMPLEMENTAR?




Ao rever pesquisas em periódicos científicos sobre a temática dos passes para cursos de passes e para o 13º. ENLIHPE, tenho encontrado muitos artigos em revistas de medicina alternativa e complementar (revistas especializadas, com artigos selecionados e verificados por pares).

Em princípio, achei que eram conceitos conhecidos por médicos e desconhecido apenas por mim. Ao inserir aos estudos deste tema nas casas espíritas, comecei a perceber que muitos profissionais da área de saúde têm uma noção do que é medicina alternativa, mas não conhecem o termo medicina complementar.

Aqui vai uma ajuda:

Medicina complementar: um grupo de disciplinas diagnósticas e terapêuticas que são usadas em conjunto com a medicina convencional. Um exemplo de uma terapia complementar é o uso de acupuntura além dos cuidados tradicionais para ajudar a diminuir o desconforto de um paciente após uma cirurgia. ”

Medicina alternativa é usada em substituição da medicina convencional. Um exemplo de uma terapia alternativa é o uso de uma dieta especial para tratar um câncer, em vez de submeter-se a cirurgia, a radiação ou a quimioterapia que tenham sido recomendadas por um médico. ” 

(Disponível em www.medicinenet.com. Acesso em 16 de julho de 2017)

Considerando que a definição acima está correta, não se trata, portanto, de fazer uma lista de práticas que são classificadas como alternativas e outras como complementares. Uma mesma prática pode ser alternativa ou complementar, dependendo da forma como é visto seu uso pelo paciente ou recomendada pelo terapeuta.


Recomendamos que os passes, também chamados por alguns espíritas de fluidoterapia, sejam vistos como uma forma de terapia complementar, que sejam aplicados nos que necessitam deles sem qualquer exigência de abandono de tratamentos convencionais recomendados por médicos devidamente qualificados. 

Também recomendamos que nenhum passista influencie seus pacientes a parar com medicação prescrita por médicos, orientando, no máximo, que procure orientação médica para avaliar se o tratamento deve ou não ser interrompido ou continuado. 


"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto.  Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/ 

Vagas limitadas.

18.7.17

Espiritismo ou espiritismo? (desta vez não vou poder escrever o título todo em maiúsculas, como gosto...)




Acessei o “Manual de Comunicação” da Secretaria de Comunicação do Senado Federal com uma dúvida: os nomes de áreas do conhecimento devem ser escritos em maiúscula ou minúscula?

Há algumas décadas, era consenso que se escrevesse física, psicologia, geologia e outras áreas de conhecimento com inicial maiúscula. Estava disposto no Acordo Ortográfico de 1943. (http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&id=16-49&version=1943Por esta razão, encontramos espiritismo escrito em maiúscula nos livros de Allan Kardec, publicados há anos atrás.

Mais recentemente, meu editor reviu-me um texto e me explicou pacientemente que a língua evoluiu, e que, com a evolução do uso, as áreas de conhecimento são escritas em minúsculas nos principais jornais, revistas e órgãos de comunicação. Como se trata de um costume, e não de um mérito ou demérito, adotei imediatamente.

Como é uma mudança, passei a sofrer o efeito contrário: todos querem me corrigir. Escrevi estatística, e um professor da área pediu que escrevesse com maiúscula. Pedi que um autor mudasse de Física para física, e ele me pediu uma norma por escrito. Espiritismo, então, causa furor.

- “Espiritismo com minúscula? Nunca vi isso!” Ouvi de um amigo.

- “Não posso aceitar que o espiritismo seja escrito com minúscula! Ouvi de um editor de revista.

Eu já me acostumei, e vou levando em frente. No “Espiritismo comentado” o espiritismo será escrito em inicial minúscula ainda que continue batendo maiúsculo no coração.

Mas, terminando a história (e não estória, apesar de já estar dicionarizado também, mas como diacronismo e regionalismo) , no Senado Federal está escrito:

"Atualização (24 de março de 2014): nomes de cursos, disciplinas e áreas do conhecimento, em sentido amplo, passam a ser grafados em iniciais minúsculas"

No manual de redação da Folha de São Paulo:

"disciplinas — Escreva seus nomes sempre com minúscula: direito, medicina, educação física, ciências sociais, filosofia, português, matemática."

No manual de redação da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, de 2008

"ESCREVA COM MINÚSCULA • Nomes de áreas ou disciplinas da ciência: física, medicina, química, sociologia, astronomia, ecologia, ciências humanas, história, paleontologia."


Contudo, observando a lei pedida pelo colega, os comentaristas que li sobre o Novo Acordo Ortográfico são unânimes em dizer que se tornou opcional usar maiúscula ou minúscula no início dos nomes que designam áreas de conhecimento ou domínios de saber, cursos e disciplinas.

15.7.17

COMO FORTALECER UMA ASSOCIAÇÃO.





Há alguns anos o Dr. Ysnard Machado Ennes fez circular um texto com uma ironia fina intitulado “Como destruir uma associação”, de autor desconhecido. 

Ele destacava pequenas omissões, atitudes infantis e outras ações dos membros que acabariam por extinguir a organização que eles próprios criaram.

Em uma atividade de sensibilização dos dirigentes de reuniões mediúnicas na Associação Espírita Célia Xavier, fizemos uma adaptação do texto, invertendo os comentários irônicos para destacar ações que devemos fazer se desejamos que nossos grupos permaneçam.

Vejam como ficou.
  1. Frequente a entidade.
  2. Reconheça as melhoras realizadas e não apenas os defeitos e as limitações.
  3. Aceite incumbências que lhe são confiadas ou encontre pessoas com o perfil de realização necessário.
  4. Dê sua opinião sobre os assuntos e comprometa-se com as soluções aceitas pela direção.
  5. Entenda a dificuldade de se aceitar cargos voluntariamente e aceite se puder.
  6. Compreenda que nem sempre sua opinião prevalecerá em uma discussão
  7. Ajude a direção. Lembre-se que você pode ocupar este lugar um dia, e vai precisar de ajuda.
  8. Compareça às assembleias e reuniões ou faça-se representar.
  9. Responda os questionários, pesquisas e consultas feitas pela direção da associação. Elas visam conhecer a opinião da coletividade para tomar decisões.
  10. Se não concorda com uma decisão da qual não participou, consulte o responsável e esforce-se por entender porque foi tomada.
  11. Leia sempre os boletins e publicações da associação.
  12. Esteja bem informado antes de opinar.
  13. Prepare substitutos para os cargos que ocupa.


O que vocês acham?

13.7.17

PRECE E CURAS ESPIRITUAIS



Não costumamos publicar no Espiritismo Comentado a divulgação de eventos, que ficam para nossos blogs-parceiros Eventos Espíritas e Agenda Espírita Brasil. Como exceção, gostaria de divulgar o 13o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE, que acontecerá na sede da União das Sociedades Espíritas de São Paulo, no último final de semana de agosto.

O encontro da LIHPE é diferente dos eventos formados exclusivamente por expositores convidados. É um evento aberto, no qual os interessados submetem trabalhos que são revistos e selecionados por um comitê formado por membros da LIHPE e convidados com experiência acadêmica, geralmente mestres e doutores em suas respectivas áreas. É, portanto, um evento para quem gosta de estudar o espiritismo, seja espírita ou não. 

Geralmente se assiste expositores que não são conhecidos pelo público em geral, mas que se aprofundaram em um determinado tema. O evento sempre reserva espaço para perguntas e respostas após uma apresentação de trabalhos ou um pequeno conjunto de apresentações. 

As instituições anfitriãs geralmente disponibilizam muitos livros ligados ao tema, novos, e as publicações da LIHPE e do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro. Ano passado tivemos a presença de diversos autores de livros espíritas, que possibilita uma ótima conversa nos intervalos.

O auditório não é grande, deve comportar apenas 150 pessoas, então recomendo a todos que se inscrevam com antecedência. A ficha de inscrição está no site da USE-SP: http://usesp.org.br/13o-enlihpe/

O evento se inicia às 8 horas da manhã do sábado e encerra às 12 horas do domingo.

Abaixo orientação sobre as inscrições:
1.    Recolher a taxa de inscrição no valor de R$ 40,00 (quarenta reais), a ser depositada na conta corrente da USE SP (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo) – Banco: Itaú – Agência: 0725 – C/C: 06890-2 – CNPJ: 43 305 762/0001-09; esta taxa cobrirá custos dos dois cafés da manhã, três coffee-breaks, despesas com materiais de secretaria e de limpeza, não cobrindo despesas com almoços, jantares e transportes.

2.    Após o depósito/transferência da taxa, encaminhar para o e-mail use@usesp.org.br anexando:

A.    Cópia do comprovante de depósito e a
B.    Ficha de Inscrição completamente preenchida.

3.    Após recebimento do e-mail do interessado com as etapas acima efetivadas, será retornado e-mail com confirmação da inscrição




11.7.17

HAROLDO DUTRA ENTREVISTA ALEXANDRE FONSECA







A União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, promoveu um congresso de âmbito estadual, este ano, na cidade de Atibaia-SP. Haroldo Dutra aproveitou para fazer uma entrevista com Alexandre Fonseca, com a participação de Alberto Almeida.

Eles estão conversando sobre física. Alexandre entende que não se deve, por exemplo confundir o conceito kardequiano de fluido com o de energia. Ele argumenta que a pretexto de atualizar Kardec, as pessoas na verdade estão gerando ideias confusas e sem real conexão com a física contemporânea.

Alexandre fala um pouco dos conceitos de matéria, massa, fluido e energia, de matéria escura, da lei de conservação da energia na criação de fótons, da questão da antiguidade ou não de teorias físicas, de como Newton não está ultrapassado (apenas se mostrou que seus princípios não explicam fenômenos do universo subatômico), entre outras questões.

Infelizmente o áudio não está bom, porque apenas Haroldo estava com microfone, então há uma diferença acentuada entre o tom de voz do entrevistador e o dos entrevistados. 

9.7.17

HOMENAGEM AO PARNASO DE ALÉM TÚMULO





A União Espírita Mineira promoveu ontem, em sua Sede Federativa, um evento comemorativo dos 85 anos de publicação de Parnaso de Além Túmulo, o primeiro livro publicado por Chico Xavier.

Falou-se de poesia, do Chico e do livro. Marival Veloso de Matos, 83 anos, ex-presidente da federativa, além de fazer a palestra, declamou de memória partes de "O Livro e a América" de Castro Alves. Como a idade confere experiência e generosidade a alguns, Marival compartilhou a tribuna com um colega advogado, convocado de improviso, que falou sobre o estilo de Augusto dos Anjos, o que fez com clareza e desenvoltura.

Há muitas informações interessantes, como, por exemplo, como foram se fazendo as alterações das ordens dos poemas e de como se inseriram novas poesias no livro. Fiquei curioso para ler a poesia Deus, de Antero de Quental.

A variedade de estilos e poetas no livro impressiona a quem estudou alguma coisa de poesia. Haja vista a fala de Monteiro Lobato:

"Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras."

Ou o depoimento de Raymundo de Magalhães Júnior, da ABL.

"Se Chico Xavier é um embusteiro, é um embusteiro de talento. Sua facilidade de imitar seria um dom especialíssimo, porque ele não imita apenas Antero de Quental, Olavo Bilac e Humberto de Campos, mas Alphonsus de Guimaraes, Artur Azevedo, Antônio Nobre, etc."

E apesar da fala negativa de João Dornas Filho, da ABL, hoje há monografias com texto menos apaixonado, se opondo ao que ele escreveu abaixo:

"Olavo Bilac, um homem que no estágio de imperfeição nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto ditou a Chico Xavier sonetos inteirinhos abaixo dos medíocres."


Voltando a Marival, ele encantou a assistência com sua capacidade de lidar com os improvisos e com seu bom humor. Cantou um pouquinho e declamou uma poesia que escreveu ao Chico Xavier: Cisco de um cisco.

A pesquisa merece ser conferida. Para o leitor que deseja ir direto à palestra, ela inicia-se aos 34 minutos e 25 segundos.

8.7.17

REVUE SPIRITE DE 1917, HÁ CEM ANOS!



Estava procurando um texto na Revista Espírita de 1916-1917 para um colega da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE. Encontrei um texto de capa que relaciona revistas em diversos países do mundo que tratavam na época da Doutrina.

Para minha surpresa, eles conheciam "O Espírita Mineiro" e Belo Horizonte se escrevia Bello-Horizonte. Estávamos no mapa!

Dá para constatar que poucos jornais e revistas conseguiram superar o teste dos cem anos. 

No Brasil, o Reformador cresceu e hoje pode ser assinado digitalmente.

A Light, fundada por Dawson Rogers e Stainton Moses durou apenas até 1941, Mas ela pode ser lida ainda hoje graças a iniciativa de uma Associação Internacional para a Preservação dos Periódicos Espiritualistas e Ocultos.

A revista italiana Luce e Ombra continua sendo editada e mantida pela Fondazione Biblioteca Bozzano de Boni. Vi seu índice, e há muitas contribuições que fogem ao espiritismo hoje, como textos sobre Jung, por exemplo, sem conexão com o pensamento espírita, aparentemente. No número de 2017 há um artigo sobre Símbolo, sonho e mito.

A revista espanhola Luz y Unión, foi fundada em 1900 (Unión Espiritista Kardeciana de Cataluña), tornou-se Luz, Unión y Verdad em 1914 e depois se funde com a revista Los Albores de la Verdad, que era dirigida por Jacinto Esteva Marata, em 1917. A coleção da Biblioteca Nacional de España vai até março de 1919. 

Não tenho informação exata, mas parece que nenhuma das revistas francesas, exceção da própria Revue Spirite, foi continuada até os dias de hoje.

Creio que precisamos de um trabalho de digitalização e disponibilização digital da coleção completa de nossa revista, assim como as demais de outros países, considerando sua continuidade e importância histórica, e o pleno vigor do pensamento espírita na capital mineira.

6.7.17

DEOLINDO AMORIM CONHECE CARLOS IMBASSAHY

Carlos Imbassahy



Quando me reconheci espírita, Carlos Imbassahy já havia desencarnado, mas tive a honra de conhecer Deolindo Amorim. Hoje estava passando os olhos no livro "Ideias e reminiscências espíritas", escrito pelo Deolindo como uma rajada de vento sobre as pessoas que conheceu no movimento espírita. Encontrei, então, o parágrafo em que ele conhece o Bozzano Brasileiro:

Deolindo Amorim

"Lembro-me, com emoção, como se fosse hoje. Estava eu, com alguns companheiros, organizando o I Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas. Fui procurar Carlos Imbassahy para aceitar a incumbência de uma das teses do Congresso. Ainda não o conhecia de perto, e naturalmente esperava encontrar um homem diferente, cerimonioso, um tanto formal ou, talvez, um escritor fechadão, de pouca conversa. Estava na praia. Fiquei esperando. Pouco depois, vinha ele, calmo, de calção de banho, juntamente com Da. Maria, a inseparável esposa, sempre de alma aberta a todos quantos ali chegavam. Imbassahy "desarmou-me" logo, porque me tratou com intimidade, como se já fôssemos velhos conhecidos. Deixou-me à vontade. Insistiu para que almoçasse com ele. Claro que aceitou o convite da Comissão Organizadora do Congresso e apresentou realmente uma tese sobre o Espiritismo e as religiões.

Nunca mais nos separamos. A casa de Imbassahy passou a ser, para mim, mais do que a residência de um amigo, onde eu sempre ficava como se estivesse em minha própria casa. Mais do que tudo isto, a casa de Imbassahy sempre foi, para mim, como tantos e tantos confrades, uma escola, no sentido mais eminente, um templo de bondade. Conversando, brincando ou discutindo em sua casa, a gente estava sempre aprendendo. Aprendia-se Espiritismo, como se aprendia sociabilidade sem máscara nem convencionalismo, como se aprendia o amor do idioma, tanto quanto se aprendia o culto sadio do lado belo da vida e das coisas. Respirava-se ali, naquele recanto de Icaraí, até nas simples brincadeiras e nos trocadilhos, até nos hábitos domésticos e nas conversas informais, um ar de grandeza e dignidade."

Livro: Ideias e reminiscências espíritas
Autor: Deolindo Amorim
Editora: Instituto Maria
Páginas 116-117
s.d.

30.6.17

TEMPO DE REALIZAÇÕES



Léon Denis (Espírita Francês)

Léon Denis foi o discípulo fiel de Allan Kardec, que deu continuidade à doutrina sem aproximá-la a qualquer orientalismo ou pensamento místico. Em 1900 ele foi presidente do Congresso Espírita e Espiritualista da França, trazendo pessoas de diferentes pontos do mundo.

Desse congresso escolho dois eventos para recordarmos. O primeiro vem da crítica de alguns participantes famosos que desejavam reduzir o espiritismo às estreitas contribuições da ciência empírica, baseada pelos fenômenos. Denis assim se posicionou:

“O que caracteriza hoje o Espiritismo é a manutenção dos princípios codificados por Allan Kardec e seu constante desenvolvimento pelos métodos experimentais. Entretanto, para nós o Espiritismo não está todo em Kardec; o Espiritismo é uma doutrina universal e eterna, que foi proclamada por todas as grandes vozes do passado, em todos os pontos da Terra e que o será por todas as grandes vozes do porvir. ” (Gaston Luce)

Angel Aguarod

O segundo evento curioso, é que neste ano ele recebeu Angel Aguarod e Esteva Marata, ansiosos por conhecer a pátria de Kardec. Eles foram ao cemitério do Père Lachaise e a um centro de reunião dos espíritas em Paris, mas como ele mesmo disse “Os espíritas parisienses eram pobres”. Depois de muita pesquisa eles encontraram uma construção de tábuas que talvez houvesse sido uma estrebaria, o que foi para estes delegados uma grande decepção.

Camille Flammarion

Passado um quarto de século, Denis estava cego e doente. Foi convidado para ser presidente do congresso, mas inicialmente declinou. Um espírito o questionou em uma reunião mediúnica, por que ele não aceitou o convite, ao que, após queixar-se do “fardo de suas enfermidades”, explicou

- Flammarion me substituirá muito bem!

O espírito lhe respondeu diretamente:

- Flammarion não estará lá.

E, de fato, Flammarion desencarnou em junho de 1925, três meses antes do congresso.

No discurso de encerramento do congresso de 1925, ele contou a memória da visita de Aguarod e de Marata, para dizer que o espiritismo parisiense e mundial, passados 25 anos, agora contava com a Casa dos Espíritos e o Instituto Metapsíquico Internacional, cujos imóveis foram comprados por Jean Meyer e as organizações pensadas pelo mesmo mecenas.




Luz y Union - Revista dirigida por Jacinto Esteva Marata

Passou-se quase um século, e o espiritismo espalhou-se pelo mundo, com um grande movimento no Brasil. As casas em Belo Horizonte se contam às centenas, os livros obtidos pela mediunidade aos milhares, como previu o autor de “No invisível”. Contudo, ao nos reunirmos, é fundamental perguntarmo-nos como Denis: qual é a nossa “construção de tábuas” contemporânea que precisa ser transformada em imóvel? Que trabalho nos cabe fazer nos próximos 25 anos, para que o movimento da capital mineira tenha um ganho de qualidade?


Com certeza, se estiver no plano espiritual, o discípulo fiel de Kardec estará nos acompanhando, pronto a observar nossas decisões e desejoso de ter mais uma história de sucesso para contar no futuro, nos encontros de espíritas que transpuseram os umbrais da morte do corpo.

(Texto publicado no periódico Ame Mais no. 61, pág. 5)

21.6.17

UM NOVO VELHO GRANDE LIVRO




Tenho comentado sempre os livros psicografados por Dolores Bacelar aqui no Espiritismo Comentado. Ao realizar a busca abaixo eu mesmo me surpreendi com a quantidade de livros dela já discutidos neste blog.



Para minha satisfação, a editora Correio Fraterno, que tem publicado a médium, acaba de lançar o livro "Mesopotâmia: luz na noite do tempo", do Espírito Josepho, que compreende os livros que antes foram publicados na série "Às Margens do Eufrates".

Com 728 páginas, tenho certeza que o leitor irá ficar preso na narrativa, imaginando a época e os personagens. Flávio Josefo é o nome de um historiador judeu-romano, cujos documentos chegaram aos dias de hoje e que relata, entre outras coisas, da época de Jesus. Já me questionei em outro post se o autor espiritual seria ou não o historiador, mas esta é uma questão sem resposta.

O livro se ambienta muito antes e tem por foco as culturas persa antiga e assíria, dentro da corte de Sargon II, filho de Salmanazar. Não conheço praticamente nada além das aulas de história no ensino fundamental sobre este povo e época, e da crueldade dos Assírios, que se transformaram em um povo guerreiro e conquistador, mas o autor espiritual faz muitas descrições em sua história, que bem poderia ser estudada por um profissional, separando a ficção da realidade.

A mediunidade de Dolores é responsável por textos que tratam de culturas muito diferentes da nossa, como é o caso dos livros do Jardineiro, que segundo Divaldo Franco, seria o nobel indiano de literatura Rabindranath Tagore (1913). 

Nunca estudei literatura, mas considero o texto psicografado por Dolores Bacelar muito rico e variado, ao contrário de outros autores que já li. Seria fruto de psicografia mecânica? Faltam biografias sobre a autora, que sempre foi muito avessa à publicidade pessoal.

10.6.17

UM LIVRO QUE EXPLICA O QUE ACONTECE NOS CENTROS ESPÍRITAS DURANTE OS TRABALHOS MEDIÚNICOS



Há mais de trinta anos estudamos obras espíritas relacionadas à mediunidade em nossa reunião mediúnica dos sábados. Dividimos entre nós o livro em capítulos ou grupos de páginas e um membro do grupo estuda e apresenta o texto da noite oralmente, às vezes intercalando leitura com exposição. Já lemos muitos e muitos livros, uma vez que meia hora por semana em décadas torna-se um tempo muito extenso.

Quando o livro está por terminar, começam as sugestões para o novo livro a ser estudado, e os membros fazem sugestões e indicações, ficando escolhido o livro mais votado.

Estamos estudando agora o livro "Dimensões Espirituais do Centro Espírita", da mineira Suely Caldas Schubert. Tem sido uma boa surpresa, porque a autora escreve com uma linguagem simples e direta, muito próxima da nossa linguagem oral, embora escrita no português culto. 

Conheci a Suely há muitos anos, na década de 80, em um seminário sobre mediunidade organizado na União Espírita Mineira, pela nossa amiga, hoje desencarnada, Telma Núbia (perdoem-me os outros organizadores). Suely conhecia com detalhes a obra de André Luiz, e sempre provocava positivamente a plateia com perguntas sobre o conteúdo dos livros, que quase nunca eram bem respondidas.

Neste livro, o pensamento dos espíritos que se comunicaram através de Chico Xavier (principalmente André Luiz), juntamente com os de Divaldo Franco e Yvonne Pereira são reescritos, ilustrando os temas abordados. É, portanto, um livro de estudos, no qual os temas e suas ilustrações são cuidadosamente recontadas a partir de livros de grandes médiuns brasileiros.

Ainda não concluímos os estudos, mas recomendo a leitura aos interessados em conhecer como os espíritos atuam em um centro espírita, em diversas atividades aí realizadas, durante as reuniões mediúnicas, e em processos desobsessivos. Estou seguro que o leitor, vencida a resistência das primeiras páginas, irá se encantar com a narrativa comentada e não mais desejará interromper a leitura.

6.6.17

JORGE ANDREA SE FOI...




Há alguns meses recebi a notícia da desencarnação do psiquiatra, autor e expositor espírita Jorge Andréa dos Santos. Jorge Andréa esteve conosco, em Belo Horizonte, nos anos 80 e 90. Suas palestras e seminários eram sempre bem humorados, e ele expunha com muita clareza as suas ideias.

Andréa tinha alguns temas centrais em seu trabalho, como a sexualidade, a evolução e a fronteira entre psiquiatria/psicologia e espiritismo.

No seu trabalho sobre evolução ele desenvolveu um esquema muito didático que se iniciava com o encontro de duas retas no espaço, marcando a criação do princípio inteligente. Ele articula nesta sua imagem a evolução, o livre-arbítrio e o determinismo, com algumas funções psicológicas como o instinto, a razão e a intuição. Andréa faz propostas inusitadas como a da superintuição (que seria uma função psicológica de seres perfeitos, apenas esboçada pelo autor).

Ele era marcado pelo imenso bom humor. Contava suas histórias pessoais com a mesma simpatia que apresentava conceitos filosóficos de autores como Spinoza. Creio que não há ninguém do nosso grupo que esteve em seus trabalhos que não tenha um sentimento de afeição por ele.


Após o seminário de evolução, nossa livraria obteve os livros dele, publicado ainda pela Editora Fon Fon e Seleta (imagino que uma publicação pessoal) e vez por outra o esquema abaixo era escrito no quadro negro das reuniões públicas.



A Agenda Espírita Brasil publicou uma entrevista muito curiosa com Andrea, feita pelo jornalista André Trigueiro, organizada pelo Instituto de Cultura Espírita do Brasil - ICEB, um ano antes de sua desencarnação, nas comemorações dos seus cem anos de idade. Ciência no movimento espírita, experiências com índios, seus livros, sua família, a sociedade atual, o relacionamento, Divaldo Franco, Carlos Pastorino, são alguns dos assuntos que ele trata ao longo da sua prosa.

Agradeço a ele a disposição de ter estado conosco, expondo por muitas horas a fio, em seminários no Hospital André Luiz e na Associação Espírita Célia Xavier, deixando em casa sua família, sua vida pessoal. A voz clara, os pensamentos bem articulados aos cem anos de idade, impressionam muito! 


31.5.17

OS ENLIHPES NO YOUTUBE


Logo antiga da LIHPE

Você tem uma Smart TV em casa? Aquela que acessa a internet? Então tenho uma notícia muito boa para você. Você pode assistir a todas as palestras feitas nos Encontros Nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, assentado confortavelmente no seu sofá.

Nosso amigo Maurício Brandão, do portal Espiritualidade e Sociedade, tem gravado e publicado no Youtube todos os encontros nacionais da LIHPE, voluntariamente, o que nunca agradeceremos o suficiente.

Basta acessar o youtube (alguns televisores têm no controle remoto), em outros você acessa o Google e digita Youtube. Na parte superior da página, há uma janela para procura dos vídeos, basta escrever a palavra ENLIHPE e clicar na lupa, que é o botão de procura, ou no ENTER, do teclado na tela da televisão. Estou falando da TV, mas você pode assistir também no monitor do seu computador, no seu IPAD e até no seu Smartphone (telefone celular).


Logo do 9o. ENLIHPE

Vão aparecer diversos vídeos. Veja alguns dos temas que encontrei fazendo isto:

- Cristianismo nos primeiros séculos - Jáder Sampaio
- O que é pesquisar cientificamente a reencarnação? - Raphael Cassseb
- A terra da promessa (lançamento de livro) - Ada May
- O que é pesquisar a sobrevivência? - Sílvio Chibeni
- Alguns princípios espíritas antes de Sócrates - Luiz Fernando
- Relaxamento, imagens mentais e espiritualidade - Ana Catarina Elias
- Cálculo de tempo médio entre reencarnações sucessivas - Ademir Xavier
- Análise dos conceitos científicos de "A Grande Síntese" - Alexandre Fonseca
- A importância do planejamento para as instituições espíritas - José Lourenço
- Análise da teoria corpuscular do espírito e psi quântico - Alexandre Fonseca
- Geografia(s) do mundo espiritual - Christian Lavarini
- Hermínio Miranda: pesquisador espírita sobre a reencarnação - Adilson Assis
- José Herculano Pires e o debate filosófico - Tiago de Lima Castro
- Uma leitura espírita do Íon de Platão - Adilson Assis
- Em nome de Kardec (lançamento de livro) - Adriano Calsone
- Planejamento estratégico em centros espíritas - Marco Milani
- Análise do conteúdo da literatura mediúnica - Washington Fernandes
- A reencarnação: um estudo da ética espírita - Felipe Ribeiro e Sara Mandai
- Ação assistencial espírita: um estudo de Santa Catarina - Pedro Simões
- Síntese dos trabalhos de Antônia Mills sobre Reencarnação - Marco Milani
- O pensamento de Ian Stevenson e o estudo da reencarnação - Janaíne Oliveira
- Evidências biológicas da Reencarnação - Janaíne Oliveira
- Kardec e o desenvolvimento de um programa de pesquisas - Alexander Moreira-Almeida
- Voluntariado em uma instituição espírita - Yuri Gaspar
- Análise semiótica sobre Américo Vespúcio e Wilbur Wright - Sady de Souza
- Tem espíritos no banheiro? (lançamento de livro) - Tatiana Benites
- O espiritismo em Uberaba - Anna Lídia Gomes
- Vade Mecum - Luiz Pessoa Guimarães
- A pedagogia espírita em ambientes não escolares - Adriano Marthi
- Ser voluntário, ser realizado (lançamento de livro) - Yuri Elias Gaspar
- A sociedade parisiense de estudos espíritas - Marco Milani
- A negação do neovitalismo em Claude Bernard - Paulo Henrique Figueiredo
- Homenagem a Hermínio Miranda - Alexandre Rocha
- Allan Kardec, a ciência e o racismo - Adolfo Mendonça Júnior

E muitos, mas muitos mais.

Quando vejo que boa parte destes trabalhos foi iniciada em ambiente acadêmico, que muitos dos expositores usam seus conhecimentos adquiridos na Universidade para tratar do espiritismo, acho que a missão dos ENLIHPEs e seu impacto ainda está por ser avaliado. 

Alguns autores são autoridades em suas áreas de pesquisa e praticamente desconhecidos pelo movimento espírita, por não serem expositores de renome.

A maioria dos trabalhos tem apenas 20 minutos de apresentação, as conferências são maiores que uma hora. Quem quiser assistir agora clique no link: https://www.youtube.com/results?q=enlihpe&sp=SADqAwA%253D



Fique ligado. Vem aí o 13o. ENLIHPE




27.5.17

CONHECENDO A FORMAÇÃO DO TRABALHADOR DO GRUPO SCHEILLA EM BELO HORIZONTE-MG




Este mês, tive o prazer de apresentar um estudo sobre a classificação da mediunidade no Grupo de Fraternidade Irmã Scheilla (GFEIS), no bairro da Floresta, em Belo Horizonte.

O GFEIS tem uma experiência de décadas com a formação dos interessados no conhecimento da Doutrina Espírita. Eles não adotaram os trabalhos de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE, publicado pela FEB, mas têm um sistema de estudos em módulos, que é fruto do desenvolvimento de uma proposta de formação que foi primeiramente implantada na União Espírita Mineira (UEM) na década de 1970, salvo engano.

O módulo I trata de temas doutrinários, e apresenta 41 assuntos ligados ao pensamento kardequiano, que dão uma visão geral do que foi desenvolvido em "O livro dos espíritos". Cada assunto tem uma sugestão de objetivos, itens e bibliografia a serem desenvolvidos e/ou utilizados pelos expositores que participam deste trabalho. Ele pode ser acessado neste link: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/acontece/2011/modulo1_caderno.pdf

O módulo 2 é uma seleção de temas sobre o evangelho e o cristianismo. Tem uma grande influência de "O evangelho segundo o espiritismo", de Kardec, mas como o módulo 1, encontra-se uma lista de fontes bibliográficas que vão dos livros do mestre francês até as chamadas "obras subsidiárias" contemporâneas, para o expositor preparar seu trabalho.  Há livros polêmicos, como o do roustainguista Antônio Luiz Sayão, mas eles não constituem escola ou ênfase na programação.

Encontrei uma programação antiga (2008) no seguinte link: http://gruposcheilla.org.br/pages/acesso/gerais/edu/programacao_mod2_2008.pdf

O módulo 3 trata da mediunidade, e tem temas de "O livro dos médiuns", de Kardec, mesclados com alguns temas desenvolvidos pelo espírito André Luiz pela psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira. Alguns temas (como o neologismo "vibracional"), ligados ao cotidiano da reunião mediúnica foram introduzidos com o passar do tempo ao programa original. A bibliografia sugerida também articula Kardec aos autores contemporâneos.

Encontrei uma programação de 2009 em: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/modulo3.pdf

Posteriormente foi incluído um módulo IV, intitulado "O trabalhador espírita em ação", que trata das atividades da casa espírita. Reuniões públicas, evangelização no lar, formação de evangelizadores, integração fraterna, assistência social espírita, ação mediúnica e passes são os núcleos deste ciclo de estudos. 

Cada uma destas atividades é composta por diversas aulas, embora se trate de uma abordagem introdutória. As fontes bibliográficas são variadas, algumas polêmicas. No módulo de evangelização infantil, senti falta de fontes específicas sobre o trabalho do evangelizador. Ao longo do módulo, que é opcional, os participantes têm uma visão de todo das atividades do grupo, dos estatutos e da estrutura do movimento da fraternidade, chegando até mesmo a um pouco de história.


Uma leitura dos estatutos e regimentos mostra que os módulos 1, 2 e 3 são necessários para ser participante de reuniões mediúnicas e de passes, por exemplo. Cada atividade tem seu regimento que dispõe os critérios de participação, de coordenação e uma descrição do funcionamento, assim como situações que são vetadas. Estatuto e regimentos podem ser acessados publicamente a partir da página inicial: http://www.gruposcheilla.org.br/pages/acesso/ogrupo.html

A gestão do GFEIS proporciona aos seus participantes, pelo menos uma visão geral do espiritismo e dos autores espíritas, e ao mesmo tempo, exige deles esta formação mínima para participar de atividades que não poderiam ser realizadas apenas com boa vontade. Creio que décadas após a implantação deste projeto, a casa conta com um grupo de trabalhadores não apenas com uma visão doutrinária, mas também com uma visão do funcionamento da casa, das regras decididas ao longo do tempo por suas assembleias e direções, e do movimento espírita, em que pese a ênfase no movimento da fraternidade nos documentos que li e uma pequena citação da FEB e do movimento espírita federativo. Cabe deixar claro que o movimento da fraternidade é uma organização de grupos espíritas dentro do movimento espírita e não um movimento paralelo, pelo que se pode entender da leitura de seus documentos.


22.5.17

PSICOPATIA E DEVER DOS PAIS



Acabo de ler o livro "Mentes Perigosas", da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e me ocorreram muitos pensamentos entre o espiritismo e o conteúdo do livro.

Minha colega-psi trata com clareza e simplicidade um tema que era muito pouco ensinado quando fiz minha formação de psicologia: a psicopatia. Ela evitou as discussões conceituais (sociopatia, etc.) e focalizou-se no entendimento das pessoas que não conseguem estabelecer vínculos de afeto com ou outros, que se relacionam com as outras pessoas como se fossem "coisas, alvos, objetos, objetivos, etc." 

Na explicação da psiquiatra, é possível que haja uma base orgânica para este transtorno. Certas áreas do cérebro, normalmente excitadas ante imagens de violência pela maioria das pessoas aos olhos de um exame de imagem (ressonância magnética), por exemplo,  não apresentam o mesmo grau de respostas quando pessoas sabidamente psicopatas são submetidas ao mesmo estímulo.

Deu inúmeros exemplos da sua clínica pessoal (evitando identificações, claro) e de casos que foram à mídia (evitando afirmações contundentes). Mostrou pessoas que em um grau menor (psicopatia leve) a um grau maior (psicopatia grave) são capazes de explorar o próximo, roubá-lo, fazê-lo sofrer e até torturá-lo, manipular pessoas em organizações, só para o seu prazer pessoal ou sua ascensão, sem qualquer sentimento de culpa, sem hesitações de origem ética ou preocupações, mesmo que suas vítimas sejam pais, mães, irmãos ou filhos.

Aceita a tese central da autora, alguns pontos merecem ser pensados à luz do espiritismo. Um deles é o da responsabilidade dos pais. Em "O evangelho segundo o espiritismo", muitos expositores destacam e focam a frase do texto de Santo Agostinho "Que fizestes do filho confiado à vossa guarda!", mas se esquecem de um parágrafo mais à frente que diz;

"Quando os pais hão feito tudo o que devem pelo adiantamento moral de seus filhos, se não alcançam êxito, não têm que inculpar-se a si mesmos e podem conservar tranquila a consciência. À amargura, muito natural que então lhes advém da improdutividade dos seus esforços, Deus reserva grande e imensa consolação, na certeza de que se trata apenas de um retardamento, que concedido lhes será concluir noutra existência a obra agora começada e que um dia o filho ingrato os recompensará com seu amor."

A psiquiatra narra histórias de pais e cônjuges que se recusam a aceitar que seus afetos não são não apenas incapazes de lhes corresponder o vínculo, como são capazes de prejudicá-los. No caso dos pais, há quem fique se culpando eternamente pelos erros que os filhos cometem, e alguns clientes levam anos para aceitar que seus filhos não são capazes, nesta encarnação de lhes corresponder as expectativas de honradez.

Neste caso, é preciso superar a culpa para agir de forma a proteger-se e a proteger outras pessoas que se consideram amigos do filho psicopata (só se usa esta categoria clínica para adultos).

Achei interessante que Santo Agostinho reconhece que a regeneração de um psicopata (embora não use este conceito), só poderá se dar no futuro, em outra encarnação. 

Outro ponto importante que a psiquiatra destaca, é que o ambiente pode afetar o desenvolvimento da psicopatia, ou seja, embora não seja possível transformar totalmente um psicopata adulto, se ele for criado em um ambiente não permissivo, poderá não cometer atos graves. Está bem de acordo com nosso compromisso com os filhos, de pai e mãe, e da importância de ensinar valores, respeito, e submissão à lei e às normas devidamente estabelecidas pelas instituições justas.

Por fim, recordei-me muito dos casos de psicopatia apresentados pela literatura espírita, como o obsessor Gregório, do livro Libertação. O que foi capaz de promover mudança em um espírito endurecido no mal, após diversas encarnações, foi a experiência do amor que ele trazia lá no fundo de sua alma. Mesmo que não consigamos nada em uma encarnação, tratar filhos pequenos com tendências psicopatas com afeto pode ser um "gatilho" para o futuro, mas dentro das perspectivas do "amor exigente" que não fecha olhos para os deveres deles.

16.5.17

ESTUDO SEM CONTEÚDO

Raul Teixeira, expositor e médium espírita


Uma de minhas grandes influências na formação como espírita foi o professor Raul Teixeira. Eu o conheci ainda na adolescência e pelo menos uma vez ao ano ele vinha em nossa casa. Físico, com um conhecimento amplo das obras de Kardec, dos clássicos, das obras complementares e de autores encarnados, como Carlos Imbassahy e Deolindo Amorim, que ele conheceu, Raul era um misto de orador e professor, sempre trazendo conteúdo com um raciocínio claro e direto.

Raul sempre exprimia, de forma clara, a posição doutrinária e a sua interpretação em suas exposições, e cobrava de nós a precisão do que falávamos. Certa vez ele perguntou quem era Andrew Jackson Davis ao público, e como ninguém respondesse, eu arrisquei:

- Médium norte-americano do século XIX, considerado o profeta da terceira revelação, autor de Penetrália e outros livros.

Ele anuiu, mas corrigiu:

- Terceira revelação fica por conta do Jáder, ele é considerado profeta da nova revelação.

Ele tinha razão. A ideia de três revelações está em Allan Kardec, e não era empregada (talvez por desconhecimento mesmo) pelos autores ligados ao espiritualismo moderno, de onde se origina Davis.

Ao contrário do que se pode pensar, suas exposições não eram excessivamente eruditas. Penso que ele se preocupava em falar para o grande público, embora sempre trouxesse alguma coisa nova, fruto de sua pesquisa pessoal, muitas vezes embaladas com sua grande capacidade narrativa.

Posteriormente estudei didática do ensino superior, com o professor Florêncio, da Universidade de Brasília, e ele nos explicou o método indutivo na educação, que é amplamente utilizado no movimento espírita, como uma espécie de provocação para que os alunos pensem e não percam a linha de raciocínio do professor, que apenas expõe. É algo que se deve fazer com critério, porque se pode consumir muito tempo, e sacrificar o conteúdo das aulas.

Sócrates usava deste recurso, pelo que lemos nos textos de seus discípulos, e o chamava de maiêutica, como comparação ao trabalho de sua mãe, que era parteira. Na maiêutica, acredita-se que os alunos conhecem a verdade (episteme), então o professor faz perguntas, geralmente criticando e apontando os pontos obscuros de sua argumentação, até que o aluno chegue à verdade (e não à sua verdade, como diz o Houaiss). Os gregos influenciados pelo pensamento socrático entendiam que mais que uma opinião (doxa), o conhecimento (episteme) deveria ser verdadeiro e justificado.

Sócrates se opunha aos sofistas, que ensinavam retórica, no sentido de ser capaz de convencer os outros de seu ponto de vista, sem se preocupar com a verdade, mas apenas com a imposição de seu ponto de vista. Isto está bem atual em nosso país. Os sofistas eram muito valorizados pelos pais que desejavam que os filhos fossem importantes, em uma sociedade na qual os cidadãos decidiam o que fazer na cidade (polis) de forma democrática.

Vimos acompanhando ao longo dos anos um uso indevido do método indutivo, nas casas espíritas, e, talvez nas mocidades espíritas. Não sei dizer se se deve a um uso indevido do construtivismo, no qual se valoriza a obtenção do conhecimento (episteme) pelos alunos, sem dependerem exclusivamente da exposição dos professores, e utilizando de sua capacidade de pesquisa e obtenção de informação, que está bastante multiplicada pelas novas mídias e tecnologias.

O abuso chegou ao ponto de um expositor apenas perguntar, inúmeras vezes, questões diferentes, sem nada concluir. O argumento que ouvi é que se deixa a cada um o trabalho de responder, subjetivamente, as questões que são levantadas. Sessenta ou noventa minutos, com dezenas de perguntas sem resposta. Na minha ótica, voltamos ao mundo da opinião (doxa) e abandonamos o conhecimento (episteme).

Quando penso em um programa de estudos todo baseado nesta forma de ensino-aprendizagem, preocupa-me que o pensamento de Kardec, por exemplo, que usava do recurso de perguntas e respostas para que um texto complexo se tornasse mais claro, se transforme em uma grande confusão, já que cada um conclui à sua maneira, sem as devidas informações.


Penso que os jovens devem realmente usar de diversas formas de ensino-aprendizado, até mesmo usando das artes e de outros recursos para que suas reuniões sejam mais agradáveis e prazerosas, mas sem abandonar sua finalidade principal, que é o acesso ao conhecimento espírita.