O tema do 13o. Encontro Nacional da
Liga de Pesquisadores do Espiritismo – ENLIHPE é “Prece e Curas Espirituais”.
Um dos objetivos desse evento é apresentar trabalhos científicos ou acadêmicos
relacionados a temas espíritas, o que o distingue de eventos voltados a
divulgar essencialmente o conteúdo de livros espíritas, e que já existem aos
milhares em nosso país. Esses trabalhos não são necessariamente escritos por
espíritas, por esse motivo, a LIHPE está aberta a quem se interesse pela temática
espírita.
Com matérias como esta, pretendo,
antes do evento, publicar alguns artigos de divulgação de pesquisas sobre o
tema e facilitar seu acesso aos futuros participantes e interessados.
Uma das linhas de pesquisa que já
tem alguma produção é a de “passes espíritas” e saúde mental, que tem sido
estudada dentro da área de “Terapias Complementares”. O primeiro artigo que escolhi intitula-se
“Effect of the Spiritist “passe” energy therapy in reducing anxiety in
volunteers: a randomized controlled trial”. (Traduzindo, seria algo
como, “Efeito da terapia energética do passe espírita na redução de ansiedade
em voluntários: um ensaio controlado aleatório). Foi escrito por pesquisadores
da Universidade Estadual Paulista, UNESP, e pode ser acessado a partir do
endereço do DOI http://dx.doi.org/10.1016/j.ctim.2016.05.002
Os autores são Ricardo S.
Cavalcante, Vanessa B. Banin, Niura A.M.R. Paula, Solange R. Daher, Marta C. Habermman,
Francisco Habermann, Ariane M. Bravin, Carlos E. C. Silva e Luiz Gustavo M.
Andrade, todos de departamentos da Faculdade de Medicina da Unesp.
Trata-se de uma pesquisa,
aprovada e registrada pelo comitê de ética da instituição, que estudou 60
voluntários, avaliados como apresentando ansiedade e/ou depressão acima da
média brasileira. Eles foram agrupados em dois grupos, um que seria submetido
ao passe (grupo experimental) e outro que participaria de sessão no mesmo
local, mas com passistas que não se concentrariam na melhora do paciente (irradiação), nem fariam
oração (grupo controle).
Os passistas fazem parte de
Centro Espírita afiliado à Federação Espírita do Estado de São Paulo – FEESP. A
técnica de passe é simples, e basicamente consiste na imposição de mãos a 10-15
centímetros de distância do corpo, sem toques e a movimentação longitudinal das
mãos, da cabeça às pernas, com um movimento semi-circular. Os passes duram
cerca de 5 minutos, mas os participantes
vêm de uma sessão de relaxamento de cerca de 30 minutos, com música clássica suave.
Os passistas concentram seus pensamentos no tratamento do paciente, enquanto
que os falsos passistas, do grupo de controle, não o fazem.
Pacientes do grupo experimental e
do grupo-controle fizeram oito sessões em oito semanas. Após as sessões tiveram
sua ansiedade, depressão reavaliados. Foi comparada a qualidade de vida dos
participantes entre os grupos. A pesquisa foi realizada entre junho de 2014 e
outubro de 2015.
Resultados
Os dois grupos são compostos de
pessoas com idade média próxima (GE = 44 e GC = 47), predominantemente
femininos (GE = 70% e GC = 83%) e de religião predominantemente católica (GE =
62% e GC = 61%) e em segundo lugar espírita (GE = 31% e GC = 30%).
Na comparação entre grupos, a
ansiedade média foi avaliada como menor nos dois grupos, mas o grupo com
passistas teve redução mais significativa. A probabilidade de erro da diferença
obtida entre os grupos é menor que 1,7%, ou seja, mesmo com a amostra pequena,
é relevante. Em outras palavras a
ansiedade reduziu nos dois grupos, mas reduziu mais no grupo dos passistas “verdadeiros”.
O decréscimo da depressão média
aconteceu nos dois grupos (a probabilidade do erro da diferença é de 0,001%), e,
apesar das médias do grupo tratado por passistas ser menor que a do grupo tratado por
falsos passistas, não houve diferença
significativa entre eles.
Não compreendi bem os resultados
apresentados de qualidade de vida. Nos gráficos há melhoras nos quatro domínios
estudados (físico, psicológico, social e ambiente), mas os intervalos de
confiança se interpõem, o que normalmente significa que as melhoras não são
diferentes entre os grupos. Concluindo, a qualidade de vida teria melhorado
para os dois grupos (tratados com relaxamento e passe e tratados com relaxamento
e falso passe). No texto, contudo, os autores afirmam existir diferenças em
alguns domínios. Uma tabela com valores de probabilidade teria deixado mais
claras estas afirmações.
Nas discussões de resultados os
autores explicam que houve uma a melhora de ansiedade da ordem de 83%, e que os
participantes não tomaram nenhum tipo de medicamento para este transtorno
mental. Os sintomas de depressão também reduziram. A conclusão geral dos
autores é que “os sintomas de ansiedade
e depressão foram reduzidos e a qualidade de vida melhorou no grupo experimental.”
Os autores entendem que uma das
limitações do estudo é que exige passistas com treinamento especializado, e que
os resultados obtidos foram com apenas dois passistas, com cinco anos de
experiência e que outros resultados poderiam ter advindo se houvessem estudado
passistas menos experientes. Eles reconhecem que o estudo foi feito com
pequenas amostras e o consideram como um estudo piloto.
"Prece e curas espirituais" é o tema central do 13o. Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Inscrições abertas em http://usesp.org.br/13o-enlihpe/