29.4.08

Novo Céu e Nova Terra


A primeira vez que conversei sobre Nina Arueira, foi com a Dra. Ângela, da Fundação Getúlio Vargas. Eu havia apresentado um trabalho sobre construção de arquivos históricos espíritas, com a colega Míriam Hermeto, em um evento de História Oral. O nome não me era estranho, vinha à mente a psicografia do Chico e alguma obra social que levava o nome da "pequenina".
Depois, em conversa com o Alexandre Rocha, fiquei conhecendo rapidamente a vida, os amores e o pós-vida de Nina e Clóvis Tavares.
A história de Nina virou dissertação de mestrado, e como todo trabalho acadêmico é seminal, incentivou o Flávio Mussa Tavares, alma amiga a quem conheço apenas pela internet, a escrever mais do mesmo, talvez com uma outra visão.
O estilo do Flávio é delicioso. Uma vez iniciada a história que ele conta, não se tem vontade de parar.
É a história de uma jovem brilhante, que na flor da adolescência conhece o amor, a teosofia e a militância socialista. Longe de ser ambígua, ela constrói uma síntese pessoal, humanista, e se lança ainda na flor da idade a reconstruir a terra, através da escrita, das incursões no campo, da organização dos pobres. Como a maioria dos jovens honestos, ela é puro ideal, quase inconsequente, ovelha enviada em meio aos lobos.
Flávio enfatiza este lado das muitas Ninas, o lado que sua família e seus amigos de Campos conheceram, a jovem admirada por sua inteligência, por seu verbo, por seu coração, estas coisas que os advogados da "realidade" teimam em condenar, não importa sua orientação político-econômica.
Após o resumo biográfico que corre célere aos olhos do leitor, vêm os textos escritos por Nina encarnada. Ela realmente merece ser admirada pela sua ilustração, seu tirocínio, sua habilidade com as letras, sua tenacidade e seu destemor adolescente. Temas como a pobreza, o conformismo, a reforma da educação, Deus, o amor, o dinheiro, o utilitarismo e os céus preenchem sua poesia e sua prosa.
Na penúltima parte do livro, Flávio selecionou psicografias de Chico Xavier atribuídas a Nina. Certamente, o conteúdo mudou. Nina está mais cristã, mais evangélica, menos militante socialista, mas ainda militante humanista.
Penso que a militância socialista não deve perdoar esta mudança e considerá-la mito. Ameaça muito aceitar que uma de suas pérolas tenha revisto suas idéias ao se colocar de pé, ao lado do corpo frio e visualizar um novo céu, uma nova realidade. Será possível ser exatamente o mesmo após a experiência da morte? Penso que não. O lado humanista-cristão de Nina cresceu e floresceu.
Chamou-me a atenção as poesias ditadas por Nina a Chico. Nelas encontro mais proximidade do estilo que a pequenina utilizava quando encarnada.
A última parte do livro são poesias dedicadas a Nina Arueira, de espíritos, ora encarnados, ora desencarnados.
Cabe ainda uma palavra sobre a apresentação de Virgílio de Paula, seu instrutor em assuntos teosóficos em vida e seu protetor nas horas de perseguição. Não se pode ler o livro sem ler as palavras do amigo que ficou. Elas nos confirmam ainda mais a Nina sedenta dos conhecimentos do espírito e dos céus, inconformada com a versão vigente da religião oficial do Brasil do início do século passado e ansiosa por novas luzes para o problema da existência.
Belo trabalho o do Flávio. Ao colecionar e apresentar novas fontes, a História ainda há de reconhecer o seu valor.

27.4.08

Como Pesquisar Usando Marcadores




O Blogspot oferece um recurso para pesquisa no Blog intitulado "MARCADORES"


Eles aparecem ao final de cada publicação (post), sob a forma de uma lista de conteúdos tratados em cada publicação.


Se você estiver pesquisando um tema, por exemplo, mediunidade; e encontrar um marcador abaixo de uma publicação, clique nele e todas as publicações do Espiritismo Comentado que tiverem a mesma palavra ou expressão como marcador serão carregadas em sua tela.


Exemplos:

Na publicação Um Pensamento de Leandro Couto, clique no marcador Leandro Couto

Na publicação Fogo de Palha , clique no marcador Raul Teixeira

Observe que este tipo de pesquisa é mais restrito que a pesquisa por palavras chave na régua superior do Blogspot. Se você digitar Raul Teixeira e clicar em pesquisar blog, encontrará todas as publicações (posts) nas quais o nome do orador fluminense aparece, mesmo que não seja o assunto central da publicação.

Um Pensamento de Leandro Couto



MEIO AMBIENTE


Leandro Cosme Couto

Política Ambiental dos Irmãos Cosme: “O bem estar das pessoas e o desenvolvimento sadio de suas atividades sócio-culturais são a referência para nossos serviços no cuidado com o Meio Ambiente. Este é tudo que nos cerca, mesmo o que não vemos, não ouvimos ou não entendemos, ainda que momentaneamente; é tudo que compõe o planeta Terra, de modo que a qualidade ambiental começa por quem somos.”

26.4.08

Fogo de Palha

Foto 1: Raul Teixeira, autografando em 2005
Na adolescência tive a oportunidade de conhecer pessoalmente muitos dos expositores espíritas que hoje ampliaram seu trabalho para além das fronteiras do nosso país.

O Prof. Raul Teixeira sempre foi um dos mais disponíveis aos jovens. Suas vindas anuais ou semestrais a Belo Horizonte eram organizadas por Marlene Assis, que preparava um calendário no interior de Minas Gerais.

Via de regra a mocidade se organizava para assistir as diversas palestras em caravana. Desta forma, a admiração que tínhamos pelo trabalho do médium fluminense foi se transformando em uma grande rede de amizades no meio espírita. Fomos muitas vezes ao oeste de Minas Gerais, participar das CEOMGs (Confraternizações Espíritas do Oeste de Minas Gerais) e o encontramos também no norte-nordeste de Minas e na Zona da Mata.

Raul e Marlene promoveram mais de uma vez o encontro entre mocidades e jovens espíritas fluminenses e mineiros. Muitas vezes fui acolhido com hospitalidade e alegria por jovens de Niterói, alguns já desencarnados, cujas lembranças teimam em alegrar a alma.

Um dos trabalhos incansáveis de Raul era responder às cartas que lhe escrevíamos. Ele sempre separava algum tempo para escrever um cartão, enviar uma mensagem de incentivo, deixar um parágrafo de orientação ou apenas mandar notícias de onde esteve e o que fazia pelo Espiritismo.

Em uma das primeiras cartinhas que ele me escreveu, após ter-me conhecido nas atividades da Associação Espírita Célia Xavier, ele utilizou uma expressão curiosa. Experiente, vendo o entusiasmo com que tratávamos do Espiritismo, ele recomendava que o que sentíamos e fazíamos não se transformasse em "fogo de palha". Ele tinha razão. O entusiasmo nos leva a assumir inúmeros compromissos após o quê não se consegue dar continuidade.

Passaram-se os anos, o conselho permaneceu na memória, além de estar escrito em algum papel, perdido na minha pequena biblioteca, mas é bom o suficiente para ser repassado para as novas gerações de espíritas.


24.4.08

Evento de Natal

Foto 1: Sede reformada da Associação Espírita Célia Xavier

Jáder Sampaio

Distribuição de cestas de Natal, Associação Espírita Célia Xavier, início da década de 80.

Comemorando o nascimento de Jesus, os membros da AECX se organizaram para oferecer uma festa aos assistidos e outros cidadãos de baixa renda.

Marlene Assis organizava o evento e distribuía atribuições entre os mais diferentes segmentos da casa espírita. Após uma campanha intensa com os associados, frequentadores, alunos do Reencontro Yoga e muitos membros da comunidade da capital mineira. O resultado foi um número superior a mil cestas, se não me falha a memória.

"- A cesta é apenas um presentinho nosso, uma lembrança", dizia Marlene aos grupos de mais de uma centena de pessoas que recebíamos no auditório da sede da Associação. "O mais importante é recebê-los."

Tornou-se uma tradição a mocidade da casa preparar um teatro sobre um tema evangélico. Muito amadorismo, mas muito boa vontade. As histórias impunham-se por si mesmas.

Voluntários revezavam-se ao longo do dia, alguns permaneciam horas e horas no período que compreendia as 8 da manhã e, não raro, as 10 da noite.

Marlene dava as boas vindas, fazia com que os participantes se levantassem, movimentassem, cantassem, descontraíssem. Alguns se emocionavam com as músicas, outros com a peça, alguns com as luzes. Alguns riam um sorriso com poucos dentes e muita gengiva.

A peça terminava e começava o adeus, sempre embalado por um orfeão desordenado composto de todos os voluntários que cantavam "Noite Feliz", até que o último convidado saísse do salão, colocasse sua lembrancinha às costas e voltasse para casa, cheio de algo incomum.

Neste ano em especial, foi-se formando uma pequena multidão ao redor da casa. Pessoas que não receberam convites souberam por conhecidos da distribuição de cestas e uma nuvem de descontentes ameaçava a integridade da casa.

Houve quem pensasse na polícia para conter as pessoas, mas o mal estar era iminente. Decerto que a iniciativa estava longe de resolver o problema social da capital mineira, que se manifestava.

Terminadas as festas e as "lembrancinhas", Marlene pediu que estimassem o número dos que estavam à porta. Más notícias. O número de cestas que havia sobrado era muito inferior ao número de pessoas.

Até hoje não sei que espírito a iluminou, talvez tenha sido mesmo a sua experiência e perspicácia. Marlene nos colocou a todos em fila dupla, entre as duas portas da AECX que existiam à época. Falou-se à massa que não havia cestas para todos, mas que cada um ganharia alguma coisa. Eles recebiam um pacote, ora de arroz, ora de feijão, ora de macarrão, sempre acompanhado de alguma coisa extra. Nós cantávamos, uma canção mais alegre, infantil, e cada um dos manifestantes passava igualmente sorridente em meio ao corredor de vozes que se formou O olhar antes desconfiado e amargo tornava-se infantil, vinha à tona alguma coisa perdida há muitos anos, do tempo da inocência.
Nós vimos, não sem algum assombro, a paz vencer por alguns momentos a violência.


ABRAME DIVULGA PROGRAMA ANUAL




PROGRAMA ANUAL DOS ENCONTROS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS MAGISTRADOS ESPÍRITAS – ABRAME/MG – FÓRUM LAFAYETTE, 14ª VARA CÍVEL – SALA G 387 – 3º ANDAR – HORÁRIO 17:30 ÀS 18:30 H.

BELO HORIZONTE – MG
ANO 2008

08/04/2008
Braz Moreira Henriques Juiz de Direito
MEDIUNIDADE COM JESUS

22/04/2008
Roberto de Freitas Messano - Juiz de Direito
A FAMÍLIA E O ESPIRITISMO

06/05/2008
Lenice Aparecida de Souza Alves - Médica
EDUCAÇÃO ESPÍRITA

20/05/2008
Emerson Pedersolli - Psicólogo
FILHOS: DESAFIO DA EDUCAÇÃO

03/06/2008
Estevão Lucchesi - Juiz de Direitos
NÃO JULGUEIS, PARA NÃO SERDES JULGADOS

17/06/2008
Dídimo Inocêncio de Paula - Desembargador
O DIREITO E A EUTANÁSIA

01/07/2008
Antônio de Pádua - Desembargador
A VISÃO ESPÍRITA DO HOMOSSEXUALISMO

15/07/2008
Clayton Rosa - Juiz de Direito
REFORMA ÍNTIMA

05/08/2008
Henrique Zarnowski - Médico
PERISPÍRITO

19/08/2008
Sebastião G. Oliveira - Juiz do TRT
PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

02/09/2008
Walkíria Teixeira Campos - Expositora Espírita
O CASAMENTO

16/09/2008
Sérgio André da Fonseca Xavier - Juiz de Direito
LEI DO PROGRESSO

30/09/2008
Décio Araújo Filho - Delegado de Polícia
DELINQÜÊNCIA JUVENIL

14/10/2008
Márcio Pacheco - Expositor Espírita
A MORTE NÃO É O FIM DE TUDO

28/10/2008
Elimar Penido - Médico
POR QUE ADOECEMOS?

11/11/2008
Walter Borges - Expositor Espírita
JESUS E A LEI DIVINA

25/11/2008
Everson Ramos - Expositor Espírita
ESPIRITISMO COMO EDUCAÇÃO

09/12/2008
Éden Mattar - Advogada
DIVERSIDADE RELIGIOSA

16/12/2008
Maria Luiza - Professora
O SIGNIFICADO DO NATAL

20.4.08

Dor, Aperfeiçoamento e Resgate



É muito comum nos meios espíritas, ante a dor, as pessoas tentarem explicar a justiça divina através da reencarnação. Recentemente o episódio brutal do garoto que foi arrastado por criminosos no Rio de Janeiro gerou uma mensagem que rapidamente se espalhou pela internet, aludindo o seu sofrimento a uma suposta encarnação antiga no período do império romano.

O Centro Espírita onde esta mensagem teria sido psicografada veio a público admitindo a sua procura pelos pais, mas negando a autoria desta mensagem por seus médiuns.

Kardec, defensor do conceito de justiça divina, não reduziu os males do mundo à estreita equação, dor = expiação reencarnatória, pelo contrário, desenvolveu um pensamento bastante rico e matizado para que o homem tivesse uma nova consciência ante as dificuldades do mundo. Kardec é um autor humanista, razão pela qual entende a centralidade da liberdade de escolha do homem no drama cotidiano.

Isto não passou despercebido a Emmanuel, que no livro "Religião dos Espíritos", disserta abertamente sobre as causas atuais das aflições, o livre-arbítrio, o contexto das ações humanas e as consequências dolorosas de certas escolhas. Para que o texto não fique grande, escolhi alguns parágrafos do capítulo intitulado "Reencarnação", que recomendo a você que me acompanhou até este parágrafo.

"Reencarnação nem sempre é sucesso expiatório, como nem toda luta no campo físico expressa punição. (...)

À vista disso, não te habitues a medir as dores alheias pelo critério da expiação, porque quase sempre, almas heróicas que suportam o fogo constante das grandes dores morais, no sacrifício do lar ou nas lutas do povo, apenas obedecem aos impulsos do bem excelso, a fim de que a negação do homem seja bafejada pela esperança de Deus.

Recorda que, se fosses arrebatado ao Céu, não tolerarias o gozo estanque, sabendo que os teus filhos se agitam no torvelinho infernal. De imediato, solicitarias a descida aos tormentos da treva para ajudá-los na travessia da angústia..." (Emmanuel. Religião dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1978. pág. 61-62.)

Para que não reste dúvida, deixo você com Allan Kardec:


"Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. (...)
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas, é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso." (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1978)

13.4.08

Um Conto para Você Refletir


O Martírio de Antônio


Jáder Sampaio

(Publicado originalmente no jornal "Correio Fraterno")

Antônio chegou jovem à casa espírita. Chegou e ficou. Na verdade, encantou-se.
Gostava dos outros jovens que o tratavam com respeito e alegria, gostava das discussões nas reuniões de estudo, gostava do clima de fraternidade que imperava entre os membros mais antigos e gostava das tarefas e ocupações que eram mantidos em sua sociedade espírita.
Em meio a tanto encantamento, não havia quem o retirasse do Centro Espírita. Participava das reuniões públicas, das atividades assistenciais, do passe, das campanhas, sempre com aquele jeito jovial e cativante, ao mesmo tempo responsável, que tanto cativava a todos os membros da comunidade.
Antônio ia aos eventos e encontros, lia os romances, estudava os livros e não demorou a ser convidado para fazer palestras, o que o deixava com um enorme contentamento interno, uma sensação de que estava crescendo e desenvolvendo-se na comunidade que escolheu.
Com o destaque e a simpatia, começaram a vir os convites. Convite para evangelizar as crianças, convite para coordenar a campanha do quilo, convite para dirigir uma reunião, convite para participar da diretoria como secretário, convite para fazer palestras em outras casas espíritas...
Ainda jovem, Antônio perdeu-se no encantamento de ser querido, de ser demandado e só respondia sim, sim, às pessoas a quem admirava e a quem temia desapontar.
Mais algum tempo e cursos, e Antônio estava em uma reunião mediúnica, verificando, quem sabe, se teria alguma sensibilidade mediúnica, aplicando passes nos médiuns, acompanhando ainda entusiasmado os diálogos intimistas e lúcidos que os membros mais experientes estabeleciam com os espíritos nas mais diversas condições.
Tão boa era a comunidade espírita que Antônio não percebeu que mais e mais se dedicava às tarefas espíritas e mais ainda ficava ausente de suas obrigações em outros lugares.
- Ficou fanático! Dizia desconsolada a mãe de Antônio que sentia a sua falta em casa e nos eventos familiares. - Sai às vezes cedo e só volta tarde da noite! Parece até um hóspede na sua própria casa.
- Ficou irresponsável! Trovejava o pai. Já não é mais aquele aluno exemplar que sempre foi na escola. O que será dele no futuro?
- Está em lua de mel com o Espiritismo, dizia uma tia experiente que freqüentava o grupo. Passada esta fase vai cair em si e equilibrar-se.
- Parece cansado, diziam os professores, que percebiam a queda de rendimento do aluno. Quem sabe não está exagerando com as baladas, comentavam maldosamente.
Ouvindo as queixas, Antônio era só dedicação. Tentava convencer a mãe que estava cumprindo com as suas responsabilidades, aumentou o tempo e o esforço com os estudos para que o pai e os professores não se desapontassem com ele e, a todo custo, queria mostrar para a tia que sua dedicação ao centro não era apenas “fogo de palha”.
Vieram as primeiras decepções, alguns comentários em boca pequena no Centro Espírita sobre a vaidade, algumas desaprovações sobre um ou outro conteúdo de suas palestras, a insatisfação de alguém diante de uma decisão que ele havia tomado com relação à reunião que dirigia, a mediunidade tão desejada que não se manifestava entre suas faculdades...
- É preciso perdoar, repetia o jovem para si mesmo, numa tentativa superior às suas forças para não cair em prantos. É preciso continuar trabalhando, não importam os revezes.
Estudioso, mas auto-suficiente, Antônio nunca procurava a opinião dos mais experientes, por julgar tratar-se de uma fraqueza. “Deus dá a prova conforme a capacidade do discípulo”, repetia continuadamente.
Com o passar do tempo, começou a mudar o humor e já não apresentava o mesmo brilho nos olhos. As palestras e leituras pareciam ser repetições eternas de algo que ele já sabia, as atividades o massacravam pela rotina, o que antes era plena satisfação, tornou-se uma obrigação cada dia mais pesada, não via muito gosto nas conversas e debates sobre temas polêmicos da Doutrina que antes o mobilizavam tanto. As comunicações dos espíritos em sua reunião não lhe diziam respeito, eram sempre vistas como dirigidas para os outros.
- Talvez, se Antônio tivesse uma namorada! Pensava a mãe, inquieta com o estado de alma do filho. Pensando bem, será que ele não... e balançava a cabeça, tentando evitar a conclusão do raciocínio.
As tarefas da escola pareciam insuportáveis, ou melhor, irrealizáveis. As tarefas do centro eram cumpridas em empreitadas rápidas, para não dizer que eram mal feitas. Não havia tempo para preparar, para avaliar nem gosto em realizar.
Com três anos de doutrina, Antônio parecia desencantado, cansado. Talvez não tivesse mesmo capacidade para a missão que lhe fora confiada, pensava. Sentia-se facilmente irritadiço e fracassado, como se estivesse dando “murro em ponta de faca”. Os passes que recebia lhe proporcionavam algum alívio momentâneo, mas mal saía do Centro Espírita, vinham-lhe à mente as obrigações assumidas, os deveres familiares, as tarefas escolares e ele via se esvaírem as forças.
Sempre sorridente no Centro, não deixava que percebessem seu estado de ânimo. Alguns de seus amigos começaram a pensar que talvez estivesse obsediado, mas apenas comentavam entre si. Explosivo em casa, afastava-se cada vez mais dos pais e parentes. Irritado, acreditava que eles não o compreendiam e que estavam “pegando muito no pé”.
Sua dedicação tão cara, parecia não render resultados.
Um dia, em uma reunião mediúnica, encheu-se de coragem e resolveu perguntar a um espírito-dirigente o que estava acontecendo com ele. Estaria obsediado? Por que se esforçava tanto e realizava tão pouco?
Caridoso, o mentor lhe dirigiu palavras de confiança, assegurou que não havia a interferência de desafetos desencarnados e sugeriu que procurasse um médico.
- Médico? Pensou ele? Mas não tenho nenhuma doença!
Pelo sim, pelo não, Antônio procurou um clínico geral. Deu “sorte” e consultou com um dos que não trabalham com uma fila interminável de pacientes. Feitos os exames de rotina, não encontrando doença nenhuma, o jovem clínico começou a investigar-lhe os hábitos e humores, coisa incomum para os dias de hoje. Aos poucos, o diagnóstico foi se formando, uma síndrome cada dia mais comum em nossos dias: “Burnout”
[1]
Antônio foi convidado a repensar sua vida, realizar atividade física, valorizar o lazer e a conversar sobre o seu presente e o seu futuro com a ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta, antes que alguma doença psicossomática viesse a manifestar-se, comprometendo-lhe a saúde física em adição à saúde mental.

[1] Síndrome de Burnout ou Síndrome de Esgotamento Profissional, é uma doença geralmente relacionada ao trabalho, associada ao estresse crônico relacionado a relações interpessoais intensas e a grandes expectativas do paciente com relação ao seu trabalho, expectativas estas que não se concretizam em função de obstáculos diversos. Esta classificação surgiu nos Estados Unidos no início da década de 70 e compreende também o trabalho voluntário, exigindo atenção preventiva por parte das instituições e dos trabalhadores. Ao contrário do estresse, o esgotamento profissional se agrava com as férias, porque não se trata apenas de cansaço físico, mas de uma preocupação persistente com a incapacidade de realização de atribuições.

12.4.08

Laboro lança nova peça no Congresso


A Companhia Espírita Laboro é uma das jóias da arte espírita em Minas Gerais. Ela inovou em termos de conceito, texto e qualidade, criando uma identidade própria, que lhe confere o brilho.



As peças que já tive a oportunidade de assistir deixam o público com gosto de quero mais. Elas associam um conteúdo doutrinário sólido, com a leveza da "arte clown", sem vulgarização. O figurino é colorido, sempre inusitado, belo. As peripécias descansam nossa alma, nos fazem ficar crianças novamente, sem esquecermos do adulto que pensa. É como se por um minuto vivenciássemos a experiência de ser um espírito com sua bagagem integral.



O terceiro elemento, também inspirado no movimento espírita jovem, é a música. Um violão e canto com vozes que brincam com a melodia, dividem-na, multiplicam-na, fazem-na triste e alegre, forte e suave, quase viva, como se um espírito se tornasse personagem e ator atuando em conjunto com a trouppe.



A Laboro não está presa aos palcos teatrais, apesar de suas criações ganharem mais cor, com os recursos da iluminação e a arquitetura própria à projeção da voz. Eles se criaram para serem ambulantes, poderem atuar nos tablados de oratória dos centros espíritas, aéreos, capazes de volitar de casa em casa, deixando seu perfume e sua cor. Assim como um espírito familiar, eles reacendem a alegria de viver, nos fazem esquecer as dores e sofrimento da vida, nos permitem ascender por um momento à alegria dos planos superiores.


A organização do quarto congresso foi não apenas feliz, mas justa. O Brasil espírita que visitou as Alterosas merecia conhecer o Laboro, viver momentos de paz e alegria após a longa jornada que fizeram para prestigiar o Espiritismo.


Encanta a sua identidade teatral, encanta a sua consciência artística, nos faz todos sentir uma ponta de orgulho por ter algo tão valioso fruto do trabalho espírita.



Conheça mais da companhia em http://arteespirita.com.br

9.4.08

Outro Poema de Damasceno Sobral



REVELAÇÃO

A harmonia impecável

e a suavidade quase divina de certas músicas

nos descortinam um mundo

onde a voz é murmúrio;

o desejo, ideal

e a expressão, poesia.

Um mundo homogêneo

cuja realidade parece ficção,

e ficção não é.

Esse mundo tão discretamente revelado

constitui o verdadeiro mundo,

o mundo essencial,

onde aportaremos um dia,

quando instruídos e modificados

à custa dos males aparentes de existências inúmeras.

Extraído de SOBRAL, J. Damasceno. Almas Libertas (Poemas). Divinópolis-MG, 1949.

8.4.08

Biblioteca Espírita Pública



Foto 1: Maria Cerise auxilia Lucilene Sá na procura de livros.


Durante anos a Biblioteca da Associação Espírita Célia Xavier ficou "hibernando". A estrutura antiga, que era constituída de dois armários com cerca de mil e quinhentos livros, em uma sala que servia de passagem para o acesso do interior da unidade, ficou sem condições operacionais após a doação do acervo pessoal de Aurélio Valente. Um segundo problema inviabilizava o funcionamento pleno da biblioteca: o voluntariado, cuja força de trabalho era incapaz de mantê-la aberta nos horários necessários.

Algumas ações simples modificaram este cenário: uma reforma na AECX que disponibilizou um espaço com dois cômodos, a contratação de pessoal para mantê-la aberta em um horário amplo, o desenvolvimento de um software para o controle do acervo, um mutirão para a organização dos livros e a triagem dos livros da biblioteca de Valente. O espaço destinado, mesmo usado com inteligência, já está pequeno para o acervo e a freqüência de usuários.



Foto 2: Placa da Biblioteca: Homenagem a Aurélio Valente

Hoje a biblioteca conta com quatro mil, setecentos e cinquenta e dois livros, sendo 2700 para empréstimo e os demais para a composição do acervo. Além dos livros há fitas VHS, DVDs, revistas e livros infantis e coleções de revistas espíritas encadernadas, como o Reformador, A Centelha e a Revista Internacional de Espiritismo, Enciclopédias, Dicionários e outras fontes de referência.

A biblioteca funciona como arquivo institucional, uma vez que tem sob sua guarda os registros em forma de filme dos principais eventos que promove: nos últimos anos a "Semana de Célia", a "Semana de Allan Kardec" e a "Semana da Família", além de palestras de pessoas importantes que passam pela casa.

O mais interessante do projeto: a biblioteca é pública, ela não é restrita aos frequentadores da casa. Qualquer cidadão de BH pode ter acesso aos produtos para empréstimo se trouxer identidade e comprovante de residência. No primeiro bimestre de 2008 já foram realizados quase 500 empréstimos. No ano de 2007 a procura chegou a cerca de 4000 livros. Os números falam por si. Espiritismo Comentado entrevistou Maria Cerise: aguarde!


6.4.08

O Espiritismo, este Desconhecido.



Figura 1: Anunciação de Leonardo da Vinci

Os jovens universitários procuraram-me em casa. Estavam em uma tradicional Universidade Mineira e necessitavam apresentar um trabalho sobre o Espiritismo.

- O Livro dos Espíritos é uma boa referência? Perguntou um rapaz.
- Que tal apresentar a escala espírita? Afirmou outro.
- De onde vem o Espiritismo? Perguntou um terceiro.
- Você poderia assistir nossa apresentação? O professor não quer que apenas convidemos um especialista porque os grupos têm por costume não estudar o tema.

Concordei com tudo. Geralmente apresento alguns vídeos e programas sobre mediunidade. Os fenômenos têm seu papel no meio acadêmico, mas desta vez me foi negada a oportunidade.

A leitura de “O Livro dos Espíritos” foi meio rápida, para não dizer sumaríssima. O grupo parece ter lido exclusivamente a escala espírita (possivelmente, apenas as questões 101 a 113), abandonando toda a discussão de Kardec sobre a origem e natureza dos espíritos.

Para a aula ficar mais descontraída, resolveram fazer um teatro. O tema: mesas girantes. Um dos rapazes entrou sobre uma mesinha pequena, mal coberta por uma toalha branca, e a fazia movimentar-se. Gargalhada geral. Era-lhe impossível ocultar os pés e a assistência se divertia com seu jeito desajeitado. Ninguém percebeu o quanto seria difícil fraudar este tipo de fenômeno grosseiramente. Comecei a perceber o que é um preconceito cultural. Sem que ninguém conhecesse uma página sequer da Doutrina Espírita, o Espiritismo já estava condenado.

Posteriormente, após um histórico frágil e banal, apresentou-se a escala espírita. Mais uma surpresa! No texto, Kardec faz comparações entre as classes de espíritos que ele observou e os mitos cristãos medievais e da antiguidade. Kardec cita anjos, arcanjos, serafins, diabretes, bons gênios, duendes, trasgos, gnomos, etc. Qualquer pessoa minimamente racional que houvesse lido as duas primeiras partes do livro entenderia que o autor fez metáforas, que Kardec buscou nas crenças populares evidências culturais da manifestação dos espíritos, mas que em momento algum defendeu a existência real destes mitos, da forma que são contados às pessoas. Os universitários foram incapazes de percebê-lo. Apresentavam as classes e ordens de espíritos com uma risadinha irônica, própria de quem deseja ser sarcástico mas não tem coragem de fazê-lo abertamente.

Em princípio pensei em desmascarar a fragilidade do trabalho, apontando os equívocos grosseiros, mas calei-me. O professor de cultura religiosa não parecia ter o mínimo conhecimento espírita (o que é ainda pior), foi incapaz de cumprir com seu ofício e adverti-los. Sequer pareceu-lhe estranho o que diziam e nem passou por sua mente questionar-me. Era uma espécie de conluio silencioso. Eu fiquei com um sorriso amarelo, um pouco pasmo, ante o desrespeito e a ignorância. Não sei se agi certo, mas calei-me. E passados os anos continuo a perguntar-me como pode uma aula em uma instituição de ensino superior tornar-se um simulacro?

1630 Participantes no Congresso Espírita Mineiro


Encerrou-se hoje o IV Congresso Espírita Mineiro, no Auditório Topázio do Minascentro.

Divaldo Franco fez uma palestra magistral, na qual tratou de Ernest Renan, Lammenais e outros cristãos franceses que tentaram a seu modo reabilitar a doutrina cristã no século XIX. Ele apresentou avanços da psiconeuroimunologia associando o funcionamento do sistema nervoso com a contribuição da física biológica ao entendimento da fisiologia de transtornos psicológicos. Divaldo concluiu sua exposição dissertando sobre Tomé e o seu caminho ímpar em meio aos discípulos de Jesus para a construção da fé.

Foi feita a leitura de duas mensagens psicografadas por Wagner Gomes da Paixão, uma delas atribuída a Francisco Cândido Xavier.

O encerramento do evento contou com homenagens à União Espírita Mineira e com a palavra emocionada e emocionante de Marival Veloso. Ele tornou-se gigante por se considerar pequeno. Marival declamou, às vezes interrompido pelas lágrimas, a poesia condoreira de Castro Alves, antes e depois da morte. Agradeceu as homenagens e tocou a todos os presentes.
A Federação Espírita Brasileira, representada na abertura por Nestor Masotti e Altivo Ferreira contou com a prece de encerramento deste último nas instalações do centro de convenções mineiro.

O congresso foi corajosamente organizado tendo por base trabalhos de expositores conhecidos e reconhecidos nas terras das alterosas, mas muitos pouco conhecidos nos outros estados do Brasil.

Houve uma presença marcante de espíritas de todo o Brasil, representantes de Federativas e da comunidade espírita do interior de Minas Gerais que prestigiou o evento.
Em breve teremos imagens para divulgar. No momento, cabe parabenizar o trabalho árduo das muitas comissões que se formaram em torno da feliz idéia.

Leia a matéria sobre o Congresso em http://aecx.blogspot.com/2008/04/iv-congresso-esprita-mineiro-foi.html

5.4.08

Uma Mensagem Inesperada



Foto 1: José Mário (jovem)


Maio de 2003. Quinze anos se passaram da desencarnação de José Mário Sampaio. (Para quem estiver lendo este texto sem conhecer os personagens, José Mário Sampaio é meu pai, espírita atuante em Belo Horizonte, desencarnado em setembro de 1987.)

O Conselho Regional de Psicologia de MG havia me convidado para participar de uma mesa redonda no Seminário “Intervenção do Psicólogo na Saúde do Trabalhador”. A comissão organizadora passou por alguns apuros. Eles planejaram um evento para cerca de 300 pessoas, mas os colegas se interessaram e nas vésperas já havia 600 inscrições. O maior auditório do hotel foi conseguido às pressas e os profissionais que deixaram para a última hora tiveram que voltar para casa.


Alguns colegas espíritas estavam no público, mas, via de regra, os participantes não me conheciam ou conheciam apenas minhas credenciais. Talvez alguém tenha lido alguma de minhas
publicações em Psicologia do Trabalho, alguns haviam sido meus alunos na graduação ou pós-graduação, mas não trato de assuntos espíritas em sala de aula.


Após ter chegado e conversado brevemente com o outro membro da mesa, acertei a forma de projeção da apresentação com um funcionário do hotel e assentei-me. Por alguns momentos, durante a confecção do material e agora antes da atividade, recordei-me fortemente de meu pai. Quando ele desencarnou, eu ainda estava nos primeiros períodos do curso de Psicologia, após ter abandonado a graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais. Papai não interferiu na escolha dos cursos. Quando desejei fazer engenharia, ele não achava que aquele seria meu futuro. Uma vez, na intimidade, chegou a dizer que escolhesse o curso que eu quisesse, sem me preocupar com a remuneração do mercado de trabalho, porque eu sempre poderia me tornar professor na minha área de interesse. Fiquei pensando como é que ele havia acertado a minha incomum trajetória profissional. Quem sabe ele não havia me influenciado muito mais do que eu penso.


Ainda na espera de ser chamado para compor a mesa, por alguns minutos, pensei na satisfação que ele teria em ver o filho formado, apresentado o resultado de seus trabalhos para a sua
comunidade profissional. Foram apenas alguns instantes, e logo já estava à mesa, com um debate cordial, mas acirrado, que sucedeu as apresentações. O público encaminhava perguntas escritas em papel, que respondíamos na limitação do tempo reservado pela organização.
Terminada a mesa, fui conversar com alguns conhecidos presentes e, em meio à conversa, o mensageiro do hotel me trouxe, discreto, um papel dobrado.

- “A pessoa que escreveu não quer ser identificada.”Comentou.

Se não quer ser identificada, pensei, depois eu vejo do que se trata. Guardei no bolso e esqueci-me do papel, até chegar em casa. Trocando de roupa, vi o bilhete e desdobrei-o, curioso.
“Jáder, é um prazer conhecê-lo. Não me dirijo a você para fazer um questionamento, e sim, lhe enviando um grande abraço de um espírito totalmente iluminado que está ao seu lado, trazendo não só o abraço mas também se dizendo muito orgulhoso de seu trabalho. Ele se sente muito feliz em saber do quanto você tem caminhado.”
“Não sei se você acredita ou não em tudo isso... mediunidade, Espiritismo, sei lá o que é isso, porém cumpro meu dever com amor em te transmitir tal recado.”
“O nome dele é José Mário, foi médico e hoje no plano espiritual ele se dedica muito ao trabalho em busca de evoluir cada vez mais!” “Um abraço também meu. (preciso me manter no
anonimato)”

Fiquei surpreso, realmente. Seria uma brincadeira? Passados quatro anos, continuo sem conhecer o autor do bilhete. Que tipo de brincadeira é esta que ninguém se diverte? Seria farsa? Em um público seleto, tratando de um assunto técnico, e no anonimato, que interesse teria um psicólogo ou um funcionário de hotel em mantê-la? Os céticos diriam tratar-se de telepatia, mas que telepatia é esta em que o sensitivo capta o que não pensei, a profissão de papai, que por sinal está errada (papai era dentista), o que curiosamente remete a uma conversa que tínhamos em casa: o que faria um dentista após a desencarnação? Papai falava em tom de brincadeira, inicialmente, mas depois concluía, sério: - O conhecimento médico que temos deve ser útil no plano espiritual. No mais, o orgulho de pai, a satisfação com o progresso, faziam parte do que pensava. O tema da dedicação ao trabalho, que aparece na mensagem, dá seqüência aos seus anseios, segundo a mediunidade de Raul Teixeira e o conhecimento que eu tinha de sua personalidade enquanto encarnado. Este também não pode ter sido objeto de telepatia, a menos que os telepatas vasculhem os neurônios em busca de memórias do sistema pré-consciente, o que vai tornando a hipótese cada vez mais metafísica.


Curiosa a mediunidade, esta capacidade de médiuns diferentes perceberem o mesmo espírito com graus de profundidade distintos, mas com consistência de conteúdos.


Agradeço à corajosa e tímida médium (a letra parece ser feminina, se é que caligrafia tem sexo...) que espero poder sair um dia do anonimato após ler este pequeno depoimento. A propósito, e apenas para ela, acredito, sim, em mediunidade e Espiritismo.

4.4.08

Mais Notícias do Congresso Espírita Mineiro

IV Congresso Espírita Mineiro: “Espiritismo: Amor e Educação”Acontece, entre os dias 03 e 06 de abril de 2008, no Minascentro, em Belo Horizonte, o IV Congresso Espírita Mineiro. O evento, organizado pela União Espírita Mineira (UEM,) terá como temas centrais o amor e a educação e contará com a participação de representantes da doutrina espírita do país inteiro. Entre as exposições e palestras, haverá apresentações artísticas de Tim e Vanessa, Meu Cantar, Verbos de Versos, Cia. Espírita Laboro, Segredo. O evento será transmitido via internet. Para assistir e conferir a programação, acesse o site www.uemmg.org.br/congresso

Revelação – Uma pequena história: A Cia. Espírita Laboro, estreará neste sábado, 05 de abril, a peça “Revelação – Uma pequena história. A peça foi montada atendendo uma solicitação da União Espírita Mineira, para ser apresentada no IV Congresso Espírita Mineiro.
Inspirados pelas profundas palavras de Emmanuel que discorre sobre o advento da Doutrina Espírita e sua importância para a humanidade, a peça apresenta a história de um personagem fictício, João Jornaleiro, que, carrega em si as fragilidades e as potencialidades comuns a todos nós, espíritos que transitam pelo planeta e que tomam contato com as verdades espirituais trazidas pelo Consolador.
Com leveza e alegria, este espírito é esclarecido e iluminado pelos conceitos espíritas, fazendo verdadeiras descobertas sobre si mesmo.
A estréia poderá ser acompanhada via internet a partir de 18h do dia 05/04 no site
www.uemmg.org.br/congresso

Grupo Espírita Meu Cantar: O Grupo Espírita Meu Cantar se apresentará nesse sábado, 05 de abril, as 08h30 no IV Congresso Espírita Mineiro. A apresentação, bem como todo o evento, poderá ser acompanhada no site
www.uemmg.org.br/congresso. No repertório, canções cantadas à Cappella, que constarão no novo CD do grupo que será lançado no próximo ano.

30.3.08

Por Que Estudar Esperanto?

Figura 1: A Torre de Babel de Brueguel (1563)

Charles Richet, prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1913, era defensor do Esperanto. Ele dizia:

"Num futuro muito próximo haverá uma língua universal, mas, fique entendido, auxiliar, porque será sacrilégio querer que desaparecessem as belas línguas nacionais. (...)

Quando se fala de uma língua internacional, universal e única, do Esperanto, a gente séria se dana toda - estou empregando a gíria moderna para ficar no nível deles - e fazem uma objeção formidável: Ah! Ah! O Esperanto!

Aí fica toda a força da sua argumentação. (...)

Falemos seriamente, mesmo aos que não são sérios.

1o. - O Esperanto é uma língua muito fácil, que não tem uma única exceção em sua gramática.

2o. - Seu vocabulário é, sobretudo, latino, é o latim democracia, isso quer dizer, vocabulário francês.

3o. - Pode aprender-se a gramática - a gramática toda - em meia hora.

4o. Ao cabo de três meses de estudo (a razão de uma hora por dia) um jovem de 15 anos, de inteligência média, poderá falar corretamente o Esperanto. (Para os japoneses, eslavor, chineses e árabes, por causa da diferença profunda do vocabulário e do alfabeto, seriam necessários seis meses)

Ora, para falar corretamente uma única língua estrangeira (francês, inglês, alemão, espanhol ou italiano), são necessários pelo menos dois anos de longos estudos, à razão de pelo menos duas horas por dia. (...)

E o que será se, em lugar de uma única língua estrangeira, tivermos de aprender duas ou até três? (...)

É evidente que o Esperanto não interessará se ninguém o falar. (...) A utilidade do Esperanto está na proporção do número de pessoas que o falem. (...)

É uma beleza ouvir-se dizer: Ah! Ah! O Esperanto! Este argumento (?) não me persuadirá.

E o que é preciso para que esta suposta quimera se torne realidade?

Primeiramente é preciso uma propaganda pessoal ativa, endiabrada. Essa propaganda será divertida, será, sob zombarias, um dos apostolados que torna a vida digna de ser vivida. Para os homens fortes é uma alegria ser remoque de idiotas. (...)

Se, por um acidente de louca improbabilidade, muito mais quimérico que tudo que escrevi neste livro, eu me tornasse ministro da Instrução Pública, um dos meus primeiros cuidados seria o de propor aos meus colegas estrangeiros, ministros como eu, na Itália, na Inglaterra, na Espanha, na Alemanha, na Holanda, a organização de um ensino obrigatório por três meses, sim, de três meses apenas, para os jovens, rapazes e moças, de dezesseis anos. Ao cabo de três meses, uma comissão internacional percorrendo a Europa, conferiria bons prêmios aos professores e aos alunos que houvessem obtido os melhores resultados.

Seria incentivada uma correspondência afetuosa entre esses jovens esperantistas de todos os países.

Não seria complicado o estabelecimento de reuniões em que brilhasse o espírito internacional, graças à unidade da linguagem."

Extraído de Charles Richet: O Apóstolo da Ciência e do Espiritismo. Samuel Magalhães, FEB, 2007.

29.3.08

Manoel Alves: Trajetória Espírita




Figura 1: Da esquerda para a direita: Álvaro de Castro, a esposa e Manoel Alves


Era noite e papai me levou à casa de Seu Manoel para conhecer o evangelho no lar que ele fazia. A casa era pequena, mas a meus olhos parecia enorme, decorada com gosto e simplicidade, com os toques de afeto das almas femininas que lá habitavam. Ficamos na sala, e após a prece, leitura e comentários, Seu Manoel me presenteou com uma caixa de frutas da época, em um gesto de polidez e fraternidade. Quando o visitamos ele era comerciante de frutas.

Esse "evangelho no lar" deve ter começado na residência de seu cunhado, Celso Belém Goulart, casado com Carmen, e teve início após o contato com o Chico. O grupo recém criado não ficou apenas nos estudos, mas trabalhou dedicadamente na assistência social, fazendo visitas aos hospitais de hansenianos, presídios, cheches, asilos e hospitais até 1968.

Em 1968, Seu Manoel participou de um curso de expositores promovido pela União Espírita Mineira, onde conheceu os participantes do Grupo Espírita Emmanuel. Ele tornou-se trabalhador da União Espírita, como expositor, especialmente do estudo do evangelho. Hoje Manoel Alves é conselheiro e continua expositor da União.


Foto 2: Manoel Alves faz exposição sobre Caridade no Auditório da União Espírita Mineira em 2007


A amizade que fez com José Damasceno Sobral, Honório Abreu e Oswaldo Abreu, vindo depois a conhecer meu pai, José Mário Sampaio, foi muito importante em sua formação espírita. Ele passou a frequentar o Grupo Emmanuel, na região do Padre Eustáquio, atividade que mantém até os dias de hoje.

Algumas vezes tive a alegria de acompanhar Manoel, Sobral, papai e Luizão (que foi apelidado pela sua estatura física) em viagens doutrinárias no interior de Minas Gerais. Os temas que eles desenvolviam era o passe, os princípios básicos do Espiritismo, o estudo do Evangelho e a mediunidade. Sobral, nas viagens de divulgação da doutrina era todo cuidados. Eles levavam cartazes (que costumavam chamar de gráficos) e faziam exposições didáticas, em linguagem simples mas sempre embasada. A obra de Chico Xavier era uma referência constante e autores como Emmanuel e André Luiz eram sempre utilizados, sem o abandono das bases kardequianas.

O bom humor, a linguagem simples e os casos são sua marca distintiva. Há quem o chame de "Manoel dos casos". Foi extensa a sua experiência com a mediunidade e o movimento espírita: ele sempre tem alguma vivência pessoal para ilustrar uma idéia ou princípio.

Manoel construiu um barracão nos fundos de sua residência, na Rua Cornélio Cerqueira, que passou a acolher os membros da reunião originalmente iniciada na casa do cunhado. Estavam dados os primeiros passos da criação do Grupo Espírita Irmão Frederico. Frederico era um dos espíritos considerado pertencente à equipe de Scheilla.

O grupo cresceu e formalizou-se. Ganhou sede própria e hoje funciona há mais de dez anos na Rua Redentor, 90. Bairro São José. Os filhos numerosos, em sua maioria tornaram-se espíritas atuantes no movimento, mas Seu Manoel, apesar da idade, não considera seu trabalho encerrado e continua dando sua contribuição ao Espiritismo Mineiro.

Amigo, desejo-lhe vida longa e virtuosa!

Agradecimentos: Ao Robson Alves, que entrevistou o pai e enviou as principais informações para esta matéria.

27.3.08

Erraticidade é o mesmo que Plano Espiritual?

Figura 1: Judeu Errante, por Gustave Doré

Talvez as gerações novas tenham esquecido do mito do judeu errante.
Conta-se que Ashverus, um sapateiro, teria sido amaldiçoado por Jesus no episódio da crucificação por recusar-se a ajudá-lo ou por tê-lo tripudiado. Ele foi condenado a viver eternamente sem morrer, vagando pelo mundo. Dizem algumas variantes da história que ele vagará até a parusia ou volta de Jesus.
Quem sabe Kardec se inspirou nesta história fantasiosa ao escolher a palavra erraticidade, para designar a condição do espírito no intervalo das encarnações, "que aspira a novo destino, que espera". (O Livro dos Espíritos, questão 224) Ao empregar a palavra erraticidade, Kardec não parece referir-se a um lugar, mas a um estado dos espíritos. No comentário da questão 226, ele deixa claro que os espíritos podem ser encarnados, errantes ou puros.
A palavra errante, segundo o mestre Houaiss, vem do latim "errans, errantis" e significa "que anda sem destino, que se engana".
Erraticidade, portanto, não é o mesmo que "mundo dos espíritos" (linguagem kardequiana) ou plano espiritual (termo empregado amiúde por André Luiz), posto que os espíritos puros, em tese, participariam do mundo espiritual mas não se encontram em erraticidade, porque não mais necessitariam reencarnar.



25.3.08

TV Alterosa | Doenças da alma

Foto 1: Érica Toledo, apresentadora do programa Feminina

Alcione Albuquerque (psicóloga), Estêvão Andrade (ginecologista e acupunturista) e Ricardo Wardil (homeopata) falam sobre sua experiência com doenças da alma que aparecem (e desaparecem) sob a forma de doenças orgânicas no programa Feminina, da TV Alterosa, apresentado por Érica Toledo.
Clique no link abaixo ou no título desta publicação para ver a entrevista no site da TV Alterosa. Os entrevistados são espíritas.

TV Alterosa Doenças da alma

24.3.08

Outra Poesia de Damasceno Sobral

Benefício

Que a resignação seja bastante,
jamais, contudo, a ponto de fazer calar as súplicas,
porquanto elas encontrarão eco no Infinito,
eco proporcional à nossa humildade, à nossa fé.

Ainda que,
no paroxismo do infortúnio,
nem mesmo a prece aparentemente nos alivie,
nos sentiremos com novas forças
Para novas lutas.

Do livro "Almas Libertas" (poemas). publicado em Divinópolis, 1949.