Um grande amigo, cuja ética me exige ocultar o nome, tinha uma pequena capacidade da visão solucionável por um transplante de córneas. Médico, tinha inúmeras limitações para o exercício de sua profissão, além das limitações para estudar, que enfrentava com dificuldades.
Um conhecido hospital de olhos de Minas Gerais conseguiu-lhe a primeira córnea. Faltava uma segunda córnea para a melhora que lhe daria maior autonomia.
O transplante de córnea tem uma peculiaridade aos demais transplantes de órgãos. Segundo a narrativa deste médico, o hospital já o fazia sem o uso de imunossupressores, ou seja, sem o uso de remédios que diminuem a capacidade imunológica do organismo, porque a literatura médica já mostrava a inutilidade deste procedimento.
As córneas, via de regra, podem ser doadas até seis horas após a morte.
Outro detalhe, a córnea é uma película que se encontra na parte mais externa do olho. Ao contrário do que imaginam as pessoas, ao retirá-la, o cirurgião não "vaza os olhos", ou seja, não atinge as camadas internas e o cristalino, mantendo intata a imagem do cadáver, para o adeus dos amigos e parentes.
Mais importante, não há dúvidas quanto à morte do paciente quando a extração das córneas é feita, ele não necessita estar com o coração funcionando.
Meu amigo, transitoriamente em Belo Horizonte, passou a pedir a córnea que faltava a famílias que haviam acabado de perder seus entes queridos. Uma delas sensibilizou-se com sua dor, e suplantando a própria dor da perda, lhe concedeu o presente. A equipe do hospital foi em busca do cadáver, analisou-lhe a integridade das córneas, extraiu-as rapida e discretamente e as levou para beneficiar, não a uma pessoa, mas a duas pessoas.
Dele, posso dizer que tem utilizado seus olhos para o benefício de muitíssimas pessoas. Seja como médico, seja como cientista, seja como orientador, já formou inúmeros profissionais que hoje atuam no Brasil e no exterior e desenvolveu muitas áreas de conhecimento associadas a doenças de difícil estudo. A comunidade mineira se beneficiou imensamente deste gesto de grandeza de uma família desconhecida.
São relativamente poucos os pacientes a espera de doação de córneas no Brasil. Com conscientização da população em geral, já poderíamos ter erradicado a fila de espera, da mesma forma que não há mais casos de pólio ou de varíola, há muitos anos.
Escrevo este caso para sensibilizar o movimento espírita, que tem assumido a frente de tantas causas em favor do homem, para que utilize sua imprensa e a influência na imprensa leiga em favor desta causa.
"Doação de córneas. Mais luz entre os homens."