6.6.09

FESTA JUNINA DA AECX: AJUDE A ORGANIZAÇÃO


Estamos atrasados com a organização da Festa Junina de 2009, por diversos problemas pessoais que afetaram a comissão organizadora, mas ainda está em tempo de fazermos um "festão".

Este ano, a festa acontecerá no dia 04 de julho, na nossa parceira, a Escola Estadual Maestro Villa Lobos, na Rua Ouro Preto.

O que você pode fazer?

- Doe prendas para a festa. Como são montadas barraquinhas para a diversão das crianças (mesmo as crianças grandes participam), as prendas são a recompensa que elas buscam nas brincadeiras. Pense: que tipo de brinquedinho, utensílio ou brinde uma criança gostaria de ganhar? Não precisa ser caro, precisa ser legal. Evite a tentação de fazer uma limpeza de armário, a prenda tem que ser recompensadora.

- Doe recursos para a festa. Você quer fazer mais? Ótimo, estamos pedindo socorro! Normalmente os grupos da casa se organizam e doam o material que será utilizado para preparar o que será vendido para se comer na festa. Seu grupo pode contribuir com recursos financeiros, se julgar mais cômodo, ou participar mais diretamente, responsabilizando-se pelo material de alguma das barracas da festa. A cozinha serve caldo de feijão e caldo de mandioca. Já temos os fornecedores dos espetinhos e do refrigerante (não servimos bebida alcóolica), mas eles têm que ser pagos. Há um grupo que já assumiu a barraca de doces. Entre em contato com a secretaria da Associação Espírita Célia Xavier e veja como pode contribuir. 031-3334-5787 (Altair)

- Não pode fazer nada disso? Ajude a vender os ingressos. A festa é um dos poucos momentos em que conseguimos reunir os membros e suas famílias da Associação Espírita Célia Xavier. Ela não é apenas uma fonte de recursos financeiros, mas um momento especial. Incentive as pessoas do seu grupo desde já a reservarem espaço em suas agendas para estar presentes. Se elas não podem ir e querem ajudar, melhor participar da doação de recursos para a festa.

- Todas as pessoas da casa já compraram ingresso? Leve um vizinho, parente ou amigo legal. Leve pessoas que gostem deste tipo de festa, que estejam dispostas a passar uma tarde-noite agradável, que gostem de interagir e respeitem nossos princípios. Não se trata de vender muitos ingressos, mas de reunir pessoas interessantes, dispostas a entrar no espírito da festa.

- Ajudou a vender os ingressos? Ajude a montar e desmontar a festa na escola. No sábado pela manhã precisamos de pessoas para organizar, limpar e ajudar a montar a festa. No domingo de manhã ainda é mais crítico, porque depois da festa ninguém quer acordar cedo para ajudar a arrumar todo o reboliço de mais de mil pessoas. Sei que este pedido vai contra o impulso de dormir e acordar tarde no domingo, mas, força! Você consegue!

- Você vai? Interaja. Os ingressos devem significar presença, mesmo que o participante não queira consumir na festa. Iremos nos rever, conversar, dançar quadrilha, fazer as famílias estarem juntas. Apresente as pessoas que não se conhecem, abrace as que não vê há muito tempo, cumprimente a todos, passeie pela festa e curta o momento. Um conselho, se você não sabe dançar, sacuda o esqueleto. São tantos não dançarinos que ninguém vai ficar reparando (se ficarem, convide para sacudir o esqueleto com você).

- Você está na festa? Ajude a organização. Adquira as fichas na fila com paciência, leve dinheiro trocado, jogue os papéis, copos, e todo o lixo nas latas de lixo e lugares reservados para tal, ajude a olhar as crianças dos amigos. Lembre-se: 99% dos trabalhadores da festa são voluntários.

- Você está na festa? Curta! Jamais discuta com alguém por um "dá cá aquela palha", evite a ansiedade na hora de comprar e de participar das barraquinhas e atividades de diversão da festa. Relaxe! Aproveite o momento! Finja que é roça! Deixe os condicionamentos do trabalho e da vida corrida de capital para outro momento...

A Carol já está ajudando a organizar (clique no desenho e veja os detalhes). E você?

30.5.09

ENTREVISTA COM ASTRID SAYEGH 5

Figura 1: Mais uma turma de Filosofia Espírita

EC - Dora Incontri fundamentou sua proposta teórica no Espiritismo Kardequiano e criticou o pensamento niilista de alguns autores existencialistas e pós-modernos. Como você analisa este projeto?
ASTRID (IEEF) - Considero esse projeto de um valor inestimável. Dora Incontri é um Espírito muito lúcido e bem atualizado; o niilismo que caracteriza o existencialismo materialista exerce grande influência no pensamento da sociedade pós-moderna, daí a necessidade de conhecermos essas tendências de forma a saber combatê-las com fundamentos sólidos . O Espiritismo não pode estar a parte do momento histórico, e justamente por ser uma filosofia racional, essa razão iluminista deve continuar a serviço de uma crítica do momento histórico, de modo a superá-lo.

EC - Kardec utilizava um proto-conceito de classes sociais? Em caso afirmativo, ele é partidário da luta de classes ou da colaboração de classes?

ASTRID (IEEF) - Sob hipótese nenhuma os Espíritos se colocam a favor da luta de classes, pelo contrário, segundo a Lei da Igualdade, em O Livro dos Espíritos, todos os homens são naturalmente iguais, e as diferenças de classe são convenções. Existe sim diversidade de aptidões e de graus de conquista,mas dia chegará em que os homens não mais se olharão como castas de sangue mais ou menos puro, mas como Espírito mais ou menos puro. Embora os Espíritos admitam que seja impossível a igualdade absoluta de riquezas, longe de afirmar que exaltem a luta de classes, pelo contrário, em essência somos todos da mesma natureza, e um dia viveremos com as diferenças de forma harmoniosa.

EC - Herculano entendia que o Espiritismo é uma doutrina existencialista? Como se pode conciliar esta proposta com o pressuposto existencialista de que a existência antecede a essência?

ASTRID (IEEF) - Segundo Jean Paul Sartre, o mais conhecido filósofo contemporâneo, o homem veio do nada e volta para o nada. Efetivamente, surgimos no mundo como existentes, em meio a uma situação dada, de modo a então elaborarmos a nossa essência no mundo. Do ponto de vista espírita, poderíamos afirmar que a essência é que antecede a existência, potencialmente, e que no mundo tornamos essa potência ato; em outros termos, é na existência que revelamos nossa essência e a ela nos ajustamos.

EC - Alguns antropólogos brasileiros têm defendido a idéia de que Chico Xavier aproximou o pensamento de Kardec ao Catolicismo no Brasil. O que você pensa disto?

ASTRID (IEEF) - Na verdade, não foi Chico Xavier, mas Emmanuel que, por ter sido padre, certamente tem esse religiosismo muito presente em seu Espírito. No entanto, não considero essa questão comprometedora absolutamente, pois a atitude de reverência a Deus, termos que denotam paixão e não apenas a frieza da razão, nos contagiam muito mais que conceitos e raciocínios. Não vejo nada de misticismo como comentam alguns, pelo contrário, sinto a expressão de um Espírito fervoroso que, acima da expressão conceitual, pela nobreza de sentimento que o caracteriza-se, necessita expressar o seu interior de forma metafórica. Linguagem metafórica é uma coisa, igrejismo e dogmatismo, com todo respeito, é outra. Alguns filósofos inclusive consideram atualmente a linguagem metafórica como recurso mais adequado de se dizer as coisas espirituais.
Defendo a idéia de que o racionalismo puro também acaba por ser dogmático e não nos torna espíritas de fato, mas ardor e entusiasmo são geradores de mensagens autenticamente evangélicas e de conduta nobre. Eu diria que a mensagem de Emmanuel é antes evangélica cristã e não católica; seus livros nos induzem a educar os sentimentos, e não consta, absolutamente, nenhuma evidência de formalismo religioso.

29.5.09

SALON DU LIVRE - PARIS


O Conselho Espírita Internacional participou do Salon du Livre em Paris, em março deste ano. Elsa Rossi, através do Boletim do CEI, nos informa que todos os livros em francês foram expostos e muitos contatos com o mercado editorial europeu foram realizados.

Quanto à foto acima temos as seguinte mulheres, da esquerda para a direita:

Jussara Korngold - USA (de cabelos compridos)
Elsa Rossi - UK
Claudia Bonmartin - CESAK-Paris
Cristiane - CESAK PARIS
Homens:
Atras de Jussara- Charles Kempf - Coordenador do CEI Europa
João Korngold - esposo de Jussara
Toni e Jean Pierre Pepino Dirigentes de Grupos Espiritas Franceses.

28.5.09

AÑO DE LA INFANCIA Y LA JUVENTUD ESPÍRITA - COLOMBIA

O Boletim do Conselho Espírita Internacional (primeiro trimestre de 2009) traz a informação de que os espíritas colombianos dedicarão 2009 para o fortalecimento da evangelização infantil.

Para o leitor com dificuldades com o espanhol, vale a pena traduzir a seguinte explicação:

"A criação de Escolas Espíritas será fundamental para assegurar a continuidade e o futuro do Movimento Espírita Colombiano."

Parabéns à CONFECOL por tão lúcida resolução. Desejamos que 2009 conclua com uma centena de Escolas Espíritas na Bolívia!


26.5.09

QUE SIGNIFICA O RAMO DE VIDEIRA QUE OS ESPÍRITOS PROPUSERAM A KARDEC?


Figura 1: Imagem reproduzida do "Primeiro Livro dos Espíritos", traduzido por Canuto Abreu.


Recebi uma pergunta da Ana sobre a qual nunca me havia detido sobre o símbolo que os espíritos sugeriram representar o trabalho de Deus.

“As dúvidas principais, ou melhor, o não consenso foi em relação ao licor e ao bago.
As interpretações:


O espírito é o licor: seria a seiva que corre dentro da cepa ou o suco que sai da uva? O bago: é a uva (com a sementinha e seu envoltório) ou a sementinha dentro da uva?

Primeiramente fui ao texto em francês, que domino pouco, e encontrei mudanças entre a primeira e a segunda edições, que passo a reproduzir abaixo:

“Tu mettras en tête du livre le cep de vigne que nous t'avons dessiné (¹), parce qu'il est l'emblème du travail du Créateur; tous les principes matériels qui peuvent le mieux représenter le corps et l'esprit s'y trouvent réunis: le corps, c'est le cep; l’ame c’est le grain; l’esprit c’est La liqueur; c’est. l'homme qui quintessencie l'esprit par le travail et tu sais que ce n'est que par le travail du corps que l'esprit acquiert des connaissances.” (Primeira edição – Canuto Abreu)


“Tu mettras en tête du livre le cep de vigne que nous t'avons dessiné (¹), parce qu'il est l'emblème du travail du Créateur; tous les principes matériels qui peuvent le mieux représenter le corps et l'esprit s'y trouvent réunis: le corps, c'est le cep; l'esprit, c'est la liqueur;l'âme ou l'esprit unis à la matière, c'est le grain. L'homme quintessencie l'esprit par le travail et tu sais que ce n'est que par le travail du corps que l'esprit acquiert des connaissances.” (Segunda Edição – Federação Espírita Belga

Marquei as diferenças de tradução em vermelho. Como se vê, foram apenas um esforço de Kardec em deixar mais claro o que ele queria dizer.

Tetê du livre

Canuto Abreu – frontal do livro
Evandro Bezerra – cabeçalho do livro
Guillon Ribeiro – cabeçalho do livro
Herculano Pires – cabeçalho do livro
Salvador Gentile – cabeça do livro

Cabeçalho –“título e primeiros dizeres de qualquer publicação”

Em suma, a idéia dos espíritos é colocar no começo do livro, no início do livro. Parabéns à FEB por finalmente colocar o desenho da vinha na capa de “O Livro dos Espíritos”.

Le cep du vigne

Canuto Abreu – a cepa de vinha
Evandro Bezerra – a cepa
Guillon Ribeiro – a cepa
Herculano Pires – o ramo de parreira
Salvador Gentile – a cepa de vinha

Cepa – “tronco da videira, donde brotam os sarmentos” (sarmento – vide: rebento da videira, braço ou vara da videira)

Le corp’s c’est le cep

Herculano: O corpo é o ramo
Todos os outros tradutores: o corpo é a cepa

l'esprit, c'est la liqueur

Canuto Abreu – o espírito, enfim, é o vinho
Evandro Bezerra – o espírito é a seiva
Guillon Ribeiro – o espírito é o licor
Herculano Pires – o espírito é a seiva
Salvador Gentile – o espírito é o licor

Liqueur vem do latim “liquefazer”. Há um sentido para a palavra que é o de substância fluida ou líquida. A palavra seiva, em francês é sève, que é o líquido que nutre os vegetais. Não encontrei nos dicionários que procurei uma sinonímia entre licor e seiva.

l'âme ou l'esprit unis à la matière, c'est le grain

Canuto Abreu – a alma é o bago (diferença da primeira edição)
Evandro Bezerra – a alma, ou espírito ligado à matéria, é o bago
Guillon Ribeiro – a alma, ou espírito ligado à matéria, é o bago
Herculano Pires – a alma, ou espírito ligado à matéria, é o bago
Salvador Gentile – a alma, ou espírito ligado à matéria, é o grão

Encontrei no dicionário de francês dois sentidos para grain que se aplicam ao texto: “semente de cereal” e “pequena fruta redonda.”
Bago, no dicionário de português, viria de baga e significa cada fruto do cacho de uvas.

Minha conclusão aqui é com a maioria dos tradutores (perdoe-me Gentile, mas sua tradução literal o traiu). Trata-se da uva.

L'homme quintessencie l'esprit par le travail

Canuto Abreu – O homem é quem, pelo trabalho destila o espírito (primeira edição)
Todos os outros autores – O homem quintessencia o espírito pelo trabalho

Quinta-essência: “substância etérea e sutil, extraída do corpo que a continha; extrato retificado, levado ao último apuramento”; “substância considerada pelos alquimistas como o quinto elemento, além da água, da terra, do fogo e do ar e obtida após cinco destilações sucessivas; o mais alto grau, o requinte, o auge; o que há de melhor”

Discussão:

Depois de todo este esforço de Hermenêutica, matéria sobre a qual Canuto Abreu tinha notório saber, o que posso concluir é o seguinte:o corpo é a rama da videira, a alma ou espírito unido à matéria é a uva e o espírito é o líquido dentro da uva, seu suco. Através do trabalho, o ser humano transforma o suco em vinho, ou seja, a destila, retira sua quintessência, transforma o espírito em um espírito do mais alto grau, superior, evoluído.

24.5.09

DESENCARNA LUIS SCHVARTZ

Julia Nezu, o marido (assentado) e Luis Schvartz

Recebi ontem de Pedro Nakano a informação da desencarnação de Luis Schvartz, diretor de patrimônio do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro. Transmito suas palavras:
"Desencarnou hoje, sábado, 23 maio 2009, assistindo o "Curso de Gestão de Centro Espírita" no CCDPE. Estudioso de grande valor, Expositor muito querido da Área de Ensino da Feesp, atualmente Expositor e Diretor do CCDPE-ECM muito colaborou com a nossa Diretoria."
O que posso dizer ao leitor é que conheci Luis no 4o. ENLIHPE, sempre presente, entusiasmado e participante. Ao questionar (apropriadamente) um dos expositores, ficou imensamente preocupado em não ter ofendido ou gerado conflito. Após ver seus olhos, o que pude pensar é que se tratava de uma alma boa e generosa.
Luis nos antecedeu na grande viagem. Estamos em lágrimas, como quem acompanha um amigo querido que se muda para um país distante, mas desejosos de que a viagem lhe seja plena e memorável.

23.5.09

ENTREVISTA COM ASTRID SAYEGH 4


Foto 1 - Divulgação do Concepção Existencial de Deus
Continuação das entrevistas dos dias 2, 9 e 16 de Maio
EC - Ao distinguir o princípio espiritual do princípio material em “O Livro dos Espíritos”, os espíritos assumiram a proposição de uma segunda natureza, a natureza espiritual? Pode-se dizer que os espíritos são adeptos do paralelismo psicofísico?

ASTRID (IEEF) - Embora exalte a existência de duas substâncias e não uma só, como é o caso de Espinosa, não nos parece que os Espíritos sejam adeptos do paralelismo psicofísico, mas antes afirmam a existência de uma matéria ou corpo fluídico, mediador entre ao espírito e a matéria propriamente dita. Efetivamente a qualidade de pensamentos e sentimentos do espírito adere à matéria fluídica, mas não que se correspondam, em termos precisos.

EC - Alguns estudiosos de Kardec imputam uma influência do pensamento positivista em sua obra. O que você pensa disto?

ASTRID (IEEF) - Não considero o Espiritismo positivista. Talvez os fundamentos da Doutrina, a sua base seja positivista, mas sua essência é antes ética e metafísica, coisa que o positivismo, de um modo geral, nega. O positivismo lógico baseia-se nos fatos e aqui termina a ciência, porém o Espiritismo vai muito mais além; o fato é só o ponto de partida para a metafísica, que constitui a sua verdadeira natureza. Repito, Espiritismo é metafísica e não fenômenos, e isso precisa ser ensinado em nossas escolas, de modo a não destruirmos o próprio fundamento dos valores morais. Daí a importância da reflexão filosófica na casa espírita, de modo a exaltar a autoridade científica do Espiritismo, para não nos dogmatizarmos e reduzir o alcance e profundidade do Espiritismo ao assistencialismo.

EC - Quais são as grandes diferenças entre o pensamento do Agostinho de “Confissões” e “Cidade de Deus” para o Agostinho-espírito, interlocutor de Kardec? Quais as semelhanças?

ASTRID (IEEF) - Esta pergunta é um pouco difícil de ser respondida com precisão, pois se tratam de deduções apenas e não temos bases sólidas em que se apoiar para afirmar algo sobre o pensamento de Agostinho. Certamente, dado o fato de Agostinho fazer parte da Revelação Espírita nos leva a crer que tenha superado suas convicções como bispo. Através de suas mensagens, particularmente no que se refere ao autoconhecimento, em O Livro dos Espíritos, a necessidade de interrogar a consciência todos os dias faz lembrar o processo de Confissões, de modo a tornar possível uma conversão do Espírito. A Cidade de Deus hoje, talvez tenha outro signficado: embora devamos respeitar a Cidade Terrena, a vida pós-morte não é plena e nem tampouco dá-se o encontro definitivo com a eternidade. Muitos conceitos aqui entrarão em questão, o que merece uma reflexão detalhada senão quisermos ser imprecisos.

22.5.09

FOURIER E O ESPIRITISMO

Quando se trata da história do Espiritismo, talvez pela ampla divulgação do livro de Conan Doyle, que, na verdade, escreveu sobre a história do espiritualismo moderno, há uma ilustre omissão que descobri por acaso, lendo a Revista Espírita de Allan Kardec.

Antes de serem criticados e quase proscritos pelos materialistas (Marx, por exemplo, os estigmatizou como utópicos), os socialistas idealistas tinham grande influência em meios sociais que buscavam alternativas à sociedade republicana do iluminismo e da revolução francesa.


Projeto de Falanstério desenhado por Fourier

Charles Fourier foi fundador de um movimento que ganhou dimensões internacionais, no qual tentava organizar os interessados em falanstérios ou falanges, uma espécie de comunidade autônoma e autosuficiente, na qual as pessoas pudessem trabalhar segundo suas características pessoais e na qual não houvesse diferenças acentuadas. Esta comunidade seria ao mesmo tempo urbana e rural, na tentativa possível de não necessitar de trocas comerciais com a sociedade, mas Fourier era avesso à industrialização e às máquinas.



Familistério de Guise

Foge ao objetivo de um texto de weblog fazer uma análise detalhada das semelhanças e diferenças entre o Fourierismo e o pensamento de Kardec, mas asseguro que há diferenças muito marcantes e algumas idéias quase delirantes e excessivamente detalhistas em Fourier, como pude verificar no livro “Os Socialismos Utópicos” de Jean-Christian Petitfills, publicado pela antiga Zahar.

O que praticamente não se conhece (ou se omite) é que Fourier era reencarnacionista e que tinha idéias de alguma forma próximas às espíritas.

Na Revue de dezembro de 1862 Kardec publica uma síntese das idéias de Fourier obtidas em uma carta enviada por um fourierista contemporâneo ao codificador. Ele afirma sua surpresa ao ler as obras espíritas e encontrar semelhanças.

“(...) reconheci toda a teoria de Fourier sobre a alma, a vida futura, a missão do homem na vida atual e a reencarnação das almas”

O autor da carta prossegue com a seguinte passagem:

"O homem está ligado ao planeta; vive sua vida e não a deixa mesmo morrendo. "Há duas existências: a vida atual, que Fourier compara ao sono, e a vida que ele chama aromale, a outra vida em uma palavra, que é o despertar. Sua alma passa alternativamente de uma vida para outra, e periodicamente volta a se reencarnar na vida atual. Na vida atual, a alma não tem o sentimento de suas vidas anteriores mas da vida aromale tem a consciência e vê todas as suas existências precedentes. As penas na vida aromale são os temores que sentem as almas por estarem condenadas, reencarnando-se na vida atual, de vir animar o corpo de um infeliz; porque, disse Fourier, vêem-se todos os dias pessoas virem pedir a caridade à porta dos castelos dos quais foram proprietárias em suas vidas precedentes, e acrescenta: Se os homens estivessem bem convencidos da verdade que trago ao mundo, todos se apressariam em trabalhar pela felicidade de todos."

Como os leitores e comentaristas têm sempre que fazer escolhas sobre o que desenvolverão em seus textos e a reencarnação aparenta ser apenas mais uma idéia singular (para não dizer esdrúxula) aos olhos de um estudioso da História ou da sociedade, elas vão sendo omitidas nos textos contemporâneos, à espera de alguém que considere o espiritualismo e o espiritismo como elementos do cenário social dos séculos XIX e XX e não apenas uma “seita imigrante”.

Falanstério de Saí

Por falar em imigração, um dos precursores do Espiritismo Brasileiro, Benoit Jules Mure, tentou construir uma comunidade fourierista em Santa Catarina (Colônia Industrial de Saí), antes de voltar ao Rio de Janeiro e dedicar-se à homeopatia e ao magnetismo de Mesmer. Não consegui uma localização precisa do local, mas parece ficar nas cercanias de Joinville.

16.5.09

ENTREVISTA COM ASTRID SAYEGH 3

Figura 1: Turma no IEEF - 2008
(Continuação das entrevistas dos dias 02 e 09 de Maio)


EC - Qual é a influência de Descartes na codificação?

ASTRID (IEEF) - Essa questão é bastante extensa, mas poderíamos dizer que Descartes inaugurou a fase do Racionalismo e do Idealismo, abrindo as portas para o Espiritualismo. Podemos perceber ainda sua influência na Filosofia Espírita, particularmente por afirmar a trindade das substâncias, assim como seus atributos.

EC - A visão de Deus em Kardec, excetuando-se o mito da trindade, assemelha-se à de São Tomás de Aquino?

ASTRID (IEEF) - Tomás de Aquino buscou conciliar os ensinamentos cristãos com a Filosofia de Aristóteles, e foi assim um dos primeiros filósofos a buscar conciliar a fé com a razão. Nesse sentido ele, já à época, nos traz provas racionais sobre a existência de Deus, algumas das quais parecem identificar-se com o conceito espírita, particularmente no que tange a um Ser Inteligente.

EC - Qual é a diferença entre a concepção de Deus dos iluministas (especificamente o deísmo de Voltaire) e a dos espíritos da codificação?

ASTRID (IEEF) - Segundo Voltaire Deus existe porque existe a ordem do mundo, ou seja, o relógio é a prova de que existe o relojoeiro. Também a Filosofia Espírita, em O Livro dos Espíritos, afirma que a harmonia do universo pressupõe uma causa inteligente. Argumenta ainda Voltaire que no universo há seres inteligentes e que, portanto supõe-se uma causa inteligente que anima o universo. Por outro lado, Voltaire é deista no sentido de que a existência de Deus não é um artigo de fé, mas sim resultado da razão. Embora a Filosofia dos Espíritos exalte a provas racionais da existência e dos atributos de Deus, ela não nega a importância da fé.

15.5.09

FOLHA ESPÍRITA PUBLICA ENTREVISTA SOBRE PESQUISA ESPÍRITA NO BRASIL

Foto 1: Marco Milani
Marco Milani, espírita e doutorando da USP responde a uma entrevista sobre a pesquisa espírita no Brasil. Ele fala um pouquinho da LIHPE. Acesse
http://www.folhaespirita.com.br/v2/?q=node/347 e leia diretamente na Folha Espírita.

13.5.09

APES REALIZA EXPOSIÇÃO SOBRE CHICO XAVIER

Exposição da vida de Chico Xavier em Paris, levada por Célia Diniz.

L’Association Parisienne d’Etudes Spirites vous invite à assister l’exposé de Mme Célia DINIZ sur la vie du médium brésilien Francisco Cândido XAVIER (1910-2002).

9.5.09

ENTREVISTA COM ASTRID SAYEGH 2

Foto 1: Turma de Filosofia Espírita no IEEF
EC - Apesar de pleitear uma discussão filosófica e racional para seu pensamento, Kardec é praticamente desconhecido pelos docentes de Filosofia no Brasil. Por que isto aconteceu?

ASTRID (IEEF) - Sem dúvida, Kardec é pouco conhecido no meio acadêmico; acredito que isso se deva ao fato de, primeiramente haver um preconceito muito grande por parte dos docentes, certamente por falta de conhecimento dos fundamentos doutrinários e da rigorosa metodologia empregada por Kardec; mas por outro lado, poucos espíritas se aventuram a apresentar no meio acadêmico, de forma metódica e segundo os requisitos científicos, a autoridade do Espiritismo, particularmente no seu aspecto filosófico. O Espiritismo nada tem a temer perante a filosofia acadêmica, assim como a filosofia tradicional só tem a ganhar com os conceitos espíritas, pois esses trazem a sanção dos valores morais que ela sempre pregou.

EC - Há uma corrente contemporânea de céticos que defendem a inexistência de evidências favoráveis ao Espiritualismo. O que você tem a dizer sobre isto?

ASTRID (IEEF) - Sem dúvida, vivemos um século caracterizado por um ceticismo extremado, talvez herança do pensamento positivista, para o qual só é considerado científico o que é de natureza observável. Ao se exaltar apenas o lado fenomênico do real, nega-se a face invisível, e que é a mais autêntica.
Ora, as evidências favoráveis ao Espiritualismo não são fenomênicas, como o próprio Kardec afirma na conclusão de O Livro dos Espíritos, isso se explica pelo fato de os sentidos não se prestarem ao conhecimento da realidade metafísica. Os fariseus também exigiam sinais de Jesus, e este afirmou que jamais os teriam. É impossível ao anatomista conhecer a alma através da dissecação do corpo, assim como é impossível conhecer as substâncias ou princípios constitutivos do universo através da física e de outras ciências naturais. Essas podem oferecer indícios, mas jamais conhecer a natureza do objeto metafísico. Confesso, Jader, preocupa-me o fato de espíritas quererem trazer o Espiritismo para a Física Quântica, como se este necessitasse da autoridade desta para se impor. O Espiritualismo racional e lógico, e por isso se basta. Cabe aqueles que o negam apresentar uma prova contrária à lógica.
Com efeito, ao reduzir o conhecimento à realidade observável, ou fenomênica, jamais poderemos falar de espiritualismo, pois esse transcende ao mundo sensível, como diria Platão. Daí a importância de exaltar a metafísica, a ciência das causas e princípios, tão menosprezada em nossos dias — até mesmo nas escolas espíritas.

EC - Quem desenvolveu o curso de Filosofia que você tem dado no CCPDE? É possível explicar seu programa e metodologia de estudos?
ASTRID (IEEF) - O Instituto Espírita de Estudos Filosóficos desenvolve um curso intensivo de um ano junto ao Centro de Cultura, Pesquisa e Divulgação Eduardo Monteiro. No entanto, os cursos regulares possuem a duração de quatro anos, cuja programação consiste em:
1º ano: O Espiritismo e os Filósofos
2º ano: Temas Filosóficos Espíritas
3º ano: Evolução do Princípio Espiritual
4º ano: Gnosiologia e Ética Espírita
Cursos para formação de Expositores de Filosofia
Curso sobre a obra de Leon Denis: O problema do Ser
Cursos modulares sobre as obras de Herculano Pires
As aulas são expositivas, mas a pedagogia do IEEF é ativista. Filosofar é uma atitude de questionamento e buscar a verdade através da reflexão em conjunto é muito significativo.

6.5.09

ADEP PROMOVE JORNADA EM PORTUGAL

Foto 1: Visão parcial da mesa e público da Jornada de Cultura Espírita de Portugal (ADEP)


A Associação de Divulgadores Espíritas de Portugal realizou nos dias 1 e 2 de Maio do corrente, na Vila de Óbidos, a 5ª. Jornada de Cultura Espírita.

A programação contou com temas como Experiências de Quase-Morte (Dr. Manuel Domingos), Espiritismo e Internet (Dr. Vasco Marques), Fenômenos Espíritas e suas Consequências Morais (Ulisses Lopes), Relações Interpessoais (Jorge Gomes), Um Caso de Reencarnação (Eugénia Rodrigues), Fatos Espíritas em Portugal (José Lucas), Vida Além da Morte (Dr. Vítor Rodrigues – Psicólogo) e Fatos Espíritas em Regressão de Memória (Dra. Gláucia Lima – Psiquiatra).

O evento será disponibilizado pela internet futuramente. (
http://www.adeportugal.org )

Parabéns à comunidade espírita portuguesa. Possamos ampliar o intercâmbio entre os dois países.

4.5.09

ENTREVISTA COM JOÃO XAVIER DE ALMEIDA

Figura 1: João Xavier de Almeida

O Espiritismo Comentado recebeu o Boletim Informativo "Paz Amor Trabalho" da Associação Cultural e Beneficente de Mudança Interior de maio de 2009, Portugal, gentileza de nosso amigo Terroso Martins. Ele traz a entrevista com João Xavier Almeida, ex-presidente da Federação Espírita Portuguesa e colaborador da Comunhão Espírita Cristã de Rio Tinto.


O Espiritismo Comentado selecionou duas questões interessantes e manteve a grafia do Português Lusitano.


Paz-Amor-Trabalho: - Faz sentido a querela de o Espiritismo ser ou não ser religião?
João Xavier Almeida: - Não lhe encontro fundamento nem utilidade, quando está definido pelo próprio Codificador, com muita clareza, em que sentido o Espiritismo é religião e em que sentido não o é.
Na acepção filosófica e filológica do termo, o Espiritismo é religião, “e disso nos
gloriamos”, como se exprimiu Allan Kardec no conhecido discurso do dia de finados, no ano de 1868. Nesse discurso, e contrariamente ao que por vezes se lê, Allan Kardec não afirma que o Espiritismo não é religião; apenas se interroga: “por que é, pois, que não declaramos que o Espiritismo é uma religião?”
É muito diferente, e ele mesmo responde porquê: na acepção vulgar, o termo religião está associado com a ideia de hierarquias, cerimónias, pompas, rituais, etc. Ora, todo esse folclore, certamente respeitável em contexto próprio e à luz da Antropologia e quiçá Etnografia, nada tem a ver com a noção pura de religião, e menos ainda com a inquirição científica e filosófica do Espiritismo.
Este, no seu também inegável aspecto religioso, rompe a ideia da suposta incompatibilidade entre fé e razão (ver capítulo primeiro do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo) e introduz um novo conceito de religião, quando rejeita a fé cega e consagra a noção de fé raciocinada, com fundamento no estudo racional e metódico de factos espíritas indesmentíveis (capítulo 19 do mesmo livro). A ciência “oficial” não conseguia explicá-los nem podia negá-los.

Na REVISTA DE ESPIRITISMO, órgão da FEP (nº 78, Outubro-Dezembro de 2008),
abordei mais em pormenor esse tema, no artigo CIÊNCIA E RELIGIÃO.

PAT: - Como caracteriza o actual momento do movimento espírita português?
João Xavier Almeida: - O movimento caminha e progride, apesar de dificuldades intrínsecas.
Carecemos de viver mais autenticamente os valores espíritas, de integrar mais o ideal kardecista na nossa vida quotidiana, de nos motivarmos mais, de interagirmos mais (individual e colectivamente), de não temermos o “parece mal” do preconceito social.
Talvez por motivos de fundo cultural, tendemos a agir com individualismo e pouco sentido colectivo, a esperar muito dos outros e dar pouco de nós. Vê-se nos nossos centros, dum modo geral, sempre os mesmos companheiros a arcar com a iniciativa, a acção, a responsabilidade. Em parte, isso também se deve à pouca aptidão para delegar, distribuir competências: um atributo em que eu próprio, na FEP, me revelei pouco dotado.
Outra nossa característica, nada salutar, é a fraca adesão a algumas acções de interligação e cooperação, dois factores indispensáveis ao grande objectivo da UNIFICAÇÃO espírita, tão acarinhada pela espiritualidade superior. Ao falar em unificação, claro que tomamos o termo no sentido mais nobre; portanto avesso à ideia de unicidade de pontos de vista, ou a ideias de hegemonia e privilégios para pessoas ou grupos. Pensamos na unificação que tem provado a sua eficácia noutras latitudes, na qual as instituições de base e as de cúpula se entreajudam e se robustecem mutuamente, fazendo o movimento, global e metodicamente, progredir mais na capacidade de servir a sociedade de que faz parte, ajudando a elevar-lhe a espiritualidade, os padrões de consciência, de cidadania. E conquistando, até, prestígio público.

No passado, os bens ignobilmente usurpados à Federação Espírita Portuguesa pelo “Estado Novo” (1962), assim como todas as perseguições que este lhe moveu, aconteceram devido em grande parte ao morno idealismo dos próprios espíritas, à sua desunião, às meias-tintas duma prática espírita muito motivada pela busca do fenómeno mediúnico e bem pouco pelo padrão evangélico.

Espiritismo, no dizer de Emmanuel, é o Cristianismo redivivo. Se florisse então no
nosso movimento algo da fibra evangélica dos primeiros cristãos, os bens da FEP nunca seriam confiscados; ou se fossem, bem pouco tardaria a sua devolução, com justa compensação por todos os danos sofridos.

Quanto ao presente: É impossível ignorar-se o mal-estar que transvaza da cúpula
directiva do movimento, com temíveis prognósticos desagregadores.
Devemos sempre respeito e fraternidade aos nossos confrades, mesmo, ou sobretudo, quando equivocados e envolvidos (certamente a contra-gosto) na teia perigosa de situações de conflito, nas quais também qualquer de nós um dia pode cair. O quadro ameaçador encerra um aviso muito sério, que clama por todas as reservas de prudência e boa-vontade da nossa militância espírita, advertindo-nos mais uma vez do seguinte: Sem dúvida, os estatutos civis da FEP, tal como os das outras instituições espíritas, merecem respeito e acatamento porque são necessários. Mas não esqueçamos que eles, como diria Jesus (Marcos 2.27), foram feitos para as instituições, e não estas para os estatutos. A melhor leitura que deles se possa fazer, há-de ser inspirada pela moral espírita, isto é, pelo Evangelho de Jesus nos corações. Este deve prevalecer como nosso estatuto supremo, uma vez que constitui, afinal, não só a razão de ser como também a segurança do movimento espírita português, contra todos os perigos.

João Xavier de Almeida

3.5.09

ENTREVISTA COM ASTRID SAYEGH

Foto 1: Astrid Sayegh (Cortesia do Correio Fraterno)
Astrid Sayegh, espírita, Doutora em Filosofia, fundadora do Instituto Espírita de Estudos Filosóficos (IEEF). Uma simpatia em pessoa.
O IEEF funciona na Praça Florence Nightingale, 79 - Jardim da Glória, São Paulo.
O Espiritismo Comentado entrevistou-a e conversamos muito sobre Filosofia e Espiritismo. Vamos publicar o resultado do trabalho ao longo do mês de Maio.
EC - Com que autores da Filosofia Kardec dialoga em sua obra?

ASTRID (IEEF) - Em prolegômenos a O Livro dos Espíritos, estes afirmam ser o Espiritismo uma Filosofia Racional, livre do preconceito do espírito de sistemas. Por sistemas entende-se as várias escolas filosóficas, ou um conjunto de ideais de determinado autor organizadas logicamente. Os espíritos afirmam desta forma que o Espiritismo não se encaixa em nenhum sistema ou conceito de um autor particular. Isto não significa que a Filosofia Espírita venha a negar os sistemas filosóficos, mas antes que, como síntese de um processo, ela abarca questões que já foram abordadas pelos autores na história, porém mantém a sua conceituação particular, o que mantém a sua identidade na história da filosofia.
Herculano Pires, em Introdução À Filosofia Espírita, afirma que o Espiritismo é a síntese da tradição filosófica, e que nesta encontram-se as raízes da Filosofia Espírita. Isso significa que o pensamento dos filósofos culminou na Filosofia dos Espíritos, na época moderna, e que estes devem ser considerados de modo a entender a amplitude de conceitos doutrinários. Efetivamente, Kardec não dialoga com nenhum autor em particular, e ao mesmo tempo dialoga com todos os filósofos. No entanto, em todos os momentos, podemos dizer que Kardec dialoga contra os materialistas.

EC - A formação de um bacharel em Filosofia demanda quatro anos de ensino superior ou mais. Como inserir os estudos de Filosofia no movimento espírita?

ASTRID (IEEF) - Muito embora um curso superior de filosofia se estenda por anos, é possível abordar de forma sintética o pensamento dos filósofos. No IEEF estudamos os pensadores durante um ano, e estabelecemos sempre uma correlação com os conceitos da Filosofia Espírita. Essa parte é essencial, pois é através desta reflexão que podemos entender a origem e os princípios da Filosofa Espírita.

EC - Que obras de Filosofia você indicaria aos interessados em estudar as conexões da codificação com o pensamento europeu?

ASTRID (IEEF) - São poucos aqueles que se dedicam a um trabalho fecundo sobre esta relação entre os conceitos doutrinários e a tradição filosófica; podemos indicar toda a obra filosófica de Herculano Pires, pois ele percorre a evolução histórica do pensamento em quase todos os textos, assim como os livros do Professor Manoel P. São Marcos, Filosofia Espírita e seus Temas, o qual foi o primeiro a escrever estudos sistematizados de Filosofia Espírita. O IEEF em breve lançará a obra Princípios da Filosofia Espírita, como texto didático visando essa conexão.

1.5.09

A LENDA DAS DUAS RAINHAS

Foto 1: Capa do livro editado pela Comenius

Recebi este pequeno livro escrito sob inspiração pela pena do médico Franklin Santana Santos.
Ele transforma a História em história, com linguagem moderna, direta e deliciosa de se ler. Uma vez iniciada a leitura, é difícil a um amante da filosofia interrompê-la.
A Fé e a Razão são duas rainhas que viverão uma história de conflito cheia de reviravoltas. Haverá reconciliação possível entre as duas rainhas? Não posso responder à questão sem prejudicar o suspense que é criado na narrativa do autor. Há momentos em que o livro abandona um pouco a narrativa para tornar-se informativo, talvez por isto se tenha colocado na capa principal a expressão "mediunidade pedagógica".
Penso que o livro é utilíssimo ao evangelizador da infância que deseja contar a história das três revelações, assim como ao expositor que deseja uma nova abordagem para a História da Filosofia Espírita e pode ser adaptado às crianças pequenas.
Quanto ao trabalho da Comenius, destaco as ilustrações. Elas são belíssimas e ajudam a criar o clima de história ao longo da leitura. Impresso em um papel que lembra o reciclato, recomendo sua leitura aos amantes de histórias e do Espiritismo.
Ele pode ser comprado pelo site da Editora Comenius e custa 15 reais. A renda será destinada à Associação Brasileira de Pedagogia Espírita - ABPE e tem como finalidade auxiliar a construção de um hospice (não me perguntem o que é isso nos comentários...) http://www.editoracomenius.com.br/loja/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=44

29.4.09

Dois Homens

Foto 1: Bíblia antiga encontrada em Chipre
Jáder Sampaio


Dois homens sedentos de felicidade tiveram em suas mãos um manuscrito, que continha diversas máximas e fatos, e possuía por propósito levar a boa notícia a quem quer que assimilasse o modo de vida.

O primeiro homem leu-o, febrilmente, as páginas em alguns dias e sentiu-se disposto a em empenhar-se no grande trabalho. Acumulou riquezas para que o “reino” que pretendia implantar tivesse estrutura inicial e adeptos, os quais granjeou com templos pomposos, medo e força.

Um dia acordou preocupado com a sua doutrina, criou uma classe de representantes de organização hierárquica, que pudessem, de braços dados com a política da época, exercer o seu mandato. Para a preservação desta estrutura, sacrificou todos aqueles que não comungavam com os seus ideais afirmando serem enviados do demônio. Não satisfeitos com tal, expandiu seus domínios, conquistando povos e manipulando exércitos sob a égide: “Não vim trazer a paz, mas a espada.” (Mt. 10:34)

Buscando levar os ensinos ao povo, representou-os por atos exteriores sem lhe explicar o sentido. Insatisfeito com os dizeres que lhe pareciam obscuros, modificou as cópias dos manuscritos e proibiu a livre leitura por parte dos neófitos. Senhor de um grande império, sentiu receios e procurou preservar a própria vida dos inimigos que criara com as armas dos subordinados. Usou da coroa do mundo, cravejada de ouro e brilhantes, para consagrar-se a si mesmo o maior dos representantes. Mancomunou-se com o mal e o vício para afirmar-se ainda mais.

Esqueceu-se da humildade e julgou-se maior que o “Criador da Vida” afirmando constantemente: “Sois deuses”. . . (João 10:34) Finalmente, ao sentir aproximarem-se as horas finais, perdoou os inimigos em voz alta, dizendo: Deus se encarregará deles.

Envolveu-se em sombras e nelas pereceu, infeliz e angustiado, em meio a lamentos e gritos de vingança que se corporificavam em sofrimento e dor. No ápice dos tormentos afirmou desesperado: Tudo o que li é mentira.

O segundo homem estudou com calma e ponderação, meditando e questionando para reter e compreender os ensinos. Identificou o mal que havia dentro de si e penetrou no firme propósito de modificar-se.

Dominou impiedosamente, seus defeitos e imperfeições, muitas vezes sob lágrimas atrozes, dizendo sempre: “Não vim trazer a paz, mas a espada”.

Sentiu a incompreensão e o desprezo dos pais e irmãos, e sem lhes atender as sugestões maliciosas, dedicou-se-lhes ainda mais, tendo em mente: “Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras receberá o cêntuplo de tudo isso que terá por herança a vida eterna.” (Mt. 19:29)

Acumulou-se de virtudes, obedecendo ao dizer: “Não ajunteis tesouros na terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça, nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam nem roubam”. (Mt. 6:19 e 20)

Dirigiu-se em direção ao povo e pregou, ele mesmo, as verdades que aprendera, disseminando amparo ao corpo e à alma. Não deu ouvidos aos que lhe caluniaram afirmando serem ainda crianças no entendimento; mas ainda assim amparava aos ingratos.

Ergueu um altar no coração para que pudessem adorar a Deus em Espírito e Verdade. Preocupando com os dizeres que não entendia, pediu inspiração aos anjos para que pudesse entendê-los, até que satisfez-se e tornou-se possuidor das palavras de vida eterna.

Não temeu jamais aos homens que apenas lhe podiam roubar o corpo.

Usou a coroa de espinhos, repleta do fel da ingratidão, abençoando e pedindo pelos que lhe caluniavam. Ante os convites inferiores, era severo e redarguia sempre: “Vai-te satanás, porque está escrito: Ao senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. (Mt. 4:10) Se lhe bajulavam ou lisonjeavam-no respondia: “Por que me chamas bom? Não há bom senão um só que é Deus.” (Mt. 19:17)

Quando a “grande viagem” manifestou-se, ele procurou inimigos que pudesse perdoar e não os encontrou, por que não havia lugar para as inimizades um instante sequer em seu coração. Ao desencarnar, ouviu suave melodia, entoada em coro por milhões de vozes que lhe diziam: “Benfeitor desconhecido mas não esquecido; benvindo seja ao reino dos céus que levaste a terra enquanto jungido à carne”.


(Escrevi e publiquei este conto em 1984, no Eterna Mocidade... Este ano ele faz 25 anos!)

23.4.09

REENCARNAÇÃO?

Vídeo enviado por Maurício Brandão (Site Espirituadades e Sociedade) apresenta caso provável de reencarnação.


22.4.09

NOVIDADES NO ESPIRITISMO COMENTADO


O Espiritismo Comentado está com uma novidade. As divulgações de eventos espíritas será feita no blog "Eventos Espíritas" (http://eventoespirita.blogspot.com/)

O último evento divulgado neste blog aparecerá dinamicamente no EC, à direita dos textos. Basta clicar neles para acessar o blog-auxiliar do EC e ficar informado sobre os eventos programados para acontecer no Brasil ou no Exterior.

17.4.09

DOIS FRAGMENTOS

Figura 1: Criança Auxiliada por Programa de Crianças de Rua

O menino de rua entrou portaria adentro e deu de cara com uma funcionária da Universidade. Na minha cidade costuma-se chamar de Zé, a quem não tem nome, embora este menino tenha também sobrenomes: pivete, vagabundo, moleque, sem mãe... Mirradinho, embora eu não fosse capaz de dizer qual era a sua idade, moreno, olhos brilhantes, cabelos crespos, ele perguntou, direto:

- O que é isto aqui?

A funcionária, em um final de tarde, olhou para o menino e com um ar maternal respondeu:

- Uma faculdade!

Se ela tivesse conversado em grego, não seria muito diferente. O olhar do menino denunciava claramente que ele não havia entendido do que se tratava. Acostumado a ser tocado daqui e dali, como se fora um cãozinho, mas não foi mal recebido, o que lhe deu coragem para respirar fundo e insistir:

- Mas como é que a gente entra aqui?

Um diálogo de surdos! Falam a mesma língua, mas não se entendem. A funcionária respondeu, com um certo ceticismo e algum desalento na voz:

- Ihh, não é fácil. Primeiro você tem que estudar oito anos no ensino fundamental, depois mais três anos de ensino médio, aí você faz o vestibular, que é muito difícil, e, se passar, pode entrar.

Se ela tivesse falado em dialeto maia ou inca não seria mais entendida. O diálogo cessou por aí, com o menino olhando por cima do balcão de entrada, um olhar curioso, enigmático, com apenas uma certeza: não dá para entrar aí, mas, o que é isto aí mesmo?

* * * *


Norte de Minas Gerais. Um calor seco, insuportável ao meio dia. Uma pequena metrópole no meio do nada. No centro da cidade circulam a pé e de ônibus uma população cujo salário-referência é a metade de um salário mínimo. Terra de contrastes, na qual alguns quilômetros separam um haras de cavalos importados de um acampamento de tendas de lona, sem esgotamento, sem água encanada, sem luz elétrica, aberto pelos tratores da prefeitura para quem quisesse sair da vida campesina e construir casas... Crianças às dezenas levadas para as portas de um hospital público, repletas de doenças que não deveriam mais existir no final do século XX. Clima desértico, a temperatura cai muitos graus à noite, o que propicia pneumonia ao lado de desidratação, doenças de pele juntamente com parasitoses, todo o tipo de doenças que têm mosquitos como vetor, combatidas com o irritante inseticida, aspergido pelas ruas através de máquinas barulhentas, em uma tentativa inócua de combater os insetos que teimam em se multiplicar em toda parte.

As escolas públicas, quando não obedecem à arquitetura homogêneas das escolas estaduais, são pequenos cômodos, casebres, que acolhem com escassez de recursos as crianças, o futuro da região.

Em um dos bairros situado no limite da classe média e da periferia, um núcleo espírita. Pequeno, para os padrões da capital, mas muito procurado pela população de diferentes segmentos sociais. No período da tarde algumas de suas salas se transformam em salas de aula e recebem dezenas de crianças da região. O dirigente do centro espírita se reúne com a secretária de educação, que, na escassez de recursos lhe assegura lanches para as crianças que passarão as tardes com um grupo de jovens voluntários. Estudantes secundaristas uns, estudantes universitários outros, o trabalho cheira a improviso e boa vontade, mas é continuado.

Aos pais se transmite a educação como valor. Uma das mães, faxineira, bonachona, se deixou entusiasmar com aquela mensagem de desenvolvimento pessoal e conseguiu uma vaga à noite em escola pública de ensino secundário e técnico.

Final de ano e a prefeitura quer um relatório. Sumário. Resumidíssimo. Quantas crianças foram aprovadas na escola? Uma conversa rápida com a jovem coordenadora e uma resposta ingênua, como se a pergunta fosse tola ou banal.
Quantas? (Estranheza) Todas.