17.10.11

JEFERSON É ENTREVISTADO SOBRE AS FEDERATIVAS ESPÍRITAS

Defesa de dissertação de mestrado, publicação em forma de livro, divulgação em revistas técnicas e divulgação mais ampla: esse é o caminho de todo trabalho acadêmico que tem relevância social.

Jeferson Betarello publicou o livro "Unir para Difundir", segundo volume da coleção "Espiritismo na Universidade", empreendida por um grupo de professores da Universidade de Franca, em parceria com o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro.

Uma das questões centrais do livro-dissertação é: por que uma doutrina tão identificada com as raízes culturais do povo brasileiro não se representa significativamente  em forma de números juto ao censo do IBGE?

O que são federativas, qual sua missão e como se organizam? Esta é uma pergunta que muitos espíritas com anos de vivência em centros espíritas costuma não saber responder.

Jeferson referenda-se em duas categorias que já se encontram muito difundidas entre os antropólogos: os frequentadores e os adeptos (também chamados de trabalhadores).

Uma questão que surge no meio da entrevista: É o Espiritismo uma Religião? Esta é uma questão que não se cala desde os livros de Kardec.

Polêmica, trouxemos a entrevista ao Espiritismo Comentado para incentivar a discussão de seus leitores e divulgar o trabalho de Betarello.



n

1.10.11

MAIS UM POEMA DE DAMASCENO SOBRAL



Nossa leitora Joyce pediu que publicássemos o poema Causa e Efeito de Damasceno Sobral. É mais uma preciosidade do livro "Almas Libertas", publicado em Divinópolis, em 1949. O avô leu para ela na infância e ela o guardou na memória. Agora compartilha com todos nós.

CAUSA E EFEITO

Cousa alguma se deve ao acaso ou à coincidência:
amamos porque fomos amados;
sofremos porque inúmeros sofreram por nossa causa;
caímos porque servimos de empecilho para muitos;
aprendemos porque o conhecimento nasce da experiência;

esquecemos porque é necessário esquecer;
falamos porque ainda não se disse tudo;
pensamos porque há muito por criar e descobrir;
andamos porque longos caminhos nos esperam;
vemos porque não possuímos ainda a fé precisa;
ouvimos porque até agora não atendemos ao Seu chamado.

Vivemos, vivemos e viveremos...

29.9.11

CÉLIA XAVIER PROMOVE SEMANA DE KARDEC: BELO HORIZONTE-MG



A Associação Espírita Célia Xavier funciona à Rua Coronel Pedro Jorge, 314 - Prado. Belo Horizonte-MG. Fone: 31-3334-5787. Todos os meses de outubro se programa a Semana de Kardec, que conta com expositores do movimento espírita em geral.

Este ano, tive a honra de ser convidado para tratar do espiritismo como objeto de estudo pela Universidade Brasileira. Está-se programando a venda de livros publicados pela Coleção Espiritismo na Universidade e pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, que apresentam artigos fruto de pesquisas universitárias, teses, dissertações e trabalhos de pesquisadores independentes.

Os títulos disponíveis serão:

Diálogo com os céticos - Alfred Russel Wallace (tradução Jáder Sampaio)
O aspecto científico do sobrenatural - Alfred Russel Wallace (tradução Jáder Sampaio)
O espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais - Jeferson Betarello e Jáder Sampaio (org.)
A temática espírita na pesquisa contemporânea - Jeferson Betarello e Jáder Sampaio (org.)
Pesquisas sobre o espiritismo no Brasil - Jáder Sampaio (org.)
O auto-de-fé de Barcelona - Florentino Barrera
Chico Xavier: Inédito - Eduardo Carvalho Monteiro
Programem-se.

22.9.11

O FILME DOS ESPÍRITOS ESTÁ CHEGANDO






O Filme dos Espíritios é a mais nova produção cinematográfica do Mundo Maior. Ela chega às telonas no dia 07 de outubro e promete intrigar o público brasileiro. Programe-se para assisti-lo e comente aqui suas impressões.

9.9.11

AS FOX E A MEDIUNIDADE COMO OFÍCIO


Peça publicitária da época

Dando continuidade à biografia das Irmãs Fox escrita por  Weisberg, ela trata como nenhum outro que li sobre a mediunidade paga. Para Barbara é como se as Fox houvessem criado um novo ofício, mais bem remunerado que qualquer outro ao seu alcance social, como mulheres de classe média-baixa dos Estados Unidos.

Um dólar por atendimento, é o preço que aparece em algumas partes do texto, em outras elas negociam o valor de uma temporada a serviço de pesquisadores, por exemplo, que ficam na faixa de milhares de dólares. Dependendo do ofício, elas receberiam três dólares por semana em uma fábrica, para termos noção do valor da moeda americana àquela época.

Apesar da vigilância de Margaretta Fox, em sua juventude, e dos cuidados de alguns amigos na idade adulta, o ofício as expunha em demasia para a época. Homens as procuravam em um misto de curiosidade e com um desejo interessado no toque de mãos para a realização dos fenômenos. Alguns, mais rudes, gabavam-se disto.

Outra coisa curiosa eram as tourneés por cidades norte-americanas. As médiuns viajavam em busca de um público novo que as pudesse remunerar por algum tempo. O fenômeno tornava-se mais importante que o conteúdo do que diziam os espíritos através delas.


William Crookes (?)  examina uma médium

Barbara não poupa tinta para tratar das fraudes de médiuns profissionais para se manterem nesta nova indústria. Cúmplices, truques de magia, articulações estalantes, ventriloquia, sapatos com chumbo para serem seguros pelos ingênuos observadores, tudo isso é descrito, e as Fox dão mostras de conhecerem estes artifícios. Teriam utilizado estes truques para não descontinuarem suas sessões? Não se sabe. Barbara afirma que não foram flagradas fazendo truques em quarenta anos. O máximo que se conseguiu foi o relatório dos observadores de Buffalo, que não obtiveram batidas após imobilizarem com as mãos os joelhos das jovens.

Penso que muito sofrimento seria poupado se elas aceitassem o conselho evangélico de Allan Kardec: "Dai de graça o que de graça recebestes", ou a sabedoria prática de Chico Xavier. "O telefone toca de lá para cá."

8.9.11

MAGGIE E ELISHA KANE


Capa do livro em inglês

Outro ponto alto do livro "Falando com os mortos" é o envolvimento de Maggie Fox com o Sr. Elisha Kane. Barbara Weisberg desenha um Kane igualmente contraditório. Ao mesmo tempo que se apresenta à sociedade norte-americana como herói, é uma pessoa dependente dos pais, do dinheiro dos pais e da imagem que ele cria de si mesmo na sociedade.
Não se sabe se ele se apaixona por Maggie ou se ela se torna um de seus caprichos, mas ele a proíbe de praticar a mediunidade, a interna em uma escola para mulheres e exige sua conversão ao catolicismo, em vão, posto que suas tentativas de fazê-la aceitável pela rígida sociedade vitoriana e por seus pais não é bem sucedida. Margareth vai viver à sombra deste homem, que resolve sair em expedição ao ártico.
Como não foi aceita pelos pais, Kane exige que um jornal retrate a notícia de que ela iria casar-se com ele após sua volta do Ártico, mas continua a procurá-la. Para o Kane público, Maggie era apenas um ato de caridade, mas para o Kane privado, Maggie parece ser uma fixação.
Elisha Kane no ártico
Kane resolve fazer uma cerimônia particular e não oficial de casamento, enfrentando a oposição de Margaretta Fox (mãe de Maggie). Margareth se submete a esta situação e fica na ingrata situação de ser esposa de Kane sem o ser formalmente. A morte de Elisha Kane a deixará em uma situação ingrata, abandonada pela família, sem profissão (a não ser médium) e sem herança, apenas com as cartas de amor que trocaram e que ela resolve publicar em forma de livro.
Abandonada e frustrada em seus sonhos de mulher, ela voltará a fazer sessões mediúnicas após a morte de seu companheiro, que ela insiste em apresentar como marido, mas que não será capaz de lhe assegurar o futuro após a morte.

Eu pesquisei alguns sites norte-americanos que tratam do tema e achei muito curiosa a identificação das autoras com Margareth. Por que mulheres do século XXI consideram-se semelhantes a uma mulher do século XIX, à parte da sociedade, em busca do amor de um homem que a tripudia? Mistério.

6.9.11

O ALCOOLISMO NA FAMÍLIA FOX



A história das Irmãs Fox se encontra repleta de contradições, uma vez que foi contada por simpatizantes e adversários. Seguramente, seu pioneirismo em assumir publicamente a condição de médiuns lhes trouxe mais adversários que simpatizantes em uma sociedade de origens protestantes, como é a norte-americana, e em uma época vitoriana, como é o século XIX.

Inspirados pela versão adversária, e com algum gosto pelo trágico, Stine Nymand Svensson and Elianna Morningstar Hansen fizeram este curta-metragem de animação.

Kate aparece alcoólatra desde a infância e com a aceitação da família, especialmente de Leah, sua irmã mais velha, o que é difícil de aceitar. Leah aparece como uma exploradora da mediunidade das irmãs, e Margaretta (mãe das Fox) está ausente, o que é também incoerente com o que se tem nos trabalhos encontrados sobre a família.

Barbara Weisberg, citada na última publicação do EC, afirma que na juventude o pai das Fox era alcoólatra e jogador (p. 60), o que gerou o afastamento entre ele e a esposa.

John abandonou seus hábitos em 1830, tornando-se metodista e líder em sua comunidade. (p. 63) As doutrinas evangélicas do livre-arbítrio desta época, que atingiram a comunidade batista, metodista e presbiteriana (p. 63) podem ter sido a razão para o abandono do álcool pelo Sr. John, que iniciou vida nova. É nesta vida nova que ele reatou seu casamento com Margaretta e nasceram suas filhas Margareth e Kate.

As meninas devem ter sido criadas em um ambiente de austeridade, contudo, o alcoolismo manifestaria-se na história de Kate. Weisberg relata problemas domésticos e sociais de Kate em 1886, quando ela é flagrada bêbada em um bar, após a morte de seu marido Henry Jenken. Em 1888 ela foi presa, acusada de negligenciar seus filhos, Ferdie e Henry. "Altos e esguios, com olhos brilhantes, Ferdie e Henry pareciam muito bem-cuidados  aos oficiais de polícia, mas Kate estava inegavelmente bêbada". (p. 335)

Kate afirmou ao jornal World, de Nova York, que "... quando ela e a irmã, Maggie, eram jovens e famosas, forma levadas para inúmeros jantares e festas regadas a álcool; as pessoas lhes enviavam cestas com garrafas de champagne. Foi assim que nasceu seu hábito de beber." (p. 335)

A referência mais antiga que encontrei envolvendo as Fox ao álcool (mas não ao alcoolismo) no trabalho de Weinberg (p. 2690, foi publicada por George Templeton Strong, que se limitava a dizer, em torno de 1852, que "ópio, álcool e excitação mental" desempenhavam papel importante nas manifestações.

Conan Doyle (p. 115) no seu "História do espiritualismo" (traduzido indevidamente como "História do espiritismo") entende que após um fenômeno de efeito físico, muitos médiuns tentavam recuperar suas forças por meio de álcool, e que sentiam-se tentados a fraudar "quando as forças se ausentam" e que sofrem a influência de espíritos "que cercam um grupo promíscuo".

Seguramente a questão do alcoolismo das Fox vai além do uso após as sessões, e como propõe Barbara Weinberg, tem base na sua história familiar, e, arrisco dizer, na situação de franca hostilidade e pressão a qual se encontravam constantemente expostas, associada a aceitação social e pessoal do uso de álcool.

Se os autores do curta acima não são fiéis às biografias existentes (não posso dizer que maldosamente), não se pode deixar de reconhecer a triste trajetória das irmãs Fox pela mediunidade profissional, e pela fragilidade, principalmente de Kate, ao alcoolismo

5.9.11

MAIS SOBRE A VIDA DAS IRMÃS FOX

Margareth e Katie Fox


Barbara Weisberg fez a incursão que muitos de nós gostaríamos de fazer e publicou seu diário de viagens com o título “Talking to the dead: Kate and Maggie Fox and the rise of spiritualism” indevidamente traduzido para “Falando com os mortos: as irmãs americanas e o surgimento do espiritismo”, possivelmente para atingir o público espírita.

O passeio é generoso. Barbara consultou livros, revistas e documentos de diversos arquivos em busca das Fox. Discutiu seus manuscritos com muitos especialistas, procurou descendentes e nos ofereceu não apenas um trabalho biográfico, mas todo um cenário dos eventos sociopolíticos e culturais dos Estados Unidos e Inglaterra no período da vida das Fox.

A primeira pergunta que se faz quando se está diante de um trabalho biográfico polêmico como este é: qual é a visão da autora? Ela é espiritualista? Ela é cética? Ela é uma feminista escrevendo sobre mulheres do século XIX? Não tenho uma resposta. Seu texto oscila entre cada uma destas três tendências, ou, pelo menos, das duas últimas.

Um ponto positivo: ela se esforça para apresentar sempre as opiniões dos que creem nos fenômenos e dos que estão obsessivamente procurando pelos truques que Kate e Maggie Fox teriam produzido.

Apesar da simpatia que ela desenvolve por Kate e Maggie, talvez por percebê-las como mulheres ativas em um mundo extremamente limitado para a mulher, Barbara não oculta os fatos, nem os dissimula: relatórios favoráveis e desfavoráveis, o alcoolismo do pai e depois das duas irmãs, a prisão a que se submeteu Maggie Fox na esperança do amor, ou pelo menos do casamento de Elisha Kane, as fantasias, as declarações que elas fizeram de ter fraudado os fenômenos, seguida do desmentido de sua própria declaração, tudo isso é descrito e exaustivamente referenciado ao longo do seu texto.

O livro aponta para uma época esquizofrenicamente intolerante e interessada. As Fox sofrem ao mesmo tempo o assédio público e o repúdio, comum a muitas personalidades famosas dos dias de hoje, o que legou ao futuro controvérsias e versões sobre sua vida.

1.9.11

REPERCUSSÕES DO 7o. ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO



Passados cerca de dez dias do término do 7o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, já temos diversos comentários, publicações, sinopses, vídeos e fotografias. Para evitar escrever mais uma, remeto os leitores ao que encontrei. Agradeço comentários indicando outras repercussões na imprensa e em outras formas de mídia.

Fiz uma pesquisa a partir do Google e encontrei as seguintes publicações:


Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro

Livros lançados no 7o. ENLIHPE http://ccdpe.org.br/wccdpe/?p=302
Palestrantes e Coordenadores http://ccdpe.org.br/wccdpe/?p=279
Hermínio C. Miranda escreve carta para os participantes do 7o. ENLIHPE http://ccdpe.org.br/wccdpe/?p=275
Atividades do Sábado http://ccdpe.org.br/wccdpe/?p=213
Atividades dos Domingo http://ccdpe.org.br/wccdpe/?p=245


Espiritualidade e Sociedade (portal)


You Tube

Conversa com os organizadores http://www.youtube.com/watch?v=I4bJYnqzeM0
Lançamento do livro "O espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais" http://www.youtube.com/watch?v=HoRiFD4ztTE&feature=related

A Era do Espírito (Blog) e comentários


Federação Espírita do Estado de Goiás


Jornal Correio Fraterno


30.8.11

DEOLINDO AMORIM E A IDENTIDADE DO ESPIRITISMO


Deolindo Amorim

Dando continuidade aos artigos sobre a identidade do Espiritismo no Brasil




passo a escrever sobre a reação do movimento espírita ao sincretismo e à criminalização da mediunidade e seus desdobramentos.

Um autor um pouco esquecido nos dias de hoje é Deolindo Amorim, membro da Liga Espírita do Brasil e intelectual de destaque na imprensa brasileira, ele dedicou muitos de seus escritos à delimitação da identidade do Espiritismo.

Seu trabalho sobre este assunto de maior impacto parece ter sido "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas" (1957), mas ele publicou "Africanismo e Espiritismo" (1947) e ""Ideias e reminiscências espíritas" (s.d.). Sua obra é extensa.

Imagino que ele, assim como os espíritas de sua época tenham ficado incomodados com a apropriação do termo espiritismo com o sentido de práticas mediúnicas em geral. Por que utilizar um neologismo com um sentido que  não lhe é próprio? Por que permitir que a população brasileira confunda o espiritismo com o africanismo, os orientalismos e quaisquer outras doutrinas e práticas relaionadas aos mortos? Começou, então, uma reação clara, dentro e fora do movimento espírita, de defesa do entendimento da palavra Espiritismo como sinônimo de Doutrina Espírita, codificada inicialmente por Allan Kardec e desenvolvida posteriormente por diversos autores e  médiuns.

"Se o Espiritismo é apenas sessão mediúnica ou a crença nos espíritos desencarnados, basta ser médium ou participar de sessões, seja quais forem, para que algúem seja espírita; se porém, Espiritismo é o corpo de doutrina codificado por Allan Kardec, com todas as suas consequências filosóficas e religiosas, com todas as suas implicações de ordem moral, é claro que não basta ser frequentador de sessões ou ter faculdades mediúnicas desenvolvidas para ser espírita, na exata acepção doutrinária." (pág. 99)

Ele trata da polêmica entre espiritualistas e espíritas, ainda citando Kardec:

"Alguns hermeneutas e polemistas, tão hábeis no modo de explorar o pensamento de Allan Kardec, extraindo frases e palavras isoladas, deveriam ler o que ele escreveu a respeito do vocábulo espírita: As palavras espiritualismo e espiritualista são inglesas, e têm sido empregadas nos Estados Unidos. No começo, apenas or algum tempo, dia ainda Kardec, também delas se serviram na França. Logo, porém, que apareceram os termos espírita e espiritismo - adianta Kardec - "compreendeu-se a sua utilidade, e foram imediatamente aceitos pelo público". Os termos espiritualismo e espiritualista aplicados "às manifestações dos espíritos, não são, hoje, mais empregados senão pelos adeptos da escola americana" (O que é o espiritismo, cap. I, segundo diálogo).

Quando Amorim trata da questão do africanismo, o faz de forma respeitosa, elegante, mas incisiva. Ele diz:

"Nosso objetivo ... é apenas fazer distinção entre Espiritismo e Africanismo, sem outro intuito que não o de esclarecer e separar, à luz dos próprios elementos de estudo, dois campos de pesquisa bem definidos. O Africanismo, com todas as suas seitas e cultos, deve ser estudado à parte, assim como o Espiritismo, porque não há entre um e outro afinidade de cultura nem relação histórica." (Africanismo e Espiritismo, pág. 35)

"As práticas de origem africana, largamente ramificadas, são espiritualistas, dignas de respeito como quaisquer outras práticas religiosas, mas não constituem variante das práticas do Espiriitsmo. Encerrando este trabalho, chego à conclusão de que Africanismo não é Espiritismo." (Africanismo e Espiritismo, pág. 59)




28.8.11

VIDA, MORTE E MEDIUNIDADE


Propaganda do filme. Já saiu de cartaz.

Após acompanhar uma verdadeira guerra de opiniões sobre o último filme dirigido por Clint Eastwood, criei coragem e adquiri o blu-ray, que já está sendo comercializado e possivelmente alugado nas locadoras.

Alguns críticos diziam que era o pior filme do ex-ator e atual diretor, feito para ganhar uns trocados aproveitando a onda espiritualista. Outros diziam que era o melhor filme dirigido por ele, se observássemos que ele trata da vida e do homem, e  não da mediunidade.

Eu gostei de tudo. O roteiro lembra o comemorado Babel, não direi porque, para não atrapalhar as emoções daqueles que não o assistiram ainda.

A mediunidade do personagem de Matt Damon não é o centro do filme, é uma espécie de fundo. O diretor focaliza no conflito que vive o médium em função das dificuldades do exercício de sua faculdade. A cena se desenrola na relação entre o médium e a pessoa que o procura, mais que entre o médium e o espírito. Por esta razão, na minha opinião ganhou um ponto quem acha que o filme é sobre a vida, o humano, as emoções e a sociedade de consumo.

A jornalista Marie vive uma experiência de quase morte que altera todo o seu mundo pessoal e profissional. Suas escolhas decorrentes de sua experiência levam-na ao que no filme e aqui no Brasil chamamos de Conspiração do Silêncio.

Quem mais me tocou foi o menino Marcus e sua busca incansável por seu irmão e pela reconstrução de sua família. Em sua fragilidade ele representa a força do ser humano, sua capacidade de superação e de inspiração.

Os espíritas ganham de graça um passeio pelo mundo dos médiuns londrinos, dos pesquisadores psíquicos e dos herdeiros do "modern spiritualism" anglo-saxão.

Cenas belíssimas, cortes secos, música deliciosa, cenários ricos e variados, o filme se parece às vezes com uma projeção de slides de três histórias que se embaralham. Eu vi e recomendo.

18.8.11

AURÉLIO VALENTE E A IDENTIDADE DO ESPIRITISMO


Aurélio A. Valente

O sincretismo é uma prática viva em meio ao povo brasileiro. A diversidade cultural em uma história de dominações e resistências e o uso da aculturação como estratégia de dominação são alguns dos fatores que predispõem à uma mentalidade de coexistência incoerente de tradições filosóficas, culturais e religiosas.

No início do século XX, Aurélio Valente, tendo obtido as primeiras letras espíritas no grupo dos "Filhos Pródigos" e no grupo "Paz e Harmonia", escreveu um livro sobre mediunidade, preocupado não apenas com a instrução em língua portuguesa, mas com os atavismos católicos que coexistiam em meio espírita à proposta de Allan Kardec. Em 1929, então presidente da União Espírita Paraense, ele proferiu uma conferência que serviu de base ao seu livro "Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo".

"... Casamentos, batizados e outros sacramentos da Igreja de Roma foram adaptados e adotados por alguns espíritas, incapazes de se desfazerem de pronto das tradições seculares."

"A Doutrina Espírita não ensina de forma alguma, nem admite, nem mesmo por tolerância, essas práticas que constituem verdadeira profanação da sua simplicidade característica."

Com estas palavras fortes Valente não apregoava a intolerância com o Catolicismo Romano, mas a resistência ao sincretismo do movimento espírita.
Na década de 1930, quando Aurélio Valente escreveu seu livro, ele comenta também as aproximações das sociedades espíritas aos cultos dos índios brasileiros e afrodescendentes.

"A maneira de praticar o Espiritismo vai, desde os grupos bem organizados e escrupulosos, aos desorientados e fanáticos. Chegou-se, até, a estabelecer distinção entre "sessões de mesa" e "sessões de linha". Estas, onde pontificam africanos e índios, de acordo com os propósitos bons ou maus, são chamadas "linha branca" ou "linha negra"." (1973, p. 193)

Ele descreve as práticas religiosas, que envolvem dança, roupas especiais, calças arregaçadas, etc., e afirma:

"A isso alguns dão o nome de Espiritismo, enquanto outros o denominam de afro-catolicismo. Uma coisa, porém, afirmamos: não é Doutrina Espírita. (1973, p. 194)

Não encontrei no texto de Aurélio Valente qualquer menção ao termo Kardecismo. Apesar de usar uma frase de efeito, ele emprega Espiritismo ao longo de seu livro, como sinônimo de Doutrina Espírita. Não encontrei também as expressões baixo e alto espiritismo, que Giumbelli atribuiu aos órgãos do estado brasileiro e à medicina de então.
 
Esta resistência ao sincretismo (assim como a confusão entre as propostas filosóficas e religiosas) é antiga e data da chegada das ideias espíritas ao Brasil, como se pode ler na correspondência entre Telles de Menezes e Desliens, mas isso é assunto para outra publicação.

17.8.11

KARDEC E O ESPIRITISMO


Robert Hare (1781-1858)


A introdução de "O Livro dos Espíritos" inicia-se com um parágrafo sobre a terminologia que Allan Kardec utilizaria para designar a obra que ele desenvolvera a partir do exame de comunicações de espíritos por médiuns diferentes, de grupos, cidades e, posteriormente, países diferentes.

Como se pode ler no livro de Alfred Russel Wallace, O Aspecto Científico do Sobrenatural, a expressão "modern spiritualism" (espiritualismo moderno) já era amplamente utilizada nos países de língua anglo-saxã. Ele cita Augustus de Morgan, Robert Hare e o Juiz Edmonds como homens de ciência que estudaram os fenômenos e produziram trabalhos a respeito da comunicação entre os Espíritos e os homens.

Buscando dar uma identidade nova, distinta do movimento já existente (apesar das similitudes em grande número de seus princípios e propostas), Allan Kardec propôs um método para a identificação dos espíritos e para a análise de suas comunicações dos espíritos. Da aplicação do método na análise dos diálogos com os Espíritos, ele publicou "O Livro dos Espíritos", com a seguinte explicação:

"Para coisas novas precisamos de palavras novas; assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida; dar-lhes uma nova, pala aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo (...) Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso, mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a sua acepção própria. Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas."

15.8.11

GALILEU MOSTRA PESQUISADOR DE REENCARNAÇÕES E UFJF O TRAZ PARA O BRASIL AMANHÃ.

Erlendur Haraldsson. Nome diferente, não? Este islandês tem publicado trabalhos que sugerem a recordação de vidas passadas por crianças, dando continuidade a uma tradição de décadas iniciada pelo Dr. Ian Stevenson.

A revista Galileu entrevistou-o e fez uma publicação isenta e informativa a respeito deste autor e de seu trabalho. Confiram em


Se gostarem do autor, uma dica. A Universidade Federal de Juiz de Fora irá trazê-la para uma conferência. Maiores informações abaixo, confiram!  Mas rapidamente porque a conferência será amanhã.

MÃES DE CHICO NAS LOCADORAS E À VENDA EM DVD

12.8.11

O "BAIXO ESPIRITISMO" EM PRISÃO CELULAR


Com a declaração da república, iniciou-se uma nova ordem social no Brasil do final do século XIX. Época curiosa, posto que antes de se promulgar uma nova constituição (1891), decretou-se (em 1890) um novo código penal (cf. Giumbelli, Emerson. O cuidado dos mortos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997, pág. 79)

Neste documento, o artigo 157 (Dos crimes contra a saúde pública) criminalizou o espiritismo.

"Praticar o espiritismo e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou de amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credibilidade pública:

Penas - de prisão celular de um a seis meses, e multa de 100$000 a 500$000.

(...)

Parágrafo 2o. Em igual pena, e mais na de privação do exercício da profissão por tempo igual ao da condenação, incorrerá o médico que diretamente praticar qualquer dos atos acima referidos ou assumir a responsabilidade deles."

O artigo 156 proíbe também o exercício da homeopatia, do magnetismo animal e do hipnotismo (entre outros) "sem estar habilitado segundo as leis e regulamentos" - sob pena de prisão celular e multa.

O legislador deu voz aos segmentos sociais que combatiam a legitimidade do espiritismo no Brasil: a igreja e a medicina (leia-se a tese de doutorado de Angélica A. S. Almeida - "Uma fábrica de loucos": psiquiatria e espiritismo no Brasil).

Bezerra de Menezes, usando seu pseudônimo Max, iniciou uma série de artigos críticos publicados no jornal O Paiz, nos quais critica contundentemente o legislador.

Nestes artigos, uma das estratégias usadas pelo presidente da FEB foi mostrar ao público as pessoas de renome no meio científico e cultural que estudavam e afirmavam-se adeptas do espiritismo.

Ele critica também a pena de prisão celular destinada aos espíritas "castigo inquisitorial, que já fez seu tempo, e que só um espírito acanhado e retrógrado podia lembrar-se de implantar na legislação hodierna" (Bezerra de Menezes. Estudos Filosóficos. Segunda Parte. São Paulo: EDICEL, p. 159)

Sob pressão, o legislador declara que não teve a intenção de condenar incondicionalmente as práticas espíritas:

"... o código não condena as práticas espíritas em absoluto, nem como meio de investigação científica, nem como diversão ou distração (...) mas como indústria ilícita, de que seus exploradores tiram proveito em detrimento da saúde pública." (Giumbelli, 1997. p. 86)

Contudo, o próprio Giumbelli mostra que havia uma intenção de "deslegitimar" o espiritismo, posto que ele faz um levantamento bibliográfico de cientistas europeus que afirmam ser o espiritismo "uma simples 'superstição', não tendo sido jamais comprovados os fenômenos que a ele se atribuem"; bem como o polêmico episódio envolvendo a condenação de Leymarie. (1997, p. 87)

O fato é que as autoridades policiais realizaram diversas ações repressivas contra o movimento espírita, realizaram algumas prisões e obrigaram a federação a defender médiuns em juízo, como bem descreve nosso antropólogo em seu livro premiado.

Uma das consequências do trânsito dos espíritas por delegacias e cortes, consequente ao código penal republicano, foi o emprego do termo "baixo-espiritismo".

"Encontramo-la mencionada nos textos de médicos, em análises do campo religioso, nas sentenças e acórdãos judiciais, nos documentos produzidos pelos aparatos policiais, em reportagens jornalísticas e nas declarações dos próprios agentes religiosos." (Giumbelli, 1997. p. 221-222)

O termo ganha relevância como elemento de distinção, uma vez que a legislação em si não fornece elementos para os atores sociais envolvidos reconhecerem todo o universo cultural e social a que o termo mal empregado remete. Um dos problemas envolve os diversos cultos afro-católicos:

"Na literatura sobre os cultos 'afro-brasileiros', não é raro que encontremos a expressão 'baixo espiritismo'. Dois elementos são básicos para sua definição: o 'sincretismo' de formas culturais originalmente africanas com elementos advindos do 'espiritismo' e a existência de práticas curativas com base nos conselhos dos 'espíritos' de diversas origens." (Giumbelli, 1997. p. 222)

Yvonne Maggie (apud Giumbelli) encontra no início da década de 30 o termo "baixo espiritismo" incorporado no discurso de promotores e juízes:

"Daí, se distinguir o baixo espiritismo para caracterizar o delito: é magia negra, o bruxedo, a feitiçaria, o 'cangerê', a 'macumba', africanismos rudes que podem perturbar as ideias, alterar o estado nervoso, provocar consequencias atentatórias à ordem pública, à moral da coletividade (...) sempre ligado ao propósito de dano." (Revista Forense, 1934. apud Giumbelli, 1997. p. 225)

O trabalho de Giumbelli nos convence da relevância do código de 1890 na geração histórica de uma questão identitária em torno da palavra espiritismo. Ao generalizar, o código aproximou e, ao mesmo tempo, demandou uma diferenciação entre espiritismo e cultos afro-brasileiros, medicina e prática mediúnica, num emaranhado de significados e grupos que causam polêmica até os dias atuais.

Recomendo aos leitores o texto "As muitas faces da intolerância contra o espiritismo", de minha autoria, que publiquei no livro "Pesquisas sobre o espiritismo no Brasil", em 2009, para que esta questão seja ampliada.