18.5.21

O PROBLEMA DO SER DO DESTINO E DA DOR?

 

Capa de uma edição francesa de "O problema do ser, do destino e da dor".

Na última conversa que tivemos com um grupo de estudo, perguntaram-me sobre o livro de Léon Denis. Alguns expositores vêm falando que o livro se chamava O Problema do Ser e do Destino, e que foi a FEB (sempre ela, coitada) quem colocou após o título "e da dor".

De fato, o livro foi publicado em francês com o título "O problema do ser e do destino", mas em uma de suas reedições, o próprio Denis modificou o título, como se pode ver acima. 

Os tradutores do início do século 20 e os membros da Federação, mantinham contato com Denis, e, como em O porquê da vida, quando eles alteravam alguma coisa, pediam licença ao autor francês. 


13.5.21

O QUE É MONOMANIA, TERMO PSIQUIÁTRICO EMPREGADO POR ALLAN KARDEC?

Esquirol (1772-1840)


Esquirol foi um médico francês nascido em Tolouse, na França, que dedicou sua vida e carreira ao estudo das doenças mentais. Possivelmente suas ideias ainda eram influentes na época em que Allan Kardec publicava suas obras, e sua classificação das doenças mentais deve lançar luz a alguns termos, hoje em desuso, usados pelo fundador do espiritismo.

Uma das classificações de Esquirol para a doença mental, usado diversas vezes por Kardec eram as monomanias. Pacheco (2003, p. 154) identificou quatro grandes categorias psicopatológicas em Esquirol:

1. Idiotia

2. Demência (aguda ou crônica)

3. Mania

4. Monomanias

A mania se distingue das monomanias por ser um delírio (falsa crença) total com exaltação. Afeta todas as funções mentais: inteligência, percepção, volição e atenção, por exemplo. A monomania afetaria apenas uma das funções mentais, mantendo as demais íntegras. Pacheco (2003) afirma que haveria um delírio parcial, que poderia ter uma forma alegre ou triste. 

Esquirol identificou monomanias que poderiam levar o sujeito a cometer atos anti-sociais, como o assassinato, sem motivo aparente.

Kardec escreveu sobre monomanias algumas vezes na Revista Espírita.

Em junho de 1858 ele relata o caso do Sr. Morrison, um milionário inglês que se acreditava pobre, a quem era permitido trabalhar nos jardins de suas propriedades, remunerando-o com seu próprio dinheiro por tal. Ele foi evocado por Kardec e possivelmente comunicou-se através da mediunidade de Ermance Dufaux. Ele se mostrava ainda perturbado mentalmente após a morte, ao que concordou o espírito São Luís. Kardec identifica ao final da comunicação traços de melancolia na fala do espírito. Trata-se de monomania devido a um delírio que não o impedia de realizar outras atividades e que preservava sua inteligência, percepção e atenção.

Em julho de 1866 ele relata um caso de uma criança, filha de operários de seda, que desde os dezoito meses acendia fósforos e sentia prazer em ver as chamas. Aos dois anos ele incendiou o sofá da sala e à época com quatro anos, respondia as reprimendas dos pais com ameaças de incêndio. Trata-se de ato anti-social que aparece na infância, por essa razão, é tratado à época como monomania. Kardec discute as possíveis explicações e indaga dois espíritos sobre a condição da criança. Eles lhe respondem que a criança traz o instinto de encarnações passadas e que ele se manifesta tão precocemente para que os pais fiquem atentos e tudo o façam para corrigi-lo.

Pesquisar o significado de termos técnicos empregados no século 19, na França, se torna muito importante para uma compreensão clara do que escreve Allan Kardec, principalmente para quem faz pesquisas no grande universo de textos que é a Revista Espírita, à época em que ele foi editor.

Fontes Bibliográficas

Pacheco, Maria Vera Pompêo de Camargo. Esquirol e o surgimento da psiquiatria contemporânea. Revista Latinoamericana de Psicopatologia  Fundamental, vol. VI, n. 2, 2003, p. 152-157.



11.5.21

AS NOVAS PÁGINAS DO ESPIRITISMO COMENTADO

Criamos duas novas páginas para o Espiritismo Comentado: "Esquina do Célia" e "Palestras e Entrevistas". Elas são uma espécie de resumo com links de publicações no YouTube

Basta clicar nos nomes das páginas que se encontram logo abaixo da logomarca do Espiritismo Comentado para se ter acesso aos sumários e links de vídeos do YouTube.

Esquina do Célia é um programa mensal da TV Célia Xavier, que traz autores de livros de editoras espíritas para conversar sobre seus trabalhos e suas instituições; pesquisadores e trabalhadores de sociedades espíritas que mantém atividades inovadoras ou interessantes que possam instigar o telespectador a realizar reflexões sobre o seu próprio trabalho e a se interessar por novas leituras e escritores. 

Por muito tempo se veiculou uma crítica aos novos autores, que acabou se generalizando e criando uma espécie de medo apriori de autores espíritas pouco conhecidos e resistência a ideias em elaboração.  No Esquina iremos conversar buscando a memória do que foi feito e o entendimento do novo.

Palestras e Entrevistas é também um sumário de trabalhos nossos que estão divulgados no YouTube e que acabam sendo de difícil localização devido à existência de um grande número de vídeos dessa plataforma. Buscamos apresentar ao leitor o que é tratado na palestra ou na entrevista e fornecer seu link para acesso rápido via laptop ou smartphone. São assuntos diversos, geralmente fruto de pesquisa ou análise de autores espíritas relevantes.


10.5.21

HUMBERTO SCHUBERT E DANIEL SALOMÃO NO ESQUINA DO CÉLIA

 

 

Dois espíritas de Juiz de Fora - MG, com formação na área de ciências da religião (e em outras áreas do conhecimento como filosofia, engenharia eletrônica, ciências humanas, por exemplo) participaram do programa Esquina do Célia, na TV Célia Xavier, nesse último sábado. 

O tema principal da entrevista foi o livro "Diálogos Espíritas", composto de perguntas atuais elaboradas pelos dois autores e mais alguns colaboradores, dirigidas ao espírito Ivon, através do médium Vinícius. As questões dizem respeito a problemas do nosso tempo, em áreas de conhecimento diversificadas. 

Nossa conversa focalizou a construção do livro, que foi feita a partir de uma reflexão sobre o método de Kardec e alguns assuntos escolhidos do conteúdo do livro. Falamos da polarização política no Brasil, sobre o Islamismo, sobre a metodologia dos estudos bíblicos (e a hermenêutica clássica), e sobre a juventude no Brasil. Já existem diversos programas no YouTube de estudo sobre o Diálogos: https://www.youtube.com/results?search_query=%22Di%C3%A1logos+Esp%C3%ADritas%22

Depois conversamos sobre a Sociedade Espírita Primavera, a instituição espírita juiz-forense que foi fundada há poucos anos e mantém a editora do livro, além de outras iniciativas, como palestras compartilhadas e um sebo espírita. O livro que discutimos pode ser lido pela internet (mas não baixado) ou adquirido impresso. https://editora.sepjf.org.br/livros-online/

Vale a pena assistir a entrevista e conhecer esse novo projeto da Sociedade Espírita Primavera e de seus editores.

21.4.21

O CHICO DOS POBRES

 

Chico Xavier à sombra do Abacateiro: repare no público ao seu redor


Terminamos no último domingo a Semana de Chico Xavier, na TV Célia. Convidar pessoas próximas ao Chico nos trouxe uma nova luz sobre o que ele fazia. Uma coisa que percebemos dos expositores é o que podemos chamar de “o Chico dos pobres”.

Na minha juventude ouvi os militantes políticos na universidade criticarem a distribuição de bens, como cestas básicas, para os pobres. Eles chamavam essa prática de “amansar o cordeiro”, porque não resolvia o problema de sua exclusão social. Era um discurso raso, que não ia além da afirmação aparentemente óbvia.

Na nossa casa, por exemplo, a distribuição de cestas básicas tinha uma finalidade promocional. Ajudava famílias que haviam migrado da roça para a periferia de Belo Horizonte a se estabelecer. Muitas dessas famílias chegavam na esperança de um novo futuro, mas sem emprego nem bens. Algumas delas entravam em um ciclo negativo, cujas perdas contínuas e a fome levavam o pai ao alcoolismo, à depressão e ao afastamento do núcleo familiar. Uma cesta de alimentos nem de longe atendia as necessidades desses núcleos, mas combatia a fome e as reuniões mensais que fazíamos davam algum alento. Mantido o núcleo familiar, aumentavam as chances de adaptação à cidade grande.

No caso do Chico, o significado do que ele fazia era completamente diferente. Ele se dedicou à humanização dos miseráveis, ao estabelecimento de laços de afeto com eles. Parece bobagem aos olhos de um intelectual que deseja, justificadamente, a inclusão social do excluído, a existência de direitos mínimos, como o trabalho, a renda, a moradia, a saúde e a alimentação. Mas não é.

Roberto e Marival contaram-nos de uma tarefa na qual o Chico visitava as periferias de Uberaba. Lugares sem luz nem água encanada. Lampião na mão, lá ia um grupo de voluntários, visitar as periferias.  Marival surpreendia-se com a capacidade do Chico guardar os nomes das pessoas. E o Chico lhe explicava que quem ama, lembra. Esse é um primeiro ponto a se observar. Os pobres não eram “pessoas pobres” para o Chico. Eram o seu Antônio, a dona Maria de João, a Celestina, filha de Dica. Ele visitava a casa, e era uma visita tão ilustre, que o filho de uma família fez poesia para o Chico. A tarefa não era a distribuição do que quer que levassem. A tarefa era a convivência. Acho que ninguém entendeu direito o Chico.

Depois Juselma nos explicou a questão da moedinha. Uma garrafa de água de dois litros, acho, cheia de moedinhas de dez centavos, depois de vinte e cinco centavos, e vai subindo o valor na medida em que o tempo e a inflação corroíam a capacidade de compra do nosso dinheiro. Por que isso? Qual o sentido? Perguntava-se a professora Juselma, perspicaz. As moedas de pequeno valor de compra dificilmente fariam a diferença na vida das pessoas, embora quem ganhe muito pouco dinheiro tenha uma visão diferente de uma moeda de um real, por exemplo.

Mas não tinha nada a ver com distribuição de renda. Tinha a ver com proximidade psicológica. Com o aumento da fama do Chico, ele atraía espíritas e interessados de todas as classes sociais. Seguramente, os das classes superiores se insinuavam, se achavam no direito de serem recebidos, e se aproximavam, às vezes de forma importuna e inoportuna, o que também nos foi narrado. A moedinha era uma espécie de reserva de tempo para que o pobre também pudesse se aproximar do Chico. Ele se sentia no direito de pegar uma moedinha e de agradecer ao Chico. Juselma nos disse que era um pequeno momento, o pobre beijava a mão do Chico e o Chico beijava a mão do pobre, em retribuição. Nesse pequeno instante, uma palavra, um pedido, uma fala rápida. Tudo à sombra do abacateiro, para receber até quem tivesse alguma resistência com o espiritismo e os centros espíritas. Qualquer um poderia se aproximar nessas horas e os pobres não ficavam “no fundo do templo”, como percebia outro Francisco, o de Assis. O Chico não cobrava a conversão dos pobres, que eles se tornassem espíritas. Isso também nos foi contado pelo Marcel. A mulher que elogiou abertamente o marido, mas se queixava dele não ser espírita. O Chico teria dito:

- Se ele é tão bom assim, não mexe em nada não. Deixa ele ser quem é.

Outra percepção do Marcel, a do Chico diante da dor da perda. A mulher chegou desesperada com a morte do filho. Chorando, perdida. Um terremoto abalou seu mundo. E o que o Chico fez: abraçou-a e chorou com ela. Nem uma frase pronta, nem uma percepção sobrenatural, nenhuma esperança, nenhum “sermão espírita”, do tipo espírita não age assim, ou “a vida não termina com a morte”; apenas uma alma que sente a dor que sente a outra.

Por fim, um tema polêmico, o dos aparelhos de ar condicionado, um dos motivos do afastamento do Chico do Centro que ele fundou em Uberaba. Essa história se espalhou no meio espírita, e há até quem advogue que não se pode colocar ar condicionado na casa espírita, porque “Chico dixit”.

Lembrei de uma fala do Chico, antiga, replicada pelos que o conheceram. “O Centro Espírita tem que ser um lugar simples o suficiente, de tal forma que um pobre possa cuspir no chão se assim o quiser.”

O que entendi é que o problema não é o ar condicionado, ou o chão de terra batida do centro, mas o propósito de Chico Xavier, um propósito claramente franciscano, de conviver com os pobres. Há de se ter um lugar que os pobres possam frequentar sem se sentir “estrangeiros” ou constrangidos. Que possam se sentir em casa, acolhidos, um lugar que sintam que lhes pertence, sem qualquer constrangimento de serem pobres. Esse era o trabalho dele, como lemos na narrativa escrita por ele da rainha católica portuguesa que pede a ele que cuide dos “filhos peninsulares” dela. Era o trabalho do Chico, o que ele se propôs a fazer.

O grupo que o Chico frequenta precisa ser simples o suficiente para que ele possa continuar fazendo seu trabalho com os pobres: o de trocar uma palavra, ouvir uma aflição, cumprimentar pelo nome, perguntar pelo filho... Em outras palavras, humanizar a convivência e fazê-lo perceber que é tão pessoa como um rico, ou como um poderoso, ou como uma pessoa formada em nível superior.

Essa é apenas uma das conclusões das palestras dessa semana. Foi uma experiência muito rica e diferente do cotidiano. Espero que possamos, no futuro, fazer novos recortes da vida e da produção do Chico, como nos mostrou o Marcel Souto Maior.

6.4.21

SEMANA DE CHICO XAVIER NA AECX

 


No mês de abril o movimento espirita costuma se organizar para lembrar de Chico Xavier e falar de sua obra. No dia 02 de abril de 1910 ele reencarnava na então cidadezinha de Pedro Leopoldo, parada de trem próxima a Belo Horizonte, típica cidade do interior. O pai de Chico constituiu uma família extensa com dois casamentos: Maria João de Deus e Cidália Batista. 

Fico pensando se espíritos como Chico Xavier, que vêm com uma missão, escolheriam a pobreza e as experiências infantis de falta, como o período em que ele ficou sem família, com os irmãos sendo criados em casas distintas e ele próprio com uma madrinha que ficou marcada em sua memória por não lhe ter amor nem carinho, para que esse tipo de experiência fique escrito "a fogo" em sua alma, motivando ações no futuro. Tentar auxiliar a pobreza e valorizar a família, dedicar-se aos irmãos, primeiro os de casa, depois dos irmãos em Deus, foi um imperativo na vida desse médium.

Quando a casa de Célia Xavier nos convidou para integrar um grupo que organizasse uma semana em favor da memória de Chico, fiquei pensando como constitui-la. Trocando ideias com os colegas, acabamos aceitando a ideia de compor a semana com pessoas que conviveram com o médium de Pedro Leopoldo e de Uberaba e, se possível, que escreveram sobre ele. 

Resolvemos fazer na segunda semana, porque, seguramente, muitos centros e associações espíritas iriam homenageá-lo na primeira, escasseando os expositores. Apesar do pouco tempo que tínhamos, conseguimos um time de primeira divisão:

Jhon Harley tem dois livros (quase três) sobre Chico Xavier, no qual se lê seu entusiasmo e capacidade de pesquisa do médium.




Roberto e Marival Veloso são dois irmãos que conviveram com Chico Xavier quando moravam no triângulo mineiro. Eles são fontes orais da vida de Chico Xavier. Marival organizou o livro "Chico no Monte Carmelo" que foi publicado pela editora União Espírita Mineira. 



Juselma Coelho é ao mesmo tempo "prata da casa", dirigente da Sociedade Espírita Maria Nunes, presidente do Conselho de Administração do Hospital Espírita André Luiz e trabalhadora incansável. Ela conviveu com o Chico no período em que ele residia em Uberaba. 

Suely Caldas Schubert dispensa apresentação. Autora do livro Testemunho de Chico Xavier, fez uma análise extensa da correspondência de Chico com a Federação Espírita Brasileira, respondendo algumas questões e fazendo com que o leitor elabore outras novas.


Alexandre Caroli Rocha é acadêmico e se debruçou sobre dois aspectos da produção mediúnica de Chico Xavier. Na dissertação "A poesia transcendente de Parnaso de Além Túmulo", ele trata dos poetas e da poesia que ganhou as páginas psicografadas a lápis pelo médium de Pedro Leopoldo e em "O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade", trata do escritor maranhense, analisando sua produção antes e depois da morte, o que possibilitou à Unicamp dar ao Alexandre o título de doutor em teoria e história literária, em 2008. Seguem os links:

http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269864

http://repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/270002

A tese, dissertação e dois artigos de Alexandre Caroli podem ser encontradas no portal Espiritualidade e Sociedade, que divulgou os links das bibliotecas digitais oficiais:

http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/R_autores/ROCHA_Alexandre_Caroli_tit_Poesia_transcendente_de_Parnaso_de_Alem_Tumulo-A.htm

Um trabalho dele sobre as citações de Humberto de Campos em sua obra mediúnica se tornou um dos capítulos do livro "A temática espírita na pesquisa contemporânea", organizado pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo e publicado pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro.


Nosso último convidado é o jornalista, escritor e roteirista, Marcel Souto Maior. Seu livro "As vidas de Chico Xavier" tornou-se best seller e foi adaptado para o cinema, pela Sony Pictures, Globo Filmes e outros, que nos entregou o filme "Chico Xavier", dirigido por Daniel Filho. Marcel entrevistou Chico Xavier em Uberaba e colheu um volume significativo de informações com pessoas ligadas a ele. Empregando suas habilidades profissionais, escreveu uma biografia que "fisga" o leitor desde o início, levando-a a uma viagem ao longo da vida do médium.


O Marcel tem três entrevistas interessantes sobre o universo de Chico Xavier na sua página, que pode ser acessada via google digitando @marcelsoutomaior. Uma com a TV O Dia, outra com o jornalista e espírita André Trigueiro e a última com o psicólogo Rossandro Klingey.


Outro espaço interessante é o Marcel no Instagram. Ele está divulgando estórias e frases de Chico Xavier, além de outros projetos como o Calma e o Histórias para Contar. 

Com este time de convidados, acreditamos que as conversas contribuirão para a bagagem do participante e permitirão uma melhor compreensão da pessoa e produção mediúnica de Chico Xavier.

3.4.21

ESQUINA DO CÉLIA, COM DIREITO A PÁGINA NO ESPIRITISMO COMENTADO


Um dos slides de divulgação do programa


Esquina do Célia é um programa realizado normalmente nos segundos sábados de cada mês, no qual fazemos entrevistas com convidados que escrevem livros, divulgam o espiritismo, dirigem reuniões e mantém editoras espíritas. O entrevistador pergunta como um jovem de mocidade depois da reunião, ainda na calçada, na porta do centro espírita, querendo entender, saber um pouco mais.

Ele já é feito há oito meses, com uma entrevista por mês.

Os leitores ficavam me pedindo para acessar, pedindo o endereço dos programas, mas eles ficavam perdidos, isolados uns dos outros, dentro da TV Célia Xavier. Era necessário entrar no YouTube, clicar na TV Célia e depois escrever Esquina do Célia no instrumento de busca para acessar todos os programas agrupados.

Tentando facilitar a vida do interessado, criamos uma nova página dentro do Espiritismo Comentado para quem quer assistir o Esquina do Célia. Basta olhar logo abaixo da logomarca do blog e clicar na "orelha" da página, inscrita com o nome do programa: Esquina do Célia. 

Logo abaixo a descrição do programa, podemos ver a lista de entrevistados com os respectivos links, basta clicar neles e começar a assistir.

27.3.21

FÍSICA "QUÂNTICA" E ESPIRITISMO: UMA MISTURA DE ÁGUA E ÓLEO?

 

Uma amiga me enviou recentemente um vídeo de uma física tratando de uma associação completamente indevida entre ideias supostamente espíritas e ideias supostamente oriundas da física quântica.

Acho que minha única diferença da autora do vídeo diz respeito ao conceito de ciência. Ela emprega o conceito como sinônimo de Física-Química-Biologia, ou seja, um conhecimento com base na observação e experimentação, com associações de variáveis preferencialmente matemáticas, em busca de leis ou regularidades, diretas ou probabilísticas. Se ciência for definida assim, o espiritismo não é ciência, porque não temos como medir fenômenos espirituais (exceto os fenômenos de efeitos físicos, o que não tem sido realizado pela grande maioria dos espíritas no Brasil). Se ciência for um conceito mais amplo, em que se situam áreas como o direito, a antropologia cultural e certas escolas de pensamento psicológico, como a Gestalt, a  psicanálise e outras, a literatura e as letras em geral, a hermenêutica filosófica, e mesmo a hermenêutica religiosa, a fenomenologia de Husserl e a filosofia em geral, então o espiritismo pode ser situado nesse grupo. Uma visão muito restrita de ciência acaba se confundindo com o positivismo, que é uma escola filosófica materialista e não aceita o espírito como hipótese explicativa de nada. O espiritismo, na filosofia, seria uma escola dentro do espiritualismo, com abertura para interlocução com as ciências naturais.

Todavia, a grande contribuição da autora do blog, é mostrar que algumas pessoas, com a intenção de fazer, talvez, metáforas ou comparações, acabam empregando conceitos e teorias de forma totalmente equivocada. Ela mostra que o jornalista que fez um programa, associando física quântica e espiritismo, cometeu diversos equívocos, alguns bem grosseiros, na área dela. Então comparam uma “física imaginária”, entendida de forma claramente incorreta, com um “espiritismo imaginário”, também percebido de forma incorreta. Ou seja, presta um desserviço tanto à física, quanto ao espiritismo.

Para que a matéria não fique grande, um último comentário. Há espíritas tentando fazer essas analogias, sem o devido conhecimento, que acabam criando grandes “fantasias quânticas” no meio espírita. Uma analogia ou uma afirmação com base na física (que estuda a matéria) para a explicação de fenômenos espirituais, deve se assegurar, pelo menos, que emprega corretamente os conceitos físicos. Em uma área de conhecimento, pode haver teorias divergentes, hipóteses por serem testadas, e outras incertezas, mas há afirmações claramente erradas. O mesmo acontece com o espiritismo. Como filosofia, Kardec fez afirmações defendidas logicamente, às vezes empiricamente, cuja negação gera contradições. Afirmar que ele disse o que não disse, é um erro do ponto de vista doutrinário.

Recomendo ao leitor ouvir com atenção o vídeo e dar um “desconto” à irritação da nossa amiga física. Ela não o faz por mal. Se você ouvisse alguém falando bobagens sobre o espiritismo, ao qual você dedicou décadas de estudos, com certeza, mesmo sendo cristão, lá no fundo da alma teria algumas emoções fortes, mesmo que não as manifestasse. Outra coisa, a irritação dela não é conosco, mas com os que divulgam conceitos errados da física.


25.3.21

ESPIRITISMO NO URUGUAI: ELES SÃO APENAS 400, MAS TRABALHAM MUITO




 

Tatiana Benites entrevistou em seu programa o espírita uruguaio Ruben de los Santos. Ruben está ligado à Rádio Espírita Uruguai e escolheu como tema "A felicidade de ser espírita". Ele também está ligado à Revista Espírita "La Nueva Era, à TV Esperanza Uruguai, ao Espacio Allan Kardec e ao Centro Cultural Allan Kardec em Montevidéu.

O programa é muito interessante, porque Ruben fala das diversas iniciativas desses 400 do Uruguai, dentre elas uma animação com tema espírita. Eles escolheram um espaço grande em um centro cultural uruguaio para apresentar o espiritismo à população do país. Ele fala das diferenças culturais dos países platinos, que possivelmente envolve o movimento espírita espanhol e sua luta para com uma sociedade laica no final no século 19, início do século 20. 

Apesar de Tatiana estar em Barcelona e Ruben no Uruguai, o programa foi falado em língua portuguesa, o que nos facilita ainda mais ter uma panorâmica do movimento espírita uruguaio. Ruben fala bem nosso idioma, e se expressa de forma simples, sendo muito fácil entender.

Preparem-se porque ao longo do programa fica uma pergunta: que "desenho animado está sempre nos lembrando uma mensagem de Jesus"?

23.3.21

FELIPE ESTABILE: MAIS UM TRABALHADOR ESPÍRITA LEVADO PELA COVID 19

 



No último sábado, na aula à distância de evangelização infantil (educação espírita) o grupo foi fazer uma prece de abertura. Alunos de 11 e 12 anos, uma aluna pediu que dirigissem seus pensamentos a um amigo de seus pais que estava internado com Covid 19 e grave: Felipe Estabile.

Assim ficamos sabendo, poucas horas antes da desencarnação, da luta do amigo contra a enfermidade. Obtivemos mais informações e acompanhamos em nossa rede de relacionamentos as notícias do estado de saúde, até a desencarnação, no meio da tarde de sábado, 20 de março.

A União Espírita Mineira assim o descreve em nota: “Natural de Niterói/RJ, espírita desde o berço, veio para Belo Horizonte ainda criança. No Movimento Espírita ficou conhecido pelas atividades no Grupo da Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, e atuação na Unificação pela União Espírita Mineira.”

Eu conheci o Felipe e a sua futura esposa, a Regina, na primeira Confraternização de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte – COMEBH, em 1983. Felipe era o coordenador da Comissão de Secretaria, responsável por toda a papelada que envolvia o evento para cerca de 100 jovens. 

Foto de Participantes da Primeira Comebh - Onde está Felipe?

O Felipe era a encarnação da tranquilidade. Fala mansa mas imensamente dedicado ao que fazia. Na época, ele frequentava o Grupo Scheilla. A COMEBH foi muito importante para o movimento espírita mineiro, porque estabelecemos laços de simpatia com frequentadores de um sem número de casas espíritas, da capital e, depois, do interior. Muitos dos participantes dos anos 80 são hoje lideranças ou mesmo fundadores de novas sociedades espíritas e nosso relacionamento é muito mais fácil que seria se não nos conhecêssemos pessoalmente. Felipe participou de muitas e tornou-se coordenador geral da 9ª COMEBH.



Felipe no papel de Chico Xavier, em uma das peças teatrais da COMEBH

Posteriormente, Felipe e Regina se ligaram à Confraternização da Família Espírita de Minas Gerais, encontro durante o período de carnaval em que participavam também as crianças.

Onde está o Felipe?

No LinkedIn de Felipe se vê o seu percurso profissional, no qual se encontra o concurso como assistente administrativo da UFMG (1982-1994), sua licenciatura em História (1985), atuação como professor na Prefeitura de Belo Horizonte (1994-2003), seu trabalho como chefe de gabinete e depois assessor de relações institucionais na Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (2003-2014) e depois ocupou diversos cargos na Secretaria Municipal de Educação (2015-2019). Felipe encerrou sua carreira como professor, na minha opinião, a mais nobre de todas as suas ocupações.



Mesa de Abertura do Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - 2019

Felipe foi um dedicado trabalhador no meio espírita da capital e de Minas Gerais, como um todo. Vinte anos depois, ele apresentou trabalho e participou, em nome da União Espírita Mineira, do 3º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que aconteceu na Associação Espírita Célia Xavier. Quando o evento voltou a Belo Horizonte, em 2019, ele recebeu em nome da União Espírita Mineira, a homenagem que a rede de pesquisadores espíritas lhe fez, por nos receber em suas dependências.

Placa concedida pela LIHPE à União Espírita Mineira - recebida pelo Felipe

Fiquei lembrando das ideias do Felipe para um mestrado em História que ele não realizou, por estar tão ocupado com o trabalho, a família e o movimento espírita. Ele queria estudar a influência do positivismo da república velha no meio espírita de então. O tempo se foi, mas a ideia fica registrada para quem possa dar-lhe sequência. 

O Carlos Malab ficou muito emocionado quando lhe dei a notícia do desenlace. Ele se lembrou da serenidade do Felipe, e depois de trocarmos lembranças disse: a Telma (Núbia Tavares) há de recebe-lo no plano espiritual. Telma foi a coordenadora, junto com o Carlos, da primeira COMEBH. Nada mais justo que dar apoio ao secretário que retorna ao “mundo invisível”, como o chamavam os espíritas franceses do século 19.


17.3.21

ESTIVE EM DOIS PROGRAMAS: RODA VIVA DO ESPIRITISMO E A FORÇA DO ESPIRITISMO

Com o desenvolvimento da internet e um "empurrãozinho" decorrente do isolamento social, muitos programas na internet referentes ao espiritismo ganharam visibilidade. Fui convidado a participar de dois: o Roda Viva do Espiritismo (de Franca - SP) e o programa A Força do Espiritismo (do espiritismo.net e apoiado pela CEERJ e vários parceiros).

No programa Roda Viva fui entrevistado pelas queridas Nadia e Cléria, criadoras da Coleção "Espiritismo na Universidade", que agora está no Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, e pela Rutineia Martins, que vem contribuindo com as pesquisas do núcleo francano de pessoas ligadas à Liga de Pesquisadores do Espiritismo.

Falamos de tudo, com muita liberdade. Os livros, os trabalhos, as traduções, política, trajetória e até "causos". O tempo passou rapidamente, de forma séria, mas bem humorada.


Link = https://www.youtube.com/watch?v=HZb_2vWnti0

O programa "A Força do Espiritismo", por sua vez, tem um de seus interesses voltado aos clássicos. Tivemos o prazer de lembrar de uma pesquisa de fontes biográficas que fizemos há muitos anos (muitos mesmo!) sobre Gabriel Delanne. O filho do casal espírita dos primeiros tempos (Alexandre e Marie Alexandrine) nos faz viajar pela França do século 19 e acompanhar os primeiros tempos da divulgação do espiritismo, seus atores, sua trajetória, e seus esforços de divulgação  e os debates que surgiram e se materializaram na revista "Le spiritisme" e na "Revue scientifique et moral du spiritisme". Muitas histórias esquecidas são o objeto desse vídeo relativamente curto.



Link = https://www.youtube.com/watch?v=BVKZFO5wutk

Foram diversas participações nos últimos meses, mas essas duas curtas inserções tiveram um tom especial. Confiram.



2.3.21

ESPIRITISMO, MISTICISMO, SENTIMENTO RELIGIOSO E POSITIVISMO: UMA RESPOSTA DE LÉON DENIS

 


Acabo de ler um artigo de Léon Denis, publicado na revista Le Spiritisme, de junho de 1889, no qual ele comenta a proposta do Sr. Marius George de criar em meio ao espiritismo um grupo positivista, que se apoiasse exclusivamente nos fatos e abandonasse tudo o que pudesse pertencer "ao domínio da hipótese".

Denis estava participando da organização de um congresso organizado pela União Espírita Francesa, e confirma ao seu correspondente que "sua forma de ver será acolhida não só pelo congresso, mas de forma permanente por todos os seus irmãos, com o respeito que é devido às convicções sinceras e esclarecidas" (p. 81)

A seguir, Marius afirma que a obra de Allan Kardec "está manchada com dogmatismo e misticismo" e que por isso guardaria pouca relação com "os gostos e aspirações" da época em que eles viviam.

Denis argumenta que Kardec agrupou e coordenou o ensino dos espíritos, de forma a lhe dar um "corpo" de doutrina. Ele afirma que isso levou o espiritismo à "idade adulta". Ele afirma que todos os que fugiram desse método, com teorias pessoais, edificaram obras efêmeras. Ele se refere a Roustaing, como exemplo, dizendo que ele merece o epíteto de místico com mais justiça.

Analisando Kardec ele cita o combate, com rigor, dos dogmas católicos em O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese. Mostra a diferença do conceito de Deus entre os católicos, e penso que também entre os deístas como Voltaire, porque fala do Deus-relojoeiro, e faz uma imagem muito interessante, que já havia percebido na leitura de O céu e o inferno, a substituição de um Deus visto como imperador do universo (cercado por seus anjos-cavaleiros), por uma "imensa república de mundos governada por leis imutáveis, acima dos quais paira a Razão, Razão consciente, que conhece a si mesma e que é dona de si, que é Deus." (p. 82)

Surpreendendo seu interlocutor, Denis afirma que a noção de Deus nos escapa (ele está discutindo com Marius George o misticismo da concepção de Deus) assim como as noções positivistas de infinito e eternidade. Em outras palavras, ele aponta uma contradição interna do positivismo: conceitos que não surgem da observação de fatos, mas da razão.

O autor espírita francês continua dizendo que Kardec entende "o sentimento religioso como uma força" que pode ser utilizada para o bem da humanidade. Ele afirma que a humanidade não tem menos necessidade do ideal que do real. 

Para ele, "o ideal é essa intuição do melhor que nos eleva acima do visível, do conhecido, do realizado, em direção de concepções e de formas mais perfeitas." (p. 82) Nessa frase, Denis mostra a seu interlocutor que uma visão exclusivamente positivista seria reducionista, defendendo certo idealismo (escola filosófica).

Outra colocação genial de Denis foi reconhecer que o sentimento religioso foi explorado por uma casta sacerdotal que produziu abusos em seu nome, mas que "fortificado pela ciência e pela Razão ele se tornará motivo de aperfeiçoamento individual e de transformação social". (p. 82)

O espírita de Tours faz um análise das religiões e mostra que sua parte exclusivamente humana e material é a "das definições, dos dogmas e de todo o aparato dos cultos e dos mistérios", da mesma forma que Kardec havia discutido em seu artigo de 1868.

Ele afirma que as experiências espíritas dão uma base sólida à crença na vida futura, retirando-a do domínio das hipóteses e situando-a no domínio dos fatos (ele estaria se referindo a uma teoria baseada em evidências, como se diz hoje?). Também afirma que "seria uma grande falta, deixar às igrejas o monopólio da ideia de Deus". 

Com uma frase contundente, Denis reafirma a insuficiência do positivismo e o valor do sentimento religioso, quando escreve: "A missão do espiritismo não é excluir o sentimento religioso do coração humano e a noção de Deus, mas sim secularizá-los, para para purificar, para elevá-los, para apoiá-los na razão, a fim de torná-lo o motivo de melhoria." (p. 83) 

O mais interessante do artigo é ver que mesmo se opondo claramente à tese da redução do espiritismo aos limites traçados pelo positivismo, Denis respeita seu interlocutor. Ele conclui seu artigo dizendo:

"Mas qualquer que seja sua opinião sobre este assunto, creia, meu amigo e irmão, que estamos de acordo em pontos suficientes para que certas diferenças de opinião não nos possam separar e que você vai me encontrar sempre disposto a caminhar de mãos dadas na conquista de destinos melhores para nós e para a humanidade." (p. 83)

Um texto muito importante para refletirmos no meio espírita, nos dias de hoje.

24.2.21

PANDEMIA E SUICÍDIO DE MULHERES NO JAPÃO


 

O jornal Estado de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre o aumento de suicídios de mulheres no Japão, durante a pandemia. Foi uma alta de 15% em 2020, com relação ao ano anterior. https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,com-pandemia-suicidio-de-mulheres-aumenta-no-japao,70003625957

As relações de trabalho no Japão vêm mudando, mas ainda espelhariam a ideia de que o salário do marido sustenta a família e o salário da mulher é exclusivamente para ela. Como resultado, é usual que o vínculo do trabalho feminino seja mais precário (meio horário, por exemplo), a remuneração menor (nos anos 90, era legal pagar menos para uma mulher que para um homem que ocupasse o mesmo cargo) e as mulheres ocupam postos de trabalho mais precários que os homens. Em outras palavras, as relações de trabalho no Japão espelhavam uma sociedade na qual a mulher adulta era criada para o casamento.

Outra característica que estudamos na nossa dissertação de mestrado é o papel exacerbado da vergonha da cultura japonesa. Não corresponder às expectativas, pode gerar muito sofrimento no Japão. Vez por outra vemos notícias de autoridades japonesas descobertas praticando corrupção, seguido de autoextermínio. 

Mais uma característica do povo japonês destacado pelo autor da matéria é o estoicismo, ou seja, o enfrentamento das dificuldades com tentativa de imperturbabilidade e uma aceitação resignada do que é visto como destino. Como consequência, os quadros de transtorno mental, sem tratamento, se agravam.

Uma última característica cultural que complica ainda mais a situação: "infelizmente a tendência atual é culpar a vítima", afirma uma professora de ciência política, Michiko Ueda.

Some-se a essa cultura os problemas da pandemia. Com o isolamento social, muitos negócios demitiram ou fecharam, e as mulheres sofreram mais o desemprego, seja porque tinham vínculos mais frágeis de trabalho (trabalho temporário ou de meio horário), seja porque trabalhavam em segmentos da economia muito atingidos, "como restaurantes, bares e hotéis". 

Algumas mulheres ficaram, então, sozinhas em casa, como mostram no artigo. Solidão, culpa, desesperança juntos, além de uma concepção de suicídio como saída honrosa, estão todos associados ao aumento do suicídio feminino na pandemia.

Por que estou escrevendo sobre o suicídio feminino no Japão em um blog sobre espiritismo? Inicialmente porque podemos orar por elas. Aprendemos com Yvonne Pereira a importância da prece para o suicida. 

Outra razão, é refletirmos sobre as pessoas que estão sozinhas e especialmente muitos espíritas que adotam uma posição estóica e não aceitam ajuda psicológica e psiquiátrica, acreditando, ingenuamente, que bastam os recursos do centro espírita para lidar com o sofrimento psíquico. Os passes e as reuniões são realmente úteis, assim como a relação de proximidade que nós espíritas estabelecemos entre nós, mas, na pandemia, e os centros espíritas respeitando as políticas de isolamento social, muitos desses recursos não ficaram acessíveis, principalmente aos grupos de risco.

Precisamos, então, usar dos recursos à distância nas casas espíritas, como muitas têm feito, e incentivar as pessoas a buscaram auxílio psicológico ou psiquiátrico quando começam a apresentar a ideação suicida (imaginar como suicidarem-se) e queixarem de não "dar conta" do peso dos conflitos em casa ou da solidão. O acolhimento fraterno das casas espíritas pode ser realizado por telefone, por exemplo. A prece direcionada às pessoas em sofrimento também pode ser feita. As reuniões mediúnicas, como já o dissemos antes, mesmo que reduzidas a encontro, prece, estudo e irradiação, empregando aplicativos, podem ser mantidas. Palestras ao vivo ("lives") com participação dos que assistem, mesmo que apenas através dos "chats", são um recurso importante contra a rotina e a solidão.

Faço um apelo para que os espíritas japoneses pensem em alguma forma de auxiliar os que se encontram sozinhos, presos em casa, em seu país. Muito pouco pode fazer a diferença entre suicídio e sobrevivência.

Precisamos também aceitar que somos frágeis, não somos "completistas", nem superiores aos nossos irmãos que apresentam outras crenças, e que podemos necessitar de "ajuda psi" para lidar com situações que nos tiram de nossa "zona de conforto" 

Meditemos sobre o que está ao nosso alcance e o que podemos fazer, além de aceitar nossas fragilidades e jamais evitar buscar ajuda profissional ou não quando necessário.

15.2.21

MEDIUNIDADE E TIPOS PSICOLÓGICOS

 

Figura 1: Windbridge Research Center é o nome do grupo dirigido por Beischel que faz pesquisas profissionais sobre mediunidade.

Hoje uma amiga psicóloga me perguntou sobre a relação entre mediunidade e psicologia. Lembrei de imediato das pesquisas de Julie Beischel. No livro “Among Mediuns”, ela publicou resultados de pesquisas com médiuns norte-americanos. No capítulo 5 ela apresenta resultados de estudos sobre como se dá o fenômeno mediúnico. Como ela deseja fazer pesquisa empírica (e não empiricista, ou sem teoria) ela aplica testes psicológicos nos médiuns em estudo.

Um teste muito conhecido nos Estados Unidos é o Myer-Briggs Type Indicator. Ele tem por base a teoria junguiana de tipos psicológicos. Após a aplicação o sujeito estudado é analisado a partir de quatro dicotomias:

1. Extraversão/Introversão (E/I) (ou  ele é extrovertido ou introvertido)

2. Que usa principalmente os sentidos / Que usa principalmente a intuição (S/N)

3. Que principalmente pensa / que principalmente usa os sentimentos (T/F)

4. Que emite julgamentos / que percebe o outro (sem julgar) (J/P)

Depois disso, segundo Beischel, se classifica o sujeito em um de 16 tipos:

1. ESTJ (extravertido, que usa os sentidos, que pensa e julga)

2. INFP (introvertido, que usa a intuição, que sente e que percebe)

E segue-se alternando as dicotomias até formar as 16 possíveis. Cada sujeito teria quatro características preferenciais.

Resultados Encontrados

1. 83% dos médiuns estudados foram categorizados como intuitivos (N) e que usa sentimentos (F). (apenas 16% da população norte-americana tem esse perfil).

2. Ela apelidou os médiuns de NFs

3. Os grupos profissionais com grande incidência de NFs nos Estados Unidos são: clérigos (55%) e professores de arte, teatro e música (54%)

4. Os profissionais que apresentam menor número de NFs são: policiais e investigadores (4% de NFs)

5. Ela entende que talvez isso explique o mau relacionamento entre forças armadas e policiais com os médiuns. “Os dois grupos simplesmente interagem psicologicamente com o mundo externo de formas inteiramente diferentes”. (isso nos leva a crer que os militares e policiais são predominantemente STs ou seja usam os sentidos e pensam, principalmente).

Infelizmente, ela não apresenta mais informações no seu livro. 

Você é médium? Quais seriam suas classificações nas quatro dicotomias?


Beischel, Julie. Among Mediuns: a scientist's quest for answers. Tucson-AZ: The Windbridge Institute, 2013.  (Acessível via Kindle)

2.2.21

QUANDO ACONTECEU O PRIMEIRO ENCONTRO DA LIGA DE HISTORIADORES E PESQUISADORES ESPÍRITAS (ENLIHPE)?

 

Eduardo Carvalho Monteiro

Sempre me fazem a seguinte pergunta: Quando aconteceu o primeiro Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo?

O que foi considerado “1º Enlihpe”, na verdade foi uma mesa realizada no primeiro Congresso Espírita Brasileiro, realizado em Goiânia nos dias 1 a 3 de outubro de 1999.

A mesa se chamava “Pesquisas históricas no movimento espírita”, e foi coordenada por Eduardo Carvalho Monteiro.

Ela teve como expositores do tema “Metodologia para pesquisas históricas: organização e conservação de dados históricos nas instituições espíritas” Washington Luiz Nogueira Fernandes e Luciano Klein Filho. O tema Memória do movimento espírita e valorização de vultos espíritas” foi apresentado por Geraldo Campetti Sobrinho. Por fim, foi realizado um intercâmbio de experiências, discussões e pesquisas. (Fonte: Reformador, agosto 1999, p. 25)

Como se pode ver, a Liga de Pesquisadores do Espiritismo tem por origem a preservação da história e da memória, sob a direção consequente do Eduardo. Foi posteriormente que se abriu para outras áreas do conhecimento, deixando de ser Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas e se tornando Liga de Pesquisadores do Espiritismo, mas isso é história para outra publicação.

26.1.21

REUNIÕES MEDIÚNICAS À DISTÂNCIA: PSICOGRAFAR OU NÃO?

 

Chico Xavier psicografava na casa de Rômulo Joviano, às quartas-feiras, nos anos 1930 e posteriores


Com a pandemia e as políticas de isolamento social vieram novos desafios para as sociedades espíritas. O desafio central é: como funcionar com os cuidados para que não haja contágio? Uma das formas de adaptação que mais se desenvolveu foram as reuniões através da internet, nas quais cada um se mantém em sua residência, mas consegue interagir com os demais.

Talvez o maior desafio tenha sido as reuniões mediúnicas. Há muitos anos, no Brasil, os grupos deixaram de ser familiares, criaram “centros espíritas” ou “sedes de sociedades espíritas” para seu funcionamento e vêm praticando a mediunidade de forma coletiva (em grupos) nos centros espíritas. Obviamente, isso não acontecia em épocas e em países onde não há uma rede de centros espíritas. 

Em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo XVII da segunda parte (Da formação dos médiuns), Kardec sugere à pessoa que esteja desenvolvendo a psicografia, que o faça em solidão, silêncio e afastamento de tudo o que possa ser causa de distração. E sugere que renove “todos os dias” a tentativa, por dez minutos ou um quarto de hora, por meses. Em outras palavras, ele recomenda que os que desejam verificar se têm a capacidade da psicografia que façam esse exercício de forma particular, se necessário em casa. (segunda parte, capítulo XVII, §204)

Isso não significa que Kardec não observasse vantagens no trabalho mediúnico em grupo ou equipe. Ao falar da reunião de pessoas com o objetivo de desenvolver a mediunidade, ele argumenta que ao se reunir com um intento comum, os membros “formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontram acrescidas por uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade.” (segunda parte, capítulo XVII, §207)

Na história do espiritismo brasileiro, podemos registrar a existência de reuniões familiares nas quais um médium psicógrafo permitia a comunicação de um espírito familiar ou um espírito superior. Talvez, o maior registro impresso que tenhamos na atualidade, seja o livro “Sementeira de Luz”, todo psicografado por Chico Xavier nas reuniões de evangelho no lar da residência dos Joviano. Wanda Amorim Joviano guardou as mensagens que foram psicografadas na casa de seu pai desde os anos 1930, semanalmente, às quartas-feiras. Trata-se de um livro de 669 páginas, em sua grande maioria ditadas por Arthur Joviano, avô de Wanda, já desencarnado. 

Divaldo Franco, no livro “Diretrizes de Segurança” (questão 47), que foi fruto de um simpósio realizado em Belo Horizonte em conjunto com Raul Teixeira, desaconselha a prática mediúnica como hábito em reuniões domiciliares, mas “não impede que, excepcionalmente, ocorra o fenômeno com a anuência de um médium sob a inspiração dos bons espíritos”. Em outras palavras,  ele limita essa prática, mas não a proíbe. Na questão 48, ele recomenda de forma contundente que se realizem as reuniões mediúnicas nos centros espíritas, comparando-o a um centro cirúrgico e perguntando de forma retórica: “Já que temos o Centro, por que desrespeitá-lo, fazendo reuniões mediúnicas noutro lugar, se ele é o determinado para tal?”

Considerando todas essas informações, entendemos que no momento, e não sabemos até quando, a reunião mediúnica presencial nos centros espíritas se encontra interditada por razão de saúde pública, mas isso não significa que não possamos psicografar, durante as reuniões que se fazem através da internet, na qual se encontra reunido o grupo, comunicações de espíritos orientadores ou familiares. Em nossa experiência, a maioria dos médiuns psicógrafos dos centros que conhecemos é intuitivo, não havendo automatismos. Não vemos consequências mais graves para esse conjunto de fatores: médium intuitivo psicografando espíritos familiares ou superiores, em encontro à distância com os demais membros de reunião mediúnica. Neste caso, a interrupção pelo médium de uma comunicação importuna ou inadequada é fácil e voluntária não havendo outros inconvenientes.

Com esses cuidados, é aceitável que se mantenha a prática da psicografia de espíritos benfeitores ou familiares nas reuniões mediúnicas à distância, além das preces, dos estudos e das chamadas “irradiações”, que não são senão uma prece dirigida a um ou mais beneficiários. Temos obtido bons resultados em nosso grupo, sem incidentes dignos de registro até o momento.

24.1.21

DELANNE FALA DE KARDEC APÓS ANALISAR NOVOS FENÔMENOS E AVANÇOS DA CIÊNCIA

 

Gabriel Delanne

“Rendamos justiça ao espírito eminente de Allan Kardec, que nos tem instruído, que nos tem indicado a boa direção, mostrando, com uma segurança maravilhosa, o caminho que nós devemos seguir. Nosso dever é o de render homenagens para este iniciador e, ao passar pelo crivo da razão e da experiência seus ensinos, saibamos lhe pagar o justo tributo de admiração que lhe é de direito, e reconhecer que ele tem o seu lugar no panteão dos benfeitores da humanidade.”

Gabriel Delanne, Revista Científica e Moral do Espiritismo, 1896, p. 209 e 210. 

Homenagem escrita após o término do artigo “Os raios X e a dupla vista dos sonâmbulos e dos médiuns, na referida revista.


14.1.21

PRINCÍPIOS DO ESPIRITISMO



Ainda na entrevista da PUC Minas, a entrevistadora perguntou:  Quais são os princípios do espiritismo? 

O espiritismo baseia-se na existência e sobrevivência da alma, cujas manifestações se dão através de uma faculdade denominada mediunidade, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados (não apenas na Terra reencarnam espíritos) e na existência de Deus, com base no axioma “um efeito inteligente (ser humano) há de ter uma causa inteligente”.



Traduzimos da New World Encyclopedia, o seguinte verbete: https://www.newworldencyclopedia.org/

"Princípio em filosofia e matemática significa um pressuposto ou lei fundamental. A palavra "princípio" é derivada do latim "principium" (começo), traduzida por Cícero do grego "arché" (ἀρχή); o começo, o primeiro princípio. 

Um princípio é fundamental, no sentido que ele geralmente não pode ser derivado de outros."

"Principle in philosophy and mathematics means a fundamental law or assumption. The word "principle" is derived from Latin "principium" (beginning), translated by Cicero from Greek "arche" (ἀρχή; the beginning, the first principle).

A principle is fundamental in the sense that it generally cannot be derived from others... "

A questão proposta pela Rosângela, da PUC, não tem uma resposta exata. Algumas das ideias espíritas são propostas pelos espíritos e analisadas racionalmente pelos espíritas, a começar de Allan Kardec. Dada a complexidade do espiritismo, sempre é possível analisar suas ideias centrais buscando seus princípios ou pressupostos, e o analista pode chegar a diferentes propostas ou conjuntos de princípios. 

Reduzindo o conceito de princípio ao de pressuposto, a existência de Deus, por exemplo, se fundamenta no axioma de que "um efeito inteligente tem uma causa inteligente", que foi inscrita no túmulo de Allan Kardec no cemitério Père Lachaise. Em outras palavras, o espiritismo fundamenta a ideia de Deus em um princípio racional, e não em uma afirmação que o crente deve aceitar independente da razão.

11.1.21

CARTA DE HERMÍNIO C. MIRANDA À LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO - LIHPE

Hermínio C. Miranda


Agora há pouco o amigo Pedro Nakano pediu que eu recuperasse a carta escrita por Hermínio C. Miranda à Liga de Pesquisadores do Espíritismo, por época de seu 7º encontro nacional. O tempo é pródigo em enevoar as memórias, e quando finalmente consegui, no portal "Espiritualidade e Sociedade" não consegui não reler o documento.

Ele foi obtido pela amiga e trabalhadora de sempre, a Dra Nadia Luz Lima, que teve contato mais próximo do "escriba" quando utilizou alguns de seus conceitos, como o de "simetrias históricas", em sua tese de doutoramento em história.

São curiosos a modéstia e o afeto do escritor pela proposta do Enlihpe. Como estamos em época de "chamada de trabalhos" para o 16º encontro, após um ano sem evento, devido à pandemia, gostaria de relembrar aos leitores do Espiritismo Comentado essa mensagem curiosa, de coração para corações.

Jáder Sampaio


Aos estudantes e participantes do 7º Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo


Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:

Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certo modo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minha cardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria eu administrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês?

Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo isto ao me lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menos assim: “Difícil é aquilo que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é que demora um pouco mais.”

As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumas impossibilidades pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, que misteriosamente desmaterializavam-se e me deixavam passar.

Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor!

Somente agora estou percebendo que os “impossíveis” começaram a acontecer, depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de 1957.

De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que a gente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo do estrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhos do materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica, avançamos consideravelmente nas badaladas e

sofisticadas conquistas tecnológicas. Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais do que isso, muito mais. E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitas do espaço imenso.

Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --os modelos políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Não apenas podemos, mas devemos mudá-los.Temos de mudá-los.

Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos e no qual, viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizado foro de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somos meros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes, sobreviventes e reencarnantes.

Convém lembrar, ainda, que, ao separar didaticamente o território das coisas materiais, do espaço reservado às imateriais, Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenas chamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigem abordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que se disponha honestamente a aprender com os fatos.

Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentes metafísicos da vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atenção de intelectuais que se prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada que nos ouça e ajude a retirar o estigma que pesa sobre realidade espiritual. O resto virá por acréscimo.

Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer por nós, mas ao que podemos fazer pelo mundo.

Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se não sonharmos, como é que nossos sonhos vão se realizar?

Eis o singelo recado do velho escriba.

Hermínio C. Miranda

Agosto de 2011

1.1.21

TRANSIÇÃO: UMA VISÃO RACIONAL



Há alguns meses fui convidado pela direção da reunião pública da Associação Espírita Célia Xavier para dialogar com o público sobre o tema “Papel do espírita em uma sociedade em transição”. Nesse trabalho, preparado originalmente para um encontro no C.E. Thiago Maior, também de Belo Horizonte, recuperamos o pensamento de Allan Kardec nos capítulos 16, 17 e 18 de “A Gênese, os milagres e as predições” de Allan Kardec.

A análise de Kardec sobre as predições é que elas não são uma espécie de “filme do futuro”, em que o “profeta” ou “médium” vê como se fosse um cinema o que vai acontecer. Ele associa a teoria da presciência a um agrônomo, por exemplo, que conhece o tempo da floração e do surgimento dos frutos de uma determinada plantação. Ele sabe quando deve acontecer, mas não é capaz de prever incidentes inesperados, como uma chuva de granizo que impeça o surgimento das flores e dos frutos. Quanto maior o conhecimento de um espírito, maior a capacidade dele falar de coisas que virão, embora não possa prever as escolhas das pessoas 

Isso é muito importante para entendermos a visão de transformação e de transição no pensamento de Allan Kardec. Ele faz uma interpretação do discurso apocalíptico de Jesus, o chamado Sermão Profético, como contendo descrições fortes para sensibilizar um povo com mentalidade rude. As guerras, os cataclismos e outras coisas descritas no sermão seriam apenas símbolos de conflitos de valores e de princípios que deveriam ser compartilhados no mundo, no futuro. Jesus defende uma sociedade regida pela fraternidade e solidariedade, ou seja, um mundo no qual todas as pessoas se tratam como merecedoras de respeito e que compartilham o mesmo status de sujeitos de direito, ou seja, como se diz, são iguais diante da lei (dos homens e de Deus).

Kardec chama a nossa atenção para o progresso material e moral do mundo. Reafirma que o progresso material, que tem por base o desenvolvimento do conhecimento, antecede o progresso moral. As transições podem ser lentas e graduais ou bruscas. Ele também diz que algumas partes do mundo podem avançar mais rapidamente que outras. 

O que se conclui é que a transição defendida por Allan Kardec não é a espera de um momento mágico a partir do qual se declara que o mundo deixou de ser de expiações e provas e se tornou um mundo de regeneração. Não é uma data. Não é uma declaração de entidade espiritual. É um processo de transformação das pessoas e das sociedades, uma mudança de mentalidades que gera transformações nas leis e na forma que vivemos.