6.3.17
O PAI NOSSO DE ANTONINA
Uma aula sobre oração? Ficou pensando Antonina com seus botões...
Ela se recordou de uma aula que assistiu quando tinha a idade de seus alunos. Engraçado como estas coisas vêm à cabeça, mesmo passados muitos anos.
Antonina tem poucos alunos, apenas cinco, mas o desafio de facilitar a aprendizagem não é menor. Conceitos abstratos, mesmo para crianças de 11 e 12 anos, que geralmente gostam de ser chamadas de pré-adolescentes, com uma experiência escolar limitada, aprovações forçadas e desempenho grupal baixo, são de difícil apreensão. Uma vez acreditando que não são capazes de aprender, desistem muito facilmente.
A ideia que ela teve foi associar Allan Kardec com Jesus Cristo... Kardec escreve em "O Livro dos Espíritos" que o objetivo da prece pode ser "louvar, pedir ou agradecer". Jesus ensinou aos apóstolos a oração dominical (do latim "dominus", significando senhor) como um exemplo de prece.
Ela imprimiu textos com a oração dominical, um para cada aluno. Imprimiu sete, por segurança. E montou um kit com três canetas marca-texto de cores diferentes. Amarelo para pedir, azul para agradecer e verde para louvar.
Chegado o grande momento, ela explicou a dinâmica da aula. Iriam estudar frase a frase a oração, e iriam identificar se a frase tinha o objetivo de louvar, pedir ou agradecer. Cada um iria marcar a frase com a cor respectiva, depois de conversarem em grupo.
As canetas fizeram um enorme sucesso. Os alunos nunca as tinham visto! Parecia mágica a história de colorir uma palavra para destacá-la...
As discussões foram longe.
- Santificado seja o vosso nome!
Depois de discutir, concluiu-se que se tratava de louvar a Deus.
- O pão nosso de cada dia nos dai hoje!
- Antonina! Ele está pedindo! Vamos marcar de amarelo?
Frase a frase foram analisando a oração. No final da tarefa alguém falou:
- Não tem nenhuma frase de azul... Falou Cícero.
- Ele não agradeceu nada? Perguntou Artur.
- Não é preciso usar as três classificações para se fazer uma prece. Como ela sai do coração, vai depender do que estamos sentindo e vivendo na hora. Explicou Antonina. E emendou:
- Vocês sabem de onde vem o Pai Nosso?
Ela mostrou um Novo Testamento.
- Uma Bíblia! Falaram os três meninos...
- Depois de Mateus, vem Marcos! Aqui passa de Mateus para Lucas. Esta Bíblia está errada? Perguntou Cícero.
- Não! Explicou Antonina. Você passou as páginas rápido demais. Explicou.
- Este livro não é a Bíblia inteira, é apenas o Novo Testamento...
Os meninos tinham um contato anterior com a Bíblia, talvez pela grande influência evangélica em sua comunidade.
Antes de terminar a aula, houve um apelo:
- Você vai trazer mais estas canetas?
E Antonina, tocada, deixou cada um ficar com um kit.
20.2.17
SEMINÁRIO "NOVOS ESTUDOS SOBRE A REENCARNAÇÃO" NA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA
Espíritas de Belo Horizonte e redondezas, que não puderam estar no seminário Novos Estudos sobre a Reencarnação, na AECX, têm agora a oportunidade de participar de uma nova edição do mesmo, na União Espírita Mineira.
Além dos expositores do primeiro seminário, contamos com o médico Eric Ávila Pires, um dos autores do livro que originou o seminário, apresentando de forma compreensiva dos estudos do psiquiatra Ian Stevenson, um dos pesquisadores que trabalhou com "memória espontânea de crianças", uma das metodologias aceitas de pesquisa, que gerou grande número de artigos em periódicos indexados e livros, além de consolidar uma linha de pesquisa que continuou após o falecimento de seu criador.
Haverá oportunidade para adquirir o livro publicado em 2016 pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo e para colher autógrafos dos autores presentes.
As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas. Inscreva-se pela internet, no endereço divulgado no cartaz e seja bem-vindo.
18.2.17
DOLORES BACELAR E O RISHI
O
Correio Fraterno, jornal espírita de São Bernardo do Campo, está comemorando 50
anos de publicações com um número no qual homenageia a médium Dolores Bacelar.
Vez por outra citamos os livros que esta médium psicografou no
Espiritismo Comentado. Dolores evitava a exposição pessoal, o que pode
explicar, em parte, o pouco conhecimento de seus livros pelos espíritas, hoje.
Izabel Vitusso recuperou mais alguns episódios da vida de Dolores
Bacelar na sua matéria no Correio. Um deles lembrou-me Yvonne A. Pereira.
Dolores foi tida como morta após um de seus partos, saindo do estado
inconsciente no qual se encontrava apenas no necrotério, na presença do seu
"marido-quase-viúvo" e de uma vela de cabeceira.
Entre os diversos espíritos que se comunicavam através da pena de
Dolores Bacelar, sempre me impressionou o que se identificou como "um
jardineiro" e que sempre achei semelhante ao Tagore psicografado por
Divaldo Franco. Sua literatura de pequenos contos difere muito da que lemos na
obra de Chico Xavier e do pouco de literatura brasileira que conheço.
Um de
seus personagens centrais é um “rishi” (“alguém que alcança além do mundo
físico através do conhecimento espiritual”. Os rishis teriam escrito os Vedas).
Ele fala à alma do leitor com o apoio de imagens da natureza e de interações
pontuais entre homens (como se lê no diálogo entre o rei e o jardineiro, p. 67).
Apesar
das raízes indiana, o jardineiro flerta com os valores e imagens cristãs. Há um
belíssimo texto no livro intitulado “O rouxinol e a lágrima” (p. 51)
Relendo
os pequenos textos, que ficam entre a poesia e a prosa, encontrei outras
imagens muito usadas nos evangelhos, como as sandálias, as sementes (usadas
como símbolo das virtudes), os representantes das riquezas e poderes, como os
reis, as pessoas simples, de profissões manuais, como um oleiro. Talvez seja
principalmente nos valores que são discutidos nestas pequenas obras meio
reflexivas e meio visuais que se encontra a conexão entre a estética oriental e
as virtudes cristãs.
Recomendo
a todos os leitores do Espiritismo Comentado a provarem deste néctar, sob a
forma de pequenos textos.
3.2.17
JUANA DE LA CRUZ E O CONHECIMENTO
Juana Inés de La Cruz
Influenciado pela série sobre Juana de la Cruz, da Netflix, decidi ler
alguns de seus poemas que comprei há mais de uma década. Tenho o volume 1 das
Obras Completas, intitulado “Lírica Personal”. Um dos primeiros poemas trata do
conhecimento, para minha surpresa.
Juana trata uma questão muito curiosa: o saber como vício.
Ela fala de pessoas que vivem em busca do saber e pouco produzem com ele. Faz
belas imagens em seu poema, como a dos campos floridos:
“Em amenidad
inútil,
¿qué importa al florido campo,
Si no
halla fruto el Otoño,
Que ostente
flores el Mayo?”
Ela se
indaga acima qual é a importância de um campo florir-se todo em maio, se não
trouxer frutas no outono.
Creio que o
raciocínio é muito semelhante a uma história que me foi ditada pelo
Conselheiro, chamada “Os evangelhos de João Ângelo”, que cria um personagem que
dedica a vida a pesquisar a interpretação dos textos evangélicos e negligencia
seu próprio filho, em casa, não percebendo os sinais de socorro que ele lhe
endereça.
Não creio
que Juana, erudita como era, se ponha contra a aquisição do conhecimento, mas
contra o vício de conhecer por conhecer, de acumular informações e teorias sem
ser capaz de dar sentido à realidade ou, como diria Kardec, em ter conhecimento
sem desenvolver sabedoria.
14.1.17
QUEM É O PRÓXIMO?
Fonte: http://iejusa.com.br/civilizacoesantigas/imagens/7_55.jpg
Na parábola do Bom Samaritano
(Lucas 10:29-36) o doutor da lei pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”,
esta pergunta havia sido feita após se ter conversado sobre a lei moisaica,
mais especificamente sobre uma passagem do Levítico, na qual se fala para “amar
ao próximo como a si mesmo” (Levítico 19:18)
Lendo mais detidamente a citação,
no texto de Moisés, Yahweh está tratando da justiça no julgamento. Inicialmente
ele fala para não tratar de forma diferente o pobre e o rico (19:15), depois
fala do compatriota (irmão) e recomenda repreender, para que não se cometam
crimes de vingança entre os israelitas. Então se escreve:
“Não te
vingarás e não guardarás rancor contra os
filhos do teu povo. (grifos meus) Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lev. 19:18)
Vê-se aqui que a lei mosaica
tenta fazer que os israelitas se tratassem como irmãos, ou seja, que se
aceitassem sem distinção de riqueza ou pobreza e que renunciassem à vingança de
sangue entre si, para tratar suas diferenças dentro da lei. Neste contexto, o
próximo a que se refere Yahweh são os compatriotas.
Se aceita esta acepção, faz sentido
a questão proposta pelo doutor da lei a Jesus. Quando ele pergunta quem é o
próximo dele, ele esta perguntando se o alcance da exigência da lei são os seus
compatriotas, apenas, mas Jesus vai estabelecer que se deve amar as pessoas sem
a distinção de nacionalidade.
Ao contar a parábola, Jesus elege
como herói um samaritano. Ele toca em uma rixa antiga dos descendentes de
Abraão. Após o reinado de Salomão, os hebreus se dividiram em dois reinos:
Israel e Judá. O reino de Israel tem a Samaria como capital, mas foi conquistado
pelo assírio Sargão II em torno do
século VIII a.C., o que gerou uma espécie de influência religiosa oriental nos
costumes da região. Os samaritanos, contudo, continuavam aceitando os cinco
livros da lei moisaica, mas os judeus, na época de Jesus, condenavam
estas diferenças e alimentavam a separação. A rixa com os samaritanos ia ao
ponto destes terem seu próprio templo, o que os isolava do templo de Jerusalém.
Habitantes do
reino de Judá e habitantes do reino de Israel se viam como diferentes. Eles, por
consequência, não se viam como "próximos", embora ambos vivessem sob as regras da
lei moisaica.
Os Romanos dividiram a o antigo
reino de Salomão, na época de Jesus, em regiões administrativas, entre as quais
se encontram a Judeia, a Samaria e a Galileia. Eles geralmente observavam as semelhanças culturais para que seu domínio fosse principalmente na esfera de governo, evitando controle militar ostensivo. Era uma ideia política herdada dos gregos: "Dividir para conquistar". Estas três regiões continuam sob a influência da lei de Moisés, mas a divisão
deve ter evidenciado a percepção das diferenças.
Na história que Jesus conta, um
suposto judeu, assaltado e deixado ferido para morrer, é socorrido por um
samaritano, ao mesmo tempo em que um sacerdote e um levita judeus o deixaram no
caminho. Então Jesus pergunta ao doutor da lei quem era o próximo da vítima de
assalto, e seu interlocutor admite que é o samaritano, com as palavras “aquele
que usou de misericórdia para com ele”.
Jesus propunha uma ampliação da
noção de “próximo”. Ela incluiria até mesmo os estrangeiros, e mesmo os que
fossem inimigos dos Judeus, como os romanos, por exemplo. É por esta razão que
Jesus afirma no sermão da montanha:
“Ouvistes o que
foi dito: “Amarás o teu próximo” e “odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos e
orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai [que
está] nos céus, já que seu sol desponta sobre maus e bons, e cai chuva sobre
justos e injustos” (Mateus 5:43-45)
Jesus propunha que culturas
diferentes pudessem conviver sob uma lei maior, a do Pai. Que não houvesse
xenofobia e preconceito no trato entre diferentes. Como alguém que morou a vida quase toda na
Galileia, ele percebia que os galileus eram vistos pelos habitantes da Judeia como
inferiores, não importa o quanto vivesse
de acordo com a lei.
A universalidade da noção de
próximo possibilitou aos cristãos uma ampliação além dos limites da cultura e
costumes hebraicos. Como estas questões regionais ficaram distantes no tempo, e
passamos a estudar apenas superficialmente a época, a noção de próximo passou
para o nível individual, e é geralmente interpretada, hoje, como “qualquer
pessoa”, o que gerou um problema para o entendimento dos inimigos, que deixaram
de ser inimigos do estado ou da cultura hebraica, e passaram a ser entendidos
como inimigos pessoais. Allan Kardec percebeu a estranheza da frase “amai os
vossos inimigos” no capítulo XII de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Nos dias de hoje, em que o mundo,
e especialmente a Europa, se vê diante da questão da xenofobia, decorrente das
migrações oriundas de regiões de guerra e fome, o ensinamento de Jesus nunca
foi tão atual.
10.12.16
30 ANOS DE MEDIUNIDADE
Há trinta anos, José Roberto Maia Pimentel, João Campolina Ferreira e Antônio Carlos Cortez e Silva dirigiam a Associação Espírita Célia Xavier. A mocidade da casa precisava de mudanças, e José Roberto pediu a ajuda do ex-diretor, Ysnard Machado Ennes, para ajudar a repensar o grupo.
Ysnard entendeu que com o tempo a mocidade foi ficando com membros adultos que involuntariamente direcionavam o grupo para interesses válidos, mas cada vez mais distantes das necessidades dos jovens.
Então foram formados grupos mediúnicos a partir destes jovens com idades superiores a 20 e poucos anos. À época, a mocidade computava mais de duzentas pessoas em três ciclos, divididos por idades. O antigo diretor entendia que eles deviam partir para o trabalho. Pessoalmente, eu não defenderia uma intervenção como esta nos dias de hoje, embora seja um desafio para as casas espíritas integrar jovens egressos das mocidades espíritas, que vêm com bagagem de estudo sistemático e conhecimento doutrinário.
Foram diversos grupos, com coordenadores já experientes em reuniões mediúnicas. Eles ficaram algum tempo estudando mediunidade e funcionamento de reuniões mediúnicas antes de iniciarem as experimentações mediúnicas. Alguns grupos se modificaram com o tempo e um grupo surgiu posteriormente no horário do fim da tarde de sábado. A mudança foi implementada no segundo semestre de 1986.
Agora em dezembro reunimo-nos para comemorar os 30 anos de existência e de bom relacionamento entre os grupos. São três os remanescentes. Aproveitamos para lembrar dos que se foram antes de nós e recordar dos desencarnados que participavam da casa e hoje se comunicam conosco.
Acima está uma foto dos que hoje compõem os grupos, há filhos de fundadores, novos membros, mas, principalmente, muitas pessoas que estão juntas há trinta anos, na tarefa mediúnica. Repasso a todos a saudação dos espíritos ligados ao grupo, que desejam que o trabalho perdure por mais trinta anos...
9.12.16
REVISTA INTEGRAÇÃO EXPLICA COMO FOI O 12o. ENLIHPE
Link para acesso grátis da revista: http://www.useregionalsp.org.br/rdi/05-Revista-Digital-Integracao-setembro-outubro-2016.pdf
A maioria dos leitores do Espiritismo Comentado sabe que participo da LIHPE - Liga de Pesquisadores do Espiritismo, uma rede de estudiosos, ligados ou não à universidade, que, entre outras coisas, organiza um encontro anual (ENLIHPE) que já está em sua 12a. edição.
Por que promovemos este evento anual?
O movimento espírita já oferece muitos encontros, confraternizações, seminários e outros eventos públicos. Por que fazer mais um evento? Por diversas razões:
1. A LIHPE é uma rede virtual. Os participantes a acessam quando desejam comunicar algum trabalho que estão fazendo ou solicitar algum tipo de auxílio. Esta forma de comunicação é muito acessível, o que permite a participação de pessoas do mundo todo, contudo, não possibilita que estas pessoas estabeleçam um vínculo pessoal, se conheçam mais profundamente e tenham a oportunidade de interagir integralmente. O encontro é uma ação que contribui para que as pessoas possam se conhecer melhor, avaliar melhor os trabalhos umas das outras, interagir.
2. A maioria dos eventos do movimento são dirigidas a públicos amplos, de simpatizantes ou trabalhadores das casas espíritas. Por esta razão, no mais das vezes, os expositores conhecidos local ou nacionalmente são convidados. Pessoas com capacidade, mas sem notoriedade, geralmente são preteridas em muitos destes encontros. O ENLIHPE tem mostrado ser um espaço para identificação de novos talentos do movimento espírita.
3. Muitos trabalhos realizados nas universidades sobre o espiritismo e o movimento espírita ficam à larga dos jornais e dos espíritas em geral, por falta de comunicação. Há um número substantivo de pessoas, espíritas ou não em sua vida pessoal, que empreendem estudos sérios e importantes para o conhecimento espírita, mas que estão condenados a ser lidos apenas por um pequeno círculo de pessoas. O ENLIHPE se presta a dar visibilidade a este tipo de trabalhos, que normalmente não seriam conhecidos e a publicá-los sob uma forma mais acessível às pessoas, como capítulos de livro ou artigos. Isto já gerou mal entendidos da parte de pessoas do movimento que interpretaram erradamente que a LIHPE não valoriza autores espíritas consagrados. Não é verdade, tanto é que temos homenageado estes autores, ligados ao estudo filosófico ou científico do espiritismo, em todas as edições de nossos encontros. Contudo, fazemos eventos que trazem informações pouco veiculadas no movimento espírita para a cena, foi a nossa opção a fim de não fazer "mais do mesmo".
4. Nos último evento nós incentivamos os membros da LIHPE a estudar na literatura acadêmica os trabalhos produzidos sobre o tema Reencarnação. Para o 13o. ENLIHPE, estamos incentivando os membros da LIHPE e mesmo os interessados em geral a produzir trabalhos com base na produção acadêmica sobre o tema "Passe e curas espirituais", que ultimamente tem recebido muitas publicações da medicina, psicologia, história, filosofia e ciências biológicas, dentro e fora do Brasil.
Qualquer um pode apresentar trabalho?
Se abríssemos o espaço para qualquer pessoa, correríamos o risco de programar trabalhos de pessoas bem intencionadas, mas mal informadas, o que desmotiva e gera conflitos com os participantes, assim como de pessoas mal intencionadas.
O ENLIHPE, então, conta com um grupo de analistas, geralmente com formação acadêmica, além do conhecimento do espiritismo, que avaliam os trabalhos submetidos, recomendam ou não sua apresentação e fazem sugestões aos autores. Eles não conhecem o nome dos autores dos trabalhos que analisam, avaliam apenas seu conteúdo, da mesma forma que os autores também não ficam sabendo que pessoas analisaram seu trabalho, o que evita parcialidade e conflitos interpessoais desnecessários.
Respondendo à pergunta, qualquer um pode submeter um trabalho, mas só serão apresentados os trabalhos escolhidos pela comissão avaliadora.
A LIHPE é uma elite do movimento espírita?
Não, a LIHPE é uma rede voluntária de pessoas que desejam estudar e conhecer o espiritismo. Muitos de seus membros têm estudos acadêmicos avançados, o que possibilita uma contribuição mais efetiva na área de fronteira entre o pensamento espírita e as áreas de conhecimento acadêmicas.
Da mesma forma que procuramos um cirurgião se temos dúvidas sobre realizar ou não uma cirurgia, porque sabemos que ele deve ter mais conhecimento e experiência com este procedimento, deveríamos ouvir espíritas que têm um conhecimento profundo em física, se nossos interesses se voltam a problemas na fronteira entre a física e o espiritismo. Um espírita com muito conhecimento doutrinário pode cometer erros elementares quando trata da física, se não a conhece. Da mesma forma, um físico sem conhecimento espírita, pode cometer erros elementares sobre o pensamento espírita quando analisa uma teoria espírita sobre um fenômeno de materialização.
Com o avanço e gradual complexificação das áreas de conhecimento das ciências, determinadas questões que são postas ao pensamento espírita não podem ser bem equacionadas sem o conhecimento da área científica respectiva. Allan Kardec pensava assim. A LIHPE pretende apenas dar voz às pessoas que têm formação avançada em questões que lhes dizem respeito, sem a pretensão de verdade a priori. Cabe ao movimento espírita analisar estas contribuições e tirar suas próprias conclusões, fazer suas próprias escolhas.
É possível ler os trabalhos selecionados nos ENLIHPEs?
Os melhores trabalhos foram organizados em livros-coletâneas e publicados pela LIHPE, com o apoio financeiro e logístico do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo "Eduardo Carvalho Monteiro" - CCDPE-ECM. A coleção destes trabalhos se chama "Série Pesquisas Brasileiras sobre o Espiritismo" e já conta com sete volumes:
Pesquisas sobre o espiritismo no Brasil
A temática espírita na pesquisa contemporânea
O espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais
O espiritismo na atualidade
O espiritismo nas ciências contemporâneas
O espiritismo, as ciências e a filosofia
Novos estudos sobre a reencarnação
Você pode adquirir os livros no site da Candeia:
http://www.candeia.com/J%C3%A1der%20dos%20Reis%20Sampaio
Ou diretamente na Livraria do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro.
http://www.ccdpe.org.br/livraria
Você também pode assistir as apresentações do ENLIHPE gratuitamente no site Espiritualidades e Sociedade:
http://www.espiritualidades.com.br/liga.htm
7.12.16
SINAIS DO IMPÉRIO RUSSO NA PSICOGRAFIA DE DOLORES BACELAR
Há muitos anos fiquei conhecendo os livros psicografados por
Dolores Bacelar, e me tocaram tanto, que adquiri todos os que pude. Já por
algumas vezes tenho usado um conto atribuído ao Irmão Herculano, intitulado
“Igor, o bolchevista”, em minhas palestras.
É uma história diferente que lembra as de Tolstói, psicografadas
por Yvonne A. Pereira, por ambientar-se no Império Russo. Esta história gira ao
redor de Igor, um proprietário de terras reduzido à miséria.
Chamaram-me a atenção, da última vez que preparei o texto para ser
contado, os detalhes e regionalismos que o narrador espiritual insere no texto.
Um deles é o sobrenome do personagem: Alexandrovich. Não encontrei nada grafado
assim na pesquisa que fiz, mas o sobrenome Aleksandrovich (obviamente, uma
forma ocidentalizada) é bem comum.
Igor está na aldeia de Grigorievo, que em princípio não encontrei
na internet. Esta localidade não deve ser muito distante de Moscou, em função
de uma viagem que o personagem faz até a grande cidade do Império Russo. Pedi
ajuda ao Chrystian Lavarini, que localizou uma Grigoryevo no Google Maps.
Depois, encontrei mais, e também uma Grigiškės, na Lituânia, que fazia parte do Império Russo na época
do conto e que significa Grigoryevo. Encontrei Grigoryevos nos Oblasts de
Vologda, Arkangelsk, Novgorod, Smolensky, Tver e Vladimir, em terras russas.
Difícil identificar qual delas está no texto.
Na casa de Bóris
Sergueievich, serve-se um kislischi[1],
para Igor. Li em uma revista que na Ucrânia se faz um fermentado de malte ou
painço, “melhor que a russa kvass[2]”
que tem alguma semelhança com a bastante conhecida kislischi. Um personagem de um romance que encontrei é servido com kvass,
kislischi e hidromel, e acha a bebida em questão muito parecida com a Mead[3]
escandinava. No texto do irmão Herculano, explica-se que o kislischi é uma
bebida feita de “pão fermentado, muito ácida”. Esta descrição parece-se mais
com o kvass que com o kislichi que encontrei com muita dificuldade na internet
e alguma ambiguidade.
A esposa de Igor fizera
um kaftan (no texto está escrito caftã, encontrei também na internet a grafia
caftan), que é uma espécie de sobretudo “mais usado por camponeses e
mercadores”, mas que hoje é usado apenas por religiosos conservadores. Li
também que havia um kaftan usado pelos nobres em casa, apenas, em função da
ocidentalização de costumes imposta pelo imperador Pedro, O Grande, na primeira
década do século XVIII.
Outras informações
próprias da Rússia, mas mais conhecidas, encontram-se no texto, como a palavra
“mamenka” (Маменька), que significa mamãe em russo; a palavra “pope” com o
significado de padre, a referência ao “samovar”, que é uma peça para servir
bebidas quentes como chás diversos.
Estas pequenas palavras
não são uma prova definitiva de conhecimento da Rússia, mas, pela dificuldade
em se encontrar, ou a médium conhecia bem a Rússia do tempo do império, ou sua
faculdade permitiu a inclusão de conceitos desconhecidos pela imensa maioria de
nós, brasileiros.
[1]
Kislischi ou kislichi é Um tipo de cerveja (sourish) feita na Rússia, em alguns
aspectos parecida com a cidra e espumante como o champagne. The Southland Times
– 1st august 1883.
[2] O квас é uma bebida gaseificada de baixo
teor alcoólico (cerca de 1,5%) preparada a partir da fermentação do pão de
centeio, ou pão preto (чёрный хлеб) seco ou amanhecido, que leva também
algumas ervas. Há algumas versões alternativas que contam ainda com frutas
silvestres, outros grãos ou beterraba. Pode ser consumida também por crianças.
[3]
Mead é uma bebida alcoólica criada a partir de mel fermentado com água, algumas
vezes com várias frutas, especiarias, grãos ou lúpulo.
5.12.16
MORTALIDADE MATERNA: ABORTO OU EDUCAÇÃO?
O Dr. Alexander Almeida-Moreira, professor do curso de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, publicou há pouco no facebook, algumas informações para o debate acerca do aborto.
Um dos argumentos muito utilizados pelos ativistas pró-aborto, e que têm sido reproduzidos até mesmo por alguns jovens do movimento espírita, é que a aprovação da lei que regulamenta o aborto diminuiria a mortalidade materna das classes populares, porque estas mães não teriam acesso a cuidados médicos de qualidade para realizar abortos. Segundo as publicações abaixo, indicadas pelo Dr. Alexander:
"Clareando o debate sobre o aborto: o número de mulheres que morrem pelo aborto clandestino no Brasil é muito baixo e a liberação ou proibição do aborto não alteram a mortalidade materna. Abaixo, as pesquisas que demonstram isso:
Os experimentos naturais ocorridos no México (que liberou aborto em 2007) e no Chile (que proibiu aborto em 1989) indicam que a proibição ou a liberação do aborto não impactam as taxas de mortalidade materna. A queda da mortalidade materna se relaciona com as melhores das condições de saúde geral da população e, principalmente, com o melhor nível educacional das mães."
Artigos:
http://journals.plos.org/plosone/article…3.12.16
ISOLAMENTO DE GRUPOS NO CENTRO ESPÍRITA
Jáder Sampaio
O isolamento de grupos em um
centro espírita de grande porte é um dos grandes desafios institucionais que
precisa ser enfrentado, para que não haja ruptura do caráter associativo.
É mais fácil isolar-se em uma reunião
(mediúnica, por exemplo) ou grupo, participar de atividades apenas com as
pessoas deste grupo e contribuir com um valor da cota associativa, não se
interessando pelas necessidades coletivas da associação, e apenas direcionando
exigências para a diretoria, sob a justificativa de ser sócio regular e
participar da organização há décadas.
Neste caso, sempre que as
necessidades de muitos afetam a rotina dos trabalhos do grupo, este trata dos
pedidos de mudança da direção como uma intervenção indevida.
Quando isto acontece, há uma
inversão do pacto associativo. Os dirigentes são vistos mais como empregados ou
prestadores de serviço da organização e não como lideranças, que abrem mão de
seu tempo pessoal e familiar para contribuir com a associação a pedido e com
voto de confiança de todos.
Neste cenário, é mais difícil mobilizar a
contribuição dos associados para objetivos comuns, da associação como um todo, que
demandam trabalho voluntário e envolvimento de todos. Os projetos externos a um
grupo, como a construção de uma nova sede, a adoção de regimentos, o socorro a
uma atividade considerada importante que está com falta de trabalhadores, a
promoção de eventos para encontro dos membros da organização, sejam de caráter
doutrinário ou administrativo e a participação de pessoas de diferentes grupos
em atividades que não são vistas como “deles” por dirigentes e membros de
grupos.
As escolhas de dirigentes e
lideranças se tornam um trabalho muito difícil, porque, isolados, os valores de
cada grupo não são conhecidos pela organização como um todo, faltando o vínculo
da confiança e do respeito entre eles e o corpo dirigente. Os valores, quando
identificados e convidados, necessitarão gastar mais energia e dedicação para
superar as dificuldades criadas pelo isolamento e pelo desconhecimento das
equipes novas com que trabalharão. Não raro, muitos se afastam precocemente,
por motivos muitas vezes triviais, que não seriam causa deste tipo de atitude
se já houvesse um relacionamento anterior.
Não há, portanto, uma relação
orgânica entre o nível estratégico (a direção do centro), nível gerencial (a
direção dos grupos) e trabalhadores (nível operacional). Começa a ocorrer uma
estranha disputa de poder entre direção do centro e direção dos grupos, quando
deveria haver um relacionamento de colaboração, principalmente porque os grupos
e os associados em geral necessitam de um corpo diretor eficaz e são eles que o
elegem e o conduzem a suas funções “nunca-remuneradas”.
Esta reflexão não exime os
dirigentes dos centros espíritas de seus equívocos, do excesso de individualidade
ou do cometimento de abusos em suas funções, mas este seria objeto de discussão
de outro texto. O que observamos é a estranha inversão e competição, que
possibilita o desenvolvimento de um clima organizacional na casa espírita muito
bem descrito pelo espírito Irmão X, no livro Cartas e Crônicas, capítulo 29,
intitulado “Bichinhos” ao qual remeto o leitor.
14.11.16
COMO RHINE DELIMITOU O CAMPO DA PARAPSICOLOGIA?
O termo parapsicologia foi criado por Max Dessoir, um
filósofo e psicólogo alemão, mas seu emprego sistemático como um conceito para
agrupar um conjunto de fenômenos e designar uma nova ciência parece ter sido
difundido a partir dos trabalhos de Joseph Banks Rhine, pesquisador
norte-americano.
Rhine ficou conhecido por seus estudos com telepatia,
clarividência, precognição e psicocinese, mas ao ler o livro “Extra-Sensory
Perception”, originalmente publicado em 1964, encontrei um traçado do campo da
parapsicologia, feito por ele, que compreende os fenômenos espirituais. Isto
não significa que ele tenha aceitado as teorias espíritas, mas que insere a
fenomenologia que usou Kardec para desenvolvê-las no campo da parapsicologia.
No livro ESP, Jopseph Banks Rhine, pai da parapsicologia
moderna, escreve um capítulo para “clarificar o problema”, no qual delimita o
campo da pesquisa psíquica e no qual pretende dividir de uma forma mais
detalhada que a então conhecida divisão em fenômenos físicos e mentais.
Ele defende o uso do termo parapsicologia para o campo como
um todo, que ele considera ser mais apropriado que “pesquisa psíquica” ou outros,
porque a palavra situa os fenômenos ao lado do campo da psicologia, e não fora
dele. Dessoir tem um segundo objetivo com o termo: situar os fenômenos entre os
chamados normais e os patológicos (são incomuns, mas não se referem a doenças
ou transtornos mentais) Como os fenômenos vão além da fronteira com a
Psicologia, Rhine os dividiu segundo a tabela abaixo:
Fenômenos Parapsicológicos
A) Parapsíquicos: Telepatia e clarividência
(experimentais e espontâneas), “dowsing” (procura
de água ou minerais abaixo do solo, através de uma varinha, rabdomancia),
sonhos ou alucinações preditivos e premonitórios, psicometria, comunicações
espirituais “verídicas”.
B) Parapsicofísicos:
Telecinese, levitação, “luzes psíquicas”, mudanças de temperatura, “apports” (mediunidade de transporte),
etc.
C) Parapsicofisiológicos: Materializações, extrusões,
“elongations” (alongamentos), estigmatização, mudanças extremas da temperatura
do corpo.
D) Parapsicopatológicos: “Patologia da possessão”, “cura
psíquica” de doenças orgânicas, além do efeito da sugestão.
E) Parapsicoliterários
(e outros parapsicoartísticos): Escrita criativa ou outra arte claramente
impossível como resultado de treinamento natural, por exemplo, Patience Worth
como foi relatada. (Esta classe pode ser adequadamente considerada como um sub-item
de A).
Como se vê, embora suas pesquisas tenham se focalizado nos
itens A e B principalmente, ele tinha uma visão bem mais ampla da fenomenologia
parapsicológica, e, portanto, do seu campo de estudos.
Ao contrário do que dizem alguns, ele considera a existência
das teorias que tratam de Espíritos, como se pode ler na página 8 do livro. Ele
afirma que as ocorrências relatadas podem “ser supostamente devidas a agências
(agentes) incorpóreos, chamados “controles”, “espíritos”, etc. ou supostamente
produzidos por certos agentes corporais (quer dizer, vivos) que são
especialmente sensitivos e capazes de desempenhos pouco usuais”.
Então ele desenvolve outra forma de classificar os
fenômenos, na qual:
A) Um
agente corpóreo influencia outro. (por exemplo: telepatia)
B) Um agente corpóreo pode ser apenas pessoalmente
afetado (por exemplo: clarividência)
C) O
agente incorpóreo (uma personalidade desencarnada que sobreviveu à morte) pode
influenciar um corpóreo. (por exemplo: “experiências mediúnicas”)
D) O agente incorpóreo pode produzir fenômenos sem
a ajuda de um agente corpóreo com capacidades paranormais (por exemplo:
assombrações)
Nesta última categoria, a explicação de Rhine colide com o
entendimento de Allan Kardec, que explica que, mesmo nos casos de casas assombradas
e nos fenômenos de efeitos físicos em geral, há sempre a atuação de um médium.
Mais uma vez, em meus estudos, vejo como é importante ler os
autores originais, em lugar de seus divulgadores, comentaristas ou autores de “segunda-mão”.
Fonte: RHINE,
Joseph Banks, Extra-sensory perception. 4th edition. Boston – USA, Branden
Publishing Company, 1997. Capítulo 1: Clarification of the problem
1.11.16
VAMOS?
Uma expressão muito usada por aqui, nas terras mineiras, é o
vamos, sempre seguido de interrogação. Na linguagem oral, se usa também o “vamo”
e o “vão”. É uma expressão muito poderosa por aqui.
As casas espíritas anunciam suas tarefas em público,
coletivamente, mas via de regra, a maioria das pessoas ouve como se fosse algo
estranho a elas, ou algo chato, como a hora do intervalo comercial da televisão
aberta. Talvez uma ou duas pessoas, em um grupão de cem, preste atenção no
recado e pense, no recesso de sua alma: será que eu vou?
Lembro-me quando era muito jovem, lá pelos 13 anos, e
assistia as reuniões de mocidade no Célia Xavier. Muitos de nossos
colegas e eu chegamos ao Célia Xavier a partir de um convite de amigo ou familiar. Vamos?
Disseram um dia.
Estava no meio do grupo, quando convidaram para o que se
chamava de encontro fraterno. Por aqui, é uma leitura de texto espírita com
comentários, seguida de um momento de descontração, com música, "comes e bebes",
etc. Eu ouvi o recado como se não fosse direcionado a mim. Depois de terminada
a reunião, a coordenadora (Thelma Rodrigues) veio conversar diretamente comigo,
e me deu um “vamos”:
- "Quero vê-lo lá amanhã!" Só depois dele, eu me enchi de coragem para pedir ao meu pai para ir. Tempos curiosos estes...
- "Quero vê-lo lá amanhã!" Só depois dele, eu me enchi de coragem para pedir ao meu pai para ir. Tempos curiosos estes...
Quando fazia o trabalho de tese, onde estudei os voluntários
de uma das unidades de nossa casa espírita, uma das perguntas que direcionava
parcialmente a entrevista era que contassem como se tornaram voluntários. Sete
dos oito voluntários foram mobilizados pelo canto sonoro do “vamos”. Apenas um
deles ouviu um recado dado a toda gente (e a ninguém em especial) e foi
procurar alguém para oferecer-se.
Em visita à Mansão do Caminho, vi voluntários fazendo as
tarefas mais diferentes possíveis, e alguns deles me explicaram que ouviram o “vamos”
(não sei como é esta expressão na Bahia) diretamente de Divaldo Franco. Alguns
estavam aposentados e mudaram de cidade e domicílio para atender ao convite.
Lembro-me de um episódio envolvendo Eduardo Carvalho Monteiro, que sabendo de uma pessoa que passou a frequentar o grupo, disse ao amigo.
– Está na hora de lhe fazer um convite! Ou então:
- Esta pessoa merece receber um convite para o trabalho.
Quando vejo dirigentes de reunião, que fazem bem o papel de
“figurão[1]”,
mas nunca usam a profunda força do “vamos”, penso que corremos o risco de
igrejificar as casas espíritas, de ter multidões achando muito lindas as
reuniões e muito tranquilizantes os passes, mas que lá estão presentes da mesma
forma que estariam em um programa, um cinema, uma festividade ou uma obrigação
social. Não pretendem se imiscuir, fazer parte, tornar-se membro, apenas estar
presente e usufruir.
O “vamos” demanda de quem usa, a capacidade íntima de ouvir
a negativa, o “não posso”, o “não agora”, o bem mineiro “de jeito nenhum”, e
outras formas equivalentes.
O “vamos”, se pensarmos bem, dividiu o calendário ocidental.
Foi empregado por Jesus diversas vezes, como no momento após a pesca no
Tiberíades, quando ele convidou Pedro a ser “pescador de homens”. Era um
“vamos” radical, que exigiu uma mudança profunda, afetando a profissão, a
família, o futuro... Ele também foi usado pelo Mestre com o “jovem rico”[2],
que, infelizmente, tinha muitas propriedades...
[1]
Figurão, é um termo empregado por teóricos do comportamento organizacional, que
tem por sentido principal representar a organização. Um dirigente pode
desempenhar bem esta função, vestindo-se adequadamente, falando bem, agindo
segundo as normas de conduta do grupo, mas não se torna um líder apenas com o
desempenho deste tipo de função.
[2] Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. (Mateus, 19:21)
[2] Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. (Mateus, 19:21)
27.10.16
34a. FEIRA DO LIVRO ESPÍRITA NA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA
A feira do livro espírita encerra suas atividades neste final de semana.
1400 Títulos
18.000 unidades (livros, CDs e DVDs)
Muitos voluntários
Descontos de até 70%
Livro mais vendido: O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec (Edição popular)
Data: 14, 15 e 17 a 23 outubro na União Espírita Mineira - Rua Guarani 315 - Centro de Belo Horizonte. (Infelizmente já encerrou...)
Data: 14, 15 e 17 a 23 outubro na União Espírita Mineira - Rua Guarani 315 - Centro de Belo Horizonte. (Infelizmente já encerrou...)
14.10.16
A COMUNICAÇÃO DE BEZERRA DE MENEZES NO 8o. CONGRESSO ESPÍRITA MUNDIAL
Um leitor do Espiritismo Comentado me pediu que publicasse a comunicação de Bezerra de Menezes que foi citada no texto do Paulo Mourinha, publicado ontem. Graças à gentileza e presteza do amigo de Portugal, estamos publicando hoje esta transcrição.
Para quem quiser ver mais fotos, vídeo conferências ou áudio conferências, a organização do evento disponibilizou, gentil e gratuitamente, no link abaixo:
Comunicação de Bezerra de Menezes por Divaldo Franco (Transcrição de Paulo Mourinha)
"Deveremos
converter-nos em chamas vivas, para que nunca mais, haja escuridão na Terra. É
necessário que o nosso amor se transforme, em ESPERANÇA e ALEGRIA.
Há tanta DOR
esperando por nós. Tantas lágrimas a enxugar. Tanto sofrimento que temos
vergonha de ser felizes. ESPÍRITAS MEUS FILHOS transformai as lições profundas
da CODIFICAÇÃO ESPIRITA numa diretriz de segurança para encontrardes a
plenitude. Nós, aqueles que atravessamos o portal de cinza e de lama de que se
constitui o corpo. Voltamos para dizer-vos: AMAI A VIDA EM TODAS AS SUAS
EXPRESSÕES. PORFIAI NO BEM E CREDE, CRISTO VIVE. A MORTE, É NADA MAIS QUE A
TRANSFORMAÇÃO DE MOLÉCULAS QUE VOLTAM A QUÍMICA ORIGINAL DO SUBSOLO, PARA NOVAS
CONJUGAÇÕES ATÔMICAS.
O Amor, à
luz da Caridade, é o maior tesouro que podemos carregar. Onde estejais, que
brilhe a luz do Senhor, e que todos saibam, que sois irmãos uns dos outros,
diferindo a verbalização idiomática. O nascimento do solo, o endereço, mais uma
só pátria...A PÁTRIA DA FRATERNIDADE. Uni-vos, porque unidos no amor sois uma
força indestrutível, mas, separados, sereis vencidos pelas próprias paixões e
procurai levar sem temor a mensagem de vida eterna. Não tendes mais as arenas,
nem as cruzes, nem os empalamentos, nem as fogueiras, mas tendes as paixões
eternas a vencer.
Os Espíritos
espíritas deste Congresso em nome de Léon Denis que patrocina este evento a
nível mundial, suplica a Deus que, a todos, nos abençoe e nos guarde em muita
paz.
O Servidor
humílimo e paternal de sempre. Bezerra"
13.10.16
COMO FOI O 8o. CONGRESSO ESPÍRITA MUNDIAL?
8º
Congresso Espírita Mundial
por Paulo A. Baía Mourinha
Congressistas de
42 nações estiveram em Portugal em Defesa da Vida.
Nos dias 7, 8 e
9 de Outubro, a sala Tejo da Meo Arena, tornou-se pequena para receber os mais
de 2000 congressistas que vieram de todas as partes do mundo para assistir a um
conjunto de 22 conferências proferidas por médicos, psicólogos, juristas,
jornalistas, professores, engenheiros, economistas e gestores, em torno do tema
: Em Defesa da Vida.
Com a
Organização do Conselho Espírita Internacional e a coordenação da Federação
Espírita Portuguesa, o 8º CEM teve inicio com dois lindíssimos momentos
culturais de autoria da bailarina Isabela Faria , da pianista Joana Vieira Shumova
e do violoncelista Mikhail Shumov.
Após a
constituição da mesa inicial do congresso, tomaram a palavra cada um dos
participantes da mesma. Começou Vítor Féria (presidente da Federação Espírita
Portuguesa) que deu as boas vindas aos congressistas do 8º CEM e pediu a Raul
Teixeira que fizesse a prece de abertura dos trabalhos. Momento de sentida
emoção que permitiu perceber o laço profundamente empático entre todos os
presentes.
De seguida tomou
a palavra Charles Kempf (secretário geral do CEI) que abordou a história dos
Congressos Espíritas Mundiais, a sua importância e as suas figuras históricas.
Seguiu-se a
muito festejada conferência de Divaldo Pereira Franco que durante cerca de uma
hora , trouxe uma perspetiva histórica da busca humana pelo sentido da vida e
do seu valor.
Após o
intervalo, seguiu-se um bloco de palestras que começou com a Engenheira Nuclear
Rejane Planer e a sua abordagem à Cosmologia
Espírita. Seguiu-se o tema Vida e
Ciência apresentado pelo orador espanhol, António Lledó.
O jornalista e
diretor da FEBTV , Carlos Campetti tomou então a palavra para nos falar acerca
do Diálogo de Jesus. Faltava apenas José Roberto Santos (diretor científico da
AME-ES) se dirigir à plateia com o tema Eutanásia
e Distanásia.
A tarde
encerraria no auditório com mais um momento cultural, desta vez a cargo da voz suave
e doce da intérprete Sílvia Torres, conhecida também como Sonasfly.
Importante
referir que antes dos trabalhos no auditório e durante os seus intervalos, nas outras salas decorriam
atividades: venda de livros dos
muitos autores presentes e de obras importantes do espiritismo à exibição de
e-posters científicos que ao longo dos 3 dias focaram os seguintes temas :
Epigenética (Paulo Mourinha) ; Musicoterapia (João Paulo Gomes) ; Arte (Renata
Gastal Gomes); Vida Animal (Edison Siqueira); Educação Espírita (Associação Dialogar);
O que é a Física Quântica (Nuno Cruz) ; Quântica, Espiritualidade e Saúde
(Moacir Lima – Programa Orientadorima); Homeopatia (Paulo Mourinha); Nutrição e
Saúde (Ana Sofia); PO2E – Programa Orientador para a Educação Espírita de
Crianças e Jovens (Ana Duarte).
Noutra sala,
decorreram as entrevistas a várias figuras
do movimento espírita e conferências de imprensa.
O segundo dia do congresso (dia 8), iniciou-se
com o vibrante poder vocal dos dois contratenores : Luís Peças e João Paulo
Peças, que colocaram a sala numa atmosfera de deleite auditivo, como sempre
acontece quando se escuta música de qualidade superior.
Os
apresentadores da manhã (Marta Rosa e Esteves Teiga) anunciaram então o
primeiro orador: o coronel na reserva, João Gonçalves e a sua abordagem ao Pensamento Sistémico. Posteriormente
seguido pelo especialista em marketing digital, Vasco Marques, que nos
esclareceu acerca do Mundo Digital.
Para encerrar este bloco completamente português, veio José Lucas (tenente-coronel
na reserva) apresentar As Provas
Científicas da Fluidoterapia.
Após o
intervalo, foi constituído um painel para trabalhar a questão do suicídio,
composto por : Filipa Ribeiro (jornalista) ; Carlos G. Gomes (profissional de inteligência
empresarial); Dalva Sousa (professora); Alexandre Silva ( jurista) ; Gelson L.
Roberto (psicólogo). Este painel foi coordenado pela presidente da Federação
Espírita dos Estados Unidos, Jussara Korngold.
Foi então a vez
do Administrador de propriedades, Manuel de La Cruz nos falar sobre o Aborto contando para isso até com
convidadas em palco.
Era chegado o
momento para o almoço e a alegria continuava presente na sala.
Para iniciar a
tarde, nada melhor que ouvir a harpista Helena Madeira, que nos transportou aos
planos mais elevados da vida, mercê dos acordes celestiais da harpa e da sua
encantadora voz.
Marlon Reikdal,
psicólogo clínico, discursou sobre o Inimigo
em Mim, abrindo o primeiro bloco da tarde. E quando já só faltavam cinco
minutos para as 16 horas, Gláucia Lima, Psiquiatra de profissão dissertou sobre
Disforia de Sexo.
A professora Ana
Duarte encerrou então este bloco com uma abordagem à Dislexia- Humildade e Aprendizagem.
Após o
intervalo, formou-se mais um painel, desta vez para dialogar sobre a Educação.
Com a coordenação da psicóloga Miriam Masotti Dusi, juntaram-se ao painel :
Vera Milano (funcionária reformada do Banco do Brasil); Milcíades Torres (gerente
Comercial); Vera Leite (empresária); Leonor Leal (técnica de RH) e Alessandro Viana
de Paula (magistrado).
Seguiram-se as 3
palestras individuais da tarde, começando com o médico Luténio Faria e o seu
tema Medo da Velhice.
Foi então a vez
do neuropsicólogo Paulo Mourinha debater o tema A Ética Espírita e o Pensamento Ecológico Profundo.
Ficando o
encerramento a cargo do jornalista brasileiro, André Trigueiro, com o tema
Espiritismo e Ecologia.
O dia mais
preenchido do Congresso - envolveu 20 conferencistas - terminava e nem por isso se sentia desgaste
ou cansaço na vasta plateia que se renovava em conversas e afetuosos abraços
muito para além da última sílaba ter sido proferida pelos apresentadores da
tarde ( Nuno Cruz e Isabel Piscarreta).
Chegávamos então
ao derradeiro dia.
9 de Outubro,
dia marcado pelo auto de fé de Barcelona, que em 1861 tentou destruir ideias,
mas que se ficou pela transformação de papel em cinzas.
Antes que as
palestras tomassem conta do auditório, Maurício Virgens, barítono brasileiro, encheu
literalmente o auditório com a pujança de um registo vocal capaz de criar uma parede
de som ao mesmo tempo imponente e enternecedora.
Aproveitando a
atmosfera especial, Xavier Llobet, advogado de profissão lembrou os
acontecimentos do Auto de Fé de Barcelona,
tão distantes e no entanto tão perto.
Minutos depois
tomava o palco, o presidente da Federação Espírita Brasileira para desenvolver
o tema Espiritismo e Vida.
Faltava que
antes que a palavra fosse de novo devolvida a Divaldo Pereira Franco, se
fizesse uma homenagem Em Louvor à Vida e
ao Amor, cortesia de Iris e Cláudio Sinoti.
Foi então já com
uma sensação de "fim de festa" que o grande orador baiano tomou a
palavra para fazer uma súmula acerca dos temas do 8º Congresso Espírita Mundial
e da necessária responsabilização pessoal de cada espírita que ouvindo os
conteúdos precisa de os transformar em atitudes diárias. E para enorme alegria
dos congressistas que enchiam completamente a Sala Tejo, o Mundo Maior se
manifestou através da psicofonia de Divaldo, articulando a mensagem de Bezerra
de Menezes, toda ela um convite à superação pessoal através do amor, num mundo
que passando por tribulações , precisa de alcançar a verdadeira fraternidade, a
única capaz de unir os homens.
Após esta tão
importante mensagem, faltavam apenas as despedidas que ocorreram em apoteose,
com toda a organização a ser aplaudida de pé pelos congressistas ao som do
"Hino à Alegria" que por essa altura Maurício Virgens cantava
ininterruptamente, em diferentes idiomas.
Últimas palavras
(emocionadas) de agradecimento do presidente da Federação Espírita Portuguesa, a
todos os presentes e eis que as cortinas se fecharam pela última vez no 8º Congresso
Espírita Mundial.
Um misto de
saudades e de dever cumprido inundava a maioria dos corações. Abraços,
sorrisos, olhos inundados de lágrimas temperavam o afeto com água salgada…
Até breve diziam
uns aos outros.
Até ao 9º
Congresso Espírita Mundial, dizemos nós!
Assinar:
Postagens (Atom)