30.6.18

14o. ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO








Estivemos sem novas publicações nas últimas semanas em função da organização do 14o. Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. 

O tema de 2018 será "Sobrevivência da alma" e foram aceitos trabalhos variados. A programação de estudos para o público geral é a seguinte:


PROGRAMAÇÃO – 25/08/18

Sábado

07h30            Recepção, credenciamento e entrega de material

08h25  Prece de Abertura

Palavras iniciais: LIHPE / CCDPE-ECM / USE / UEM / FEEES / NUPES

Conferência de abertura – É possível investigar a existência da alma? (Alexander Moreira Almeida – Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora – NUPES-UFJF)

Palestra - A importância da fundamentação transcendental e idealista para a ideia de imortalidade do espírito. (Humberto Schubert Coelho - Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora – NUPES-UFJF)

Trabalho 1 - Tema: O que não comprova a sobrevivência da alma? (Alexandre Fontes da Fonseca – União das Sociedades Espíritas de São Paulo – Regional Campinas e Editor do Jornal de Estudos Espíritas)

Palestra 2 - A relação entre a LIHPE e CCDPE-ECM (Júlia Nezu – Presidente do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - CCDPE-ECM – São Paulo)

Trabalho 2 - Tema: As investigações sobre a sobrevivência da alma (Marcelo Gulão – Professor de História do Colégio Naval – Rio de Janeiro)

Trabalho 3 – Tema: Prova da sobrevivência da alma (Paulo da Silva Neto Sobrinho – Centro Espírita Manoel Felipe Santiago – Belo Horizonte)

Mesa: A Gênese (Coordenação Jáder Sampaio – Associação Espírita Célia Xavier-Belo Horizonte-MG, Marco Milani – União das Sociedades Espíritas de São Paulo – Regional Campinas, Universidade de Campinas e Samuel Magalhães – memorialista espírita, autor do livro “Ana Prado, a mulher que falava com os mortos”, membro do Centro de Documentação Espírita do Ceará - CDEC e organizador, junto com o Luciano Klein, do Memorial Bezerra de Menezes, em Fortaleza, além de colaborador da FEB, na área da memória e documentação)

Apresentação de Pôsteres: Um estudo das cartas de Chico Xavier (Alexandre Caroli Rocha – Doutor em Literatura do Programa de Teoria e História da Literatura da Universidade de Campinas – Unicamp), Evidências televisuais da matriz religiosa espírita na produção teledramatúrgica nacional (Marcos Vinícius Meigre e Silva – Doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais)

Homenagem: Alfred Russel Wallace (Jáder Sampaio – Associação Espírita Célia Xavier – Belo Horizonte-MG)

17h20 Encerramento do dia


17h30 Assembleia da Liga de Pesquisadores do Espiritismo – LIHPE (para membros da LIHPE)


Domingo - 26/08/2018


8h30   Prece de Abertura

Trabalho 4 – Tema: Experimentos de evocação de pessoas falecidas por meio do método de varredura medianímica (Raphael Vivacqua Carneiro – Grupo de Pesquisa Lampejo e Núcleo de Pesquisas da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo – Doutorando da Universidade Federal do Espírito Santo)

Trabalho 5 – Tema: Mediunidade e sobrevivência- um século de investigações: a contribuição de Alan Gauld para o estudo da imortalidade (Leandro Santos Franco de Aguiar e Eric Vinícius Ávila Pires - Associação Médico Espírita de Minas Gerais)

Trabalho 6 – Tema: A sobrevivência da alma e o progresso moral em Sócrates (Luiz Fernando Bandeira de Melo – Doutorando em Filosofia na Universidade de Coimbra - Portugal)

Trabalho 7 – Tema: Ensaio sobre as anotações do Dr. Kerner com respeito aos fenômenos psíquicos da Sra. Frederica Hauffe (Elton Rodrigues e Carolina Machado- Associação de Física e Espiritismo da Cidade do Rio de Janeiro)

Trabalho 8 – Tema: Cesare Lombroso: da biografia à transição paradigmática (Eric Vinícius Ávila Pires e Leandro Santos Franco Aguiar - Associação Médico Espírita de Minas Gerais)

11h55 Comentários finais e prece de encerramento


O evento acontecerá na União Espírita Mineira - Sede Federativa, situada na Avenida Olegário Maciel 1627 - Lourdes. Belo Horizonte - MG

As inscrições ao público serão gratuitas, mas limitadas e ainda não estão abertas, informaremos assim que disponíveis.

Informações sobre hotelaria:

Os indicados para ficar perto da UEM são os itens 01 e 02.

1- Hotel Royal
Endereço: R. Rio Grande do Sul, 856 - Lourdes, Belo Horizonte - MG, 30180-002

Telefone: (31) 2102-0000 

2 - Promenade Bh Platinum (na Av. da União Espírita Mineira) Endereço: Av. Olegário Maciel, 1748 - Lourdes, Belo Horizonte - MG, 30180-111

Telefone: (31) 2125-3800 

3 - Hotel Ibis Budget Belo Horizonte Minascentro (07 quarteirões da UEM,  perto do Mercado Central) Endereço: Av. Bias Fortes, 783 - Lourdes, Belo Horizonte - MG, 30170-011

Telefone: (31) 3343-6400 

4 - Ibis Belo Horizonte Liberdade Hotel (Bairro próximo para se locomover de carro, perto da Praça da Liberdade e da Feira Hippie) Endereço: Av. João Pinheiro, 602 - Lourdes, Belo Horizonte - MG, 30130-180 
Telefone: (31) 2111-1500 

5. Hotel San Diego Express, Endereço: Av. Barbacena 41 – Barro Preto, entre a Via Expressa e a Av. Augusto de Lima. (Bairro próximo para se locomover de táxi ou Uber) 

Telefone: (31) 3614-3750


Apoio







22.5.18

PIERRE JANET: UM PSICÓLOGO ESTUDA FENÔMENOS DE SONAMBULISMO






Manoel Philomeno de Miranda atraiu minha atenção para alguns clássicos da psicologia e psicopatologia que não foram sequer citados no curso de psicologia que fiz há cerca de trinta anos, apesar de sua influência no pensamento psicológico e psicopatológico. Sua leitura mostra como era importante a questão da mediunidade e dos fenômenos parapsicológicos naquela época, haja vista que alguns dos autores que cheguei a estudar, principalmente da França e da Inglaterra, se ocuparam com os fenômenos espirituais.

Um desses autores foi Pierre Janet (1859-1947), que estudou medicina e filosofia e tornou-se professor de Filosofia na Universidade de Harvre aos 22 anos, época em que teve contato com pacientes interessados em fenômenos psicológicos. Interessado em estudar alucinações, foi apresentado pelo Dr. Gilbert à Léonie, uma mulher que havia sido hipnotizada pelo Dr. Perrier of Caen (discípulo do Barão Du Potet, magnetizador) e que produzia fenômenos à época muito divulgados, mas pouco conhecidos pela psicologia nascente, como a “clarividência, a sugestão mental e a hipnose à distância”.

Janet conseguiu produzir em Léonie, fenômenos de hipnose à distância, o que gerou um artigo, comunicado em uma sociedade de psicólogos parisiense. A partir daí ele conheceu Charcot, Charles Richet, Myers e Sidgwick, e a Society for Psychical Research, em Londres, que enviou ao Havre um de seus membros para “verificar” o seu trabalho. Janet afirma em sua autobiografia que:

“Os experimentos que eu conduzi a pedido dessa comissão e com as precauções exigidas forneceram resultados muito interessantes: o sonambulismo coincidiu exatamente com a sugestão mental dada à distância de um quilômetro, dezesseis vezes em vinte tentativas.”

Entre 1882 e 1889, Janet estudou com Charcot na Salpetriére e escreveu uma tese sobre “O estado mental das histéricas” (1892), na qual associa os eventos da neurose (histérica) com ideias fixas do sujeito e sua predisposição à sugestão. Posteriormente ele admite que o fenômeno mais importante é a sugestibilidade, e que nem sempre há ideias fíxas, como em um  caso de hemiplegia histérica.

Como os doentes mentais ficam sugestionáveis? Janet não aceita a ideia corrente de que o sujeito se auto-sugestiona e entende que as funções psicológicas de resistência e síntese se enfraquecem. O enfraquecimento pode dar-se por quatro motivos: o trauma emocional que afeta subconscientemente o sujeito, a exaustão de todos os tipos, padecimentos orgânicos e predisposição hereditária.

Outra contribuição de Janet à psicopatologia se deu na continuidade de seus estudos com pacientes com o que hoje se chama de depressão, e que ele descreveu com o nome de psicastenia, uma nova neurose distinta da histeria e da epilepsia (que parece ter sido considerada uma forma de neurose até ser associada às descargas elétricas no cérebro).

Cada vez mais os trabalhos de Janet foram direcionados pelo desenvolvimento da psicologia e da psicopatologia, e deixando no passado a questão dos estranhos fenômenos obtidos em situação de hipnose.

A influência do pensamento de Janet não se restringiu ao meio acadêmico, sendo muito utilizado o conceito de ideias fixas nos livros ditados por André Luiz a Chico Xavier, na explicação de fenômenos psicológicos entre os Espíritos.

Um dos conceitos de Janet que serão usados por outros autores na tentativa de explicar a mediunidade, os fenômenos dos sonâmbulos e a sugestibilidade hipnótica é o conceito de desagregação, que trataremos em outra matéria, ao falar de Joseph Grasset.

8.5.18

GEOGRAFIA(S) DO MUNDO ESPIRITUAL



O título desta matéria é também o título do capítulo do livro “O espiritismo, as ciências e a filosofia”, publicado em 2014 pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo – LIHPE e pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro – CCDPE-ECM.



Escrito pelo então geógrafo e mestre em geografia, hoje doutorando em geografia Chrystiann Lavarini, o trabalho traz inúmeras contribuições ao pensamento espírita contemporâneo.

Ele se inicia com a apresentação de conceitos gerais em geografia, como território, região, lugar, paisagem e espaço geográfico, esse último conceito influenciado pelo conhecido geógrafo brasileiro, Milton Santos.

Uma vez definidos os conceitos, o autor faz a análise do relato espiritual contido em dois livros: “O céu e o inferno”, de Allan Kardec e “A crise da morte” do italiano Ernesto Bozzano.



Ao comparar os relatos dos Espíritos felizes com os dos Espíritos sofredores, Lavarini explica:

“Os territórios ocupados pelos Espíritos Sofredores diferem, e muito, do quadro apresentado pelos Espíritos Felizes, sobretudo pela sua incapacidade de viver e perceber as regiões distintas do grau evolutivo a que pertencem, associado à impossibilidade de se locomoverem livremente no espaço.” (Lavarini, 2014, p. 185)

Lavarini identificou quatro espíritos no livro de Kardec que falam de trevas: Claire, Lisbeth, Palmyre e Joseph Maitre. Ele entende que a descrição pode ser entendida como um estado consciencial, que por afinidade e atração ocasionaria “espaços resultantes do insulamento a que suas consciências encontram-se submetidas”.



Ao analisar as pesquisas de Bozzano, baseado no relato de dezessete espíritos desencarnados, o autor entende que “a existência de uma paisagem espiritual objetiva, que nem sempre é passível de ser produzida ou reproduzida somente pela vontade espiritual, mas que se enquadra dentro das manifestações psíquicas coletivas do Mundo Espiritual.” (Lavarini, 2014, 193)

O texto é longo, citado de forma rigorosa e repleto de contribuições, que não dá para apresentar no espaço de um blog. Chrystiann mostra a consistência entre a pesquisa de Bozzano e a de Allan Kardec e demonstra a necessidade de entendermos a conceituação geográfica para entendermos o que nos dizem os espíritos sobre a vida no mundo espiritual.

Recomendo aos leitores do Espiritismo Comentado a leitura do texto e do livro, que traz muitas contribuições a quem deseja realmente estudar o espiritismo. Ele pode ser adquirido na livraria virtual do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro e nas distribuidoras de livros espíritas, como a Candeia e a Boa Nova.

1.5.18

A CRIPTESTESIA DE CHARLES RICHET E A HIPNOSE



Ainda estudando o hipnotismo com Manoel Philomeno de Miranda, o autor espiritual fez um comentário muito breve sobre os estudos de Charles Richet, e resolvi rever os dois livros do autor francês que tenho. Richet, como muitos sabem, foi prêmio Nobel de medicina com seus estudos sobre anafilaxia em 1913.

Tenho dois livros de Richet sobre a ciência que ele denominou como metapsíquica: o “Tratado de metapsíquica” e “O sexto sentido”.

Como sabemos, a Metapsíquica não nasceu do nada. Ela referencia-se nos estudos do magnetismo animal, especialmente do sonambulismo provocado, depois hipnotismo,  dos estudos espíritas e das pesquisas posteriores, como as de Albert de Rochas, embora não tenha a sobrevivência da alma como um de seus princípios.

No Tratado, Richet vai tentar mostrar que existe evidência suficiente para mostrar a existência de um fenômeno que ele denomina de “criptestesia”. O que se percebe, é que influenciado pelo materialismo francês do século XIX, ele tenta se afastar da hipótese espiritualista como explicação dos fenômenos que ele mesmo seleciona de outras pesquisas ou observa.

Por “criptestesia”, Richet se foca nos conhecimentos que se obtêm sem o uso, imediato ou original, dos cinco sentidos. Ele diz tratar-se de “uma sensibilidade oculta, uma percepção das coisas, desconhecida quanto ao mecanismo” (p. 100)

O médico francês parte dos estudos sobre lucidez, faculdade descrita pelos magnetizadores, que afirmam ter visto sonâmbulos descrevendo “objetos encerrados em caixas de construção opaca, ler em livros fechados, fazer viagens em lugares que lhes eram desconhecidos,quando então os descreviam exatamente, adivinhar o pensamento do magnetizador e dos assistentes.” (p. 101)

Ele considera a telepatia como “um caso particular de lucidez, de que é parte inseparável”. (p. 108). A palavra telepatia teria sido criada por Myers e seria empregada futuramente pela parapsicologia, significando a capacidade de percepção de pensamentos alheios sem o uso dos cinco sentidos.

No Tratado, Richet classifica a criptestesia em acidental e experimental (que é provocada para estudo). A criptestesia acidental, que acontece em indivíduos conscientes, pode ser denominada de monições:  o conhecimento do passado (monição do passado) ou do presente (monição do presente) e as premonições (do futuro). A criptestesia experimental, segundo o autor, é provocada e encontrada em fenômenos mediúnicos, sonambúlicos ou hipnóticos.

Richet já usa o conceito de transe, possivelmente obtido dos estudos sobre a hipnose, na qual há alteração do estado de consciência, justificada pelos estudiosos desse campo através do “adormecimento” de áreas do córtex cerebral.

Kardec trata da lucidez no contexto do sonambulismo, como na passagem abaixo:

“Se a ação do fluido magnético é hoje um ponto geralmente admitido, o mesmo não se dá em relação às faculdades sonambúlicas, que ainda encontram muitos incrédulos no mundo oficial, sobretudo no que toca às questões médicas. .... O mesmo se dará em breve com a lucidez intuitiva... (Emprego oficial do magnetismo animal. Revista Espírita, outubro de 1858)

Sob a ótica espírita, Richet deu um passo atrás, abandonando, por exemplo, a diferenciação entre mediunidade e hipnotismo, preocupado que estava em colher evidências que mostrassem a existência de conhecimentos não oriundos da aprendizagem, que ele deu o nome de criptestesia, abrangendo uma fenomenologia extensa. Posteriormente, na parapsicologia, Rhine iria fazer algo semelhante, estudando apenas a telepatia, que como vimos, era considerada por Richet como um caso específico dos fenômenos de lucidez.

No final do seu livro “O sexto sentido”, Richet admite que uma “...ciência tem duas fases. A primeira é a constatação de fenômenos. A segunda é a sua teoria explicativa.” (p. 271) e ele admite que avançou apenas até a constatação de fenômenos, e que a teoria explicativa viria depois. Ele admite que diversas explicações poderiam ser válidas como “a telepatia ou ingerência dos espíritos, ou hiperestesia anormal dos sentidos normais” (p. 271).

Sobre a hipnose, ele afirma que ela é capaz de aumentar a obtenção de fenômenos de criptestesia.

Richet parece ter sido relegado à história da parapsicologia nos dias de hoje, e lido apenas pelos espíritas mais estudiosos, capazes de valorizar seu projeto de pesquisa e os resultados que obteve, sem se importarem com a questão da aceitação ou não do pensamento e da teoria espíritas.

Fontes:

Richet, Charles. Tratado de metapsíquica (tomo I). 2 ed. São Paulo: LAKE, 2008.

Richet, Charles. O sexto sentido. São Paulo: Sociedade Metapsíquica de São Paulo, 1940.


28.4.18

NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO E "O CÉU E O INFERNO"



Estamos estudando pela segunda vez o livro "Nos bastidores da obsessão", psicografado por Divaldo Franco e escrito pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Para o dia de hoje, ficou a nosso encargo parte do capítulo quatro que trata sobre o hipnotismo.

Após um histórico extenso das teorias sobre o hipnotismo no século XIX, início do século XX, com uma passagem pela questão da sugestibilidade de Bernheim, o instrutor espiritual começa a falar de obsessão entre desencarnados-encarnados e sobre influenciação entre desencarnados.

Ele parte do princípio que há ondas mentais exteriorizáveis, capazes de estabelecer conexões entre as mentes de pessoas e Espíritos. Nesse intercâmbio, ainda que não consciente, ocorrem os fenômenos de sugestão, que ele classifica como negativa ou positiva (do ponto de vista moral, ao que entendemos).

Com base nesse fenômeno ele se volta à questão da interação entre Espíritos no plano espiritual e diz:

"Céu ou inferno, portanto, são dependências que construímos em nosso íntimo, vitalizadas pelas aspirações e mantidas a longo esforço pelas atitudes que imprimimos ao dia-a-dia da existência".

Após mostrar que se trata do estado psicológico dos Espíritos desencarnados, ele continua mostrando suas interações:

"Por tais processos, províncias de angústia e regiões de suplício, oásis de ventura e ilhas de esperança nascem no recôndito de cada mente e se reúnem, em todos os departamentos do planeta." (p. 95 da 2a. edição)

O autor explica que ocorre a sintonia entre mentes a partir das afinidades. Podemos deduzir que esse fenômeno gera imagens, pensamentos e sentimentos que passam a ser compartilhados, pelos Espíritos que sintonizam na mesma faixa "psicológica". 

Allan Kardec não usa os termos "colônia espiritual", "umbral", "regiões inferiores" ou outros, mas trata da vida no mundo espiritual. No seu "O céu e o inferno", após desconstruir a ideia de inferno no capítulo IV, afirma sobre o purgatório:

"O espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nos achamos."... (p. 65)

Certamente, Kardec não subscreve a ideia de purgatório, assim como não subscreve a ideia de anjos. Ele apenas diz que os princípios dessas ideias são coerentes com o pensamento espírita. Ao ler essa passagem, à qual remeto o leitor, perguntei-me: Ele se refere apenas ao sofrimento das pessoas encarnadas ou também ao purgatório como condição de sofrimento das pessoas desencarnadas? No mesmo texto, mais à frente se lê:

"Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde que que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto."

O mestre francês está preocupado com a tese da justiça divina, e não com a descrição dos sofrimentos nesse capítulo, por isso critica diversas vezes a "irremissibilidade dos erros". 

Ele ainda retorna à questão da circunscrição do espaço do "purgatório", e diz que:

"... eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores" (p. 66)

Note o leitor que ele associa o conceito ao sofrimento, e por isso o amplia. Há muito sofrimento na Terra entre os encarnados, assim como existe sofrimento moral (ou psicológico) entre os desencarnados. Kardec não exclui o conceito de purgatório do "Espaço infinito", apenas o aproxima do sofrimento dos Espíritos encarnados.

Outra diferença entre o pensamento de Kardec e a tradição medieval cristã, é que o sofrimento não é o fim da inferioridade humana, mas meio, através do qual o Espírito pode conscientizar-se e empreender a reparação dos seus erros. 

"Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências" (p. 93)

Outro ponto pouco conhecido,  no mesmo livro, é o capítulo IV, que trata dos espíritos sofredores. Allan Kardec publica um ditado do espírito Georges, que explica como ficam os espíritos endurecidos e maus após a morte. Destaquei o seguinte parágrafo:

"Não elevam o olhar às moradas dos Espíritos elevados, consideram o que os cerca e, então, compreendendo o abatimento dos Espíritos fracos e punidos, se agarrarão a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que eles põem continuamente em ação pelos seus gestos ridículos" (p. 263)

Essa é uma descrição de Georges sobre o mundo espiritual, no parágrafo posterior ele trata da ação desses espíritos na Terra, e trata da ação espiritual entre os homens.

Allan Kardec continua seu trabalho, identificando essa instrução nos relatos de espíritos em sofrimento.

Novel (p. 265-266), descreve sua perseguição pelos maus Espíritos no plano espiritual.

O Espírito de um boêmio (p. 269-270) segue com a influência da matéria no além túmulo, "sem que a morte lhes ponha termo aos apetites que a sua vista ... procura em vão os meios de os saciar."

O príncipe Ouran (p. 275) explica que "liberto da matéria, o sentimento moral aumentou-se, para mim, de tudo quanto as cruéis sensações físicas tinham de horrível".

Ferdinand Bertin (p. 279) assim descreve sua situação no mundo espiritual:

"Estou num medonho abismo! Auxilia-me... Oh! Meu Deus! Quem me tirará desse abismo?" E ele se sente ainda colhido pelo mar, onde faleceu. 

Claire, descreve sua experiência no mundo espiritual: "Também eu posso responder à pergunta relativa às trevas, pois vaguei e sofri por muito tempo nesses limbos onde tudo é soluço e misérias. Sim, existem as trevas visíveis de que fala a Escritura, e os desgraçados que deixam a vida, ignorantes ou culpados,  depois das provações terrenas são impelidos à fria região, inconscientes de si mesmos e do seu destino.

Palmyre (p. 306-308), que suicidou-se juntamente com o Sr. D., seu amante, ao descrever sua vida após a morte refere-se aos Espíritos que estão com ela no mundo espiritual, e diz que ouve "risos infernais e vozes horrendas que bradam: sempre assim!"

Se continuarmos a pesquisa, com certeza teremos mais elementos sobre as relações entre os Espíritos no mundo espiritual na obra de Kardec. 

Este tipo de descrição da interação e das relações entre Espíritos inferiores ou superiores no mundo espiritual foi realizado também por médiuns brasileiros, como Francisco Cândido Xavier, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Pereira Franco e também através da série Histórias que os espíritos contaram, escrita pelo estudioso Hermínio C. Miranda. 

26.4.18

ENTRE A CRACOLÂNDIA E O UMBRAL



Estávamos em um táxi, na região da Luz, em São Paulo, com um motorista silencioso, quando passamos em uma localidade que, em princípio pareceu-se com uma concentração de moradores de rua. Aos poucos, o carro foi passando e a nossa impressão é que se tratava de muita gente para ser apenas moradores de rua. Quem sabe não seria uma manifestação?

A multidão continuava. Eram pessoas assentadas, outras deitadas, algumas desacordadas. Muita fumaça de cigarro, alguns enrolados em palha, como vi muitas vezes os moradores da roça fazerem e usarem na minha infância.

O ambiente era ruim, estranho, e a pergunta saiu de chofre:

- Esta é a cracolândia? Estamos na cracolândia?

O motorista quebrou seu silencio, e com uma expressão de desconforto respondeu, lacônico.

- É.

Começamos a observar as pessoas, e nosso condutor resolveu nos explicar.

- Ficam aí de dia e de noite. O prefeito tentou interná-los, mas houve reação dos “direitos humanos” e eles voltaram para a rua.

- É por isso que há policiais ao redor? Perguntou minha esposa.

- Sim, mas não adianta nada. De vez em quando eles saem em forma de multidão, saqueando. Estão vendo aquelas lojas? Já estão quase todas fechadas, após terem sido saqueadas diversas vezes. Quando isso acontece, a polícia não tem reação.

Ele nos mostrou as instalações construídas pelo prefeito de São Paulo para triagem, banho e acolhida. Uma enorme estrutura, com aspecto de abandono. Nosso condutor continuou sua explicação:

- Ficam algumas assistentes sociais em meio ao povo, oferecendo auxílio do Estado. De vez em quando uma pessoa aceita ajuda, mas a maioria é indiferente ao trabalho delas.

Mesmo morando na  capital mineira, nunca havíamos visto algo igual.  Eu já havia visto as imagens da cracolândia através da tela da televisão, mas a impressão de estar ao lado das pessoas, mesmo de dentro de um automóvel, é incomparável.

Ficamos lembrando das descrições que encontramos sobre o “umbral”, através da mão de Chico Xavier, guiada por André Luiz. Espíritos que compartilham o mesmo espaço, em sintonia uns com os outros, esquecidos da vida, ou pior, acreditando que a vida se resume a essa experiência que se encontram vivendo.
As assistentes sociais em meio ao magote de pessoas lembram os espíritos que ingressam em tarefa, tentando sensibilizar os “habitantes” do umbral a mudar seus pensamentos e a abrir espaço para outro tipo de vivência. Nem sempre são bem sucedidos, porque muitos sofrem, mas preferem continuar com seu estilo de vida.

Manoel Philomeno de Miranda e André Luiz descrevem espíritos que se agrupam e tentam algum tipo de violência coletiva, algo semelhante aos “cracklanders” que furtavam os vendedores da região.

Não é uma penitenciária, um lugar para se cumprir uma pena posta por autoridade da lei, mas uma escolha, aos nossos olhos, infeliz. Quanta gente jovem, que poderia escolher outra trajetória de vida largada no amontoado, no meio da rua. Que fazer para ajudar as pessoas a escolher melhor seu destino?

23.4.18

LEIA O CORREIO FRATERNO EM UMA DAS TELINHAS


O jornal Correio Fraterno de março-abril de 2018 tem matérias que merecem ser lidas pelos espíritas:

A entrevista de Eliana Haddad com Simone Privato mostra algumas alterações de A Gênese em suas edições de 1868 e 1872 (3 anos após a desencarnação de Allan Kardec) http://www.correiofraterno.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2051:simoni-privato-explica-em-seminario-as-alteracoes-de-a-genese&catid=71:acontece&Itemid=2

O texto de Milton Felipeli aponta contradições que se pode encontrar entre ficções de temática espírita e a doutrina espírita de Allan Kardec. http://www.correiofraterno.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2055:a-criacao-literaria-e-o-compromisso-com-a-doutrina&catid=103:especial&Itemid=2



Aurélio Valente e Virgílio, no primeiro plano da esquerda para a direita

Leia essas e outras matérias na edição pela internet: https://bit.ly/2Gf5Yag



20.4.18

NOVA LUZ: SÁBADO DE MANHÃ






Sábado pela manhã, 7:30 horas e o grupo que trabalha no Centro Espírita Nova Luz, em Rosaneves – Ribeirão das Neves, está chegando. Vão dando bom-dia ao Rommel, que já chegou à secretaria da sede da Associação Espírita Célia Xavier, cedinho, para receber a todos.

Voluntários jovens e adultos vão chegando e se cumprimentando. É uma equipe curiosa, composta de diferentes segmentos da casa de Célia Xavier. Cabelos que nunca viram tinta na vida ladeiam cabelos coloridos e fios naturalmente prateados, tingidos pelo tempo.

Nessa manhã vão evangelizar ou dar educação espírita para a vulnerável comunidade de uma das cidades mais pobres da grande Belo Horizonte. Estávamos próximos da páscoa, e ainda que nós, espíritas, não a comemoremos seguindo a tradição de outros cultos cristãos, uma alma boa deu mais de duas dezenas de ovos de chocolate para as crianças de lá. Não é páscoa, mas é caridade.

A menina de três anos, quando viu os ovos, comemorou.

- “Eu pedi ao coelhinho da páscoa um ovo com brinquedo dentro!” Falou em voz alta.

- “Acho que esse ovo não tem brinquedo, só chocolate!” Preveniu precavidamente a jovem da mocidade, para evitar desilusões pascoais...


- “Tem sim!” A garotinha de trancinhas reafirmou, confiante. “O coelhinho me prometeu.” Justificou, segura, sua crença na entidade criada pelos pagãos há bem mais de um milênio.



Foi dia de arte espírita, com uma convidada de fora, a Sarah. A coordenação dividiu as crianças em grupos heterogêneos, para quebrar um pouco a “cumplicidade para a desordem”. Placas de madeira, tampas de garrafas e outros materiais coloridos foram ganhando posição, cola e forma. O trabalho uniu, ganhou estética, afeto e orgulho. Orgulho coletivo, de equipe.


Depois de aula, chocolate e arte, o grupo volta meio cansado para Belo Horizonte. Quarenta minutos de van, dirigida pelo Seu João. Como teve arte, chegaram bem depois do usual, perto de uma hora da tarde.


Vale a pena o trabalho? Acho que os voluntários, olhando para sua quota, reafirmarão que vale sim, mas só saberemos daqui a muitos anos, quando as crianças que passaram pelos cuidados espirituais do grupo não forem mais crianças e essas experiências de pouco mais de uma hora semanal forem apenas memórias. Então saberemos se estas sementes de luz influenciarão ou não a vida dos nossos pequeninos e de suas famílias.

17.4.18

GENEALOGIA DE ALLAN KARDEC


Jussara Korngold, tradutora de livros de Allan Kardec para a língua inglesa, pesquisou e publicou recentemente uma árvore genealógica de Allan Kardec (Prof. HLD Rivail, como gostava de assinar seus livros). 

Entre as surpresas temos dois irmãos de Rivail, Auguste Claude e Marie Françoise, que desconhecíamos.

Parabéns à pesquisadora! 

14.4.18

VOCÊ TEM UM TRABALHO SOBRE "SOBREVIVÊNCIA DA ALMA"? ELE TRAZ ALGUMA CONTRIBUIÇÃO? INSCREVA NO 14o. ENLIHPE ATÉ 30 DE ABRIL



Chamada de Trabalhos

Dia 30 de abril se encerram as inscrições de trabalhos do 14 Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (ENLIHPE), que ocorrerá na Sede Federativa da União Espírita Mineira nos dias 25 e 26 de Agosto de 2018.

O ENLIHPE é um encontro diferente dos que geralmente temos no meio espírita, porque tem sido realizado aos moldes acadêmicos. Qual é a diferença? 

Em vez de fazermos um encontro expositivo composto exclusivamente por convidados, abrimos um espaço para inscrição de trabalhos, que serão apresentados oralmente no evento. O tema central do evento é "Sobrevivência da alma", e se esperam trabalhos que tratem diretamente sobre ele, de preferência, articulados com as áreas de conhecimento reconhecidas pelas ciências e pela filosofia.

Assim, podem ser expostos trabalhos históricos, com recuperação de autores que pesquisaram o tema, trabalhos que discutem com embasamento teórico e/ou empírico a física, química ou biologia de Espíritos materializados, por exemplo, trabalhos sobre a personalidade ou identidade de espíritos comunicantes (psicologia, parapsicologia, por exemplo), trabalhos de análise comparativa da linguagem de comunicações espirituais (letras, hermenêutica, linguística, literatura comparada, por exemplo), ou ainda sobre o pensamento filosófico da alma e de sua sobrevivência (filosofia), apenas como exemplos.

Pretendemos publicar os melhores trabalhos sobre o tema sob a forma de coletânea, ainda a tempo de possibilitar aos participantes adquiri-lo no encontro, o que faz com que a data estabelecida não possa ser adiada.

Os trabalhos submetidos são encaminhados para um corpo de pareceristas, com formação acadêmica e conhecimento do espiritismo, para análise e sugestões, podendo ou não ser aprovados para o evento com base em suas opiniões.

Os autores terão tempo para apresentar e conversar com os participantes do evento sobre seu tema.

Há outras atividades previstas para o 14o. ENLIHPE, como uma mesa sobre o livro A Gênese, que faz 150 anos de sua publicação esse ano, conferências de pesquisadores do Núcleo de Estudos de Saúde e Espiritualidade (NUPES) da Universidade Federal de Juiz de Fora, autógrafos de livros, pão de queijo, música  e outras atividades.

Como atividade além do encontro, estamos contratando um prestador de serviços para fazer um tour com os interessados no domingo à tarde, a partir das 14:30 horas, em Pedro Leopoldo, para conhecer instituições ligadas à memória de Chico Xavier. Estão previstas visitas à Fazenda Modelo (local de trabalho de Chico), ao Centro Espírita Luiz Gonzaga e ao Museu "Casa de Chico Xavier". 

As inscrições para participação ainda não estão abertas, mas fiquem atentos a partir de junho de 2018. Elas serão gratuitas para o evento (mas será necessário fazer as inscrições previamente, porque as vagas são reduzidas) e haverá uma taxa para cobrir os custos do passeio, apenas dos que quiserem participar.

Já temos alguns trabalhos inscritos, mas aguardaremos a submissão de todos os interessados antes de divulgar os resultados.

Participem, seja como expositores, seja como congressistas!

Apoio:




11.4.18

JESUS EXISTIU? É IMPORTANTE PARA O ESPIRITISMO?



Manuscritos de Nag Hammadi


Com o passar do tempo e o desenrolar da história, a época em que viveu Jesus vai ficando cada vez mais distante de nós, o que leva algumas pessoas a questionarem se ele realmente viveu ou se não seria uma lenda, criada com alguma finalidade de controle social.

Para o pensamento espírita, Jesus não apenas viveu como pode ser considerado guia e modelo para os homens, como se lê em O Livro dos Espíritos. Após discutir filosofia com os Espíritos e escrever sobre a prática da mediunidade, divulgando sua experiência na França e no exterior, Allan Kardec dedicou-se ao estudo e comentário dos evangelhos, dando um grande destaque, inicialmente à questão moral, com a publicação de “O evangelho segundo o espiritismo” e posteriormente sobre outras questões ligadas aos evangelhos, como os milagres e as predições do Cristo, que se encontram analisados em “A Gênese”. Kardec e os Espíritos entendem que os ensinamentos cristãos são uma base importante para o desenvolvimento de uma ética para a humanidade, mesmo havendo mudanças muito intensas na sociedade, nas formas e relações de produção e na interação entre os homens.

Se considerarmos as evidências históricas e arqueológicas da vida de Jesus de Nazaré, podemos observar o seguinte:

1.       Entre as evidências documentais da existência de Jesus, temos, além dos evangelhos, as cartas de Paulo e as dezenas de escritos dos cristãos dos primeiros séculos, que temos até os dias de hoje.

2.       Historiadores judeus como Flávio Josefo e historiadores romanos como Plínio e Tácito, que não foram cristãos, escreveram sobre Jesus.

3.       Não se questiona a existência de Jesus na literatura antiga.

4.       Há diversas evidências arqueológicas como:

a.       os manuscritos do Mar Morto (descobertos em 1947, em uma localidade chamada Qmram, na Cisjordânia, que contém documentos escritos entre o século II aC. ao ano 70 dC, contendo textos do antigo e do novo testamentos, além de documentos apócrifos)
b.      os manuscritos de Nag Hammadi (descobertos no Egito em 1945, possivelmente do século II, escritos em cóptico e contendo textos gnósticos, que fazem referência a Jesus, embora sejam considerados apócrifos)
c.       Os papiros de Oxirinco (descoberto no Egito, contendo documentos que vão do século I ao VI, são uma espécie de biblioteca que tem textos clássicos, manuscritos teológicos e apócrifos, além de documentos do cristianismo primitivo).

O pensamento de Jesus é um dos pilares éticos da obra de Allan Kardec, em função de sua ética da solidariedade e da sua consideração dos seres humanos como pessoas, independente do lugar que ocupam na sociedade.

28.3.18

CONHECENDO RAUL TEIXEIRA







Há alguns anos tenho me interessado por biografias de pessoas que deram sua contribuição ao espiritismo, como Allan Kardec, Amélie Grabrielle Boudet, Gabriel Delanne, Léon Denis, Camille Flammarion, Chico Xavier, Yvonne Pereira, Deolindo Amorim, Herculano Pires, Carlos Imbassahy, entre muitos outros.

Mais recentemente, escrevendo sobre nossas experiências na mediunidade, dei-me conta que tivemos contato direto com um médium e expositor muito atuante, sobre o qual não havia lido muita coisa escrita, mas com quem havia convivido ao longo de muitos anos.

Descobri, surpreso, que tinha um livro voltado ao relato e análise das experiências de Raul Teixeira na minha própria biblioteca, comprado para leitura posterior, mas esquecido na estante. Ele se intitula “Raul Teixeira, um homem no mundo: 40 anos de oratória espírita”, publicado pela editora Fráter em 2008, três anos antes do acidente vascular cerebral que o acometeu em um voo para os Estados Unidos e que deixou sequelas.

Conheci Raul no final dos anos 1970, quando ele expunha frequentemente na Associação Espírita Célia Xavier, e em casas espíritas das quais nos aproximamos em função dos trabalhos dele no interior de Minas Gerais.

O autor do livro, Cezar Braga Said, residente na baixada fluminense, mestre em educação, narra muitos episódios que conhecíamos do relato do próprio Raul, mas também alguns que não imaginávamos. Raul, como Yvonne, como Chico, como Elisabeth D’Esperance, Divaldo Franco e outros médiuns, apresentava percepções de espíritos desde a infância. Criado em contato com as instituições cristãs, conheceu uma mocidade espírita na juventude, mercê do convite de um amigo e de sua família.

Estudou o espiritismo com dedicação e mostrou de imediato suas habilidades com a exposição, o que fez com que recebesse cada vez mais convites de casas espíritas no Rio de Janeiro e fora dele.

Desde o final dos anos 1960, conheceu e ligou-se com médiuns bastante conhecidos, como Chico Xavier, Divaldo Franco e Yvonne Pereira. Said focalizou seus aprendizados com estes trabalhadores devotados da mediunidade e do espiritismo.

A mediunidade foi desenvolvida posteriormente, inicialmente por um espírito chamado Luiz, que reencarnou e depois com a orientação de Camilo, um espírito que teve experiências no passado em meio aos franciscanos, mas outras encarnações.

O livro de Said é facílimo de se ler. São episódios pontuais da vida de Raul, comentados com moderação. O livro se preocupa mais com as experiências formadoras e marcantes da vida do médium, que com a apresentação de datas e títulos. É uma biografia psicológica, que deixa o leitor na situação de quem está conversando com o médium ao lado de uma mesa de café com quitandas.

Li em dois dias cheios de outras atividades, com uma fluidez, em função da organização e linguagem de Said. O texto, talvez pela convivência com o médium, prende àqueles que conviveram com eles, porque é mais uma revivescência que um aprendizado.

Recomendo a leitura aos que não o conheceram pessoalmente, assim como a leitura das dezenas de livros que ele psicografou, voltados a questões da vivência do espiritismo e do espírita no mundo, como Cezar bem escolheu para o título.

Título: Raul Teixeira, um homem no mundo: 40 anos de oratória espírita

Autor: Cezar Braga Said

Editora: Fráter

191 páginas – ano 2008