Questions!
Uma aluna da PUC Minas nos entrevistou sobre o espiritismo. Foram feitas diversas questões básicas. Acho que as respostas podem ser úteis aos leitores. Vou começar a publicar a partir de agora. Confiram.
01- Qual a definição de espiritismo. Pode ser considerado uma religião?
Resposta de Jáder Sampaio:
“Doutrina que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de sua relação com o mundo corporal” (Allan Kardec em O que é o espiritismo).
Kardec concebeu o espiritismo como ciência de observação e filosofia com consequências morais. Ele entendia que as pessoas de qualquer religião poderiam ser espíritas, por se tratar de uma ciência da vida após a morte.
Como o espiritismo tivesse propostas distintas dos dogmas da Igreja Católica, não tardou que os livros espíritas fossem colocados no Index Prohibitorum, apreendidos em Barcelona e queimados em praça pública sob a ordem de um bispo.
Kardec, então, em dezembro de 1863 publicou um artigo em que divide o tempo em que vinha trabalhando em períodos, defendendo que o espiritismo entraria em seu período religioso. Meses depois ele publica “O evangelho segundo o espiritismo”.
Meses antes de falecer, ele publica uma conferência que fez na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, no qual defende que o espiritismo era uma religião no seu sentido filosófico, como laço ou comunhão entre os homens ligados por “sentimentos, princípios e crenças” mas não era uma religião no sentido de ter hierarquias, dogmas, culto, casta sacerdotal e cerimônias.
Diversos autores espíritas retomaram essa questão. Carlos Imbassahy propõe que o espiritismo é uma religião por admitir os ensinos de Jesus e os interpretar coerentemente com a Doutrina Espírita. Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier explica em seu livro “O Consolador” que o espiritismo é ciência e filosofia com fins religiosos. Essa é a visão da maioria dos espíritas brasileiros quanto ao caráter do espiritismo.
Há, no entanto, uma minoria de espíritas que defende a tese do espiritismo laico, um espiritismo que seria apenas ciência e filosofia.
Caro Jader, entendo que a identificação do Espiritismo como ciência de observação e doutrina filosófica não é'apenas', posto que em tudo que se questiona e pesquisa tem ciência (espírito científico), e em tudo que se raciocina a partir de princípios definidos há filosofia (a busca do saber). Os espíritas temos o dever íntimo de em tudo que fizermos incorporar o conhecimento espírita, sem pretender que o Espiritismo esteja em tudo- a Doutrina Espírita não é nem pretende ser o único caminho para atingir o esclarecimento espiritual e a transformação interior, que propiciará melhores indivíduos e, via de consequência, uma sociedade aprimorada. Por outro lado, dar caráter religioso ao Espiritismo, a meu ver, restringe-o. E isso independe de novas designações, como ser laico, kardecista, humanista, ou qualquer outra, em face da amplidão de aspectos que, naturalmente ele tem em nosso cotidiano. Saudações!
ResponderExcluirBom dia, meu amigo. Não sei se vemos essas categorias de forma semelhante. Eu as percebo como formas de construção do conhecimento, sob a ótica da epistemologia e da metodologia das ciências. É sempre possível recuperar as fontes do conhecimento em ciência e filosofia. Na primeira, o conhecimento costuma ter base na observação e na experimentação, além da revisão teórica que o antecede. Na filosofia, o conhecimento é construído pela razão. Nas religiões, os conhecimentos vêm através de pessoas consideradas diferenciadas, mestres, gurus, que podem ter sua revelação atribuída à divindade. A conexão do espiritismo com o cristianismo, com os evangelhos, é de fundamentação filosófica, exclusivamente? Certamente, não vemos os evangelhos como "palavra de Deus", como o fazem nossos irmãos de outras designações cristãs. Humberto Schubert vê elementos da religião em nossas reuniões e estudos, que muitas vezes se voltam à aprender e acreditar, mais que buscar os fundamentos, criticar, buscar novas descobertas. Não é um tema fácil e ainda longe de consensos, mas precisamos desenvolvê-lo. Obrigado pela colaboração.
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