Vendo o rumo que tomam os debates no Movimento Espírita, recordei-me de um grande homem a quem tento, mas não consigo seguir os passos. O texto abaixo mostra um dos inúmeros episódios de polêmica no qual fez a defesa do Espiritismo, com uma elegância tal que não fazia inimigos. Acho que estes tempos se foram, mas nada impede que voltem.
"Certo dia o grande Medeiros e Albuquerque, autor de "Graves e Fúteis", membro da Academia Brasileira de Letras, orador renomado e uma das mais brilhantes penas do Rio de Janeiro, resolveu atacar o Espiritismo. Era psicanalista e escolheu para tema de um de seus inúmeros artigos os fenômenos espiríticos, procurando demonstrá-los à luz da interpretação freudiana.
Meu pai arvorou-se em rebater-lhe o artigo: escreveu a réplica e pediu a meu avô, crítico musical do Jornal do Brasil, que o fizesse publicar no referido periódico.
Como genitor, também dedicado às letras, antes de atender ao pedido do filho, fez-lhe ver que aquilo era loucura: querer discutir com um homem cuja pena todos temiam com justa razão.
- Não se importe, meu pai: ele sabe escrever, porém não conhece Espiritismo e nisso não leva nenhuma vantagem.
O redator do jornal adorou a idéia dessa polêmica e mandou publicar o trabalho, embora comentasse para o velho Arthur:
- Seu filho vai se meter em palpos de aranha; o Medeiros irá reduzi-lo, que não lhe poupa ninguém!
Mas a resposta do grande Medeiros e Albuquerque que tardava, para espanto geral.
Estava meu pai em seu trabalho, na "Estatística", à Rua Luiz de Camões, quando um contínuo veio anunciar-lhe que um senhor meio surdo desejava falar-lhe.
- Mande-o entrar.
E o convidado não se fez esperar. Um senhor bem apessoado dirigiu-se a meu pai:
- Talvez não me conheça... sou Medeiros e Albuquerque.
- !
- ... Vim porque li seu artigo e desejo respondê-lo, porém, por um princípio íntimo de honestidade, gostaria de debater alguns pontos críticos...
E começou a indagar coisas de Espiritismo. Uma conversa agradabilíssima de um homem erudito, fino, polido em toda íntegra, a inquirir pelo desejo de conhecer, debatendo o tema.
No dia seguinte, fez publicar um artigo no qual declarava que tomava conhecimento da resposta de meu pai e que, em breve, voltaria ao assunto, assim que reunisse elementos para a polêmica.
E as visitas tiveram continuidade, só a contra-resposta é que nunca foi escrita: dizem mesmo que, ao fim da vida, Medeiros e Albuquerque houvera declarado.
- Fui materialista durante esta existência; se houvesse religião que eu pudesse aceitar, esta seria o Espiritismo." (Memórias Pitorescas de Meu Pai, Carlos de Brito Imbassahy, 2a. ed, 1989, p. 283-284)
Passaram-se os anos e Medeiros e Albuquerque, espírito, deixa duas pérolas no livro "A Canção do Destino", citado abaixo.