Estava assistindo mais uma vez o filme baseado no excelente livro de Humberto Eco, "O Nome da Rosa". Desta vez chamou-me a atenção uma frase do monge assassino, da qual reproduzo a essência: "Não há mais o que descobrir, pois o conhecimento já está completo." Ele entende que basta reproduzir o que já se conhecia, que a humanidade tinha à disposição todo o conhecimento de que necessitava.
Esta ideia medieval remete à distinção entre a produção e a divulgação do movimento espírita. Diversas vezes, especialmente na "Revista Espírita", Kardec se refere as Espiritismo como um conhecimento em construção, evolutivo, que sairia de um momento centralizador de elaboração, necessário para a sua estruturação inicial, para um momento coletivo, que hora vivemos.
A Liga de Pesquisadores do Espiritismo é um espaço criado para incentivar a produção de conhecimento sobre o Espiritismo. É, portanto, um programa que visa a apoiar estudiosos, da academia ou não, adeptos ou não do movimento espírita, a obter fontes, debater suas ideias, publicar seus trabalhos, enfim, criar uma rede de intercâmbio que é essencial à produção de conhecimento rigoroso.
Como o movimento costuma se orientar para a divulgação, muitas pessoas entendem que a palestra, a conferência ou a apresentação do trabalho é a finalidade principal da divulgação, e que quanto maior o público atingido, melhor.
Nossos esforços têm se dirigido em outro sentido. O congresso, o encontro, é meio e não fim. Nele se busca interlocução para o aprimoramento dos trabalhos, reflexão e não palco.
Outra diferença entre o trabalho sistemático de pesquisa e a divulgação, é que o divulgador prepara sua exposição para atender a uma determinada demanda. O pesquisador deve realizar um trabalho sistemático de pesquisa, que não seja voltado a este ou aquele evento, mas que atenda aos objetivos que ele traça em uma linha programática.
Se um estudioso quer conhecer melhor as relações entre o Espiritismo e o Espiritualismo Moderno no século XIX, não será fazendo um esforço concentrado e lendo uma dúzia de textos que ele fará um trabalho de peso. Ele deve dedicar tempo siginificativo na busca de fontes, no seu entendimento e no diálogo com o que já se produziu até o momento, desconstruindo as formulações apressadas ou mal fundamentadas e propondo teorias e teses mais maduras.
O evento é uma oportunidade de encontrar pessoas igualmente interessadas, que possam contribuir com o trabalho. Assim, o pesquisador produz conhecimetno porque entende que este é o seu trabalho e os eventos são oportunidades que comunicar as descobertas, levar as ideias de pesquisa, divulgar o que está sendo feito.
Esta é a finalidade do ENLIHPE e por isso o CCDPE e a LIHPE têm feito um esforço logístico e financeiro para publicar os trabalhos apresentados, assim como se tem aos poucos aumentado as exigências para a apresentação de trabalhos e criado comissões.
Concito os interessados a participarem desta nova versão do Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, que acontecerá em São Paulo, e aos autores e pesquisadores a lerem, citarem e discutirem os temas que têm sido publicados, para que não fiquem em um círculo restrito e pereçam.
Até o momento a parceria CCDPE-LIHPE rendeu cinco livros e irá lançar dois novos livros no 6o. ENLIHPE. São os três "Anuário Histórico Espírita", organizados pelo Eduardo Monteiro e Leandro Borba, o "Pesquisas sobre o Espiritismo no Brasil" e a coleção "Espiritismo na Universidade", organizada por professores da UNIFRAN e que visa a publicar dissertações de mestrado e teses de doutorado com temática associada ao Espiritismo.
Em breve teremos a programação do evento.