31.7.11

O 7o. ENLIHPE ESTÁ CHEGANDO



O Sétimo Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo ocorrerá nos dias 20 e 21 de Agosto, em São Paulo - capital.

O tema deste ano é "Espiritismo e Ciência: Objetos, Fronteiras e Métodos de Investigação".

Local do evento: Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro. Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista, São Paulo.

As inscrições estão abertas e são limitadas. Podem ser feitas pelo e-mail

7enlihpe-inscricao@ccdpe.org.br




Taxa de inscrição: 50,00

Depósito Banco Itaú, agência 0745, c/c 60.000 - 7 em nome do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo C Monteiro. Enviar comprovante pelo e-mail acima.

Informações pelos fones 11 - 5072.2211(secretaria ccdpe) e 11 - 5561.5443 e 11 - 9983.8425 com Márcia Carvalho Monteiro

Trabalhos Escolhidos.

Serão apresentados de trabalhos que foram previamente inscritos e selecionados por uma comissão avaliadora. Os temas e autores serão divulgados em breve.

Divulgação de Livros:


Durante o evento serão lançados e divulgados os seguintes livros:





O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais é uma seleção de trabalhos apresentados no 6o. Encontro Nacional da LIHPE. Trata de temas na fronteira entre o espiritismo e a física, a política, a sociologia, a psicologia, o jornalismo, a educação de jovens e adultos e também um novo levantamento de teses e dissertações de temática espírita defendidos no Brasil.




O movimento espírita pelotense, escrito pelo historiador Marcelo Freitas Gil, da LIHPE, usa dos recursos da História Cultural para compreender a origem e constituição do movimento espírita de uma das cidades que tem pouco menos de 6% de espíritas que se declararam como tal ao censo.


É possível usar o instrumental das ciências naturais para se pesquisar fenômenos espirituais? Esta pergunta é a base do trabalho de Alfred Russel Wallace, naturalista conhecido pela sua teoria da evolução das espécies, em parceria com Charles Darwin. Wallace detêm-se no pensamento de David Hume, cujos argumentos contra a possibilidade da pesquisa dos milagres influenciou gerações de filósofos posteriores. Wallace também discute a posição filosófico-histórica que situa a crença em espíritos em sociedades primitivas, criando, assim, um óbice à sua adoção por homens considerados civilizados ou modernos.
 
É a primeira tradução para o português que temos notícia, o que incentivou a editora a lançá-lo mais de um século depois de escrito, dada a sua atualidade e importância.
 
 
Os primórdios do espiritismo em Goiás, foi escrito pelos irmãos Airton e Eurípedes Veloso, mineiros radicados no estado goiano e trabalhadores da Federação Espírita do Estado de Goiás. O livro é o primeiro que integra a série "Memória Espírita do Estado de Goiás" e segundo o segundo autor é "uma peça do  memorial representado pela LIHPE". Os autores participaram do ENLIHPE e utilizaram sua formação em história e seu conhecimento do movimento goiano para produzirem este belo trabalho.
 
Outras Informações:
 
Mais informações podem ser obtidas no site www.ccdpe.org.br, inclusive preços de hotéis indicados para os participantes que vêm de fora de SP.

 


12.7.11

REENCARNAÇÃO E CRISTIANISMO

Figura 1: Constantino queimando livros de Arius. Ilustração de um compêndio de lei canônica . Fonte: Wikipedia (inglês) verbete "First Council of Necaea"


Vez por outra recebo a visita de leitores evangélicos e católicos no blog. Eles deixam alguns comentários que nem sempre publico, por fugirem totalmente ao tema tratado ou por entender que se prestam a um diálogo de surdos.

Recentemente recebi um comentário no qual o autor afirma que o espiritismo "nega pelo menos 40 verdades da fé cristã" e que "a crença na reencarnação é incompatível com o cristianismo ou doutrina cristã". Ele questiona por que o movimento sonega ou esconde este fato dos seus adeptos.

Também recentemente um professor de religião de uma de minhas filhas ensinou que o espiritismo não faz parte do cristianismo, porque, entre outras coisas, não acredita na doutrina da trindade, embora os espíritas se considerem cristãos.

1. A Questão da Trindade

A questão da trindade não era pacífica no início do cristianismo, tanto é que foi convocado um concílio no ano 325 para tratar do tema, o Concílio de Nicéia. Se a trindade foi objeto de discussão, em um encontro de representantes do cristianismo, é sinal que se tratava de um tema polêmico. Desconheço um concílio ou sínodo católico para discutir se a existência de Deus é um princípio cristão, posto que é ponto pacífico e universal.

Ário ou Arius (ou ainda Arrius, como prefere Rodrigues) foi um dos membros da escola de Alexandria que negava que Deus e Jesus participassem de uma mesma substância. Sobre o Concílio de Nicéia, pode-se ler o livro "A Esquina de Pedra", escrito por Wallace Leal V. Rodrigues, editora O Clarim, que entremeia uma narrativa romanceada a informações sobre o concílio e a época. Ao final deste livro ele insere uma nota na qual faz referência ao livro "History of the First Council of Nice", de Hilton Hotema, e cita o seguinte:

"Além de Constantino e Eusébio de Cesaréia, apenas 300 bispos votaram no esquema de Constantino e que estes eram ... 'homens iletrados e simples, incapazes de compreender o que se passava'... Esses prelados ignorantes, aflitos de refressarem às suas cidades e temerosos de serm tomados por hereges, concordaram com o imperador, ansiosos de ver terminado o Concílio." Segundo o autor, 1800 bispos participaram do Concílio.

Outra afirmação do Prof. Hotema é com a vitória de Constantino, Arius foi considerado herege e excomungado. Seus escritos se tornaram escassos porque foram destruídos, como era habitual à época. Isto se pode ver na figura 1.

O que se pode concluir é que a trindade não era doutrina oficial da igreja antes do ano 325. Se ela for considerada condição sine qua non para ser considerado cristão, muitos dos cristãos, mártires e talvez pais da igreja dos primeiros séculos serão considerados hereges.

O livro "Cristianismo, a mensagem esquecida", de Hermínio Miranda o tema é abordado e ele faz referência a um teólogo contemporâneo, Hans Küng, que propõe seja Jesus considerado homem e que haja entendimento entre as religiões, e que a adesão ao credo niceano não seja o critério para a identificação do cristão. Nesse livro, o tema também é tratado, ao contrário do que afirma nosso crítico. E a reencarnação, pode ser considerado um ponto polêmico da comunidade cristã dos primeiros séculos?
2. A Questão da Reencarnação

A reencarnação, tão contrária a alguns dogmas católicos, é ainda mais bem tratada na literatura espírita que a questão da trindade. Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, dedica um capítulo inteiro a explicar passagens que sugerem: que a reencarnação era conhecida pelos judeus e que pode-se interpretar diversas passagens envolvendo os ensinos de Jesus como sendo favoráveis à tese reencarnatória.

Dois dos discípulos de Kardec escreveram livros sobre a reencarnação (Denis e Delanne), mas Denis acrescenta muita informação ao debate, ao mostrar em seu Cristianismo e Espiritismo, como a reencarnação era crença conhecida em meio aos judeus (através de citações de textos originais), com muitos exemplos, e defender a tese da doutrina secreta, ou do sentido oculto dos evangelhos. Ele cita passagens dos pais da igreja favoráveis à reencarnação, e a famosa dúvida de Santo Agostinho. Nele vemos a questão da reencarnação presente na comunidade e nos teólogos de Alexandria, antes do século IV.

Fosse a reencarnação um fenômeno pontual, não teríamos o episódio medieval dos cátaros, que foram vítimas de genocídio em função dos interesses da igreja, como nos mostra Hermínio Miranda em seu livro "Os Cátaros e a Heresia Católica"?

Outra fonte que trata desta questão é o livro "A reencarnação segundo a Bíblia e a Ciência", escrito por José Reis Chaves. Este mesmo autor trata rapidamente do concílio de Nicéia no seu "A Face Oculta das Religiões".

3. Concluindo

Se admitirmos uma visão histórica, o espiritismo é uma releitura do cristianismo, em sintonia com muitos estudiosos do pensamento e vida de Jesus, de dentro e fora da igreja católica. Desta forma, não se trata de sincretismo, posto que desde o seu primeiro livro ele se propõe a fazer uma leitura racional dos evangelhos e elege o cristianismo como uma referência ética.

Se reduzirmos o cristianismo à igreja e seus dogmas, entendemos que teremos o catolicismo, que é algo muito menor que o pensamento e a comunidade cristãos. Com certeza, há tensões diversas entre o pensamento espírita e o católico, ou seja, espiritismo não é catolicismo; contudo, o cristianismo não se subsume ao catolicismo e às doutrinas evangélicas queiram seus membros admiti-lo ou não.

Por fim, não se oculta nada da comunidade espírita. Via de regra, o espiritismo é um conhecimento público, e cada vez mais acessível, mas cabe ao que se diz espírita e ao que se diz crítico do espiritismo estudá-lo.

10.7.11

A QUESTÃO DE DEUS: KARDEC, TOMÁS DE AQUINO E JOHN DUNS SCOTUS

Figura 1: John Duns Scotus

Uma das questões que sempre me intrigou em "O Livro dos Espíritos" é a de número três: pode-se dizer que Deus é o infinito?

Homem do século XX, infinito é um termo que sempre vi associado à matemática e às ciências naturais, nas infindáveis tentativas dos físicos mensurarem o tamanho do universo.

Com esta concepção estreita que tenho, a pergunta não fazia sentido, parecia-me própria do panteísmo, que Kardec distingue tão claramente da concepção espírita de Deus.

Ao ler História da Filosofia, especialmente os autores da patrística e da escolástica, esbarrei em um pensador cristão interessante: John Duns Scotus ou Scot (1266-1308).

Nos dilemas entre a fé e a razão, o conceito de ente infinito ocupa um papel importante no pensamento de Scotus. Reale e Antiseri (2011) apresentam a questão a partir dos sentidos e do intelecto. Se é mais ou menos fácil identificar a finalidade dos sentidos do homem, qual é a finalidade do intelecto? Scot afirma que o intelecto, essencialmente humano (ente unívoco), tem por finalidade o conhecimento.

Afirma Valverde (1987) que Scotus se opõe ao raciocínio de São Tomás de Aquino, que tenta demonstrar a existência de Deus a partir dos dados dos sentidos e que, por isso, tem uma concepção limitada dele.

"Desse modo, Deus ficaria reduzido à mera causa primeira do mundo físico". (pág. 179)

Scotus, portanto, segue outra trajetória dedutiva, a de considerar o ser a partir de suas propriedades intrínsecas, sem recorrer aos sentidos. Ele estabelece pares de "modos de ser" que Valverde cita: finito e infinito, possível e necessário, entre outros. Não é difícil para Scotus mostrar que o homem é um ente finito (unívoco, pelo que pude entender), que, portanto, dispensa a demonstração da existência. A questão se torna demonstrar a existência do ente infinito.

Scotus parte da premissa de que as coisas possivelmente existem (embora não seja necessário que existam). É contudo necessário que existam, partindo do fato que existem. Então, ensina Reale que Scotus pergunta qual é a causa ou fundamento da existência, e mostra que não pode ser o nada, porque o nada não é causa. Também não são as coisas, porque elas não podem dar a existência a si mesmas (Lembremos que nessa época ninguém cogitava da teoria da evolução de Darwin e Wallace). Então é necessário por a razão desta possibilidade em um ser diferente, que transcende a esfera do produtível e das coisas possíveis.

Reale e Antiseri continuam sua explicação mostrando que se as coisas são possíveis, o ente primeiro também é possível. E se ele é possível, ele existe em ato, já que nenhum outro o produziria. Por consequência, uma vez que nenhum outro o produziria, ele é real

Scotus supera Tomás de Aquino ao afirmar que este ente, que é causa primeira, tem por característica interna ser infinito "porque é supremo e ilimitado". A consequência deste raciocínio é que "o ser infinito é o Ser, ..., porque é o fundamento de todos os entes e, antes ainda, de sua possibilidade." (Reale e Antiseri)

Mesmo utilizando o conceito de ente infinito para demonstrar a existência de Deus, Scotus admite que o conceito é "em si mesmo pobre e insuficiente, porque não consegue nos introduzir na riqueza misteriosa de Deus".

As questões iniciais de "O Livro dos Espíritos" apontam, portanto, para as discussões da filosofia escolástica e situam-se no conflito entre fé, razão e empirismo, o que sugere a participação de espíritos que dão prova de um conhecimento cada vez mais limitado a um grupo menor de pessoas, com o avanço da centralidade das ciências empíricas em nossa cultura.

6.7.11

GOVERNO FEDERAL FORMALIZARÁ O SUAS

Figura 1: Logo do SUAS


SUAS é o sistema único de assistência social, inspirado no modelo no Sistema Único de Saúde. Segundo o Jornal do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRPMG), ele será coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, mas as ações serão implementadas nos três níveis de Estado (federal, estadual e municipal), assim como acontece no Sistema Único de Saúde.

O avanço desta lei é tornar a assistência às famílias e indivíduos vulneráveis um direito e de reorganizar as esferas de estado para esta finalidade. Resta saber se o Estado conseguirá disponibilizar recursos suficientes para cumprir com suas novas responsabilidades e se terá uma estrutura capaz de atingir a este enorme contingente de pessoas.

A presidenta da república sancionará a lei hoje às 11 horas e o jornalista do CRPMG afirma que 99,5% dos municípios brasileiros já aderiram ao novo sistema.

Essa é uma transformação importante em nossa sociedade, que demanda da comunidade espírita uma reflexão sobre as atividades assistenciais e promocionais que hoje realiza e quais são os efeitos que a legislação terá sobre o que se encontra em curso.

Dois pontos chamaram-me a atenção na Política Nacional de Assistência Social (PNAS - 2004) que parece ser uma das bases da nova legislação: os desdobramentos do princípio do controle social, as relações com o Estado nas questões de financiamento e os impactos na nova lei no reconhecimento das atividades realizadas pelas sociedades espíritas. Pergunto-me também se as sociedades espíritas são percebidas como assistencialistas (creio que clientelismo não se aplica a instituições que não participam do jogo partidário de poder na sociedade).

O tema é polêmico, não tenho  opiniões formadas, mas demanda maior entendimento e clareza por parte de nós, espíritas.

Mais informações nos anexos do texto do governo federal:            http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas

27.6.11

AUSCHWITZ, 60 ANOS DEPOIS


Figura 1: Espíritas acompanham Divaldo Franco à visita a Auschwitz. Na faixa de metal a frase sinistra de duplo sentido: o trabalho liberta.

O Nacional-Socialismo ascendeu na Alemanha patrocinado pelas cláusulas leoninas do Tratado de Versalhes, que impôs a pobreza e uma dívida de guerra muito superior à capacidade financeira dos aliados do império Austro-húngaro.

A sobrevivência tornou-se companheira da humilhação. Esta irmã do orgulho logo aceitou com facilidade as teses que culpabilizariam injustamente os descendentes do povo judeu radicado nas terras germânicas pelo armistício e pelo sofrimento imposto aos seus coirmãos.

O Dr. Carl Jung, anos depois da segunda guerra, receberia um prêmio por seu trabalho sobre o mito de Wotan, que versa sobre a psicologia do povo alemão após a derrota diplomática da primeira guerra.



Figura 2: As belas construções, não fossem as cercas, aparentariam belos casarões que acolheriam alguma indústria. Hoje foram transformados em museu.

Uma inflação jamais vista,  a perda do poder de compra do marco alemão e o empobrecimento das massas, trouxeram um ódio silencioso, a necessidade de culpabilização de um terceiro e um desejo de reparação, a esperança de um herói messiânico, que como Wotan acordaria de seu sono e congregaria forças ao redor de si para uma nova marcha vitoriosa sobre as forças opressoras.

O desenvolvimento tecnológico e o novo crescimento econômico trouxeram em seu bojo as promessas rancorosas do partido Nacional Socialista, que acusava, culpabilizava e prometia punição indistinta ao povo judeu, assim como uma perseguição contra as minorias que teriam enfraquecido as fortes raízes germânicas.



Figura 3: Divaldo diante dos fornos crematórios

O discurso emocional tomou conta do povo alemão que conduziu ao poder não apenas um homem, mas uma ideia totalizadora que trazia em seu bojo as tristes propostas da eugenia e o nefasto conluio genocida.

O genocídio é o assassinato frio e premeditado de um povo, uma comunidade, uma etnia. A acusação gratuita e infundada da conspiração para a derrota diplomática alemã tornou-se juiz e julgado, pena de morte para todo e qualquer descendente hebreu ao alcance das garras de aço ensanguentadas do poder eleito e centralizador.

Figura 4: Uma das tristes lembranças da ideologia genocida


A guerra fortaleceu ainda mais o poder central, e das mesas da burocracia alemã surgiram os papéis secretos que foram dando forma ao que se intitulou "solução final". Tamanho o opróbio da proposta, que nem mesmo o sofrido povo alemão a aceitaria se tivesse consciência plena dos projetos autorizados por seu Füher. Sob a lógica da exceção que o conflito armado institui, judeus, homossexuais, socialistas e outras minorias indesejáveis seriam segregadas e enviadas a guetos e campos de concentração, ou apenas simulacros destes.

Ações isoladas, mas engendradas, deram início ao objetivo vergonhoso: o extermínio. Pelotões de fuzilamento em florestas e  furgões com a caçamba lacrada onde se respirava o monóxido de carbono dos escapamentos foram alguns dos precursores da câmaras de gás e dos grupos de trabalho que expoliavam dos corpos a sua última diginidade humana, arrancando dentes de metal, despindo-os e usurpando da morte covarde o último direito, o da sepultura digna. Amontoados de corpos eram queimados ou acumulados em covas coletivas cujo destino final seria o manto de terra e o reflorestamento, que ocultaria para sempre da memória da humanidade os atos ali cometidos.

Figura 5: Palestra de Divaldo Franco no Centro de Cultura - Polônia

Quis Deus e a coragem dos homens que esta história não morresse com o sufocar da garganta das vítimas. Estima-se que seis milhões pereceram, mas os sobreviventes não se calaram. Ainda choram pelos seus mortos e contam ao mundo as histórias de horror que um dia saíram do mais negro imaginário humano para habitar na orgulhosa civilização européia.

As paredes do campo de extermínio de Auschwitz estão vivas. Elas ainda guardam a dor de pais que perderam seus filhos, maridos que viram, impotentes, suas esposas serem devoradas pelos anjos da morte, seus pais, alguns já anciâos, padecerem a vergonha da nudez e a dor da separação imposta pelo espírito da morte. Tudo muito limpo e organizado, como convém ao espírito germânico, enlouquecido pelo ódio ou silenciado pelo medo.


Figura 6: Divaldo autografando

Passadas quase seis décadas, ergamos nós, espíritas, uma prece pelos algozes e por aqueles que se endureceram após a morte no desejo igualmente louco de vingança, aqueles que se ataram aos perseguidores, na sanha insana de obter alívio repetindo os gestos e atos dos atormentados. Não permitamos que o mundo esqueça do que é capaz o homem e não esqueçamos nós o que trazemos no fundo de nossa alma, para que o passado não retorne ao presente e Wotan continue adormecido com seus guerreiros e seu fogo destruidor.

Figura 7: A Diretora do Centro de Cultura oferece flores a Divaldo Franco

Texto: Jáder Sampaio
Fonte: Délcio Carvalho
Fotografias: Autor Desconhecido
Agradecimentos: Ubirajara Costa

26.6.11

LIVRO TEMÁTICA ESPÍRITA FOI DIVULGADO EM MINAS GERAIS


A União Espírita Mineira abriu as portas da recém-inaugurada sede federativa para a divulgação do livro "A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea" no último 28 de maio. A iniciativa visava a apoiar a impressão do novo livro com os trabalhos do 6o. Encontro Nacional da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo.



Estiveram presentes pouco menos de 100 pessoas numa manhã ensolarada de sábado, dispostas a conhecer e perguntar


Apresentei o trabalho da LIHPE e do CCDPE, seus livros e publicações. A seguir, a Dra. Angélica apresentou sua trajetória acadêmica na área de História com temas ligados ao movimento espírita. O Espiritismo em Três Rios, o espiritismo visto pela psiquiatria como uma fábrica de loucos, no período da legitimação das duas práticas no Brasil e o trabalho de Dr. Inácio Ferreira foram alguns dos temas pesquisados em diversas fontes, com máscara e luvas, para voltarem à luz do conhecimento público.



Alexander Moreira-Almeida discutiu estratégias de pesquisa de temas espiritualistas na Universidade. Falou de seu trabalho experimental com médiuns de São Paulo, visando a identificar suas patologias. Mostrou números que mostram como o espiritismo tem sido estudado muito além de outros temas caros à cultura brasileira, como o movimento evangélico e as religiões afro-brasileiras. Compartilhou com os presentes justificativas científicas e sociais para se apresentarem em projetos de pesquisa a serem submetidos a agências de fomento.


Depois de uma hora de apresentações, vieram as perguntas e comentários do público, que dialogou com a mesa e propôs questões interessantes. Lamentavelmente o tempo foi ficando curto, e passou-se ao lanche e aos autógrafos.


O dia continuava claro e fez-se um clima de cordialidade e informalidade respeitosa entre todos. 


À mesa os autógrafos e a divulgação do MEDNESP pela Júlia, e ao fundo...



... um café acompanhado de biscoitos e quitutes bem mineiros.



As final as flores da decoração foram distribuídas entre a equipe e a União Espírita Mineira, que tão bem nos acolheu.


Uma foto final da equipe de trabalho e remanescentes, aqueles que gostam de aproveitar um dedo de prosa até o último minutim...

25.6.11

FEDERAÇÃO ESPÍRITA PORTUGUESA PUBLICA MAPA DE ATIVIDADES


Figura 1: Mapa de Atividades (clique para ampliar)

Durante a ditadura de Salazar o movimento espírita português foi fortemente reprimido e perseguido em Portugal. Ainda se arrasta na justiça (ao que sabemos) um processo tentando obter a propriedade e posse da sede da antiga Federação Espírita Portuguesa, desapropriada arbitrariamente pelo estado português.

Como na idade média, estado e religião deram-se as mãos e a paranóia ditatorial-militar proibia quaisquer reuniões, com medo de reações a um regime mantido pela força.

Durante muitos anos, o movimento português agiu na clandestinidade. Temos notícias de brasileiros corajosos, como Divaldo Franco, que mantiveram agregados e ativos os espíritas que resistiram à imposição ideológica do estado militar.

Hoje, passados os anos o movimento floresce mais uma vez, como uma árvore que perdeu todas as suas folhas para enfrentar o longo inverno da incompreensão, mas manteve firmes suas raízes sob o solo branco e a temperatura glacial.

Segue acima uma iniciativa interessante e agregadora. A Federação publicou um mapa de atividades, no qual se visualizam as iniciativas da FEP e de outras organizações portuguesas.

O Brasil tem um movimento mais institucionalizado que Portugal, em função da sua história. Assim, federativas e centros espíritas promovem eventos continuamente, muitas vezes sem que um consulte a disponibilidade dos outros, o que causa esvaziamento.

Um bom exercício federativo seria as sociedades espíritas trocarem seus calendários e acordarem entre si uma data ou duas por período (semestre ou ano) para participarem juntas de algum evento promovido pela Federativa, o que seria um sinal de prestígio e união, de esforços conjuntos das entidades participantes de um movimento maior que elas próprias.

A federativa, por sua vez, ficaria com o encargo de organizar e receber uma grande massa de espíritas, e promover um evento pontual mas atraente. Não apenas aprender ou discutir, mas confraternizar e conhecer uns aos outros seria um passo importante contra uma tendência de ação amorfa e inexpressiva da divulgação, como já antevira no final do século XIX o célebre Bezerra de Menezes.

Figura 2: Mapa de Atividades para o segundo semestre de 2011 (clique para ampliar)

6.6.11

OS TRABALHADORES DA VINHA


Judeus trabalhando na vinha

Jesus falava às massas e utilizava um recurso curioso para que seus ensinos e histórias permanecessem nas mentes dos que o assistiam. Ele escolhia narrativas de conclusão insólita, aparentemente injusta, o que faz com que todos se questionem: o que ele quer dizer com isso?

As parábolas instigantes sobreviveram ao tempo.

A parábola dos trabalhadores da vinha é conhecida no meio espírita como a parábola dos trabalhadores das diversas horas do dia. Kardec dedicou um capítulo inteiro ao seu comentário em "O Evangelho Segundo o Espiritismo".

Contexto

A história é contada apenas no capítulo 20 do evangelho de Mateus, o que não deixa muitas pistas sobre o contexto. No capítulo 19, Jesus parece estar instruindo seus discípulos e apóstolos. Ele fala dos eunucos pelo amor do reino de Deus e do perigo das riquezas (a história do moço rico).


As Relações de Trabalho

No Deuteronômio, um dos livros do pentateuco moisaico, encontram-se regras para a contratação de trabalho (24:14-15). Os pagamentos eram diários, e era proibida a exploração do trabalhador pobre. Iahweh afirma aos empregadores que não se esquecessem que a vida do trabalhador pobre e de sua família depende do pagamento da jornada de trabalho.

Um bom conselho para os dias de hoje, mas interessa-nos saber que era comum e usual a contratação de trabalhadores no período apontado por Jesus.


Denário Romano de Prata


No império romano à época, era usual o pagamento do dia de trabalho com o valor de um denário, que valia "dez asses" (daí a origem do nome), e segundo a wiki era suficiente para comprar 8 quilos de pão, ou seja, permitia com sobra a alimentação de uma família.

A história


Vinha


Como a maioria das parábolas, Jesus conta a história para referir-se ao Reino dos Céus. Um dono de vinha sai em busca de trabalhadores e os encontra no mercado no início do dia. Acerta com eles o pagamento de um denário e os envia para a vinha. Como o número de trabalhadores fosse insuficiente, o dono da vinha volta na terceira hora, na sexta, na nona e na undécima hora. Em todos os casos pergunta aos tabalhadores por que estavam na praça e todos alegam que não conseguiram trabalho. Ele oferece-lhes trabalho sem negociar valores. No momento do pagamento, ele dá um denário a todos, a começar dos trabalhadores da última hora, que trabalharam apenas uma hora ou menos, o que gera murmúrios e reclamações entre os que trabalharam doze horas. O dono da vinha (que também é pai de família) reafirma o cumprimento do acordo feito no início do dia e pergunta-lhes: "é mau o teu olho porque eu sou bom?"

Jesus conclui a história com a famosa frase: "os últimos serão primeiros e os primeiros serão últimos."

Interpretação

Em "O evangelho segundo o espiritismo", Kardec publica quatro comunicações de espíritos que se referem à parábola. Constantino (Bordeaux, 1863) interpreta os trabalhadores da última hora aos espíritas e recomenda que empreguem bem sua existência, que não é mais que "um instante fugidio na imensidade dos tempos".

Outra comunicação é de Henri Heine (Paris, 1863), que considera Moisés, os apóstolos cristãos, os mártires cristãos, os pais da igreja, sábios e filósofos como os trabalhadores das diversas horas do dia, e reafirma entender os espíritas como trabalhadores da última hora.



Heinrich Heine


Erasto (Paris, 1863) recomenda aos espíritas que divulguem a reencarnação e a elevação dos espíritos, e antecipa que os grandes desprezariam seu discurso, os sábios exigiriam provas e os humildes a aceitariam.

Por fim, o Espírito Verdade, considera ditosos os que trabalharem nos campos do Senhor (a Terra) sem interesses e motivados pela caridade.


Reflexões de Espíritas: Schutel e Vinícius 


Cairbar Schutel escreveu em seu "Parábolas e ensinos de Jesus" algumas páginas explicando a parábola e comentando-a. Ele encontra justiça na atitude do dono da vinha, argumentando ser possível que os trabalhadores da undécima hora tivessem se esforçado mais que os demais.


Cairbar Schutel


Schutel foi muito perseguido pela igreja  católica de sua época e parece fazer um desabafo em seu texto, criticando espíritas que não se afirmavam publicamente como tal, escolhendo o trabalho do atendimento aos espíritos, por exemplo. Entendo sua situação, mas não consigo ver a questão da mesma forma, passadas muitas décadas.

Vinícius dedicou dois capítulos de livros a comentar o tema.

Ele também traz o parábola para os dias de hoje, e compara o ato dos trabalhadores da undécima hora ao da viúva do gazofilácio, que Jesus destaca não pelo volume dos resultados, mas pelo sentido subjetivo do ato. Ao contrário da tradição beneditina e taylorista, Vinícius valoriza o trabalho em si, e não o tempo de trabalho.



Ele desenvolve seu pensamento de tal forma que parece estar escrevendo para os dias de hoje. Fala de pessoas que se "exaurem em uma labuta febril e penosa", querendo ser mais meritória aos olhos de Deus.

Pedro de Camargo fala de espíritas que negligenciam seus deveres familiares, profissionais e sociais em função de uma agenda cheia de compromissos espíritas visando, calculistas, serem mais merecedores aos olhos de Deus. Vinicius destaca outra frase do Cristo: "Misericórdia quero e não sacrifício"

1.6.11

TRATAMENTO DE SAÚDE E ESPIRITISMO

Na última sexta-feira o programa Brasil das Gerais, da TV Minas, os Drs. Alexander Moreira-Almeida, Angélica Silva e o Psiquiatra Roberto Lúcio discutiram com a simpática Roberta Zampetti a relação e fronteiras entre Psiquiatria e Espiritismo/Espiritualidade.

Vale a pena conferir.





Primeira Parte do Programa


Segunda Parte do Programa



Terceira Parte do Programa

26.5.11

DIÁLOGO COM OS CÉTICOS

Selo dos Correios Ingleses em Homenagem a Wallace


Ceticismo é uma posição filosófica que aponta a inseguraça dos homens em produzir conhecimento sobre a natureza interna dos objetos. Embora haja diferentes autores e graus diferentes de ceticismo, um de seus questionamentos se volta à existência dos espíritos (almas dos mortos).

Com o passar do tempo, os céticos influenciaram bastante os cientistas, especialmente os que se encontram trabalhando no contexto das ciências naturais. Eles buscam explicar a natureza a partir da natureza, e não aceitam como válidas quaisquer explicações que tenham como base a ação de espíritos, divindades, etc.

O imenso avanço das ciências naturais nos últimos séculos tem sido um dos principais baluartes para a justificativa do materialismo que se tornou uma espécie de doutrina de fundo da Física, da Química, da Biologia e de outras ciências da natureza.

Alguns pensadores do empirismo chegaram a afirmar que é impossível produzir conhecimento válido sobre Deus e os Espíritos, e isso se tornou uma espécie de pressuposto do trabalho científico atual. Este tema foi varrido para as ciências humanas e sociais e, quando muito, para a Filosofia, que teria a Teologia como uma espécie de irmã menor.

Essa é a posição de David Hume, no capítulo 10 do seu famoso livro, "Uma Investigação Acerca do Conhecimento Humano", intitulado "Sobre os Milagres".

Se o século XIX foi pródigo para os empiristas, ele trouxe consigo uma tendência menor, também varrida para debaixo do tapete, que foi a reação espiritualista e espírita.

Na Inglaterra, um dos cientistas desta época que estudou fenômenos espirituais com métodos empíricos e adotou posições espiritualistas foi Alfred Russel Wallace. Ele é menos conhecido no Brasil que seu co-autor na Teoria da Evolução das Espécies com base na Seleção Natural, Charles Darwin.

Já publiquei em outros posts alguma informação sobre o trabalho espiritualista de Wallace e comuniquei um livro dele que traduzi para o português sob o olhar cuidadoso da Editora Lachâtre: O Aspecto Científico do Sobrenatural. A edição com 2000 exemplares se acha esgotada, hoje, tal o interesse que despertou no meio acadêmico e espírita.

Está em fase de revisão um novo livro de Wallace, que foi intitulado "Diálogo com os Céticos". Neste trabalho o naturalista inglês apresenta os principais argumentos de Hume no livro citado acima e os desconstrói, defendendo a possibilidade de se estudarem os Espíritos (que ele chama de inteligências invisíveis, sobre-humanas, e outros sinônimos) com métodos do empirismo, que é um dos pilares da ciência natural moderna.

É um texto importante não apenas para o movimento espírita, mas para a história da ciência, e até o momento desconhecemos uma tradução na língua portuguesa.

O livro deve sair das gráficas em julho ou agosto deste ano. Aguardem.

21.5.11

NOVO LIVRO DA COLEÇÃO ESPIRITISMO NA UNIVERSIDADE

Figura 1: Convite para os lançamentos do livro O Movimento Espírita Pelotense


"Segundo os dados do censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pelotas é a segunda cidade do Rio Grande do Sul com o maior número de pessoas que se declara espírita. Enquanto a média de espíritas do Estado é de 1,8% da população, nessa cidade esse número sobe para 5,86% dos entrevistados. Este trabalho procura compreender o que fez de Pelotas uma cidade com tão expressivo número de pessoas que se identificam como espíritas. Não se trata de uma pesquisa quantitativa com vistas a comprovar se Pelotas de fato tem um número maior de espíritas do que outras cidades do RS, mas sim de uma investigação qualitativa através da qual se buscou entender o processo de formação do Movimento Espírita Pelotense e de uma identidade espírita na cidade de Pelotas. Nesse sentido, foi feita uma reconstituição histórica desde o surgimento da doutrina espírita na França, sua inserção na sociedade brasileira e sua penetração em Pelotas durante o último quartel do século XIX, buscando-se compreender como se constituiu um movimento espírita na cidade e como se formou a identidade social das pessoas que se identificam como espíritas. Além de uma pesquisa com base em documentos e entrevistas através da qual se procurou entender o processo histórico de estruturação e desenvolvimento do Movimento Espírita Pelotense, foi realizado também um trabalho de campo no qual se buscou determinar os elementos constitutivos de uma identidade espírita nessa cidade e de um ethos e ela associado, na perspectiva de se explicar o que determinou essa associação de uma parcela tão significativa da população pelotense com o espiritismo." (Resumo de Marcelo Freitas Gil sobre seu livro)

Contamos em outra publicação no blog a história inicial da Coleção Espiritismo na Universidade, organizada pelas Dras. Nadia e Cléria, da Universidade de Franca (UNIFRAN). Confiram: http://espiritismocomentado.blogspot.com/2010/02/venda-o-primeiro-livro-da-colecao.html


Figura 2: Livros da Coleção - Clique para ampliar

19.5.11

BRASIL DAS GERAIS DISCUTE PSIQUIATRIA E ESPIRITUALIDADE


Roberta Zampetti



Está programada para o dia 27 de maio, sexta-feira, às 20 horas, na TV Minas uma entrevista com o Dr. Alexander Moreira-Almeida sobre ciência e religião. Um dos temas que deve ser discutido é o livro "A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea" Confiram.


PS: Para não parecer uma cena do livro 1984, de George Orwell, houve uma mudança na programação e será discutida a relação entre Psiquiatria e Espirtualidade. O livro não será objeto de discussão. Confiram assim mesmo.

18.5.11

DIVALDO FRANCO EXPLICA COMO APLICAR PASSES




Video: Divaldo Franco explica e demonstra aplicação de passes.

Em um vídeo de pouco mais de 9 minutos, Divaldo Franco, médium baiano, explica como aplicar passes de forma simples e não ritualística, propondo cuidados diversos aos passistas. (Obtido em http://grupoallankardec.blogspot.com/)

14.5.11

SERÁ LANÇADO LIVRO QUE APRESENTA TESES UNIVERSITÁRIAS REFERENTES AO ESPIRITISMO

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR


Há cerca de dez anos recebi na minha caixa de e-mails um convite para participar da LIHPE, hoje chamada Liga de Pesquisadores do Espiritismo. Conversei com os seus idealizadores, Eduardo Carvalho Monteiro e Milton Bonfante Piedade. Eduardo tinha um grande interesse pela memória do movimento espírita e o Milton era um espírito empreendedor, que deu visibilidade ao projeto na internet e trabalhou incansavelmente como articulador de interessados de dois continentes.
Com o tempo, foram organizados encontros presenciais, inicialmente dos interessados de São Paulo e posteriormente encontros nacionais.
Eduardo começou, entre outras frentes de atividades, a atrair trabalhos dos membros e a publicar, com o auxílio da editora Madras e o selo do Centro de Documentação Histórica, que ele coordenava na USE. Os primeiros três livros chamaram-se "Anuário Histórico Espírita", e eram um misto de trabalhos acadêmicos, trabalhos de cunho jornalístico e opinativo. Hoje se encontram praticamente esgotados, ainda sendo possível encontrar um ou outro em alguma livraria espírita.
Sediamos um dos encontros nacionais em Belo Horizonte, em 2004,sempre com o apoio da União Espírita Mineira, da Associação Espírita Célia Xavier e de trabalhadores das mais diferentes casas espíritas da capital mineira. Recebemos participantes de diversos estados do sudeste. Os resultados foram sintetizados e publicados em forma de um comunicado público que se encontra ainda hoje no GEAE http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae482.html
Paralelamente ao trabalho da LIHPE, Eduardo e um grupo de amigos obtiveram um imóvel no Planalto Paulista (São Paulo - Capital) e iniciaram reformas para a criação do que chamaram de "Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo. Ele próprio tinha um acervo enorme de livros e documentos em sua casa e desejava que o trabalho de sua vida não se desfizesse após a sua desencarnação. Esta foi breve e inesperada, fruto de uma infecção e semanas de internação.
O CCDPE ganhou o nome de seu fundador e idealizador e passou a ser administrado pela família e por membros do movimento espírita. A LIHPE ficou um tempo desarticulada, mas funcionando em seu espaço virtual, e ganhou continuidade após a organização do 4o. ENLIHPE em parceria com o CCDPE-ECM. Desde então, temos nos reunido anualmente em São Paulo e aperfeiçoado o evento.
Embora boa parte dos espíritas brasileiros defendam uma concepção tríplice do Espiritismo: uma dimensão religiosa (outros preferem apenas moral), uma filosófica e uma dimensão científica, são escassos na literatura brasileira os trabalhos genuinamente científicos, especialmente contemporâneos. Muitas pessoas confundem especulações com termos geralmente empregados nas ciências com trabalho científico, e o movimento tem uma grande dificuldade em entender a(s) metodologia(s) científica(s), sua comunidade e sua produção. Mesmo as produções de caráter genuinamente filosófico, são recentes e pontuais no Brasil, salvo exceções.
O que os herdeiros do ENLIHPE decidiram foi dar ênfase e criar um espaço onde este tipo de produção (científico-filosófico) pudesse ser exposto e publicado. Aos poucos observamos que o aumento significativo de vagas em universidades e cursos de pós-graduação no Brasil marcaram um acesso de muitos espíritas à Academia, e despertou interesse de acadêmicos pelo Espiritismo como fenômeno social e cultural.
Marco Milani listou mais de 50 teses e dissertações relacionadas ao Espiritismo, o que foi publicado no livro "Pesquisas sobre o Espiritismo no Brasil". Esta produção acha-se ainda dispersa por bibliotecas e periódicos nacionais, principalmente. Tiago Paz ampliou esta lista no 6o. ENLIHPE e está tentando agrupar os textos integrais de teses e dissertações em um site. http://pesquisandoespiritismo.4shared.com/
Uma das diretrizes do ENLIHPE tem sido dar espaço para a comunicação dos trabalhos universitários de pesquisa e publicá-los, sem distinção de área de conhecimento. A ideia de uma LIHPE centralizada na História ampliou-se para uma LIHPE multidisciplinar.
Perdoe o leitor se me estendo. Esta introdução toda é para explicar o que é este livro que estamos lançando em BH no dia 28 próximo. Ele tem os trabalhos que foram selecionados por uma comissão, dos que foram apresentados no 5o. ENLIHPE.
Ao contrário do que se pensa, não são trabalhos complicados, herméticos. São muito claros, porque foram escritos pensando em ser comunicados para pessoas de diversas formações e não apenas para especialistas.
Eles trazem novas informações e recuperam informações esquecidas, preciosas para os que realmente estudam o Espiritismo e seu movimento.
Esta ação teve um impacto ainda tímido, mas esperado. Muitos interessados passaram a perceber que o Espiritismo é um objeto de estudo legítimo de suas respectivas áreas de conhecimento e a procurar os autores para trocar ideias, pesquisar conjuntamente, buscar orientações...
Por esta razão queremos dar visibilidade ao livro e a este conjunto de ações da parceria LIHPE-CCDPE em Belo Horizonte. Estamos próximos ao 7o. ENLIHPE e a inscrição de trabalhos está aberta. O livro com os trabalhos do 6o. ENLIHPE está no prelo e outras publicações têm surgido. Os autores têm se aproximado uns dos outros, formando o que chamamos de massa crítica.
Alexander mantém na UFJF um núcleo que pesquisa Saúde e Espiritualidade, com publicações regulares em revistas científicas brasileiras e internacionais, participação em congressos e outros sinais de vitalidade acadêmica. O trabalho que ele escreveu em conjunto com o Klaus para o livro, já foi aceito e apresentado na Europa em congresso científico. Sua experiência é muito rica e ficamos felizes quando ele aceitou o convite para vir a BH compartilhar conosco um pouco de seu conhecimento e vivência. Ficamos ainda mais entusiasmados quando a Angélica, autora de uma tese de doutorado em História importante sobre Psiquiatria e Espiritismo na primeira metade do século XX tambéms se dispôs a vir e conversar conosco. Ela redigiu um trabalho importante no "Temática Espírita" sobre Inácio Ferreira e seu trabalho enquanto médico encarnado.
Por todas estas razões, acrescidas à curiosidade natural de conhecer a nova sede administrativa da União Espírita Mineira, que nos recebeu de braços abertos, convidamos a todos para participar deste lançamento-encontro e apoiar este projeto que consideramos importante para as novas gerações de espíritas que estão chegando.

7.5.11

POR QUE ORAR PELOS ESPÍRITOS?


Foto 1: Vista de Castelnaudary


Um historiador ou antropólogo que visse espíritas em oração talvez associasse imediatamente esta prática com as religiões antigas e a magia primitiva, que propunham um tipo de vínculo ou comunicação com a(s) divindade(s). Ao mesmo tempo, hoje, dificilmente estes profissionais associariam o ato ritual de lavar as mãos dos cirurgiões com a prática ritual judaica, que se tornou objeto de controvérsias nos Evangelhos.

Hoje se acha incorporada ao senso comum a ideia de micróbios e outros microorganismos, que já foi objeto de ridículo na História da Medicina. Talvez por isso ninguém mais se recorde do tempo em que lavar as mãos era apenas um ato de fé ou um respeito à tradição.

O trabalho de Allan Kardec está repleto de comunicações de espíritos que solicitam aos espíritas franceses que orem por eles, e alguns casos são estudados, mostrando o efeito das preces sobre o psiquismo do desencarnado.

Um dos casos que se acha documentado intitula-se "o espírito de Castelnaudary" e pode ser lido no livro "O Céu e o Inferno". Castelnaudary é uma cidade no sudeste francês, próxima a Tolouse, na qual se encontrava uma casa considerada assombrada e exorcizada em 1848, sem qualquer diminuição dos fenômenos, um dos quais foi uma bofetada de mão materializada na face de um herdeiro do imóvel.

Os membros da Sociedade de Paris evocaram o espírito que habitaria nesta casa em 1859 e tiveram o apoio de São Luís para entender o que se passava.

O espírito evocado explicou tratar-se de um antigo dono, que cometera dois crimes naquela casa, vindo a falecer sem qualquer punição da justiça humana em 1659, com 80 anos. Sua imagem guardava relação com o estado íntimo: uma camisa ensanguentada e um punhal à mão, extremamente perturbado e violento.

Os colegas de Allan Kardec perguntam a São Luís como ficar livres deste tipo de obsessor, ao que o orientador espiritual responde ser necessário orar por eles.

Eles investigam mais a fundo a questão, perguntando se a prece sensibilizaria os espíritos ao mesmo tempo perversos e inteligentes. O mentor esclarece que para aproveitar a prece o espírito precisa arrepender-se do mal que tenha feito, mas que mesmo para este tipo de espírito se deveria orar, para que os pensamentos, mais cedo ou mais tarde, possam sensibilizá-lo e vencer seu cinismo.

Kardec relatou as comunicações deste espírito e de outros envolvidos com ele por dez sessões (duas delas na casa do Sr. F...), e destacou a coerência das informações fornecidas. O leitor consegue acompanhar as mudanças que se operam na consciência dele, as explicações que ele dá sobre os efeitos da prece e a evolução relativamente rápida que sofre, se considerarmos que se encontrava ligado ao local dos crimes por duzentos anos.

Este é apenas um dos casos relatados por Kardec em sua extensa obra. Faz-nos pensar mais sobre o efeito da oração sobre os espíritos e muda bastante a consideração da prece como ato automático ou de auto-punição, tornando-a um meio de comunicação e influência entre as almas.

4.5.11

QUEM FOI FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ?






A RBS TV, associada da Rede Globo no Rio Grande do Sul, produziu um documentário sobre Francisco Valdomiro Lorenz, autor de diversos livros publicados pela FEB. Personalidade marcante e cultura vasta, Lorenz deixou marcas por onde esteve. O movimento espírita precisa recuperar mais informações sobre a vida deste espírita ilustre.



30.4.11

O RETORNO DE BEREMIZ: O HOMEM QUE CALCULAVA E CONTAVA HISTÓRIAS


Imagem da Capa do Livro



Na minha juventude tive um contato muito intenso com o autor Malba Tahan. O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais tinha uma ou duas coleções completas de obras do autor, incluindo um livro pedagógico, e eu já o apreciava desde a infância, quando ganhei o então best seller “O Homem que Calculava”.
Os livros de Malba Taham eram repletos de histórias e expressões da cultura árabe, que encantavam pela sua simplicidade e pelo enredo sempre engenhoso. Eu me sentia transportado ao mundo de As Mil e Uma Noites, diante de uma cultura completamente diferente da nossa, exótica e atraente. Estávamos em uma época na qual não havia polarizações políticas nem preconceitos tão exacerbados pela imprensa contra os muçulmanos. Malba criava uma admiração pela sabedoria antiga deste povo e um desejo de conhecer mais, de voltar no tempo para viver no meio de um mundo de desertos, camelos, oásis, suras e matemática.
Há alguns anos (2001) a editora Lachâtre publicou um livro de um médium pouco conhecido, Wallace F. Neves, que teve seu primeiro contato com a inspiração do espírito na Casa Espírita Cristã de Vila Velha-ES. Conheço há décadas o editor e a editora e sei que ele é bastante comedido na publicação de obras mediúnicas, o que me causou um “interesse intrigado”.
Há alguns dias resolvemos trazer o livro ao nosso momento de leitura e comentários cristão-espíritas em nosso lar. Abrimos o livro meio ao acaso e começamos a leitura do texto “O Sheik Infeliz”. Minha filha de 9 anos foi lendo, tropeçando nas palavras e perguntando sobre as expressões árabes e ao final do capítulo percebemos que era o início de uma história maior. Tentamos imaginar como a história terminaria e fiquei encarregado de ler e sintetizar todos os demais capítulos de “O Homem do Turbante Azul”.
Iallah! Escreveria Malba Tahan... Encontrei personagens, situações e até mesmo uma história cuja estrutura e linguagem remonta à célebre “Os 35 camelos”.
Penso que este livro agradaria a Allan Kardec, que sempre procurou elementos comuns entre o pensamento cristão e o pensamento islâmico. O Espiritismo Cristão tempera as letras do falecido Prof. Júlio César de Melo e Souza, é uma espécie de sombra que acompanha seu imaginário de encarnado.
Fiquei imensamente surpreso quando, na semana seguinte, minha filha conseguira guardar detalhes do capítulo que leu, apesar das dificuldades da linguagem, quando minha esposa e eu ficávamos à busca dos episódios já semi esquecidos. Parece que a pedagogia da infância, tão marcante na herança intelectual de Malba, continuava “marcando pontos” do mundo dos espíritos.
Narrei a história e minhas duas filhas se interessaram, tentaram adivinhar o curso da narrativa e ao mesmo tempo que anteciparam, surpreenderam-se com o fecho, que foge da lógica Agostiniana e Luterana que marcou nossa cultura.
Fiquei muito gratificado e recomendo sem hesitação a leitura e a divulgação deste livro. Uma sugestão que deixo aos leitores e que não deve deixar de ser ouvida é que comecem a leitura pela segunda parte do livro, exatamente a saga de Assur-bem-Naif, “O Homem do Turbante Azul”, deixando “O Contador de Histórias” para o final.
Uassalã!

O Contador de Histórias
190 páginas
Lachâtre
2001

18 x 21 cm