14.10.15

HERCULANO PIRES E A PARAPSICOLOGIA




Já faz um ano que a Fundação Maria Virgínia e Herculano Pires me convidou para falar do livro de Herculano: Parapsicologia, hoje e amanhã. Fui deixando a publicação para depois, em função de alguns errinhos que cometi na fala, geralmente trocas de nomes. Passado tanto tempo, acho melhor deixar o trabalho ao leitor, que pode ir comentando os equívocos. Peço desculpas antecipadas, porque estava bem febril neste dia.

Agradeço de coração à família de Herculano que me recebeu como se fosse "de casa", aos amigos do CCDPE-ECM que nos auxiliaram durante a estada em São Paulo e a todos os interessados que foram ao evento e fizeram uma bela discussão.

Expresso minha admiração por Herculano Pires, que mesmo sem ser formado na área de parapsicologia ou psicologia, deu mostras de um conhecimento íntimo e de acompanhar o que se publicava na época, apesar de todas as dificuldades de trânsito de informação que existia, então.

6.10.15

PRIMEIRA FEIRA DO LIVRO ESPÍRITA DA UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA



A União Espírita Mineira está divulgando sua trigésima terceira feira do livro espírita, o que me fez recordar da primeira. As primeiras Feiras do Livro Espírita foram organizadas em um conjunto de duas ou três lojas em uma galeria na Praça Sete. 

Papai (José Mário) ainda estava encarnado àquela época e veio-me à mente que era Oswaldo Abreu quem a organizava. Oswaldo era comerciante e depois formou-se em psicologia, era irmão mais novo de Honório e Lúcio Abreu. Eu já não media muito o que dizia àquela época, então, ainda adolescente, questionei Oswaldo por que a feira não era feita em público, por que ainda estava escondida.

Ele me respondeu que ainda não estávamos prontos para isso.

Uma ação interessante que fizeram, foi levar as lideranças da União Espírita Mineira à feira, para que as pessoas pudessem não apenas comprar livros, mas conversar com os "plantonistas". Isso era visto como uma "tarefa", e recordo-me de ir no horário em que papai lá estava.

Depois desta, auxiliei uma feira do livro espírita ao ar livre, feita na praça principal da cidade de Montes Claros. Foi no início dos anos 90, e o contato com as pessoas era muito interessante. Houve um evangélico que ficou pouco indignado de ver espíritas na praça pública e resolveu conversar sobre evangelho. Ele não era fanático, apenas um religioso que não conhecia o espiritismo, e depois de conversar um pouco e ver que tínhamos conhecimento bíblico, ele ouviu os apelos da esposa que dizia: - Fulano, deixa para lá.

Houve também o espírita indignado com os preços dos livros, argumentando que encontrava preços melhores na livraria da União. Algumas pessoas se achegavam curiosas. Outras apenas viam com o "canto de olho" curioso, a expressão interrogativa e ao mesmo tempo um pouco temerosa do novo movimento que transformava a praça por onde se passa todo dia. 

Era também uma oportunidade de encontrar confrades dos diversos centros espíritas. Eles nos saudavam carinhosamente, com um olhar de satisfação, pediam indicações, faziam questão de dizer: - Sou do Canacy (o nome de um Centro Espírita tradicional em Montes Claros), sou do Sobreira, e se descortinavam os centros espíritas da "princesa do norte", ou então perguntavam: - De onde vocês são?

- Por que vocês não vendem o livro que foi psicografado por médiuns daqui da cidade? Perguntou-me um interessado. Eu me recordei de uma coletânea de mensagens, talvez publicada há mais de uma década, que ainda tinha dezenas de exemplares no Allan Kardec, mas estavam em mau estado. Eu o conhecia, por que desde aquela época já tinha interesse na memória do movimento espírita, mas nunca tinha visto ninguém citar este livro ou alguma de suas mensagens na reunião de estudos. Fico pensando até hoje se o cliente não seria um dos médiuns ou parente de um dos médiuns, e lamentei não ter um dos livros para presenteá-lo.

Não importa qual feira, sempre tive um imenso prazer em estar com os companheiros do centro espírita, em tarefa. Não importava o sol de quarenta graus, nem os apertos com o troco era sempre uma alegria estar junto em trabalho para a divulgação do espiritismo na sociedade. Nunca fui hostilizado por ninguém, e mesmo o diálogo franco com o casal evangélico foi pautado pelo respeito.

As feiras ficaram no passado, as do nosso Célia Xavier são organizadas pelos funcionários e pelo responsável pela livraria, acho que a correria da capital não está permitindo transformarmos esta tarefa em uma atividade prazerosa e de encontro. As pessoas vêm atraídas pelos descontos, mas e o algo mais? 

Passados trinta anos, cada casa tem a sua feira do livro espírita, que não é bem uma feira, mas um "esforço de vendas". Como é a sua vivência, leitor? Ir à feira do livro espírita é para você uma experiência de encontro e troca, ou apenas um lugar para economizar uns reais?

3.10.15

EM BUSCA DA LITERATURA ESPÍRITA INFANTO-JUVENIL


Nos corredores do 1o. Encontro da Cultura e Pesquisa Espírita - XII Colóquio França-Brasil, estávamos conversando sobre a literatura espírita para adolescentes. É uma demanda muito específica, seja pelo tipo de interesse literário, seja pela linguagem, que está cada dia mais distante da que foi utilizada no início do século XX.

Recentemente, decidimos estudar "O Evangelho Segundo o Espiritismo" em nossa reunião familiar. Tenho duas filhas "teenagers", uma no começo e a outra no fim da adolescência. 

Nossa reunião sempre se direcionou pela compreensão do sentido do que líamos. Minhas filhas têm muita liberdade para perguntar as palavras que não entendem e sempre discutimos o conteúdo do que lemos.

Ao ler "O Evangelho Segundo o Espiritismo" no original, houve uma dificuldade de ler o texto (usamos a tradução de Guillon Ribeiro), e um aumento da dificuldade de entendê-lo, pelas muitas paradas, palavras "engasgadas" e desconhecidas. Optamos então por prepararmos a leitura, os pais, e apenas explicar o conteúdo, o que não foi de agrado geral.

Semana passada minha esposa encontrou no meio de seus livros de evangelização, "O evangelho segundo o espiritismo para jovens", escrito por Laura Bergallo, que é uma escritora premiada por seus livros infanto-juvenis e editora.

Minha filha de treze anos dispôs-se a ler a parte "Diferentes categorias de mundos habitados", após a reclamação de que este assunto já havia sido muito estudado no Centro Espírita. Ela leu fluentemente e entendeu a parte. Sobreveio uma discussão conceitual sobre a diferença entre mundos felizes e mundos divinos. Houve alguma decepção com a classificação do nosso planeta na escala de Kardec. Enfim, o texto foi lido, seu sentido compreendido e discutido, que é o que mais esperamos em uma reunião familiar. 

Ainda não li o livro como um todo, mas vou correr o risco de recomendá-lo, assim como "O livrinho dos espíritos" que a autora publicou pelo Centro Espírita Léon Denis, segundo encontrei  na internet.

28.9.15

PROMOÇÃO DA EDITORA LACHÂTRE



O Instituto Lachâtre tem sido nosso parceiro na publicação dos livros psicografades e traduzidos. Já está quase no fim a revisão do texto de mais um livro de Alfred Russel Wallace.

Recentemente o Instituto lançou uma promoção de combos envolvendo os autores que publicam: Hermínio Miranda, Palhano, Ada May, Amália Domingo Soler, Mauro Camargo, Wallace Neves e muitos outros. 

Os livros "O observador e outras histórias" (composto de psicografias de depoimentos de Espíritos) e "Casos e descasos na casa espírita" (histórias do Espírito Conselheiro, sobre situações polêmicas nos centros e no movimento espírita) estão com um bom desconto (20%), se comprados juntos. Confiram:


26.9.15

RECUPERADO FILME SOBRE O PRIMEIRO CONGRESSO DE MOCIDADES ESPÍRITAS DO BRASIL



Leopoldo Machado e Lins de Vasconcellos foram os organizadores do Primeiro Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, acontecido em 1948. Leopoldo defendia ideias de fortalecimento das atividades espíritas ligadas à ação social e aos problemas humanos. Ele intitulava de Cruzada de Espiritismo dos Vivos, estes princípios.

O vídeo parece ter sido criado como propaganda do evento, ele destaca a abertura, os apoios, as instituições que colaboraram com sua realização e os destaques, mas não apresenta o conteúdo ou suas deliberações. 

As principais ideias de Leopoldo Machado para as mocidades espíritas encontram-se no livro "Cruzada do Espiritismo dos Vivos", publicado em 1948 pela editora paulista O Clarim, de Matão-SP. Como foi publicado no mesmo ano do Congresso, não há nele informações sobre o que foi defendido ou deliberado.

O Anuário Histórico Espírita, organizado por Eduardo Carvalho Monteiro, traz mais algumas informações sobre o evento, que foram obtidas em entrevista de Thaumaturgo José Luz com Antônio Lucena.

Gabriela Araújo Costa, em sua biografia sobre Leopoldo, publicou as informações abaixo sobre o Congresso:

"Ainda em 1948, Leopoldo Machado, por sua preocupação e dedicação ao movimento espírita jovem, é convidado para presidir o I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil. Leopoldo recusa, dizendo pertencer a FEB o direito à presidência do Congresso. A FEB, por sua vez, recusa o convite, alegando já haver a União das Juventudes Espíritas do Distrito Federal. Leopoldo então aceita o convite para presidir o Congresso e, em 17 de julho de 1948, inicia-se uma das mais belas manifestações do Espiritismo de Vivos. Foram mais de 600 jovens de vários estados trocando experiências sobre o funcionamento de suas Mocidades, obras assistenciais, edição de jornais, entre outras atividades.

Transcrevemos as conclusões do evento em outra matéria do Espiritismo Comentado, baseada em um livro de Clóvis Ramos, cedido por Eduardo Carvalho Monteiro. Confira:

21.9.15

RICHARD BUONO EM BELO HORIZONTE


Caros leitores. Evito divulgar eventos no Espiritismo Comentado, deixando este espaço para o blog Eventos Espíritas, contudo, na próxima quinta-feira vamos receber o Sr. Richard Buono no auditório da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais. Buono é o atual presidente do CSF - Conselho Espírita Francês e Francófono. Convido os leitores da capital mineira e da região a prestigiar o evento.

16.9.15

AMIGOS DESENCARNADOS


Marcellin Jobard (1792-1861)

No último sábado eu estava lendo uma conferência de Kardec publicada na Revista Espírita de 1864. Era o dia dos mortos, na França, e a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas iniciou uma comemoração que se repetiria nos anos seguintes: eles se reuniriam para dar “um testemunho particular de simpatia” para companheiros espíritas que já haviam desencarnado.

Kardec nomeia os ex-membros: Jobard, Sanson, Costeau, Hobach e Poudra. Ele também nomeia alguns dos espíritos que os assistiam nos trabalhos: João Evangelista, Erasto, Lamennais, Georges, François-Nicolas-Madeleine, Agostinho (considerado santo), Sonnet, Baluze, Vianney (Cura D’Ars), Jean Raynaud, Delphine de Girardin, Mesmer e os que tomam a designação de Espírito. O presidente da SPEE destaca Luiz (considerado santo), por “tomar a sociedade sobre seu patrocínio” e lhe faz uma menção especial no discurso.

Depois da palestra, sobreveio a parte mediúnica. Não há como não se emocionar com as mensagens de alguns dos homenageados, como Sanson, que comenta que Kardec era conhecido como pessoa que não elogiava ninguém, e diz-se sentir-se orgulhoso por ter sido lembrado. Hobach dirige-se ao amigo Canu, afirmando ser ele mesmo, frase que sugere alguma conversa que tiveram enquanto Hobach estava encarnado. Costeau dirige-se à esposa, ainda encarnada, e após agradecer as preces diz-lhe “Vamos, cara amiga, consola-te! ... Consola-te porque és mais feliz que muitas outras: tens irmãos que te amam, que são felizes por ver-te entre eles”.

Deixei a leitura do texto pela metade, porque era dia de nossa reunião mediúnica e o horário urgia. Esqueci-me do texto, preocupado com as ocupações da noite, e a reunião transcorreu normalmente.


Ada Eda em 2004

Quase ao final da reunião, um dos médiuns emocionou-se bastante. Ele dialogava mentalmente com nossa Ada Eda, dirigente do grupo que desencarnou há algum tempo, mas vez por outra é percebida por alguém em nossa casa. Ela desejava conversar com todos, com seu jeito italiano, emocional, que a tornou tão querida pelos membros do grupo. O médium sabia que não seria possível uma comunicação no “apagar das luzes” e pediu que ela passasse uma mensagem curta para cada um, uma palavra, que ele pudesse memorizar para externar após o término da reunião.

Eda foi qualificando cada um dos membros: estudioso, cuidador, trabalhador, singelo, alegre... Estavam presentes mais de dez, e ela teve um adjetivo para cada um, muito pertinente com as respectivas personalidades e vidas. O médium descreveu as reações dela ante cada um dos membros. Todos nos emocionamos, então, lembrei-me da leitura da tarde e contei a todos.


Momentos como este são raros no dia a dia de um grupo mediúnico. Sei que os que nunca participaram de uma reunião talvez se sintam desapontados por não eu não estar relatando fenômenos indubitáveis, ou acontecimentos que abalem as crenças da alma mais cética. Aqueles, contudo, que frequentam uma reunião mediúnica, talvez entendam o significado do evento que uniu a distante reunião francesa de 1864 ao pequeno grupo brasileiro em 2015.

15.9.15

FRANCESES E BRASILEIROS DE DIVERSOS ESTADOS SE ENCONTRARAM NO RIO DE JANEIRO




Reinauguração do monumento na Praça Professor Rivail, em Niterói

Passados alguns dias do término do 1º. Encontro de Cultura e Pesquisa Espírita – XII Colóquio França-Brasil, somente agora consigo comunicar minhas impressões do evento.

A primeira impressão positiva foi a presença de mais de 200 pessoas dispostas a passar o final de semana discutindo o surgimento do espiritismo no Brasil e na França. A grande maioria foi de pessoas do Rio de Janeiro, local de realização, mas tivemos presenças notáveis de outros estados e países.
César Perri fez a conferência de abertura, na qual tratou dos 150 nos de “O Céu e o Inferno”, com sobriedade e erudição. Ele nos explicou uma velha dúvida, que é a ausência de uma introdução deste livro. A introdução de Kardec existiu nas primeiras edições, e foi recuperada na nova edição da FEB, traduzida por Evandro Noleto Bezerra.


Mesa de abertura: Da esquerda para a direita - Profa. Telma (UERJ), Pedro Nakano, César Perri, Paulo Sérgio, Nely, Roberto e o Diretor da Rádio Rio de Janeiro

Jorge Brito e Evandro Noleto fizeram uma mesa meticulosa, que demonstrou o cuidado de ambos com a recuperação das obras elaboradas por Kardec. Jorge é bibliófilo e tratou das edições e dos editores na França e no Brasil. Foram tantas informações que não consegui registrar, embora estivesse anotando as conferências para esta matéria que agora escrevo. Penso que este é um dos DVDs que devem ser comprados por quem se interesse pelo ´processo  da formação do espiritismo.


Marion Aubrée

Fiquei muito sensibilizado com a simpatia da Dra. Marion Aubrée. A antropóloga fez um trabalho em parceria com o Prof. Laplantine sobre o espiritismo no Brasil e na França, propondo a ideia da reexportação das ideias espíritas do nosso país para o berço do espiritismo. Ela dedicou muitos anos de sua vida estudando os dois movimentos, visitou instituições e participou ativamente do evento até seu encerramento. Já publiquei anteriormente algumas críticas que fiz ao livro “A mesa, o livro e os espíritos”, mas isso não impede a simpatia pelos esforços de Marie Jeanne. Com um olhar externo, ela pontuou muitos pontos que às vezes preferimos não ver no movimento espírita brasileiro, como os misticismos envolvendo a mediunidade de cura.
A conferência de abertura do sábado de manhã foi feita pela Dra. Nadja do Couto Valle. Uma aula de história da filosofia, que é seu campo, até a época de Kardec. O texto que Nadja publicou no livro “Em torno de Rivail: o mundo que viveu Allan Kardec” é uma síntese desta palestra, mas a fala foi ainda mais rica e cheia de informações. Outro DVD que vai interessar muito aos estudiosos da filosofia espírita.

Houve uma boa conexão entre a conferência da Dra. Nadja e a mesa que mediamos, composta pelo Dr. Alexander e pelo doutorando Marcelo Gulão, que trataram do método de Kardec. Ambos mostram como o trabalho de Kardec foi cuidadoso, e, de certa forma, considera-lo apenas como codificador não revela a dimensão de pesquisador e pensador que esteve presente na construção de sua obra. Citei o livro “A temática espírita na pesquisa contemporânea”, que contém um artigo de Alexander e Klaus sobre a metodologia de Kardec, e o capítulo que publiquei do livro “O espiritismo, as ciências e a filosofia”, que mostra como Kardec empregou a hermenêutica em seu trabalho e como ele antecipou em meio século algumas das ideias da fenomenologia de Husserl. Os livros foram muito procurados pelos presentes, quase se esgotando, tal o interesse do tema.

O Prof. François Gaudin fez uma palestra interessantíssima sobre Maurice Lachâtre, que é conhecido no Brasil apenas pelo episódio do auto-de-fé de Barcelona, mas que tem uma longa trajetória de atuação em favor das ideias socialistas e de parceria com Allan Kardec. Lachâtre, por exemplo, fundou um banco de trocas com Rivail, que chegou a ter 500 participantes, mas de vida curta. Gaudin nos apresentou a inclusão do espiritismo nos dicionários e enciclopédias de Lachâtre, que foram muito vendidos em sua época.


Luciano Klein Filho

Dos brasileiros tivemos a presença bem humorada e muito erudita de Samuel Magalhães e Luciano Klein Filho. Ambos trataram das origens do espiritismo no Brasil, especialmente no Amazonas e no Ceará, terra de Bezerra de Menezes. Ambos estudam e pesquisam seus temas há muitos anos, têm livros publicados, e conhecem com detalhes espíritas como Bezerra de Menezes e Ana Prado. A recuperação da história do espiritismo no Amazonas mostra o quão pouco conhecemos em geral da história do nosso país e do nosso movimento.

A mesa francesa, composta por Vincent Fleurot e Olivier Geneviéve, que encerrou a tarde de sábado, mostrou o esforço conjunto entre Niterói e Lyon para homenagear publicamente a memória de Allan Kardec. Hoje existe um menir de Allan Kardec em Lyon, que foi construído próximo ao local de nascimento do fundador do espiritismo, na rua Sala. Em Niterói, cidade irmã, se construiu um monumento na praça Allan Kardec, que foi restaurado e visitado como parte do Encontro, nas sexta feira pela manhã. As camisas do encontro têm representados os dois monumentos.


Dora Incontri

Não pude assistir as conferências de Dora Incontri e Yasmim Madeira, em função dos horários de voo de retorno a Belo Horizonte. Dora enfrentou alguns problemas com a projeção das imagens que ela havia planejado, mas seu domínio e conhecimento prevaleceram no pouco que pude assistir de sua conferência sobre o diálogo entre espiritismo e universidade.

Nos intervalos, onde um encontro pessoal aconteceu, quando pudemos conhecer pessoalmente pessoas como Cláudia Bonmartin, pioneira da reconstrução do espiritismo em Paris e Europa, Mauro Camargo, escritor radicado em Santa Catarina, Darcy, pioneira das Comeerjs de décadas atrás e atuante na CEERJ, e muitas pessoas que foram participar do evento, jovens, estudantes de pós-graduação, trabalhadores de frente do movimento espírita do Rio de Janeiro, entre muitas outras pessoas. Foi muito bom encontrar e conhecer pessoalmente muitos dos atores da nova relação que se estabeleceu  no final do século XX, entre França e Brasil, espíritas.

27.8.15

LEMBRANÇA DO 10o. ENLIHPE

As jornalistas Eliana Haddad e Izabel Vitusso entrevistaram alguns dos participantes do 10o. ENLIHPE em agosto do ano passado. São entrevistas curtas, em torno de cinco ou dez minutos cada. 



Entrevista com Rubens Sobrinho.


Entrevista com Alexandre Fonseca.


Entrevista com Pedro Nakano.


Entrevista com Luiz Pessoa Guimarães


Entrevista com Tiago de Lima Castro


Entrevista com Jáder Sampaio

23.8.15

UM POUCO MAIS DA TRADUÇÃO DO CONSELHO ESPÍRITA INTERNACIONAL



O Dr. Alexandre Caroli fez a gentileza de consultar Haroldo Dutra sobre as fontes que ele utilizou para traduzir o Novo Testamento. Ele nos informou que usou o texto grego crítico da United Bible Society, "que é o texto grego crítico padrão internacional na sua 27 edição."

Procurei mais informações na internet e descobri que o texto crítico é um "texto eclético, compilado por um comitê que examina um grande número de manuscritos a fim de determinar que versão é provavelmente a mais próxima do original".

21.8.15

HAROLDO DUTRA FALA SOBRE A TRADUÇÃO DO NOVO TESTAMENTO



Sandro Fontana nos indicou este vídeo que contém um seminário feito em Franca. Neste seminário, Haroldo Dutra conta o processo de tradução de O Novo Testamento e também fala um pouco do estudo do hebraico para a tradução das epístolas. Ele explica por que optou pelas fontes gregas, fala da septuaginta (o Antigo Testamento traduzido para o grego) e sobre o processo da tradução da vulgata por Jerônimo. 

O vídeo vale suas duas horas de exposição, tendo problemas apenas com o áudio das pessoas que perguntam, que não foi capturado.

Haroldo opta por uma abordagem histórico-racional do entendimento e interpretação dos textos bíblicos. Ainda não sei dizer claramente de quais fontes gregas Haroldo traduziu o Novo Testamento, mas seus cuidados ao longo do trabalho são admiráveis.

Após assistir o vídeo tenho que corrigir algo que publiquei quando dei notícias da tradução. Haroldo afirma que "a tradução foi feita por um espírita, mas não é uma tradução espírita."



18.8.15

RESULTADOS DA PESQUISA SOBRE PERFIS DE ESPÍRITAS BRASILEIROS



Ivan Franzolim fez uma pesquisa com pouco mais de 1200 espíritas, em 23 dos estados brasileiros, Foram feitas 40 perguntas sobre assuntos diversos, identificação, atuação do movimento espírita e inclusive questões ligadas ao pensamento espírita (opiniões sobre questões polêmicas, por exemplo).  

Ele encontrou, por exemplo, 5 grupos (clusters ou conglomerados) de espíritas, a partir de seus dados, que denominou como: 

1. Contestadores
2. Dirigentes
3. Convertidos
4. Frequentadores
5. Pensadores

Interessante, não? 

Os resultados e metodologia da pesquisa dele pode ser lida no blog: http://franzolim.blogspot.com.br/2015/08/resultados-da-pesquisa-para-espiritas.html




11.8.15

MARIO BARBOSA, VINTE E CINCO ANOS DEPOIS



Na década de 1980 fiquei conhecendo o trabalho de Mário da Costa Barbosa, que foi trazido a Belo Horizonte por Marlene Assis e por outras lideranças espíritas para promover seminários de reflexão sobre assistência social espírita.
Vi-o também em Juiz de Fora-MG, em um evento que alguns expositores do Rio de Janeiro promoviam anualmente, em que havia a presença de Raul Teixeira. Mário também foi responsável por uma CEOMG, que é a Confraternização Espírita do Oeste de Minas Gerais. 

A marca que Mário Barbosa deixava imediatamente é de um pensamento fortemente calcado na filosofia, por um lado, e no espiritismo por outro. Ele citava extensamente O Livro dos Espíritos (principalmente as questões que tratam da desigualdade das riquezas e da lei de sociedade) e O Evangelho Segundo o Espiritismo, assim como as passagens evangélicas. Mário era graduado em serviço social, com mestrado em ciências sociais. Foi secretário de ação social ou algo semelhante, se me recordo bem, e lecionava na UNESP.

Ele foi trazido a Montes Claros em 1990, pela Sociedade Espírita Allan Kardec e tive a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, porque ele passou alguns dias como nosso hóspede. À época ele já tinha a doença que levou-o à desencarnação alguns meses depois, mas não tocou no assunto com nenhum de nós em momento algum. 

Fui surpreendido por duas ou três coincidências por esses dias,  onde pude constatar que a Federação Espírita Brasileira publicou um livro organizado a partir das ideias e vivências dele e encontrei dois vídeos da Federação Espírita Catarinense, um dos quais compartilho com os leitores do EC.

Uma das preocupações de Mário Barbosa era evitar as relações verticais com quem quer que seja no movimento espírito. Vestia-se com simplicidade, e tinha uma proposta de ação social espírita a partir do trabalho e da convivência. 

Não sei se é apenas um pouco de saudosismo, então aguardo as impressões das novas gerações de espíritas.

30.7.15

NASCIMENTO, MORTE E RENASCIMENTO DA REVISTA ESPÍRITA (REVUE SPIRITE)




A Revista Espírita (Revue Spirite) foi fundada por Allan Kardec e teve seu primeiro número publicado em janeiro de 1858. Ela foi concebida por Kardec e discutida com os espíritos antes de sua primeira edição (Obras Póstumas, pág. 294 e 295). Nesta discussão, Kardec, entre outras coisas, é incentivado a fazer um número que contemplasse os interesses de cientistas e do vulgo, e que não dependesse de recursos financeiros de terceiros.

Seu primeiro subtítulo foi "Jornal de estudos psicológicos". Ele se justifica na medida em que foi delimitado como abordagem de "tudo quanto se liga ao conhecimento da parte metafísica do homem." Allan Kardec antevia a fusão do pensamento espírita às ciências que estudam o homem, como a psicologia e a antropologia. (Fonte: Revista Espírita, jan. 1858, p. 5 - Edicel)

A primeira edição foi feita às expensas do fundador, e a Revista foi bem sucedida. Apesar do trabalho intenso e dos dois empregos que Kardec tinha à época de sua fundação, ela foi regularmente publicada até 1869, época da desencarnação de seu fundador.

Após a desencarnação de Kardec, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas se recompôs sob a direção do Sr. Malet, com uma diretoria formada pelos Srs Levent, Canaguier, Ravan, Desliens, Delanne (pai) e Tailleur. O secretário gerente da Revue passou a ser o Sr. A. Desliens. A Sra. Allan Kardec cedeu os lucros do comércio das obras e da revista para a Caixa Geral do Espiritismo, mas passou a gerir todos os gastos gerais e a própria revista. (Fonte: Revista Espírita, mai. 1869, p. 152 - Edicel)

Há um período nebuloso, do qual não tenho fontes, que compreende os dois anos até a nomeação de Pierre-Gaëtan Laymarie à Sociedade (?) e ocupação dos cargos de redator-chefe e diretor da Revue Spirite. (Processo dos Espíritas, FEB, 1 ed. pág. 22) e que ocuparia por trinta anos, segundo J. Malgras (Os pioneiros do espiritismo, DPL Espírita, 2002). Neste período o subtítulo da Revue tornou-se "jornal de estudos psicológicos e do espiritualismo experimental", que condiz com a demanda de Flammarion pelo desenvolvimento da dimensão experimental do espiritismo, como se lê em seu discurso no túmulo de Kardec.

A Revue teve sua publicação contínua até a primeira guerra mundial, quando foi interrompida de 1914 a 1916. Neste ínterim, sabe-se que existiu uma Sociedade Científica do Espiritismo, dirigida por Leymarie, a quem Jean Guérin tentou doar sua fortuna após a morte, contudo, não logrou conseguir. "infelizmente essa sociedade, como todas as sociedades espíritas, não era reconhecida de utilidade pública, e caiu sob o golpe das leis sobre as associações, ela foi despojada no fim de alguns meses, por processos sucessivos, pouco mais ou menos completamente desse patrimônio, do mesmo modo que o de A. Kardec." (Malgras. Os pioneiros do espiritismo, DPL Espírita, 2002, p. 40). Houve também uma sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec (antiga Sociedade anônima do espiritismo"), e a criação da União Espírita Francesa (1882), assim como de uma  Sociedade Francesa de Estudo dos Fenômenos Psíquicos (1889). (Bodier, Paul e Regnault, H. Gabriel Delanne: vida e obra. CELD, 1990) Todas estas instituições, de alguma forma, pleiteavam centralidade do movimento espírita francês, algo muito semelhante ao que aconteceu neste período no Brasil.



O terceiro grande momento da Revue Spirite deve-se a Jean Meyer. Este comerciante bem sucedido, tornou-se espírita após a leitura de livros de Kardec e Denis. Apoiado por Denis, ele adquiriu o título da revista e tornou-se seu editor de 1916 a 1931, quando desencarnou. Meyer fez por sucessor a Hubert Forestier, que manteve a linha editorial da Revue até setembro de 1971. Neste período, a Revue foi interrompida apenas durante a segunda guerra mundial. O papel da Revue associou-se ao da União Espírita Francesa e posteriormente ao do Conselho Espírita Internacional, o que é demonstrado com a mudança de seu subtítulo: “Órgão oficial do Conselho Espírita Internacional e da União Espírita Francesa e Francófona para o conhecimento dos valores morais e científicos da doutrina espírita”

Meyer é o mecenas das duas instituições que coexistiram durante muitos anos no movimento francês, o Instituto Metapsíquico Internacional e a Maison des Spírites, onde funcionava a União Espírita Francesa, a Federação Espírita Internacional, a Revue Spírite e as Edições Jean Meyer (RAMOS, Miguel La Revue Spirite. Hommage a Jean Meyer: mecene du spiritisme français. Paris: 4o. Trimestre de 2003, p. 4 a 6)

Este equilíbrio entre uma instituição de pesquisas e outra instituição de divulgação doutrinária e filosófica se manteve até pouco depois da desencarnação de Forestier. Em 1971, Andre Dumas se torna redator-chefe da Revue, e cinco anos depois ele abandonaria seu título por "Renaître 2000". Este período acompanha uma tentativa de extinção da União Espírita Francesa, transformada em União científica francófona para a investigação psíquica e o estudo da sobrevivência (USFIPES). Dumas e o presidente eleito desta nova instituição eram ao mesmo tempo membros do Conselho dos organismos de pesquisas parapsicológicas. Não posso senão levantar hipóteses, na falta de documentos e de entrevistas da época, mas ambos parecem crer que esta instituição e as teorias em conflito que compõem o corpus da parapsicologia seriam um avanço em relação ao pensamento espírita. Ele não poupou hostilidades verbais à época contra a Federação Espírita Brasileira, que se posicionou contra as transformações empreendidas na França e às rupturas para com o movimento espírita internacional.

Após sua "morte" simbólica, a Revue ressurgiu de um movimento de reação às mudanças no seio do movimento espírita francês. Roger Perez começa a publicar em 1985 uma Nova Revista Espírita, e vai ao tribunais em julho de 1987 para obter o título da revista fundada por Kardec. Dois anos depois, o tribunal decide que Dumas não é mais o dono da Revue Spirite, uma vez que ele próprio não explorava seus direitos de propriedade. Venceu o caráter democrático da legislação francesa.

Não causa estranheza que tenha surgido, dentro do  movimento francês, um ou mais grupos interessados nos estudos de fenômenos espirituais, psíquicos ou paranormais, mas o movimento que teve Dumas e Edmond Bernard como articuladores, visou uma espécie de expoliação dos bens do movimento espírita em causa própria, e, não bastasse, uma aquisição de revista para proibição da veiculação de suas ideias originais. Nem a santa inquisição teria feito algo mais nefasto à liberdade de crenças.

O movimento que teve Perez como um de seus expoentes conseguiu o título da Revista Espírita e passou a editá-la trimestralmente. Dialogando com representantes do movimento espírita de diversos países, criou-se um novo Conselho Espírita Internacional, que assegurou recursos para sua publicação no congresso de 1998 e que se tornou proprietária da Revue Spirite em 2007.

Desde 2010, a Revue Spirite tem como subtítulo "Órgão oficial do Conselho Espírita Internacional". Em seu novo período, findo o sparagmós dumasiano, a revista renasceu como órgão de divulgação do pensamento espírita.

27.7.15

COMUNICADO URGENTE SOBRE TAXA DE INSCRIÇÃO NO ECPE


Leitores do EC, repasso o texto abaixo que recebi da Coordenação Francesa e Brasileira do 1o.  Encontro de Cultura e Pesquisa Espírita - XII Colóquio França-Brasil


Prezados participantes do 1º. Encontro de Cultura e Pesquisa Espírita – XII Colóquio Brasil-França

Foi com alguma surpresa que vimos que nossa mídia impressa (cartazes e folhetos) saiu sem menção à taxa de inscrição do evento, estabelecida em 50 reais a inteira e 25 reais as meias entradas, em respeito à extensa legislação de meia-entrada vigente no Rio de Janeiro, que envolve, estudantes, idosos (acima de 60 anos), portadores de necessidades especiais e professores da rede pública

O objetivo da taxa de inscrição/investimento é apenas viabilizar o evento, que conta com despesas diversas envolvendo o transporte e estada dos convidados, aluguel do teatro, atividades de suporte, decoração, divulgação, entre outras despesas. Não há qualquer benefício para os organizadores, uma vez que eles próprios estão se inscrevendo no evento e recolhendo o valor da taxa.

As inscrições estão sendo feitas antecipadamente pela internet, no site http://www.1ecpe.com.br  ou pelos telefones (21) 4063 3747 . (11) 4063 3746
(21) 3026 5831 . (21) 2619 2448 Basicamente se pedem os dados de identificação dos inscritos e se aguarda que eles recolham a taxa no Banco Itaú ou fazendo transferência por internet banking, enviando o recibo da transação para obter um número de ingresso para cada pessoa inscrita. Temos interesse em efetuar todas as inscrições antes do evento, para evitar ou minimizar filas na porta do evento, antecipar a receita para honrar compromissos e atender da melhor forma possível cada um dos 900 participantes que estamos esperando no Teatro Odylo Costa Filho.

Como forma de agradecimento à participação, os inscritos receberão como contraparte o livro “Em torno de Rivail: o mundo em que viveu Allan Kardec” e mesmo os inscritos em meia-entrada poderão escolher um livro entre os títulos disponíveis para esta tarifa. Até o momento confirmamos o livro “Para entender Allan Kardec”, escrito por Dora Incontri, o livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec traduzido por Evandro Noleto Bezerra e “O espiritismo, as ciências e a filosofia”, organizado pela Liga de Pesquisadores do Espiritismo, em 2015.

Teremos também venda de livros a quem se interessar, com um extenso número de títulos, de diversas editoras, selecionados tendo em vista o tema do evento, que é a cultura e a pesquisa histórica do espiritismo e as relações entre o espiritismo francês e o brasileiro.

Contamos com a compreensão especial do movimento espírita e do público em geral e solicitamos que nos ajudem a divulgar a existência desta taxa de inscrição o mais amplamente possível, para informar melhor a todos os interessados no evento.

Atenciosamente,


Comissão Brasileira e Francesa do ECPE

10.7.15

REEDITADO UM CLÁSSICO DA REENCARNAÇÃO



Hermínio Miranda induziu algumas pessoas ao transe anímico, conseguindo imagens mentais reconhecidas como memórias de vidas passadas pelos seus sujeitos. Sua principal fonte bibliográfica, onde aprendeu a técnica de indução por passes, foi o livro de Albert de Rochas: As vidas sucessivas.

Èugene-Auguste Albert de Rochas nasceu em 1837, na França e desencarnou em 1914 em seu país natal. Ele foi oficial militar, chegando a Comandante de Batalhão e foi para a reserva como tenente-coronel. De Rochas publicou muito. A Wikipédia listou dezenas de artigos e livros de sua autoria, entre trabalhos sobre temas militares e relacionados aos fenômenos do magnetismo.

O livro “As vidas sucessivas” começa com uma revisão histórica de citações de autores da antiguidade e da modernidade que tratam do tema. Curiosamente, De Rochas não cita Allan Kardec, mas cita Léon Denis (como fonte secundária de autores antigos, como Orígenes e os Pais da Igreja). Ele cita Victor Hugo, Pezzani, Laváter, Voltaire, Oliver Lodge, Tolstoi e outros autores que ou eram espíritas/espiritualistas ou se interessaram no tema da vida após a morte. Contudo, a editora mostra em suas notas de pé de página, evidências da leitura de Allan Kardec, especialmente no capítulo final, “A religião do futuro”.

Na segunda parte, De Rochas coleciona diferentes tipos de evidências empíricas da reencarnação. Regressões por influência de acidentes sofridos, recordações espontâneas de vidas passadas e memórias obtidas pelo magnetismo (passes) são alguns dos temas que ele ilustra exaustivamente com casos, como era comum à época.

A quarta parte do livro é um debate com diversas hipóteses explicativas dos fenômenos. De Rochas apresenta a argumentação de Richet, que ateve-se às mudanças de personalidade por sugestão (hoje seria chamada de sugestão hipnótica). Depois atém-se à questão das comunicações mediúnicas, com o caso de Mireille. Segue-se o caso da Srta. Hélène Smith (estudada por Flournoy e considerada histérica), onde o autor francês se defende de uma acusação ainda usada pelos céticos: só ele teria obtido memórias de vidas passadas com seus experimentos. Ele responde, apresentando outros pesquisadores que hoje fazem parte da história, como Fernandez Colavida, Estevan Marata (catalão, menos conhecido) e Léon Denis! Ele sintetiza bastante os relatos de Smith sobre vidas passadas e lamenta que ela não tenha sido induzida ao transe através de passes.

É interessante a relação de De Rochas com o espiritismo. Ele escreve que jamais se ocupou com o espiritismo, mas escolheu comunicar uma série de experimentos com médiuns que não deram bons resultados. Contudo, em vez de rejeitar as ideias espíritas, escreveu:

“Se as relato aqui, é unicamente a fim de fornecer novos documentos ao processo que se desenrola diante da opinião pública, e não para condenar, de maneira geral, a teoria espírita, que me parece apoiada em bases sólidas e que é, em todos os casos, a melhor das hipóteses de estudo formuladas.” (p. 350)

Na sua conclusão, o pesquisador faz uma relação de afirmações que considera indubitáveis seguidas de hipóteses. Entre as indubitáveis, ele coloca “que, por meio de operações magnéticas, pode-se levar progressivamente a maioria dos sensitivos a épocas anteriores à sua vida atual.”


Na medida em que fui folheando o livro, fiquei pensando como seria importante para os espíritas interessados no conhecimento espírita, conhecerem autores como Albert de Rochas que, mesmo não se intitulando espíritas, estudaram e ousaram teorizar sobre os fenômenos espirituais. As casas espíritas precisam dar luz a obras importantes como esta, nem que seja apenas para despertar o interesse dos que a frequentam.

8.7.15

COBRAR PARA FAZER PRECE?




Há alguns anos uma mãe zelosa, preocupada com o filho e desejando que ele fosse atendido em um centro espírita, nos ligou. Havia ouvido falar no atendimento fraterno e explicou rapidamente o problema, expondo o interesse do rapaz em em procurar nossa instituição. Depois de tudo esclarecido, horários, procedimentos, não-promessa de curas, entre outros assuntos, ela me perguntou:

- E em quanto vai ficar? (referindo-se a dinheiro).

Fiquei surpreso, mas respondi:

- Em nada. Não se cobra por atendimentos em centros espíritas.

Ela insistiu:

- Ah, sim, mas você entende, né. Nos dias em que vivemos...

Eu também insisti:

- Minha senhora, se você for a um centro espírita que cobre por algum tratamento, passe, atendimento ou mediunidade, afaste-se dele.

Sempre entendi a gratuidade com as coisas espirituais como um pilar importante da ética espírita. Com certeza, as casas espíritas precisam de recursos financeiros para cobrir seus custos, mas eles são obtidos com eventos, contribuições dos sócios, venda de livros, lanchonete, parcerias com o poder público ou iniciativa privada, entre outros. Sempre me lembro de uma frase do evangelho, curiosa que diz: -"Onde houver o cadáver, aí se aproximarão as harpias".

Por estes dias recebi outro telefonema de uma amiga querida, que não é espírita mas sabe que sou espírita e tem alguma confiança nas minhas opiniões sobre o assunto.

- Uma amiga minha está pretendendo casar-se, e é espírita. Disse. - Ela olhou com uma pessoa para fazer o culto na hora do casamento, mas achou que ele está cobrando muito caro. Você teria alguém para indicar?
- Alice (nome fantasia), o espiritismo não tem rituais. Nós, espíritas, nos casamos no civil, apenas, sem qualquer cerimônia. O máximo que acontece é, no momento da reunião da família e dos convidados, alguém ligado aos noivos fazer uma prece, vinda do coração. Mas não há sacerdotes no espiritismo, e, definitivamente, não se cobra para fazer uma prece.

Ela riu, e perguntou ainda:

- Mesmo?

Eu insisti:

- Confesso que estou horrorizado em saber que alguém possa pedir dinheiro para fazer uma celebração em nome do espiritismo.

Ela gargalhou e entendeu.


Fiquei sem saber se a amiga de Alice era vinculada a algum culto afro e apenas confundia-se os nomes umbanda ou candomblé com espiritismo, afinal, são coisas diferentes e, portanto, com práticas, ética e costumes diferentes, mas fiquei pensando se realmente não haveria espíritas (kardecistas, como alguns gostam de dizer) realizando casamentos e cobrando por eles.

4.7.15

MEIA-ENTRADA NO ENCONTRO DA CULTURA E PESQUISA ESPÍRITA



Os estudantes, idosos e portadores de necessidades especiais terão direito à meia-entrada no 1o. Encontro da Cultura e Pesquisa Espírita - XII Colóquio França-Brasil, que ocorrerá no Rio de Janeiro, no auditório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 360 lugares foram reservados para esta modalidade.

A programação foi publicada no Espiritismo Comentado:

Mais informações e inscrições http://www.1ecpe.com.br


Façam suas inscrições com antecedência. NÃO HAVERÁ INSCRIÇÕES NO DIA DO EVENTO.

3.7.15

O QUE É METAPSÍQUICA?




Uma das vantagens de se usar um leitor eletrônico é o acesso que se tem a livros que não são mais comercializados e só seriam encontrados em sebos, muitas vezes com qualidade duvidosa.

Navegando no Kindle, consegui obter o Tratado de Metapsíquica, um livro publicado em 1922 por Charles Richet, nos quais lança os princípios e fundamentos do que ele desejaria ser um novo ramo das ciências. Richet trabalhou com Gabriel Dellane, mas parece desenvolver seu trabalho numa rota de afastamento das ideias espíritas. O que pude observar até o momento, é que ele reconhece a existência dos fenômenos espirituais, mas põe em dúvida a autoria dos espíritos, neste livro.

Charles Richet propôs o nome metapsíquica, influenciado pela metafísica de Aristóteles, em 1905 à Society for Psychical Research. Ainda no primeiro capítulo ele resume em três palavras os fenômenos que seriam estudados por esta nova ciência:

1o. Criptestesia (chamada até então de lucidez) que significaria "uma faculdade do conhecimento que é diferente das faculdades de conhecimento sensoriais normais"

2o. Telecinesia, que significaria "uma ação mecânica diferente das forças mecânicas conhecidas, que se exerce sem contato, à distância, em condições determinadas, sobre os objetos ou as pessoas"

3o. Ectoplasmia (chamada até então de materialização), significando "a formação de objetos diferentes dos comuns, que parecem sair do corpo humano e tomar a aparência de uma realidade natural (roupas, velas, corpos vivos)"


Richet divide a metapsíquica em metapsíquica subjetiva e metapsíquica objetiva, com base no critério da percepção ou não dos fenômenos pelos órgãos dos sentidos dos observadores. Neste ponto, talvez haja uma forte influência da nomenclatura espírita de Kardec, que classificou os fenômenos espirituais em manifestações físicas e manifestações inteligentes (O livro dos médiuns, capítulos II e III da segunda parte).

A metapsíquica se institucionalizaria a partir da ação de um espírita francês notável, Jean Meyer, que fundou com seus próprios recursos o Instituto Metapsíquico Internacional (Institut Métapsychique International) em 1919, que estudou considerável número de fenômenos e médiuns (palavra que Richet não adotou, preferindo sensitivos). Meyer criou também, em 1923,a Maison des Spirites, onde parece ter funcionado a União Espírita Francesa. 

Hubert Forestier, discípulo e continuador de Jean Meyer, escreveu um artigo sobre o mestre na Revue Spirite de julho de 1955 onde mostra sua visão acerca das duas obras:

A Maison seria encarregada "da propaganda e do ensino filosófico apoiado em provas experimentais" o IMI faria a "pesquisa das provas científicas da sobrevivência e das conclusões que resultam dela."

O Instituto funciona até hoje, com alguma alteração de suas pesquisas em função da parapsicologia. O que aconteceu com a Maison? Esta é uma informação que gostaria de ter.