No último final de semana estive no GEAK, um núcleo pequeno
incrustado em um bairro operário de Contagem. Foi uma grata emoção rever
companheiros que conhecemos na COMEBH há três dezenas de anos na frente da
gestão desta casa espírita.
Estou acostumado a fazer palestras em casas de porte médio e
grande, às vezes em público com centenas de pessoas, mas não há nada mais grato
à alma do que falar para um público menor, que acolhe e se interessa por cada
palavra, cada história. Pude perceber que os presentes, independente de poder
aquisitivo ou escolaridade, têm o espiritismo como uma joia rara, algo
realmente importante para a vida. A relação familiar entre os presentes, o
cuidado com as tarefas, a satisfação com cada realização da pequena casa são
elementos tão importantes a um centro espírita que não podem ser substituídos
pela ânsia de ampliação, pelos números.
Denis, Yvonne, Chico e outros personagens tão caros à
história do espiritismo ressoavam nas almas ouvintes. Eu já estava ficando
acostumado a ter que apresentá-los a um público iniciante que olha com
estranheza e curiosidade, às vezes com indiferença. Este grupo, todavia, ouvia
como quem recorda, e recorda com prazer. Os construtores do espiritismo que
herdamos lhes eram familiares, e recebiam com alegria as poucas histórias que
tive tempo de fazer lembrar.
No intervalo de trinta minutos entre as duas partes da
palestra, não foi sem surpresa que recordamos juntos de outros trabalhadores
comuns ligados a nós, do movimento mineiro. Manoel Alves, José Mário Sampaio (meu
pai), Telma Núbia, Leão e Tiana, todos pareciam muito próximos em nossas
memórias compartilhadas. A eles foi endereçado um sentimento de gratidão por
terem sido professores, amigos, conselheiros, pessoas que dispuseram de tempo e
afeto para com a geração que agora dirige e sustenta as casas espíritas. Eles
não têm monumentos nem placas, mas sua memória continua viva nas almas com quem
conviveram.
A palestra terminou e veio o passe. Recebi muito carinho e
afeição da parte dos presentes, que partilhavam nosso entusiasmo com o texto de
Léon Denis: potências da alma. Antes de sair não pude deixar de notar um jovem
com dificuldade de locomoção, possivelmente por alguma doença degenerativa, que
deixava a sala de passes rumo à saída. Certamente não estava lá em busca de
cura, que os espíritas sérios não prometem, nem teria deixado nenhuma soma em
dinheiro, porque o trabalho de passes é totalmente voluntário. Ele vestia uma
camiseta branca, onde se lia impresso nas costas: “Fora da caridade não há
salvação”.