9.1.09

Mediunidade Intuitiva



Sábado à tarde. Um pedido de orientação me fez chegar mais cedo ao Célia Xavier. A jovem não havia entrado em detalhes, apenas queria conversar sobre
mediunidade. A pergunta era: como eu posso ter certeza que sou médium?

Se fosse uma mediunidade de vidência ou audiência, a pergunta seria: será que eu não sou louca? Mas tratava-se de uma mediunidade que Kardec classifica
como intuitiva.

Mediunidade intuitiva é uma classificação que cabe em uma gama diversa de manifestações. Embora Kardec estivesse tratando de médiuns escreventes quando tocou no assunto (O Livro dos Médiuns, cap. XV.), sua definição se aplica também a médiuns falantes, de pressentimentos, pintores, entre outros.

A descrição da faculdade é simples. O médium percebe o conteúdo do que vai escrever ou falar antes do fenômeno acontecer, e movimenta o lápis ou a garganta de vontade própria. Como não há nenhuma interferência do espírito comunicante nas vias motoras do médium, não há mudança de caligrafia ou de entonação de voz, a menos que o médium assim o deseje (e o faça por conta própria, muitas vezes para se sentir mais seguro).

O problema dos médiuns intuitivos é a distinção entre seus próprios pensamentos e os pensamentos oriundos dos espíritos. Há faculdades em que a percepção dos espíritos é nítida e semelhante à percepção dos órgãos
dos sentidos. O mesmo não se dá com a intuição. O médium tem razões para crer que o pensamento não foi criado por ele, mas também não sente segurança para afirmar que é oriundo de um espírito, e em caso afirmativo, hesita quanto à fidelidade do que está escrevendo.

A mediunidade intuitiva é um conjunto de sugestões espirituais registradas pelo pensamento/sentimento do intermediário que é traduzido, interpretado e registrado por ele.

Para se ter noção da precariedade da comunicação intuitiva, faça uma vivência. Peça a um amigo para lhe contar, sem citar nomes, um episódio que aconteceu com ele, em ritmo de narrativa, pegue um lápis e vá anotando da forma possível o que ele diz. Compare o resultado final com uma gravação daquilo que ele narrou. Como se saiu?

Imagine agora uma situação em que você não é capaz de ouvir claramente, em que as idéias são percebidas com dificuldade, é necessário manter a concentração sobre o conteúdo, sem dispersar-se e as suas próprias emoções
alteram a comunicação com a fonte. Estas são algumas das dificuldades deste tipo de mediunidade.

Kardec estava atento a este tipo de situações quando escreveu sobre o assunto. Acostumado a trabalhar com médiuns mecânicos e semimecânicos, ele assim se
refere à mediunidade intuitiva:

“Efetivamente, a distinção é às vezes difícil de fazer-se. (...)”

Uma observação que Kardec faz quanto ao mecanismo desta faculdade é o que se pode chamar de criação simultânea. O médium não cria o texto em sua
mente e organiza as idéias para, a seguir, redigir. O pensamento “nasce à medida que a escrita vai sendo traçada e, amiúde, é contrário à idéia que antecipadamente se formara. Pode mesmo estar fora dos limites dos
conhecimentos e capacidades do médium”. (O Livro dos Médiuns, parágrafo 180)

Quatro elementos identificadores se encontram, portanto, no texto kardequiano: a falta de impulsos mecânicos, a voluntariedade da escrita mediúnica, a criação
simultânea das idéias do texto e a presença de conhecimentos e informações que podem estar além das capacidades do médium.

Mesmo encontrando estas quatro características (e a última é muito importante para a identificação de um médium intuitivo), ainda assim o produto desta mediunidade é passível de mescla com as idéias pessoais do intermediário. Isto fez com que os espíritos dissessem a Kardec a seguinte frase sobre os médiuns intuitivos:

“São muito comuns, mas muito sujeitos a erro, por não poderem, muitas vezes, discernir o que provêm dos Espíritos e o que deles próprios emana”. (O Livro dos Médiuns, parágrafo 191)

Este tipo de faculdade desaponta bastante os que desejam ver fenômenos definitivos, que dão evidências da vida após a morte. Parece-se com o garimpo manual, descarta-se muita areia para encontrar uma ou outra pepita de ouro verdadeiro. O curioso é que os céticos ficam a dizer: “só vejo areia”, e quando surge o ouro vociferam “quem sabe este charlatão não o colocou aí quando nos
distraímos”.

Eu expliquei aos poucos estas informações à jovem, que me pareceu um pouco desapontada no final da conversa. Talvez ela tenha sido incentivada a escrever o
que lhe ocorria, mas não tenha surgido nada em seu texto que atenda ao quarto critério de Kardec. Tudo indica que continuou em dúvida.

Com o surgimento da Psicologia Analítica, a distinção entre mediunidade intuitiva e animismo ficou ainda mais difícil. Jung afirmou que alguns fenômenos psicológicos nos quais a pessoa se sente um expectador, são frutos da fantasia ou da imaginação ativa; esta última, uma manifestação de arquétipos do inconsciente coletivo, mas isto é assunto para um outro artigo.

8.1.09

Gil Restani e José Mário

Foto 1: José Mário Sampaio na juventude


Eu conheci o Gil Restani após uma palestra realizada no Centro Oriente (nome de fundação do grupo, ainda muito usado pelos espíritas da capital, que a partir de 1952 passou a chamar-se Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla – Grupo Scheilla). Era um jovem estudioso do Espiritismo.

O Grupo Scheilla filiou-se ao Movimento da Fraternidade, interpretado por muitas pessoas como sendo uma espécie de movimento paralelo à União Espírita Mineira. Nos dias de hoje, praticamente inexiste esta questão. O Movimento da Fraternidade continua atuante e os Grupos da Fraternidade encontram-se adesos à Aliança Municipal Espírita – AME e ao pacto federativo.

Gil Restani, Daltro Rigueira e outros trabalhadores desta casa convidaram papai para realizar um ciclo de estudos sobre a mediunidade no Grupo Scheilla. Foi um ato corajoso porque apontava para uma aproximação entre um projeto da UEM e o "Scheilla".

Papai sempre foi muito reservado, mas penso que, entre um comentário e outro, ele tinha clareza da importância desta aproximação. Aceitou o convite e, se não estou enganado, coordenou o primeiro ciclo inteiro (não sei ao certo por quanto tempo trabalhou neste projeto).

Como o trabalho aproxima, recordo-me das visitas que os companheiros do "Scheilla" fizeram a papai durante suas enfermidades. Visitas de amigos saudosos que se tornaram, que tinham prazer em estar juntos e conversar, e não aquelas visitas breves de aplicação de passes, quase impessoais, como exige a boa técnica.

Ao saber que eu estava escrevendo alguns episódios da vida espírita de papai, Gil, solícito, enviou-me dois episódios envolvendo seu relacionamento pessoal, que passo a transcrever:

“No transcurso do Ciclo de Estudos Sobre Mediunidade, no Centro Oriente, fomos nos familiarizando e construindo uma boa amizade. Certa ocasião, disse ao José Mário que não estava conseguindo encontrar o livro "Primícias do Reino", do Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco. O comentário foi feito en passant. sem maiores conseqüências e dele logo me esqueci.

Passados uns dois meses, em novo encontro nas dependências do "Oriente", eis que o José Mário me surpreende: - "Gil, estive em Vitória e lá me lembrei de você; tome..." e me entrega um exemplar do livro "Primícias do Reino", com a seguinte dedicatória: "Ao amigo e companheiro de fé espírita - Gil - com a fraternal estima de sempre. José Mário. B. Hte. 21.10.83."

“Em outra ocasião, José Mário foi fazer uma palestra em reunião pública por mim dirigida no Centro Oriente. Como de praxe, passamos a palavra ao palestrante, que se achava sentado à mesa, ao meu lado. Quem conhece o Centro Oriente,
sabe que existe uma "tribuna", constituída de pedestal e microfone, para uso dos palestrantes. José Mário, contudo, pediu-me o outro microfone e permaneceu
sentado, para minha surpresa, e pronunciou a sua palestra, sempre muito preparada e agradável, naquela postura. Ora, sempre soube e aprendi que o orador ou palestrante deveria falar em pé, em respeito ao público. Terminada a
palestra, com a liberdade que têm os amigos, indaguei do José Mário por que motivo ele havia falado assentado e ele me respondeu:

"- Gil, estou adoentado. Já pensou se, enquanto estivesse falando, eu caísse?" Envergonhado, pespeguei um forte abraço naquele irmão de fé, denodado e dedicado, que, mesmo enfermo, a ponto de temer não suportar-se de pé, compareceu à palestra e deu o seu recado, em mais um testemunho de amor à Doutrina.”

“Como pode concluir, Jáder, são fatos comuns e corriqueiros, contudo, para mim, são inesquecíveis.”

29.12.08

Cestas de Natal mobilizam jovens da AECX

Após dois meses de campanha entre os membros da Associação Espírita Célia Xavier, os jovens da mocidade e até membros da evangelização infantil se reuniram no Lar Espírita Esperança para montar as cestas de natal.

Este ano foram 478 cestas ao todo, confeccionadas em dois dias de trabalho. A distribuição se fará entre as famílias que são assistidas no Lar Espírita Esperança (222), na Casa de Etelvina em Citrolândia, município de Betim (200) e na Unidade Nova Luz em Rosaneves, município de Ribeirão das Neves (56).



Figura 1: Equipe da Evangelização trabalhou colocando objetos menores nas cestas.


Figura 2: Jovens da mocidade preparando as cestas de natal
Figura 3: Visão de Parte das Cestas Já Confeccionadas

22.12.08

Espiritismo e Universidade: mais uma dissertação sobre organizações espíritas

Figura 1: Caldo Santo, sopa distribuída aos sábados por Dona Sônia do Centro Educacional Maria Salomé, em Santa Luzia, uma das organizações estudadas por Daniella


Daniella Francisca Soares e Silva defendeu hoje a dissertação de mestrado intitulada "Práticas de Funcionamento, Gestão e Fundamentos da Doutrina Espírita em Organizações do Terceiro Setor" na Fundação de Estudos Administrativos de Minas Gerais - FEAD-MG.

Ela estudou doze centros espíritas na região de Santa Luzia - MG, quatro organizações de cunho social criadas por eles e realizou ainda um estudo em profundidade em uma creche mantida por sociedade espírita em parceria com o estado.

Daniella escreveu um capítulo na fundamentação teórica no qual trata da história, estrutura e ação social do movimento espírita.

O estudo é muito rico em informações e apresenta problemas enfrentados por organizações de terceiro setor, a conexão entre o pensamento espírita e a ação social das organizações estudadas, questões de cunho legal e financeiro, problemas de preconceito por parte da comunidade local e a relação entre as organizações, cidadãos, funcionários, voluntários e outros públicos envolvidos nos projetos.

Parabéns a Daniella e à sua orientadora, Dra. Patrícia Gazolli. Aguardamos publicações de artigos.

20.12.08

4o. ENLIHPE: Entrevista com o autor do Espiritismo Comentado

As competentes Izabel Vitusso e Eliana Hadad "espremeram" o autor do Espiritismo Comentado logo após o ENLIHPE procurando entender como ele vê a relação entre o Espiritismo e a Universidade.



Apesar do avanço, muitos entraves acadêmicos




“A Universidade é conservadora, em matéria de conhecimento”(Jáder Sampaio)


Por Izabel Vitusso e Eliana Hadad



Foto 1: Jáder no 4o. ENLIHPE


Um dos assuntos amplamente abordados durante o IV Encontro da LIHPE – Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas, realizado em São Paulo, nos dias 27 e 28 passados, foi a produção acadêmica brasileira com temática espírita.


Pesquisadores e historiadores presentes no evento destacaram os desafios e dificuldades enfrentadas ainda pela resistência acadêmica, advinda na grande maioria das vezes do preconceito e do desconhecimento do que seja realmente o Espiritismo, doutrina científica e filosófica de conseqüências religiosas, codificada pelo francês Allan Kardec, que em 1857 lançou a sua obra básica, O Livro dos Espíritos, contendo perguntas e respostas sobre assuntos que envolvem diretamente a existência e o destino do homem, a criação e a imortalidade da alma – a vida do Espírito.


Ao final do evento, o psicólogo Jáder dos Reis Sampaio, um dos moderadores do grupo que se comunica pela internet há pelo menos seis anos, concedeu a entrevista abaixo, na qual abordou com clareza a dificuldade da produção acadêmica sobre temas ligados ao Espiritismo.


Premiado pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração – ENANPAD, Jáder Sampaio concluiu o doutorado em Administração pela Universidade de São Paulo em 2004. Atualmente é professor-adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo publicado 11 artigos em periódicos especializados e 19 trabalhos em anais de eventos, participando de 57 eventos no Brasil. Atua na área de Psicologia, com ênfase em psicologia do trabalho e organizacional Também é consultor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG, do Programa de Capacitação de Recursos Humanos – PCRH.


Entrevistadoras - Como você analisa a produção acadêmica com relação ao Espiritismo?


Jáder Sampaio - O assunto é mesmo complicado. Sobre a pesquisa na universidade, se você se declara espírita, ganha antipatia dos que se dizem marxistas, socialistas, ou seja de outras vertentes políticas e religiosas, o que costuma gerar também retaliações nos pedidos de pesquisa, ou na aceitação de nossos programas de pós-graduação.


Entrevistadoras - Você acredita que isso aconteça por puro preconceito?


Jáder Sampaio - Muitos acreditam que se tem escondido o propósito de fazer proselitismo sobre a Doutrina Espírita dentro da universidade.


Entrevistadoras - Mas o pesquisador não tem liberdade de pesquisar o que lhe seja de interesse de estudo?


Jáder Sampaio - Há um engano sobre isso. As pessoas ficam achando que o pesquisador tem liberdade, mas ele não tem tanto como imaginam. Não consegue recursos, tem dificuldade de desenvolver o projeto, de encontrar orientador que aceite seu projeto de pesquisa e acaba encontrando tantas outras dificuldades no dia a dia da universidade. Ele precisa ser muito corajoso e persistente para defender algumas teses.


Entrevistadoras - Há orientadores preparados para coordenar os trabalhos de defesa de tese sobre Espiritismo?


Jáder Sampaio - Há sim, nas mais diversas áreas, mas se você chegar com um tema, muitas vezes o orientador diz que não interessa orientar. Quando o tema do mestrando envolve o nome do orientador, ele fica cioso. Se ele aceita um tema relacionado ao Espiritismo e não faz uma crítica contundente, pode ficar mal visto pelos colegas e comunidade acadêmica. É mais seguro você escolher um tema já consagrado, aceito internacionalmente, e ficar produzindo o que já é aceito.


Entrevistadoras - Você acha que nas universidades, os acadêmicos ainda têm receio de defender temas como o Espiritismo?


Jáder Sampaio - Sim, e de temas novos de uma forma geral, especialmente os que possam ser considerados pseudociências ou ideologias. A Universidade é conservadora, em matéria de conhecimento e gregária em matéria de captação de recursos. De qualquer forma este receio é menor que no passado.


Entrevistadoras - O que você sugere para gerar o conhecimento espírita no mundo acadêmico?


Jáder Sampaio - Não sei se a melhor expressão é conhecimento espírita. Um dos papéis da universidade é gerar conhecimento. Os professores precisam ficar mais abertos para o estudo de temas que permitam discutir a existência do espírito, como o fizeram os intelectuais do século XIX. Na Inglaterra, por exemplo, a SPR oferece bolsas de estudos para jovens pesquisadores que desejam estudar temas ligados às ciências psíquicas. É necessário que os professores orientadores construam redes e promovam eventos com os resultados de seus trabalhos, aproximando colegas e comunidade. A imprensa espírita e em geral poderia ter uma atenção maior para cobrir os trabalhos concluídos, para que não se percam no esquecimento. Um segundo momento é construir redes internacionais e trazer pesquisadores do exterior que trabalham temas de interesse ao movimento espírita.


Entrevistadoras - Podemos vislumbrar mudanças com relação a essas posturas para um futuro próximo? Por quê?


Jáder Sampaio - Sim, porque em uma sociedade mais democrática, há mais possibilidade de voz para as minorias. Tenho acompanhado pela LIHPE e por outros canais de informação muitas iniciativas interessantes, como o estudo à base de exame de imagens que o Júlio Perez fez com médiuns nos Estados Unidos e o exemplar temático da revista de Psiquiatria da USP sobre espiritualidade, organizado pelo Dr. Alexander Moreira Almeida. No exterior existem revistas técnicas especializadas em parapsicologia e CAM - medicina alternativa e complementar, que têm apresentado resultados de trabalhos sobre passes e curas espirituais.


Entrevistadoras - Você, como acadêmico, percebe algum avanço para aceitação do Espiritismo, considerando-se seu tríplice aspecto – ciência, filosofia e religião?


Jader Sampaio - O Brasil tem deixado de ser uma sociedade exclusivamente católica para ser uma sociedade plural em matéria de religião. Não bastasse a diferença, o respeito entre os membros de religiões é maior. Uma vez aceito pela sociedade, esta passa a demandar uma visão do mundo acadêmico sobre o Espiritismo.


Entrevistadoras - Espiritismo não combina com o mundo acadêmico? Que ciência é essa?


Jáder Sampaio - É a ciência dos homens, que desejariam estar em um lugar terceiro, o lugar da verdade ou, pelo menos, do conhecimento rigoroso, mas que não conseguem superar seus medos e preconceitos na hora de fazer pesquisa.


São Paulo, 27/29 de setembro de 2008



Publicado originalmente em http://www.ccdpe.org.br/



Devem os centros espíritas manter creches?

Figura 1: Saquinhos decorados, publicado pela Creche Espírita Ponto de Luz http://amaipontodeluz.blogspot.com/


É desnecessário argumentar em favor da filantropia e da caridade no movimento espírita brasileiro. A obra kardequiana defende, seguida por diversas contribuições de autores e médiuns brasileiros, a caridade como valor e a filantropia como dever. De uma forma muito pessoal e individual, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um convite de muitas faces para que o homem de bem, e não apenas o espírita, atenda a exortações como:

“Encontra satisfações nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa.” (KARDEC, 1978a, p. 285)

Uma vez aceito o imperativo ético da prática da caridade, e aceita a distinção entre caridade moral e material, como o faz Kardec na mesma obra, não é inusitado aceitar que as instituições espíritas organizem serviços capazes de atender às necessidades sociais, no limite de suas capacidades. O próprio Kardec propôs a manutenção de instituições como um dispensário, onde se realizariam consultas médicas gratuitas, uma caixa de socorros e um asilo, a serem mantidos com recursos da Comissão Central do Espiritismo, em seu conhecido Projeto de 1868. (KARDEC, 1978b)



Há que se distinguir a manutenção de instituições do imperativo da caridade. O espírita (pessoa) não precisa de uma instituição mantida por seu centro espírita para a realização de uma ação social beneficente. Ele pode juntar esforços a diversas iniciativas sociais mantidas pelo Estado ou por organizações sérias sem fins lucrativos. Da época de Kardec aos nossos dias, cada vez mais os Estados têm trazido para si a responsabilidade de fornecer serviços considerados necessários à população. Educação, saúde, proteção alimentar, entre outras ações, estão cada vez mais presentes nas agendas de governos, das mais diversas orientações políticas. Salamon (1998) defende, com números, que nas últimas décadas o número de organizações sem fins lucrativos, constituintes do chamado Terceiro Setor, têm crescido intensamente em todo o planeta. O movimento espírita não pode se furtar a refletir sobre as mudanças na sociedade e sobre o seu papel. Diante destas mudanças, é muito oportuna a questão que o Carlos Iglesia solicitou que se discutisse melhor: devem os centros espíritas manter creches?



Antes de tratar da questão das creches, devemos pensar em uma área que sofreu uma transformação mais intensa em nosso país, as ações de saúde. Seja pelo avanço da medicina e da tecnologia médica, seja pela evolução das políticas públicas de saúde, hoje, de uma forma geral, temos nos grandes centros urbanos um serviço de atendimento médico disseminado e articulado. O Sistema Único de Saúde (SUS) possibilitou a criação centros de saúde com corpo médico de generalistas e alguns especialistas, serviços de enfermagem, farmácia, campanhas de vacinação, odontologia, psiquiatria, psicologia, entre outros serviços, integrados a hospitais generalistas e de especialidades. Na última década os governos federais têm incentivado o Programa de Saúde da Família, no qual uma equipe de saúde visita residências e passa a acompanhar pacientes cujo cotidiano era desconhecido ao médico, que só os via no posto de saúde, e a atender pacientes que eram mal atendidos pelo sistema anterior pelas dificuldades de locomoção aos postos de saúde.



Respeitadas as diferenças entre regiões no Brasil e as exceções, um dispensário com um médico fazendo consultas gratuitas, é uma organização de qualidade inferior à que é oferecida pelo Estado (o que não acontecia à época de Kardec). Sem poder pedir exames que o auxiliem a fazer diagnóstico, sem poder encaminhar para hospitais de alta complexidade, sem poder contar com o apoio de uma equipe de profissionais da saúde, o seu trabalho, em que se pese a boa vontade e a disposição de ajudar o próximo, será de qualidade inferior ao que é oferecido pelos órgãos de Estado. Não é exagero dizer que esta instituição, nas condições acima indicadas, atende mais a necessidade do voluntário em prestar o serviço que a do atendido. A conseqüência da melhora dos serviços do Estado é que a exigência para a atuação neste espaço aumenta.



O que têm feito os centros espíritas que estão atentos às mudanças no cenário social? Quando já têm uma estrutura de saúde montada, vão migrando seus serviços para os espaços mal cobertos pelos órgãos de Estado ou vão aumentando a complexidade de suas ações. As farmácias ligadas aos centros espíritas trabalham com medicamentos que não são facilmente encontrados nos postos de saúde. Os serviços de odontologia vão fazer procedimentos cujo custo torna proibitivos aos postos de saúde. Os voluntários da área de saúde realizariam trabalhos que não estão disponíveis nos postos de saúde. Esta é uma forma inteligente de integração à rede de proteção social que o Estado e as organizações da sociedade formam.



Outra ação conhecida pelo movimento espírita brasileiro foi a constituição de Hospitais Psiquiátricos Espíritas em diversos lugares do Brasil. Possivelmente, esta iniciativa tem como motivo a preocupação do movimento espírita na distinção entre doença mental e mediunidade, mas não se reduz a isto, uma vez que são espaços de prática de uma especialidade médica e de profissionais da saúde mental. Estes hospitais vieram incorporando as modificações na Psiquiatria, as ações multidisciplinares e se adaptaram a muitas das justas exigências do movimento de luta antimanicomial e às disposições governamentais. Estas instituições espíritas romperam o isolamento e têm realizado encontros entre seus profissionais, têm promovido eventos e têm trocado experiências. Este, talvez, seja um dos projetos mais bem sucedidos das Associações Médico-Espíritas que se fundaram nos últimos anos em nosso país.



Da mesma forma que a saúde, a educação também mudou. A nova lei de Diretrizes e Bases atribuiu precariamente às prefeituras a obrigação de manter instituições pré-escolares. O Estado Brasileiro começou a destinar recursos e a pensar políticas para um segmento até então marginal às agendas públicas. Um movimento semelhante ao da saúde está acontecendo com a chamada educação infantil.



Os centros espíritas devem, então, manter creches? Penso que sim, desde que consigam fazê-lo com qualidade e mantidas as suas diretrizes.



Inicialmente, a obrigação das prefeituras ainda é relativa. A legislação atribui a educação infantil às prefeituras, mas prioriza o repasse de recursos ao ensino fundamental, ou seja, deixa uma brecha para os prefeitos justificarem a falta de fornecimento deste serviço à população. Muitos segmentos do tecido social ainda não tiveram atendidas as suas necessidades de cuidados para as crianças em idade pré-escolar. São recorrentes os casos de visitas a favelas nos quais se encontram crianças na segunda infância tendo que tomar conta de recém-nascidos e de seus irmãos menores, em nossa capital mineira. Além disto, muitas creches da rede de educação infantil não são mais que um espaço de cuidados à criança.



Em segundo lugar, da mesma forma que os hospitais espíritas têm envidado esforços para fornecer um atendimento diferenciado aos seus clientes, as creches espíritas podem dar uma educação e cuidados superiores aos seus pequenos clientes e às suas famílias. Ao lado do espaço de atuação voluntária (que deve ser conseqüente e inteligente), a integridade das instituições espíritas é um diferencial importante, em se tratando de aporte de recursos públicos ou de parceiros da iniciativa privada.



Um terceiro argumento é a necessidade dos centros espíritas manterem ações sociais conseqüentes, que possibilitem o engajamento não só de seus participantes, mas das comunidades como um todo. A finalidade maior é, nestes tempos de desigualdade social e dissolução do tecido social, além de possibilitar a integração dos espíritas em ações de impacto social, mostrar à sociedade que existem comunidades íntegras, capazes de incentivar as pessoas a darem uma contribuição pessoal pela melhoria de nossa sociedade, independente de sua posição religiosa.



Os centros espíritas devem ter atenção com o zelo pela humanização do cuidado infantil e evitar que a profissionalização de muitos dos espaços transformem as creches em uma espécie de anexo, um lugar no qual não se reconhece a ação de homens de bem, mas apenas um espaço burocrático de atuação técnica.



Para concluir, recordei-me de um comentário feito em um livro inusitado e quase esquecido pela grande maioria dos espíritas do nosso tempo, escrito pelo espírita argentino Humberto Mariotti. Ele afirma que se “o Espiritismo permanecesse à margem da questão social, adotaria um critério evasivo perante as grandes coletividades humanas que sofrem, esperando sua definitiva redenção”. (MARIOTTI, 1983, p. 106)


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 76 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978a.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 17 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978b.
MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. São Paulo: EDICEL, 1983.
SALAMON, Lester. A emergência do Terceiro Setor: uma revolução associativa global. Revista de Administração. São Paulo, v. 33, n. 1, p. 5-11, jan/mar 1998.


Publicado no Boletim GEAE 514. Disponível em http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae514.html . Acesso em setembro de 2006.

19.12.08

Ampliando o Debate das Relações entre Ciência e Religião


Foto 1: Prof. Geraldo

O Prof. Geraldo José de Paiva publicou um artigo instigante na prestigiada revista Psicologia USP. Ele entrevistou cientistas de diferentes áreas de conhecimento e propõe que eles não estabelecem conflitos entre ciência e religião, assim como rejeitam o caráter dogmático do cristianismo ao mesmo tempo em que não concordam com as pretensões ilimitadas da ciência.


Recomendo aos interessados nesta questão, que se encontra relacionada às discussões sobe o tríplice aspecto do Espiritismo, que analisem este texto.

18.12.08

SAPSE: O Que é Isto?

Figura 1: Peça de propaganda da Prefeitura de Belém
Fiquei devendo ao Humberto, que apresentou trabalho na Semana de Célia Xavier (Associação Espírita Célia Xavier - Belo Horizonte) um link para as pessoas que quiserem conhecer o SAPSE.
SAPSE é a sigla que a Federação Espírita Brasileira criou para o "Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita".
O endereço direto para baixar o trabalho é http://www.febnet.org.br/file/15/599.pdf (É necessário ter o acrobat reader instalado no computador para conseguir ler)
A FEB entende assistência e promoção social como "o exercício da caridade em todos os momentos; é a assistência material realizada sem paternalismos ou acordos (...) é o esclarecimento quanto à valorização da vida corpórea e da oportunidade de aprendizado que a reencarnação proporciona". (SAPSE, pág. 13)
O material apresenta uma visão tradicional de assistência social (triagem, entrevista, visita, distribuição, etc.) associada a um plano de ação. Apresenta também informações sobre a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).
Vale a pena ler e refletir.

17.12.08

O Livro Psicografado por Isaac Post


Isaac Post (ver última publicação do Espiritismo Comentado) publicou o livro "Voices From the Spirit World, Being Communications From Many Spirits, by the hand of Isaac Post, medium".
Ele tornou-se médium psicógrafo após o episódio das Irmãs Fox. Neste livro há comunicações atribuídas a Benjamin Franklin, George Fox, Elias Hics, Voltaire e William Penn. (Fox e Penn são pioneiros dos Quakers).
Alguém pode me ajudar a localizar uma cópia do livro ou o texto digitalizado? Encontrei apenas em livrarias de obras raras, custando a bagatela de 600 euros...

16.12.08

A Sociedade dos Amigos e o Espiritualismo Moderno

Estava lendo as Cartas Inglesas de Voltaire e surpreendi-me com as quatro cartas que ele escreveu sobre os Quakers (que é um nome pejorativo dado pelos ingleses aos membros da Sociedade Religiosa dos Amigos).


Foto 1: Voltaire, autor de Cartas Inglesas

Voltaire narra uma visita (real ou imaginária?) que ele faz a um Quaker inglês. O religioso recusa-se a fazer as mesuras de cumprimento, mantém seu chapéu de abas largas na cabeça, mas trata-o com brandura e fraternidade. Veste-se simplesmente, sem apresentar qualquer sinal ou signo de distinção, trata as autoridades por você ou tu, o que as aborrece em sua época.

Os Amigos não se batizavam nem se submetiam a qualquer dos sacramentos da igreja, embora se considerassem cristãos. O interlocutor de Voltaire argumenta que Jesus se deixou batizar, mas não batizava e que afirmava que um dia se batizaria com o "fogo do espírito".

Eles defendiam a emancipação da mulher, que tomava parte ativa em seus cultos. Nas formas originais, não havia sacerdotes ou bispos, os cultos eram realizados pelos membros indistintamente, podendo haver uma manifestação de quem se sentisse influenciado pelo Espírito Santo, o que se fazia com tremores e agitações, segundo Voltaire. (Desta prática veio o nome quaker, que significa, aquele que treme, que se agita, mas há outra versão que atribui a um juiz dizer que "eles tremiam ante o poder de Deus")
Perseguidos e espancados pela intolerância religiosa, na Inglaterra e nos Estados Unidos, fundaram o estado da Pensilvânia (nome dado por William Penn, que ganhou as terras da coroa inglesa como forma de quitar uma dívida que o rei tinha com seu pai).

As relações do Quakers com os índios eram diferentes das dos demais colonizadores, por respeitarem-nos segundo escrevem os autores simpáticos ao movimento religioso.


Figura 2: Tratado de William Penn com os Índios Norte-Americanos



Quakers e os Espiritualistas Modernos

Foi um Quaker (Isaac Post) o defensor da família Fox ante a fúria de seus conterrâneos, que acreditavam que elas cometiam fraudes ou realizavam artes demoníacas. Ele posteriormente se tornaria um médium, além de abolicionista e defensor de igualdade de direitos. Sua esposa (Amy Post) auxiliaria os escravos libertos na Guerra Civil americana, recolhendo roupas, remédios e alimentos para doar-lhes, além de abolicionista ativa, ela se tornaria sufragista.



Figura 3: Isaac Post


No livro História do Espiritismo (Arthur Conan Doyle), eles compunham um segmento expressivo do movimento que o criador de Sherlock Holmes descreveu como os "shakers", que dançavam e tremiam até dar comunicações de peles vermelhas.

Nota-se uma semelhança entre a ética e leitura do cristianismo feita pelos Quakers ou Amigos e pelos espíritas.

Deve haver alguma raiz comum no passado, além dos espiritualistas norte-americanos e que daria uma boa pesquisa a ser feita pelos interessados.

8.12.08

4o. ENLIHPE (Continuação)

Foto1: Pedro Camilo fala de Yvonne Pereira
Na tarde do primeiro dia tivemos a grata surpresa de conhecer o trabalho de Pedro Camilo. Bem humorado, chegando de uma série de compromissos em São Paulo, Pedro apresentou de forma simples e bem embasada, episódios da vida da médium mineira (na verdade, fluminense, como se pode ver no comentário do próprio Pedro) que realçaram sua trajetória de dificuldades e dedicação à prática mediúnica. O expositor baiano é responsável por um trabalho de levantamento de diversos documentos e entrevistas que tratam de Yvonne, pouco conhecidos e divulgados no meio espírita.

Pedro é articulista de Universo Espírita e já publicou dois livros sobre a médium, através da editora Lachâtre:
- Yvonne Pereira: Uma Heroína Silenciosa
- Pelos Caminhos da Mediunidade Serena

Foto 2: Paulo Figueiredo fala de Claude Bernard

Paulo Figueiredo foi o próximo expositor. Ele tinha por proposta inicial apresentar um trabalho em torno do tema "Conspiração do Silêncio", que seria um acordo tácito entre cientistas e filósofos de se calarem quanto aos trabalhos e teses espíritas desenvolvidos nos meios acadêmico e literário no último século.

Uma vez que o tempo disponível para apresentação era curto, Paulo desenvolveu seu trabalho sobre Claude Bernard, que é um dos pais da medicina contemporânea.

Estudioso, Paulo recuperou alguns trabalhos contemporâneos sobre o médico francês e seu pensamento. Uma das comunicações supreendentes, que o editor de Universo Espírita encontrou, foi que Bernard era adepto de uma versão sofisticada do vitalismo e opositor do reducionismo naturalista do homem.

Paulo mostrou uma citação de tese de doutorado (infelizmente defendida na Universidade da qual sou professor) na qual a autora faz uma citação parcial de um texto de Bernard, afirmando exatamente o oposto do que ele defende. Após recuperar o texto original e sua tradução para o português de Portugal, Paulo mostrou claramente que a autora citou apenas partes do trabalho de Bernard e que alterou lamentavelmente o significado do que ele propunha por omissão de frases. Ficou claro também que ela citou da tradução para o português, e não fez uma tradução própria do original. Resta saber se a mesma leu o original.

A tese da Conspiração do Silêncio ganhou novos argumentos corroborativos, e fica no ar se tal conspiração é o fruto de um espírito de época vigoroso o suficiente para calar e ensurdecer-se ante as vozes dissonantes ou se é mesmo um acordo tácito da comunidade científica calcado em uma visão intolerante de ciência e de mundo.

5.12.08

O que podemos fazer?

Muitos leitores do Espiritismo Comentado sensibilizaram-se com a nossa última matéria. Muitos não tem como disponibilizar grandes quantidades de recursos pessoais, então vamos dar algumas dicas simples de formas de ajudar.




1. Estamos no início do mês. Se você vai fazer sua compra do mês, escolha um supermercado que está participando das campanhas e compre um item a mais na sua lista. Pode ser um pacote de arroz, uma embalagem de absorventes, água, um brinquedo, ou outro produto necessário para quem necessita de tudo.


2. O natal está chegando. Como será o seu natal? Você espera ganhar roupas, suas crianças ganharão brinquedos, você vai se dar de presente algo que já tem? Então prepare sua casa para receber coisas novas, doando aquele sapato que já saiu de moda e que você insiste em guardar (quer dizer, ocupar espaço) no guarda roupa, dê uma vasculhada em suas roupas e separe as que tem usado pouco, converse com suas crianças e separe brinquedos que não são mais do interesse delas. Não doe roupas e brinquedos em mau estado, entregue-as lavadas e secas, para que sua doação não seja, na verdade, mais um problema para quem recebe.



3. Seu Centro Espírita está fazendo campanha de natal? Converse com os dirigentes de sua casa e veja a possibilidade de reservar um percentual das cestas para ajudar as vítimas de Santa Catarina. Se a campanha estiver muito aquém da meta, separe pelo menos uma cesta.

4. Você é dirigente de reunião pública? Converse com os frequentadores escolha um item qualquer e peça a eles. Um pacote de um quilo de feijão não vai deixar ninguém em situação crítica, mesmo que a casa esteja fazendo campanha de natal.

5. Fotografem o resultado da campanha e divulguem no mural do Centro Espírita.

6. Enviem fotos da doação para o Espiritismo Comentado. Expliquem em um parágrafo o que fizeram e que instituição frequentam. Vamos publicar as fotos. Elas podem ser contagiosas.

7. Faça uma prece pelas vítimas, pelos desempregados, pelos que perderam seus negócios, pelos que ainda sofrerão os efeitos da enchente durante o ano. Peça inspiração do mais alto e idéias simples sobre o que fazer.

8. Diga aos colegas de trabalho que está recebendo doações para as vítimas de Santa Catarina, se eles tiverem alguma coisa a doar, informe o dia em que levará o resultado da campanha para um dos postos de coleta. Junte no porta-malas do carro as doações e quando for entregar, fotografe. Fixe em sua sala o resultado das doações.

9. Se você é de Belo Horizonte, clique no título da última publicação e leia os comentários. Neles se encontra alguns endereços de postos de coleta, sites e contas bancárias fornecidas pela Coordenadoria de Ação Comunitária da UFMG. (Confiram os dados, se houver algum equívoco, me avisem, por favor).

10. Informe-se sobre o que as pessoas estão precisando. Se vamos doar pouco, que possamos doar certo. Se descobrirem algo que não falamos, comentem nesta publicação.

1.12.08

Que estamos fazendo?

Figura 1: Fotos da enchente disponibilizadas pelo Blog "Falando Claro"


O estado de Santa Catarina passa por momentos muito difíceis. Pessoas desabrigadas, que perderam suas residências, cidades em estado de calamidade e mortes.


Os problemas com chuvas não são recentes no Brasil, mas o que aconteceu no belo estado de Santa Catarina é uma tragédia sem antecedentes. Pelo que declararam especialistas houve uma concentração de chuvas em um curto período de tempo. Vimos que em uma noite choveu 125 mm, o que, segundo a meteorologista, é o equivalente a 125 litros de água por metro quadrado. Por esta razão vimos na televisão o terreno de áreas totalmente cobertas por florestas e matas cederem.


As instituições da sociedade brasileira se mobilizaram para atenuar o sofrimento. Defesa Civil, Exército, Cruz Vermelha e voluntários de todo o país trabalham para enviar roupas, alimentos e medicamentos para os desabrigados, fornecer atendimento médico e outras ações que se fazem urgentes.


Temos uma rede de centros espíritas de cerca de dez mil instituições. Além de incentivarmos os membros a participar das iniciativas e de disponibilizar informações sobre como ajudar, como podemos utilizar esta rede para aliviar o sofrimento de nossos irmãos catarinenses?

29.11.08

Como Evangelizar Crianças de Comunidades Carentes?


Figura 1: Crianças Árabes Brincando. De Etienne Dinet.

A semana de Célia Xavier de 2008 encerrou-se no dia 21 de novembro com a palestra da psicóloga Soraya Mendonça, coordenadora de evangelização infantil.

É possível evangelizar crianças que perderam a infância?

Esta foi a pergunta central que motivou Soraya a enriquecer o trabalho de evangelização no Grupo Espírita Irmão Frederico, situado próximo à Vila São José, vizinho a uma comunidade próxima ao anel rodoviário de Belo Horizonte.

Após 15 anos de trabalho com reuniões de pais, ela aceitou o encargo de trabalhar com as crianças, trabalho para o qual ela tinha formação porém sem experiência.

Muitas das crianças haviam perdido sua infância. “Adultos miniaturizados”, porque ainda na segunda infância tinham que traballhar em casa e cuidar de irmãos menores sem a presença física dos pais.

Soraya contou muitas histórias de violência de diversas ordens, o que predispôs ao desenvolvimento de crianças sem vivência de afetos, resistentes ao contato físico, agressivas e ameaçadoras. Elas chegavam à sala de evangelização sem conseguir prestar atenção nas aulas, com emoções em desalinho.

O trabalho foi mudado. Passes oferecidos após a chegada das crianças, uma atividade anterior à evangelização identificada como “integração”, as aulas de evangelização propriamente ditas e, para terminar, uma suculenta sopa distribuída a todos.

A estratégia mostrou-se cheia de resultados, mas, como é feita a integração?

Integração

Uma das finalidades da integração é reconstituir a experiência lúdica, perdida nas histórias dos pequenos adultos.

Soraya trabalha com músicas, entre músicas infantis espíritas, cantigas e músicas utilizadas nas escolas, que ela integra com gestos e pequenas coreografias. “Algumas crianças mal conseguem pegar o lápis, têm dificuldades com a motricidade fina”, explica. Além de permitir a expressão de sentimentos e criar um ambiente descontraído, a música incentiva os pequenos a fazer gestos e movimentos de liberdade e graça, em conjunto.

Depois das músicas, ainda em conjunto (o número de crianças evangelizadas não é tão grande, devendo chegar a cerca de quarenta), no salão, iniciam-se jogos realizados em conjunto. “Antes dessa atividade ser implantada, elas chegavam na sala cheias de energia, e chamavam-lhes a atenção o tempo todo, inutilmente”. Os jogos foram escolhidos em diversas fontes, inclusive uma apostila da Federação Espírita Brasileira.

Soraya projetou as imagens de alguns dos jogos. São jogos com um componente corporal (conter bolas de tênis em um círculo de crianças, andar vendado em um labirinto de pinos de boliche orientado por duas equipes concorrentes, andar em conjunto com um colega, amarrados pelos pés com barbantes, etc.) após os quais se faz uma reflexão. As crianças identificam valores antigos, como a colaboração, a amizade, a parceria, a liberdade de escolha entre o bem e o mal...

Fotografias Psicológicas

A coordenadora apresentou muitas fotografias de seu trabalho. Nelas se vê faces ora sofridas, ora cheias de graça. Algumas crianças continuam resistentes ao contato físico (um semi-abraço, um toque de mão nos ombros, etc.), outras já se permitem interagir com a psicóloga e com os colegas.

Outro detalhe salta aos olhos: com o passar do tempo as crianças passam a se arrumar para participar do grupo. Não é mais necessário ser maltrapilho e se deseja apresentar bem frente ao outro. As adolescentes passam batom, as crianças chegam com os cabelos cuidados, os meninos passam gel... O centro espírita não é mais o lugar de cuidar dos pobres, é um local de encontro de pessoas dignas.

Prontos para a aula

O espaço lúdico-pedagógico torna-se valioso para os evangelizandos. Talvez seja uma das poucas oportunidades de brincar que têm, em sua vida sofrida. Eles passam a exigir dos pais a presença na casa espírita.

Após o passe e as brincadeiras, em vez de ficar excitados, eles “esgotam suas energias”, sendo mais capazes de assistir aulas preparadas pelos evangelizadores do grupo. Tornaram-se crianças, e como tais não se transformam em argila dócil, mas confiam mais na equipe, aceitam mais o contato humano e estão mais dispostos a ouvir histórias, discutir seu mundo à luz do Espiritismo e fazer atividades mais tranqüilas, como desenhar.

Alguns resultados

Com nomes fantasia, que protegem a identidade, Soraya apresentou-nos alguns dos resultados, que vieram com o tempo. A menina que brincava e liderava meninos na rua, que a havia ameaçado com um pedaço tosco de pau na mão foi se tornando feminina, dócil e integrando-se ao grupo. Hoje ela ajuda a evangelizar crianças pequenas, é uma jovem que se tornou membro do grupo que antes parecia ameaçá-la.

O menino que verbalizava não gostar de ninguém, fechado, sofrido, após um tempo de trabalho, deixou um coração vermelho desenhado e cortado na cartolina, dizendo aos evangelizadores, “eu amo vocês”, para a emoção de todos.

Desenhos coloridos com cores escuras, expressando cenas de dor e violência, dão lugar a traçados coloridos, azuis, verdes, amarelos e vermelhos, que para nós, psicólogos, são um indício de manifestação de “bons” sentimentos, tão ausentes na vivência anterior dessas crianças.

Os casos se multiplicaram, mas o tempo da palestra e o espaço dessas linhas não os comportam a todos.

Saímos todos meditativos. Há muito que pensar, que fazer e que mudar.

23.11.08

Joanna de Ângelis na Ediouro?

Figura 1: Nova capa do "Convites da Vida"

Joanna de Ângelis, espírito que tem vasta obra psicografada por Divaldo Pereira Franco, publicou em 1972, aproximadamente a primeira edição do livro "Convites da Vida". O livro foi publicado pelo Centro Espírita Caminho da Redenção, cuja obra social é conhecida por todo o movimento espírita no Brasil e no exterior.

Para quem ainda não leu, são páginas curtas, de leitura rápida, ideais para o dia-a-dia. É um livro bom para se ter na pasta ou na bolsa, para se abrir no trabalho, naquelas horas em que se precisa de um bom conselho.

Os convites tratam de virtudes cristãs, como a fé, a esperança, a caridade, a resignação, a fraternidade, a humildade, entre muitas outras (são 60 convites!).




Figura 2: Capa da terceira edição da LEAE, feita por Jô.



Os arcaísmos estão presentes no texto, marca registrada do médium que já comemorou seus oitenta anos em plena forma, fazendo palestras ao redor do mundo, psicografando e convidando a todos para empenharem-se em construir um mundo melhor. As palavras do "português castiço" dão um certo charme e não comprometem a leitura, pela objetividade do autor espiritual, sendo, às vezes, necessário um dicionário para o leitor que deseja compreender integralmente o pensamento de Joanna.


A Ediouro não mexeu no texto, até onde consegui comparar. Ele está íntegro, como foi publicado em 72. Capa nova, tipos um pouco menores, sem as ilustrações que antecediam cada um dos capítulos, o livro ficou mais "fininho", o que facilita seu transporte. A brochura é resistente, deve tolerar consultas diárias, empurrões nos ônibus, pedidos de leitura de colegas e outros incômodos para os quais os livros são feitos.

Já começaram a me perguntar uma série de coisas: a Ediouro vai publicar outros livros espíritas? Como ficaram os direitos autorais? Por que Divaldo deixou o livro ser publicado por uma editora comercial?


Eu não tenho respostas. Primeiro porque a Ediouro está fazendo um certo charme e não teve tempo de responder minhas perguntas. Será que estas pequenas curiosidades revelam segredos de empresa? Pouco provável.


Eu imagino que o Divaldo está posicionando este livro para o grande público brasileiro. Ele atinge os simpatizantes (e até mesmo os antipatizantes...) aqueles que gostam das idéias espíritas, mas não frequentam o movimento. Em caso afirmativo, penso que a Ediouro, mesmo com seus silêncios, é uma excelente parceira para o Centro Espírita Caminho da Redenção.



Figura 3: Autógrado de Divaldo para o meu exemplar da terceira edição

Projeto Evangelizar - Jogos


Em agosto de 1986 (há vinte e dois anos!!!) coordenei um projeto na evangelização infantil denominado "Projeto Evangelizar". Organizamos grupos de interesse que desenvolveram material para treinamento de evangelizadores em diversas áreas que praticamente não tinham material publicado.


Com a palestra de sexta-feira redescobri alguma coisa que fizemos no projeto e pretendo publicar aos poucos no EC para o público leitor que trabalha com crianças nas Sociedades Espíritas do Brasil e do exterior.


A Recreação dos Três aos Cinco Anos


"Transpor um obstáculo e com isso rejubilar-se é a principal característica da recreação entre quatro e cinco anos. É a idade das proezas. A criança inventa as próprias brincadeiras, e de objetos mais diversos imagina uma série de brinquedos: um pau de vassoura é um cavalo, um sabugo de milho é uma adorável bonequinha."


"01 - Adivinhe o que foi


Indicação: três a cinco anos

Objetivos: atenção, observação, acuidade auditiva, saber esperar sua vez.

Material: uma venda de pano.

Preparação: as crianças sentam-se em semicírculo, destacando-se uma para ter os olhos vendados

Desenvolvimento: A fim de iniciar a brincadeira, a professora escolhe uma criança, que deve produzir três ruídos diferentes. O companheiro vendado deve identificar os sons produzidos (batidas de pés, toque na porta, palma, barulho na mesa, estalar de dedos, barulho com a língua, etc.) O próximo a ser vendado fica a critério da professora."


Se você já usou esta brincadeira em sala de aula, comente...

22.11.08

Dicas para Ler Livros Espíritas

Figura 1: Pintura à Óleo de Alexander Rossi

O Grupo Scheilla fez um convite gentil para discutirmos como estudar o Espiritismo. Um dos tópicos de nossa reunião foram estratégias de leitura, das quais selecionei doze dicas para o Espiritismo Comentado:
1. Escolha livros que lhe darão prazer.
2. A leitura é uma habilidade, leia um pouquinho todos os dias e aos poucos sua capacidade de ler aumentará.
3. Experimente estilos diferentes (contos, poesias, romances, mensagens, estudos, livros históricos, livros temáticos, etc...).
4. Se você não tem hábito de leitura, comece com textos curtos.
5. Para ler um romance de 500 páginas, não páre antes das quarenta primeiras...
6. Não pare a cada palavra desconhecida para procurar no dicionário. (Se quiser aprender palavras novas, anote-as e consulte depois).
7. Divida textos menores em partes.
8. Certifique-se que ao final da leitura você entendeu quais são as principais idéias do autor.
9. Evite ficar riscando ou marcando os livros. Em vez de marcar no texto as idéias principais, anote ao lado do parágrafo uma frase pequena que resume o que é tratado.
10. Leia periódicos espíritas (jornais, revistas, boletins e blogs ou similares), eles tratam de assuntos que não são encontrados nos livros em geral (notícias, informações sobre a casa espírita, textos sobre atividades especializadas, eventos, reflexões de temas do momento, entre outros).
11. Leia Kardec; estude Kardec. Se possível, nesta ordem.
12. Combine com os amigos ler o mesmo livro, ou troque de livros com os amigos. Fica mais fácil de tirar dúvidas e ouvir opiniões.

5.11.08

Semana de Célia 2009 trata da Inclusão Social


Seminário na FEB - Rio de Janeiro


Saúde e Espiritualidade


Ainda não li o livro, mas não se espera pouco dele. Prof. Mauro Ivan pertence à Faculdade de Medicina da UFMG, Departamento de Cirurgia, e vem promovendo com a ajuda de acadêmicos um seminário semestral de saúde e espiritualidade.
Gilson Freire é médico homeopata e médium, atuante no movimento espírita há muitos anos.
Espero em breve poder compartilhar as impressões do livro.