6.9.09

Leandro Resenha "A Caminho da Luz" de Emmanuel


por Leandro Couto



A obra A Caminho da Luz: história da civilização à luz do Espiritismo, merece ser lida e estudada por quem busca compreender a assistência constante de Jesus á humanidade. Podemos fazer a seguinte apresentação da obra:
Título: A caminho da luz: história da civilização à luz do Espiristimo.
Autoria: Ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Editoração: 1ª edição publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB) em 1938.
Estrutura da obra:
• Antelóquio (17-08-1938);
• Introdução;
• 25 capítulos;
• Conclusão (21-09-1938).
No Antelóquio Emmanuel esclarece:
“(...) Não deverá ser este um trabalho histórico. A história do mundo está compilada e feita. Nossa contribuição será à tese religiosa, elucidando a influência sagrada da fé e o ascendente espiritual, no curso de todas as civilizações terrestres. (...)”
É um livro religioso, tendo a religiosidade o significado da conexão entre o ser humano e Deus, e que se assenta em informações e conhecimentos histórico científicos.
Na Introdução, pondera Emmanuel:
“(...) Esse esforço de síntese será o da fé reclamando a sua posição em face da ciência dos homens, e ante as religiões da separatividade, como a bússola da verdadeira sabedoria (...)”
Os 25 capítulos que se seguem ao longo do livro consistem na abordagem que Emmanuel faz da História terrestre. Um dos destaques dados por Emmanuel se refere aos missionários divinos, espíritos eminentes no plano dos valores espirituais que visitam outras pátrias siderais e regressam ao orbe no esforço abençoado de missões regeneradoras dentro das igrejas e das academias terrestres.
Igrejas: lugares de avanço moral e religioso.
Academias: lugares de avanço intelectual e de melhora através da aplicação da razão.
Na conclusão, afirma: “(...) Em nosso modesto estudo da História, um único objetivo orientou as nossas atividades – o da demonstração da influência sagrada do Cristo na organização de todos os surtos da civilização do planeta, a partir da sua escultura geológica. (...)”
As datas do Antelóquio e da Conclusão chamam a atenção, por indicar que o livro foi psicografo por Chico no período de 36 dias e, principalmente, pelo momento histórico vivido na época: a obra foi psicografada na iminência da II Guerra Mundial (1939 - 1945).
Apreendendo a coerência entre o conteúdo da obra e a época da psicografia feita por Chico, é possível o seguinte entendimento acerca do livro:
• Mensagem esclarecedora da Espiritualidade Superior à humanidade terrestre da total compreensão do andamento dos fatos no orbe terrestre;
• Recorda o ascendente místico (elevação religiosa e a melhora espiritual) de todas as civilizações que surgiram e desapareceram;
• Ressalta o interesse na devida compreensão da História, buscando os grandes períodos evolutivos da Humanidade, com as suas misérias e seus esplendores, para afirmar as realidades espirituais acima de todos os fenômenos transitórios da matéria.
Ficou interessando pelo livro, então mãos à obra!

31.8.09

Why Spritism Gladdens Me



Figura 1: Cidades da Flórida com Centros Espíritas

Edgar Crespo

Tradução: Jáder Sampaio

Recebi no boletim da "The Spiritist Society of Florida" de julho de 2009 um texto escrito por Edgar Crespo, pai da Yvonne Limoges, hoje desencarnado. Como vivemos em uma sociedade que cada vez mais confunde felicidade com consumismo e sensações físicas, traduzi este texto ainda contemporâneo e o estou publicando alternando inglês e português. A sociedade fundada por Edgar fica em St Petesburg.

"Há pessoas que dizem que o conhecimento espírita tornou sua vida, às vezes, insuportável e deprimente. São os que sentem que eram mais felizes antes de haver conhecido o Espiritismo. Eu acredito que se eles se sentem desta forma, possivelmente não entenderam a doutrina corretamente.

There are those who say that knowing about Spiritism has made their life, at times, unbearable and depressing. Those that feel this way say that they were happier before they knew about Spiritism. I believe that if they feel this way, possibly they do not fully understand its true nature.

É verdade que o Espiritismo nos cobre de responsabilidades, e isto pode pesar sobre nós, mas explica o porquê, o que nenhuma outra crença ou filosofia faz. Sabemos onde há coisas que parecem ser injustas, porque estamos aqui e para onde vamos quando deixarmos o nosso corpo material. Para mim, este conhecimento faz a vida valer a pena e a torna mais interessante. Antes de conhecermos o Espiritismo, como vivíamos e quais eram as nossas prioridades na vida? Ela era mais voltada às coisas materiais e mais egoísta.


It is true, Spiritism does put a blanket of responsibility over us, and this can weigh heavy on us, but it explains what no other belief or philosophy does. We know why there are things that appear to be unfair, why we are here and where we go when we leave our material body behind. To me this knowledge makes life worth it and more interesting. Prior to our knowing about Spiritism, how did we live and what were our priorities in life? It was probably more material-oriented and maybe more selfish.

É verdade que gostamos da vida em família e de sair com os amigos e de passar horas agradáveis, mas à medida em que o tempo passa e começamos a envelhecer, começamos a pensas no que nos espera após a nossa curta jornada terrestre. As respostas mais completas vêm do Espiritismo, com suas muitas facetas.

True we enjoy family life and going out with friends and having a good time but when this time is past and we start to age, we then start to think about what awaits us after our earthly sojourn. The most complete answers come from Spiritism, with its many facets.

Tenham em mente que a filosofia espírita não é para qualquer um. Quando as religiões tradicionais não nos dão consolo ou respostas, uma pessoa pode ser suficientemente madura para aceitá-lo.


Keep in mind that the Spiritist philosophy is not for everyone. When traditional religions do not provide us solace or answers, a person may be mature enough to accept it.
Esta aceitação é spiritual e irá permanecer conosco por um longo tempo, durando após todos os outros sentimentos de satisfação material nos deixarem. Sentimentos espirituais permanecem conosco para a eternidade, enquanto os prazeres materiais irão ficar por aqui quando nos formos.

This acceptance is a spiritual one that will remain with us for a long time; lasting after all other feelings of material enjoyments will have left us. Spiritual feelings remain with us for eternity, while earth’s material pleasures will remain here when we are gone.

É uma grande alegria saber que alguém nos ama pelo que somos e não pelo que temos, é uma felicidade saber que não perdemos nossos parentes e pessoas queridas para sempre, mas que estarão conosco quando retornarmos para nossa verdadeira casa, o mundo espiritual. Parecemos esquecer que quando uma criancinha nasce aqui, há muitos que se entristecem no mundo dos espíritos. Você já pensou nisto? Eles estão perdendo seu amigo devido ao seu retorno ao mundo material, repleto de provas.

It is sheer joy to know that someone loves us for what we are and not what we have, certain gladness in knowing that our relatives and dear ones are not lost to us forever, but that they will be there when we return to our true home, the spirit world. We seem to forget that when a baby is born here, that many are very sad in the spirit world. Did you ever think of this? They are losing their friend due to its returning to the material world full of trials.

Os muitos mistérios da vida irão desaparecer lentamente quando começarmos a explorar esta nova ciência chamada Espiritismo; quando começarmos a compreender claramente que somos de fato almas que não se extinguirão quando perdermos estas frágeis coberturas chamadas corpos! Viveremos para sempre no mundo que alguns chamam de Invisível.

Life’s many mysteries will slowly disappear when we start to fully explore this new science called Spiritism; when we start to fathom that we are indeed souls which will not be extinguished when we lose this flimsy covering called bodies! We will live forever in the world some call the Invisible.

Se deixarmos de lado os desapontamentos da vida material, concluiremos que agora temos uma nova consciência por causa do Espiritismo, a vida que nós conhecemos irá se expandir diariamente enquanto aprendermos as muitas coisas que antes não tinham significado para nós.

If we put aside life’s material disappointments we will come to the conclusion that now we have a new awareness because of Spiritism, life as we know it will now expand on a daily basis while we learn many things that before did not even have meaning for us.

Sou dos que é feliz porque Deus, meu Pai, possibilitou-me o privilégio de conhecer esta doutrina. Sem seus ensinamentos, muitas das tribulações da vida não teriam significado para mim.

I for one am glad that God, my Father, has granted me the privilege of knowing about it. Without its teachings, many of life’s tribulations would be meaningless to me.

Eu evito os sentimentos de depressão reconhecendo que minha alma tem um longo caminho por percorrer na jornada evolutiva. Deus é todo amor, nossos parentes e família nos amam e esperam por nós no mundo espiritual, e nossos mentores espirituais nos amam.

I fight off feelings of depression by recognizing that my soul has a long way to go on it evolutionary journey. God is All Love, our relatives and family love us and await us in the spirit world, and our spiritual mentors love us.

Lendo e estudando o Espiritismo com sinceridade com uma mente aberta pode trazer a você uma elevação espiritual. Você começará a ter sentimentos para os quais não há nenhuma explicação material, só espiritual.

Sincerely reading and studying Spiritism with an open mind can bring you a spiritual uplifting. You will start getting feelings for which there are no material explanations, only spiritual ones.

Quando você começar a ter seu equilíbrio espiritual, você irá começar a ter sentimentos de êxtase e seu espírito ficará feliz o que irá afetar seu corpo de uma forma positiva, especialmente quando os problemas da vida vierem. Por estas razões o Espiritismo alegrará a sua alma e não deixa-la-á triste.

When you start to get your spiritual balance, you will begin getting feelings of bliss and your spirit will be happy which in turn will affect your body in a positive manner, especially when life’s troubles come your way. Then Spiritism will gladden your soul, not sadden it!"

26.8.09

LIVRO APRESENTA PESQUISAS BRASILEIRAS SOBRE O ESPIRITISMO - SP




Está no prelo o livro "Pesquisas sobre o Espiritismo no Brasil: Textos Selecionados". Está sendo feita a pré-venda do livro pela Comissão Organizadora do 5o. ENLIHPE.


O preço de capa é de 25 reais. Para quem comprar ou encomendar o livro para retirar no 5o. ENLIHPE ele sai a 17 reais.

Quem quiser receber em casa paga também a taxa de correio, que está em torno dos 5 reais, o envio normal.

Vendas para livrarias, Centros Espíritas, Distribuidores e Clubes do Livro Espírita: Preços promocionais.

Pedidos para o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, aos cuidados de Edson Santiago ou Wanda Guerreiro. Endereço: Alameda dos Guaiáses, nº 16 – Planalto Paulista – São Paulo/SP Fone: (011) 5072-2211

Pode ser feito depósito ou transferência pela internte para conta bancária no Brasdesco. Informações no CCDPE: 5enlihpe@ccdpe.org.br

Segue aos interessados a introdução do livro, com uma apresentação rápida dos temas e autores.


"O Brasil é o país com o maior número de pessoas afiliadas a sociedades espíritas em todo o mundo. No último censo, há quase dez anos, 2,2 milhões de pessoas se declararam espíritas ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e este segmento apresentou a maior média de escolaridade (9,6 anos de estudo). Simpatias à parte, quando se constata que o movimento espírita tem mantido seu percentual da população em nosso país nos últimos 50 anos, enquanto diminuem os que se declaram católicos e aumenta vertiginosamente os que se declaram evangélicos ou sem religião, era de se esperar que a Universidade Brasileira ficasse curiosa quanto ao Espiritismo em três vertentes: o movimento espírita, os fenômenos espíritas e a filosofia espírita.

Infelizmente, são recentes os estudos sobre a primeira vertente. Apenas um grupo de pesquisa do banco de dados do CNPq em todo o país apresenta a palavra Espiritismo como linha de pesquisa (três são encontrados com alguma menção ao Espiritismo em suas bases), nenhum apresenta o termo filosofia espírita, ou história do Espiritismo como objeto de estudo, nem mesmo nas universidades que apresentam cursos de ciências da religião. Não é curiosa esta negligência para um fenômeno social tão relevante para o entendimento da brasilidade, ou, até mesmo do ser humano?

Apesar da falta de visibilidade pesquisas têm sido realizadas no Brasil, seja na Universidade, seja fora dela. A antropologia tem sido o campo de conhecimento que mais se interessou pelo Espiritismo como manifestação cultural e social, e o tema parece ter se legitimado com o interesse da Escola Francesa, que tem realizado trabalhos sistemáticos, como é o caso de Marion Aubrée e François Laplantine. Aqui e ali surgiram trabalhos na Física (isto mesmo, Física), na Administração, na Medicina e em outros campos do conhecimento, mas são iniciativas isoladas e motivadas por interesse pessoal.

Como o movimento espírita se interessa pelos trabalhos acadêmicos, há cerca de dez anos surgiu uma iniciativa de um psicólogo interessado pela preservação da memória do movimento. Eduardo Carvalho Monteiro foi convidando e agrupando pessoas interessadas no Espiritismo, não necessariamente espíritas, e propôs a criação de uma associação virtual (Liga de Historiadores e Pesquisadores Espíritas - LIHPE), que ganhou corpo com a iniciativa de Milton Piedade ao fundar-se um grupo virtual na internet para o intercâmbio entre interessados no Brasil e no Exterior. Do grupo vieram as reuniões presenciais, iniciativas de apoio a publicações, parecerias com periódicos espíritas e outras ações de divulgação do conhecimento, mas seguramente o projeto mais audacioso foi a fundação do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, que com a desencarnação de seu idealizador e principal doador do vasto acervo bibliográfico e documental, recebeu seu nome como justa homenagem.

Como instituição para-acadêmica, semelhante a tantas outras no exterior, o CCDPE tem apoiado as iniciativas de produção de conhecimento e mesmo ante a escassez de recursos, não tem se furtado a apoiar a publicação, a oferecer o espaço físico para iniciativas consistentes com seus objetivos e nos últimos anos tem sido a sede do Encontro Nacional da LIHPE e colocou toda a sua equipe de apoio à disposição da organização do evento. Este livro é uma das iniciativas conjuntas entre LIHPE e CCDPE e compreende uma seleção de trabalhos apresentados no evento de 2008.

O evento abriu espaço para a inscrição de trabalhos, e sua localização possibilitou uma grande presença de pesquisadores paulistas, mas também de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia. A divulgação dos temas aceitos atraiu jovens pesquisadores que estavam com seus projetos de pesquisa ainda incipientes, mas que participaram ativamente das discussões dos trabalhos apresentados. Um destes jovens pesquisadores foi o italiano Reginaldo Cerolini, que posteriormente teria seu trabalho de pós-graduação aprovado na Universidade de Bologna.

O intercâmbio pessoal, que tanto valorizamos em Minas Gerais, catalizado pela apresentação da relação de teses e dissertações que tratam de Espiritismo, apresentada pelo doutorando Marco Milani, da USP, gerou uma iniciativa de um grupo de pesquisadores atualmente na Universidade de Franca, de publicar teses e dissertações que tratam do Espiritismo. Neste momento, três livros estão no prelo e serão lançados no 5º. ENLIHPE, em setembro de 2009. Esta iniciativa fortalecerá o Centro de Cultura.

Neste pequeno livro, o leitor encontrará inicialmente um levantamento das teses e dissertações de mestrado e doutorado com temática espírita, produzidas entre 1989 e 2003 que ficaram registradas nos arquivos da CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Não é uma lista exaustiva, mas muito criteriosa e o autor está aceitando indicações de trabalhos que estejam fora da sua estratégia de pesquisa, mas que contemplem sua intenção de registrar e informar.

O segundo capítulo trata da intolerância contra o Espiritismo. Ao contrário do que se imagina, este tema abre novas possibilidades de compreensão da trajetória do pensamento espírita, porque traz à luz o que está no porão da História. Em seu nascimento e ao longo dos anos o movimento espírita de diversos países sofreu agressões e pressões que não se resumem ao democrático exercício da crítica.

O terceiro capítulo, escrito por um pesquisador independente, é um estudo de revisão das obras de Claude Bernard, com alguma incursão em seus comentaristas. Paulo Henrique surpreende a Universidade Brasileira, que hoje ensina que o médico francês é uma das grandes expressões do século XIX na defesa de uma medicina sem o conceito de fluido vital. Ele mostra como Bernard era um vitalista a sua moda, ou seja, não rejeitou jamais esta teoria, apenas seus excessos e nunca reduziu a fisiologia ao estreito paradigma naturalista da físico-química.

O quarto capítulo vem de um jovem escritor baiano, que dedicou anos de estudo e trabalho à recuperação de fontes pouco conhecidas da médium Yvonne A. Pereira. Entrevistas radiofônicas e jornalísticas de periódicos espíritas de pequena circulação foram compulsados, o que lhe deu uma bagagem interpretativa e a possibilidade de um olhar inovador sobre sua obra.

No quinto capítulo o leitor encontrará outra análise expressiva de um outro ator importante ao movimento espírita. Este trabalho de Flávio Tavares sobre seu pai, Clóvis Tavares, ex-militante do partido comunista, convertido ao pensamento e à ação social espírita, é uma espécie de diálogo (talvez um desabafo) contra uma dissertação de mestrado defendida no conhecido CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, que conta uma história após a qual uma de suas principais fontes, a mãe de Flávio, não reconhece seu discurso gravado e transcrito, mas implacavelmente interpretado à moda do escritor.


O sexto capítulo, escrito pela Professora Nadia Lima, da Universidade de Franca, é um retorno no tempo à Uberaba de Chico Xavier, na qual uma auxiliar de enfermagem e um grupo de simpatizantes do Espiritismo fundam a partir de uma decisão médica de se colocar na rua portadores de pênfigo foliáceo. A mestre em História, influenciada pela Nova História Cultural, trata de uma lacuna curiosa da História da Saúde, simpática aos grandes médicos, às decisões e políticas de âmbito nacional e aos grandes empreendimentos; uma história faraônica, que no seu silêncio despreza as minorias sem voz.

O sétimo capítulo, escrito por Adolfo Mendonça da mesma região da Profa. Nadia é calcado na proposta de se fazer uma narrativa analítica da vida de José Marques Garcia, ao redor do qual se vê o renascimento do movimento espírita de Franca em uma concepção não apenas experimental ou mediúnica. Apesar de sucinto, possibilita ao leitor informado uma análise transversal com outros atores importantes e de outras localidades geográficas do movimento espírita brasileiro, como Bezerra de Menezes, Batuíra e Guilherme Taylor March, cujos estudos mais conhecidos no ambiente acadêmico focalizam muito a efervescente capital do império que se torna república e talvez pontualmente a mineira Sacramento de Eurípedes Barsanulfo.

O oitavo capítulo, oriundo de uma dissertação de mestrado em Literatura, faz uma esforço de hermenêutica de algumas crônicas de Irmão X, que são associadas ao conhecido processo de 1944, movido pela viúva do escritor Humberto de Campos contra Chico Xavier. Alexandre Caroli Rocha, hoje doutor, desvenda o olhar testemunhal do autor espiritual sobre o processo, que usa dos seus vastos recursos de escritor para comentar em crônicas e contos, e talvez discutir com o médium e a sociedade de sua época os fatos que marcariam o futuro das ações movidas na justiça contra médiuns no Brasil.

O nono capítulo é mais uma peça do quebra-cabeças do Espiritismo Brasileiro no início do século XX. Alexandre Ramos se debruça sobre a noção de caridade e a construção de abrigos espíritas para a infância, tendo como ator importante na sua constituição Leopoldo Cirne, e como pano de fundo as relações entre o movimento espírita e a igreja católica. Cirne é outro personagem pouco conhecido, seja pelo movimento espírita, seja pelos historiadores, pelos primeiros possivelmente pelo roustainguismo que polarizou e polariza espíritas ainda nos dias de hoje Brasil afora.

O décimo capítulo conclui esta seleção de trabalhos com um estudo de caso sobre as ações mais contemporâneas do jornal Correio Fraterno na preservação da memória. Izabel Vitusso,, atual editora do jornal, também não se furta a tratar da constituição do Correio e de sua experiência pessoal, memórias que remontam à infância uma vez que Raymundo Espelho foi um dos trabalhadores silenciosos da manutenção ininterrupata de um periódico de quarenta anos de idade, de uma das cidades satélite da capital de São Paulo.

Apesar de prejudicado pelo pouco espaço concedido por um dos organizadores do evento (mea culpa) aos autores, e inegavelmente simpático ao movimento espírita, apesar do esforço de seus autores no respeito à metodologia alcunhada científica de pelo menos quatro campos diferentes do conhecimento, o livro abre perspectivas, inicia diálogos e funciona como um sinal de que o desdém e o preconceito contra o estudo do Espiritismo está mudando e a Universidade Brasileira está se interessando por uma minoria brasileira e uma forma de conhecimento que institucionalizou-se e insiste em prosseguir sua trajetória há muito mais que um século."

24.8.09

TERMINADAS AS FILMAGENS DE CHICO XAVIER

FIGURA 1: Foto da equipe que trabalhou em Chico Xavier, o Filme.

O blog que noticia a produção de Chico Xavier, o Filme, longa metragem dirigido por Daniel Filho, anunciou no dia 17 o final das filmagens. O filme entra agora em outra fase, a de edição. Fica a pergunta dos entusiasmados internautas que acessam nosso blog: Quando vai estar na telona? Estamos com muita vontade de comer pipoca e assistir a nova leitura da vida do médium mais importante do século XX na história do Espiritismo Brasileiro.


20.8.09

REVISTA DA UNCAMP PUBLICA ARTIGO SOBRE PSICOPICTOGRAFIA


Figura 1: Augustin pinta no IMI, na França. Figura obtida no artigo tema desta publicação.

Luisa Pessoa, graduanda em Ciências Sociais da UNICAMP publicou artigo sobre psicopictografia na Revista de Antropologia e Arte. Segue o resumo e o link para os interessados.



Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar reflexões preliminares sobre o uso religioso da arte a partir da descrição de uma sessão de pintura mediúnica ocorrida na cidade de Campinas, em 2008. Ao longo do artigo são apresentadas algumas referências relevantes para a compreensão das implicações do conceito de arte espírita sobre a prática psicopictográfica. A exposição está dividida em três partes: (a) etnografia de uma sessão de pintura mediúnica, (b) apresentação de casos de psicopictografia em precursores do espiritismo, assim como de exemplos contemporâneos e locais, (c) conceitualização de arte espírita.

Palavras Chave: mediunidade, psicopictografia, espiritismo, arte espírita.

16.8.09

MUITO SERÁ PEDIDO

Figura 1: Culpa
O comentário de Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, tornou conhecida no meio espírita a afirmação de Jesus: “Àquele a quem muito se deu , muito será pedido” (Lc 12:48).

O que se conhece pouco é o contexto no qual foi dita a frase magistral, que encerra uma história de Jesus para os apóstolos.

Jesus utiliza a imagem do senhor e dos servos. Na sociedade judaica, a servidão era uma forma de quitação de dívidas.

O Rabi conta a história de um senhor que saiu para uma festa de núpcias. À época, este tipo de festa poderia durar muitas horas e até dias. Como tivesse muitos servos ele escolheu um deles e repassou a responsabilidade sobre a casa. Neste caso, os demais servos deverão obedecê-lo e ele pode, segundo os costumes da época, puni-los com chibatadas se necessário for.

Diante do pequeno poder que lhe é confiado este servo pode fazer duas coisas. A primeira é ser zeloso com seus deveres, manter-se acordado (vigilante), pronto para atender a porta quando seu senhor chegar, com as lâmpadas de azeite acesas, mantendo a ordem na casa e tratando com humanidade os demais servos. A segunda é imaginar que o seu senhor demora a chegar, tornar-se arbitrário, espancar seus desafetos que se encontram sob sua autoridade, “comer, beber e embriagar-se”, esquecendo-se dos seus deveres e do seu lugar.

Jesus recomenda que o servo, temporariamente com as atribuições de administrador, mantenha os rins cingidos (esteja vestido adequadamente) e as lâmpadas acesas (Lc 12:35). Ele deve fazê-lo mesmo que o seu senhor chegue na segunda ou terceira vigílias (a noite era dividida pelos judeus em três vigílias), ou seja, tarde da noite.

Pedro parece perceber que Jesus está fazendo uma recomendação aos apóstolos e faz uma pergunta confirmatória (Lc 12:41), a qual é respondida afirmativamente, mas de forma igualmente metafórica.

O Mestre conclui sua parábola com uma explicação estranha, se tomada em separado, mas muito lógica. Se os servos exorbitarem na ausência do senhor, serão chicoteados (ou punidos, conforme a tradução), mas aquele que conhecia a vontade do seu senhor, será ainda mais punido.

Jesus ilustra o papel da vigilância na vida dos que desejam ser seus seguidores. Em linguagem espírita, é uma das passagens que mostra o papel da consciência do mal nas relações de causa e efeito.

Uma leitura psicológica possibilita a seguinte análise: além do sofrimento próprio da conseqüência dos atos equivocados, aquele que se reconhece negligente sofre duas vezes, porque lhe advém à mente que poderia ter agido de forma diferente para evitar as conseqüências indesejáveis.

No contexto contemporâneo, a história não se aplicaria apenas aos apóstolos, como na origem, mas a todas as pessoas. A vigilância não significaria apenas a fiel observância dos valores cristãos, mas a vida responsável pelas ações realizadas e a certeza de que nossas negligências ou cuidados desencadearão consequências futuras.

10.8.09

A GÊNESE EM PORTUGUÊS ANTES DA FEB

Tive em mãos um exemplar raro de uma tradução praticamente perdida de “A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. Foi publicado em 1882 pela famosa livraria Garnier, do Rio de Janeiro, então capital do “Império do Brazil”.

O livro traz informações importantes para o entendimento da História do Espiritismo Brasileiro



UM POUCO DE HISTÓRIA

Canuto Abreu, em seu livro “Bezerra de Menezes”, situa o Grupo Confucius como a primeira instituição espírita do Brasil, criada em 1873 com a finalidade “dirigir o Espiritismo e orientar a propaganda”. Ele perdurou por menos de três anos, e nele se fez a primeira tradução de “O Livro dos Espíritos”, atribuída a Joaquim Carlos Travassos. Nele o espírito Ismael defendeu como diretriz para o Espiritismo Brasileiro a frase “Deus, Cristo e Caridade”.

Do processo dissolução do Confucius surgiram inúmeros grupos de estudo nos lares de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, o que fez surgir, em 26 de abil de 1876, a “Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade”, da qual um dos dirigentes ainda conhecido nos nossos dias foi Bittencourt Sampaio.

Houve discórdia dentro da Sociedade, associada às diferenças entre os alcunhados “místicos” e os “científicos”. Os primeiros fundaram em março de 1880 a Sociedade Espírita Fraternidade e os outros fundaram a “Sociedade Acadêmica Deus Cristo e Caridade” em 3 de outubro de 1879.



A TRADUÇÃO DE A GÊNESE

A Gênese que tenho em mãos é fruto de uma decisão do Centro, como se lê impresso, em agosto de 1881. Não sei dizer se a Sociedade Acadêmica atribuiu-se esta função ou se já existia uma tentativa de integração dos grupos existentes. Consta que foi traduzida em 1882 da oitava edição francesa.

Os editores fizeram informar no verso da capa que a Sociedade Acadêmica adotava cinco livros de Allan Kardec para seus estudos. São eles, com as respectivas classificações: O Livro dos Espíritos (parte filosófica), O livro dos Médiuns (parte experimental), O Evangelho Segundo o Espiritismo (parte moral), O Céu e o Inferno (parte doutrinária) e A Gênese (parte científica).

Os livros eram estudados em francês e suas traduções só eram aprovadas depois de cotejadas com o original. A tradução que tenho em mãos foi aprovada pela Sociedade Acadêmica.

O PREFÁCIO

A Sociedade faz escrever um prefácio ao livro de Kardec que cognominam “o colecionador” e, como os franceses, “o Mestre”.

Eles afirmam que alguns dos participantes da Sociedade queriam fazer modificações no livro, pela influência da obra de Roustaing, mas eles foram contrários:

“...publicamos a presente tradução da Gênese, sem a mínima alteração, e mesmo sem anotações; não concordamos que fosse aumentada, ou alterada...”

“A Sociedade Acadêmica julga que não lhe assiste, como a ninguém, o direito de alterar o plano e menos ainda as bases fundamentais, as teorias, a doutrina das obras publicadas pelo nosso Mestre...”

Alerta-se o leitor sobre a propaganda que se faz da Revista da Sociedade Acadêmica em substituição à da Revista de Paris (possivelmente a Revue Spirite), devido à facilidade de acesso para os leitores.





A DÚVIDA

Os acadêmicos publicaram uma página de homenagem à União Espírita Universal. Tratar-se-ia da União Espírita Francesa, proposta por P. G. Leymarie em assembléia futura (24/12/1882) que já estaria sendo debatida nos meios espíritas?

7.8.09

LA REVISTA ESPÍRITA EN ESPAÑOL

Enrique Baldovino en Cartagena

Enrique Baldovino escribió el texto siguiente sobre la publicación de la Revista Espírita de Allan Kardec.

«El CEI - Consejo Espírita Internacional (Entidad que reúne y coordina actualmente el Movimiento Espiritista de 33 países) acaba de lanzar, en español, la Revista Espírita - Periódico de Estudios Psicológicos, de Allan Kardec, Año 1859, que ha sido traducida del original francés al castellano por Enrique Eliseo Baldovino. Era la única Obra Kardeciana que aún no había sido traducida al noble idioma de Cervantes, lengua que es hablada en el mundo por una expresiva colectividad de 400 millones de personas de habla hispana.»



«Una de las particularidades de la Revista Espírita de 1859, entre tantas otras, se encuentra en las páginas 365 a 369, donde ha sido rescatado por el traductor un facsímil del Fragmento de una Sonata, dictado por el Espíritu Mozart al médium Brion Dorgeval, hecho mediúmnico que Allan Kardec comenta favorablemente en la Revista Espírita del mes de mayo de 1859, en su notable artículo: Música del Más Allá, pág. 123. Las 5 partituras de esta música (muy rara) fueron quemadas en el tristemente célebre Auto de fe de Barcelona del 9 de octubre de 1861 por el obispo de aquella ciudad, Antonio Palau y Termens, documento histórico que ha sido recuperado en un Museo de Londres.»




«El pensamiento lúcido de Allan Kardec brilla en toda la Revista, con temas que posteriormente fueron transcriptos, en parte o literalmente, en todas las Obras de la Codificación, siendo la Revue Spirite un gran laboratorio doctrinario, donde el eminente Codificador estructuraba, comparaba, seleccionaba y registraba el pensamiento de los Númenes Tutelares de la Humanidad. La traducción cuenta también con un Prefacio del Espíritu José María Fernández Colavida, psicografiado en español por Divaldo Pereira Franco, además de 428 notas del traductor al final de la Obra y un útil Índice Antroponímico que permite encontrar rápidamente el nombre y el apellido de todos los protagonistas, célebres o anónimos, que han pasado por las páginas memorables de la Revista Espírita de 1859.»

«La traducción, cuya portada exponemos aquí, puede ser adquirida en el sitio de la EDICEI (
www.edicei.com), a través del e-mail: spiritist@spiritist.org y también en la librería Mundo Espírita de la Federação Espírita do Paraná (http://www.livrariamundoespirita.com.br), a través del correo electrónico: livraria@mundoespirita.com.br (FEP)».

3.8.09

PILOTO DA SEGUNDA GUERRA REENCARNADO?


Figura 1: Capa do livro publicado sobre este caso.

Faz muito tempo que Ian Stevenson iniciou seus estudos sobre memórias espontâneas de crianças que sugerem reencarnação. No Brasil publicou-se em língua portuguesa o livro "Vinte Casos Prováveis de Reencarnação", que devo ter comentado há alguns anos neste blog.
Recebi da minha colega psícóloga, a Cléria, os links para uma matéria possivelmente da rede ABC de televisão, norte-americana, que se encontra no You Tube e que mostra a trajetória do ceticismo de um pai que começa a observar que nem tudo o que uma criança fala é fantasia.

A editora Best-Seller traduziu e publicou o livro que narra mais detalhadamente o caso.

Não tenho opinião formada, mas vale a pena assistir o programa e ler o livro.

Primeira Parte do Programa no You Tube


Segunda Parte do Programa no You Tube

24.7.09

CRÔNICA: SEXTÃO EM NOVA LUZ

Sete e meia da manhã e a turma de evangelização infantil, com alguns agregados acima e abaixo da idade já se reuniam para um programa diferente. Os pré-adolescentes iriam ajudar a festa junina preparada para as crianças da evangelização do núcleo que funciona em uma das regiões mais carentes da Grande BH.

Autorizações escritas dos pais em mãos, aguardamos que uma mãe esquecida chegasse esbaforida de carro, trazendo o papel que esquecera para que a filha pudesse seguir com o grupo.



Figura 1: Sextão com as prendas preparadas para distribuir em Nova Luz


O bairro Rosaneves fica em Ribeirão das Neves, considerada cidade dormitório por alguns analistas econômicos e região de criminalidade violenta pela Polícia Militar. Seguimos a BR040 até a entrada para Esmeraldas e entramos à direita. O comboio de carros de passeio seguia em fila indiana, e dentro dos veículos a conversa era animada.

Ao chegar ao bairro, a paisagem modifica. Casas simples em uma arquitetura horizontal, um comércio ativo porque era manhã de sábado e uma comunidade evangélica em cada quarteirão. Muitas destas comunidades eram simples como o povo, mas a igreja da Universal se destacava com sua altura acima da linha dos telhados e as grandes janelas azuis, penso que indicando prosperidade em meio à simplicidade.


Figura 2: Vista da região ao fundo de Nova Luz
Apesar de já estarmos auxiliando nossos irmãos de Nova Luz há alguns anos, eu nunca havia estado pessoalmente. Vi através de fotos a construção pequenina no imenso terreno doado pela generosidade de um amigo do Sr. Arnaldo, ex-diretor de nossa casa. Com o passar dos anos, o Célia Xavier foi apoiando a construção de novos espaços para atividades.

Chegamos cedo, mas já havia crianças e mães à porta, esperando, álacres.

A coordenadora da evangelização e o diretor do núcleo nos receberam, com entusiasmo e afeto, apresentaram os trabalhadores voluntários da região e os que vêm de Belo Horizonte todas as semanas para auxiliar na cozinha e nas aulas. A maioria é de jovens, trabalhando lado a lado com adultos, como é o caso do Dr. Felipe, médico que ajuda na preparação do lanche e põe a mão na massa na hora da limpeza.


Figura 3: Voluntários da cozinha preparando o lanche do dia

As paredes são simples e o salãozinho estava decorado com frases da mediunidade de Chico Xavier e da codificação em banners feitos com dedicação e pequenos problemas de ortografia.

As salas de aula foram transformadas em barraquinhas de jogos: boca do palhaço, latas empilhadas, arremesso de argolas e outros, tão característicos das festividades juninas.

Aos poucos as crianças foram entrando e eu saí para a rua para conversar com os membros da população que foram atraídos pela curiosidade. Uma criança, que não publicarei o nome nem a foto, olhava por detrás do gradil procurando pelos colegas que já haviam entrado. Eu perguntei se ele conseguia ver alguma coisa, e nós dois ficamos meio decepcionados, porque as janelas abertas e as filas não permitiam ver os jogos. Eu perguntei porque ele não entraria e ele me respondeu chateado que não podia porque ali era um Centro Espírita e os pais evangélicos jamais o inscreveriam na evangelização espírita. Solidário, perguntei se ele não ia no culto ou na escola infantil da igreja evangélica que os pais freqüentavam, e ele apenas me disse que não gostava de lá.


Figura 4: Sextanistas em uma janela traseira de Nova Luz

As crianças entravam e recebiam cartões que indicavam o número de vezes que poderiam jogar (e ganhar alguma coisa, uma pipoca doce, uma prenda...) Os impressos eram do DCE da UFMG, iam ser jogados fora após seu uso em alguma comemoração, e a coordenadora resolveu dar uma nova utilidade antes de reciclá-los. Até o papel impresso enchia os olhos das crianças.

Os motoristas fomos visitar o terreno e ouvir os planos que os olhos brilhantes do Carlos tinham para aquela luz acesa na comunidade. Uma fábrica de vassouras, tendo em vista a auto-sustentação, uma plantação de flores, um novo espaço para as atividades que vão surgindo com a adesão dos moradores da região ao grupo e ao Espiritismo.

Fiquei de enviar a ele possibilidades de captação de recursos para a efetivação de seus projetos.



Figura 5: Crianças em fila com os cartões para o acesso aos jogos

Veio a quadrilha em um pátio pequenino, mas animado. Evangelizadores e evangelizandos dançavam juntos a tradição e as evoluções universais desta manifestação cultural brasileira.

Figura 6: Saindo...

Foi chegando a hora de arrumar tudo, e a turminha do sextão estava cansada. Sempre foram participantes, mas naquele dia eram trabalhadores. As crianças menores que vieram conosco aproveitaram para brincar nas salas vazias e alguns dos meninos da região aceitaram brincar sem ganhar prêmio, e foi minha vez de organizar a diversão.


Figura 7: Biblioteca de livros espíritas

Terminada a evangelização ainda encontramos membros da comunidade na biblioteca, trazendo e levando livros espíritas para casa. Outros estavam prontos para as aulas de informática, em um pequeno laboratório com máquinas já antigas, mas úteis para a inserção digital dos interessados.

Figura 8: O instrutor no laboratório de informática (à direita)

Tudo organizado, voltamos cansados e felizes para os carros e voltamos conversando durante os quarenta e cinco minutos de estrada. O Henrique, de sete anos estava satisfeito. Perguntei a ele se gostava mais da atividade ou das aulas de evangelização, que ele me respondeu com a honestidade franca infantil: - Você está brincando? É claro que a excursão é melhor!

22.7.09

LIVROS ESPÍRITAS OU DE MERCADO CONSUMIDOR ESPÍRITA?

Figura 1: Livros (foto de sharkinho)



Dalmo Duque dos Santos fez uma oportuna reflexão sobre o novo mercado de livros espíritas que está em funcionamento. http://observadorespirita.blogspot.com/2009/07/paixao-pelos-livros.html

A questão dos romances açucarados que ele comenta é real e gostaria de adicionar minha opinião ao tema.

O romance, os contos e outras formas narrativas costumam ocupar o lugar de entretenimento, mas grandes escritores articulam sua história com o seu olhar sobre o mundo, que pode ser de crítica social, às vezes de análise psicológica, ou discutindo um tema de interesse do seu público leitor (sem cair no pedagogismo, que na minha opinião costuma empobrecer a narrativa). Ele intercala sua intenção de proporcionar uma leitura prazerosa com um algo mais.

Quando penso na literatura espírita, tão desconhecida pela maioria dos nossos especialistas universitários, não me esqueço da experiência pessoal de se ler livros como “Renúncia”, de Emmanuel, Memórias de Um Suicida, de Camilo (com comentários de Léon Denis, como nos mostrou o Pedro Camilo), “A Mansão Renoir”, de Alfredo, “Dor Suprema”, de Vítor Hugo, o notável “Memórias do Padre Germano” escrito a partir do ditado psicofônico do espírito Germano por Amália Domingos Soler, “Os Luminares Tchecos” de Rochester, entre muitos outros.

Estou evitando os novos autores intencionalmente, por uma razão: tenho lido menos romances .

Penso que o Dalmo concorda comigo: ele não levanta sua pena (melhor falando, seu teclado) contra o gênero literário, mas contra uma mentalidade, que é a mentalidade meramente comercial.



Esta mentalidade não nasce nos editores, nem nos distribuidores, mas está no centro espírita, nas livrarias e bibliotecas espíritas, e pior, principalmente nos Clubes de Livro espírita. Está em quem consome e em quem forma opinião.

As livrarias acham cômodo comprar dos distribuidores, que estão cada vez mais influentes junto às editoras e divulgam com peso os livros que consideram comerciais, alguns de boa e outros de má qualidade.

Os Clubes do Livro, que também são viabilizadores da edição de livros, também optam pelos açucarados para evitar reclamações e fidelizar clientes. Primeiro eles formam seu público e depois reclamam de não ter opção. Em Belo Horizonte o CLUBAME, quase na contramão desta tendência, tem adotado uma conduta divergente, que é a de distribuir três gêneros de livros: um romance, um livro de estudos e um livro infantil. E estão cheios de leitores e projetos futuros.

As bibliotecas não compram livros. Geralmente fazem campanhas e escrevem cartas pedindo doações. Não fazem sequer um pedido orientado de doações junto aos frequentadores das sociedades espíritas, ou seja, não administram seu acervo. Quando compram, o fazem direcionadas pela procura dos leitores, ou seja, Kardec (ainda bem), André Luiz (geralmente a série a vida no mundo espiritual) e romances, muitos romances. Como são bibliotecas de empréstimo domiciliar e dificilmente de estudos, são poucas as que têm obras raras e edições antigas, tão necessárias à pesquisa séria.

Os expositores, contudo, são os grandes formadores de opinião na casa espírita. Fiquei curioso para ler Inácio de Antioquia, depois de uma palestra que minha esposa assistiu de um sério colega espírita mineiro. Se eles não apresentam e discutem os livros com seu público, não será um belo projeto gráfico que irá atrair o público leitor, geralmente conservador em matéria de Espiritismo. O público se interessa pelo que eles divulgam (e pelo que criticam também).

Isto nos leva a uma outra questão, os livros sensacionalistas, repletos de novidades improváveis e fantasiosas, geralmente sobre a vida no Plano Espiritual, mas isto fica para um outro artigo, porque este já está muito extenso...

20.7.09

ACESSE O BLOG OFICIAL DO FILME CHICO XAVIER - BRASIL

Figura 1: Painel com fotos do Chico de 1931 a 1959 publicado no blog

As filmagens começaram e com elas um blog oficial que permite que os interessados vejam aos poucos a criação do filme que emocionará o país. Eu me senti como um fã de clube de futebol que vai ao treino com os amigos e procura uma brecha no alambrado para poder ver o time do coração jogar.
Brasileiro sabe jogar bola e sabe fazer cinema. O que atrapalha é o dinheiro, que cada vez mais controla estas duas nobres artes. Penso, ao ver tão belas fotos, que o vil metal perderá desta vez para o talento.
Aos que têm espírito brasileiro e não querem perder nenhuma cena ou fotografia, recomendo o http://www.chicoxavierofilme.com.br

14.7.09

ENCONTRO NACIONAL DA LIHPE ABRE INSCRIÇÃO DE PÔSTERES - SP


Um pôster é uma forma de comunicação em congressos na qual o autor faz uma síntese do seu trabalho e o deixa disponível para visitações pelos participantes.

O 5º. ENLIHPE está adotando tamanho padronizado, mas pode haver variação no conteúdo conforme a área de conhecimento e o objetivo do pôster. É uma forma interessante de divulgar o resgate da memória para o público, como a constituição de uma instituição espírita, a vida de uma personalidade importante para a casa ou o movimento espírita, etc. É, originalmente, um apoio visual para a comunicação rápida de um trabalho de pesquisa realizado ou em curso, mas que já apresenta resultados e pontos de discussão.

Ele deve ser impresso em gráfica rápida, impresso em papel AP180 gramas ou AP240 gramas (vulgarmente conhecido como papel para impressão de banner) ou papel couchê. Nas seguintes especificações:

Largura: 90 cm
Altura: 100 cm

Conteúdo:
- Título
- Autoria
- Introdução
- Objetivos
- Método
- Análise de dados
- Resultados
- Referências

Os pôsteres podem ser enviados em arquivo digital, junto da inscrição no evento para
5enlihpe@ccdpe.org.br. A impressão fica a cargo dos autores, que deverão levá-lo(s) no primeiro dia do evento para exposição. Não serão devolvidos pôsteres pelo correio, os autores que os quiserem de volta deverão levá-los após o encerramento do evento. A inscrição para participação do 5o. ENLIHPE custa R$50,00 (cinquenta reais). Vide link no fim desta publicação.

O conteúdo dos pôsteres poderá ser utilizado para publicação posterior. Os autores cedem seus direitos autorais ao Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro no ato da inscrição do trabalho.

Bem-vindos ao evento.
Saiba mais sobre o evento em publicações anteriores deste blog e no site do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro. (http://www.ccdpe.org.br/)

12.7.09

UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA DIVULGA PALESTRAS COMEMORATIVAS DOS 100 ANOS EM SEU SITE


Figura 1: Mesa do Salão União Espirita Mineira
Perdoem os leitores se publico algo da minha experiência pessoal, mas falar na União Espírita Mineira tem sempre um significado diferente para mim. A atual sede, em alguns anos será substituída por uma outra, maior e mais adequada às necessidades de Minas Gerais. Se eu fosse ufanista, diria que o atual governador do estado imitou a idéia da diretoria da União ao criar um novo centro administrativo.

Ano passado tive o prazer de ser convidado a participar de um evento de comemorações dos Cem Anos da UEM.

Mesmo após as reformas empreendidas ao longo dos anos e com intensidade na gestão do Honório Abreu, o prédio continua com seus elementos identitários. A rua simples do centro velho de Belo Horizonte, próxima à rodoviária, a loja ao lado que vende artefatos de umbanda, para a ironia dos transeuntes, o burburinho diário do comércio que se transforma em um espaço quase furtivo à noite, apesar de não ficar nem um pouco deserto.

Na entrada principal, a livraria, hoje ampliada e com expositores que dão acesso ao público dos muitos livros espíritas que parecem pedir para serem retirados das estantes. O balcão aumentado dos livreiros que um dia me venderam fiado o livro “Há Dois Mil Anos”, porque com minha atenção adolescente não conseguia encontrar o dinheiro que levei para adquiri-lo.

Subindo a escadaria, encontramos o salão, que continua quase o mesmo. Conta-se que no seu antecessor da sede velha, Chico Xavier psicografou Humberto de Campos, no dia em que se chamou a Agrippino Grieco, em 1939 para verificar se seu amigo de academia retornava do além. Nele passaram grandes expoentes da Doutrina Espírita, como Jorge Andréa dos Santos, Suely Caldas Schubert, Hermínio Miranda, Martins Peralva... Nele o presidente da FEB viu o mestre de cerimônias convocar todos os representantes de cidades e instituições espíritas mineiras, que foram esvaziando as cadeiras e lotando o palco ao fundo, após anos de ausência representativa da grande entidade brasileira. Nele falava Rubens Romanelli, com seu português castiço e acotovelavam-se pessoas simples, em reuniões semanais quase anônimas, trazendo seus dramas pessoais e seu desejo de conhecer a palavra dos estudantes de Allan Kardec. Nele também um dia funcionou as reuniões da mocidade “O Precursor” que tantos trabalhadores formou para espalhar pelo Brasil e pelo exterior e um dia fiz uma palestra com a presença de um pastor evangélico, que por detrás de uma aparente fachada de respeito, vinha com a eterna intenção de converter e constranger.

Não me recordo ao certo se subi ao segundo andar. Se me conheço bem, mesmo tendo chegado na hora exata, não devo ter resistido. Lá fica a antiga sala 24 que abrigou os cursos de José Mário nas segundas feiras, de Manoel Alves nas terças e de Honório Abreu nas quartas, que também formaram trabalhadores que hoje integram o movimento mineiro e que sempre me reafirmam suas saudades quando associam o meu Sampaio ao de meu pai. Foi lá que recebi a notícia da desencarnação do dentista espírita, pequeno em estatura mas grande em dedicação e disciplina no trabalho.

Foi também na União que acompanhei, pequenino, às aulas de evangelização de Dona Maria Abreu, e que jovem vi as reuniões de representantes para decidir sobre a Evangelização Infantil no Estado. A União abrigou durante anos a sede da Aliança Municipal Espírita de Belo Horizonte, que tem crescido com o crescimento do Espiritismo na capital mineira.

Recordei-me das reuniões de organização das COMEBHs, Confraternizações de Mocidades Espíritas de Belo Horizonte, abrigadas inicialmente nas instalações da escola fronteiriça ao Caminhos para Jesus e hoje espalhadas pela capital mineira e arredores no período de carnaval, mas no coração de seus participantes de diversas gerações, já que se passou mais de um quarto de século quando Carlão e Telma Núbia coordenaram a primeira.

É um prédio tão vivo de recordações, que um inglês certamente o consideraria um casarão mal assombrado, para ser corrigido pelo discípulo francês de Kardec que diria, mal assombrado não, apenas assombrado.

Depois de tanta emoção, semi-oculta por um sorriso aberto, leopoldiano, fui recebido pelos amigos que dão continuidade aos trabalhos. O juiz Brás, de cabelos grisalhos, o Earle com a cabeça brilhante, a simpática Roberta, antiga professora de Tai Chi e hoje dirigente de trabalhos, o Álvaro e toda a sua família, até mesmo as mais recentes aquisições, os amigos de anos que, num ato de caridade iam apoiar o expositor e matar saudades com um abraço fraterno antes ou depois dos trabalhos da noite.

Fiquei imaginando se lá não estariam personagens que construíram a casa, ou que a mantiveram em momentos difíceis: Bady Elias Curi, Maria Philomena Aluotto Berutto, Honório Abreu, Martins Peralva, Cícero Pereira, Rubens Romanelli e outras pessoas trabalhadoras, dedicadas, nunca perfeitas, mas que fizeram ocupar com seu trabalho um espaço na memória coletiva dos espíritas belorizontinos.

Naquela noite, a música preencheria os espaços da alma e uma voz cristalina, acompanhada de um arranjo virtuoso prepararia o ambiente para um trabalho que seria a base do estudo realizado meses depois na paulicéia.

As câmeras registraram, impiedosas, o estudo e hoje a União celebra seus cem anos publicando na página principal a gravação transformada em filme da internet. Não falarei mais nada, apenas deixarei o link com o leitor curioso e persistente, capaz de acompanhar quase uma hora de palestras ou desejoso de conhecer a pouca habilidade com a palavra oral do escriba que se oculta por detrás do Espiritismo Comentado.


8.7.09

VIAGENS ESPÍRITAS

Foto 1: Foto de Formatura de José Mário

Desde quando me entendo por gente, José Mário Sampaio viajava a serviço do Espiritismo. São muitas as cidades do interior do estado mineiro onde esteve, algumas nos estados limítrofes.
Ao que me lembro, ele custeava suas próprias despesas. Uma vez ele recusou um convite para participar de um encontro sobre passes, em Goiânia, por não ter condições de arcar com as despesas da viagem. Esta foi, talvez, uma das poucas viagens cujas despesas com passagens aéreas foi custeada pelo organizador.
Ele tratava de mediunidade, passes, evangelho e temas doutrinários em seus estudos. Não fazia conferências, mas era capaz de falar por duas horas seguidas sem que as pessoas mostrassem cansaço ou tédio. A palavra fluía fácil e os exemplos eram muito próximos da realidade do público.
Era seguro em suas afirmações e evitava os conflitos e confrontos desnecessários com o público. Não rendia questões polêmicas, tão ao gosto de alguns companheiros de doutrina.
Nas viagens se via muita coisa. De um lado, esforços sublimes, pessoas de dedicação e decisão, instituições com pouquíssimos recursos e muita ação regional. Do outro se viam as bizarrices como “cadeiras de segurar espíritos” (tratava-se de uma cadeira para a contenção do médium) e as práticas sincréticas e supersticiosas, como o uso de pão e vinho nas sessões espíritas. Ele sempre pugnou por uma prática espírita fundamentada, racional e sem misticismo.
Não se envolvia em polêmicas extensas, das que as réplicas vão sucedendo-se infindáveis. Dava sua opinião e respeitava o interlocutor, ainda que discordando dele.
Um dos problemas com que tinha que lidar era a queixa sistemática de uma maior presença da União Espírita Mineira no interior. Muitas vezes ele era enviado em nome do órgão federativo mineiro. Desde a década de 40, criou-se o Conselho Federativo do Estado de Minas Gerais – COFEMG, que é um órgão representativo, responsável por traçar diretrizes para a ação do movimento espírita mineiro. Este órgão tem prestado muitos serviços para a causa espírita, mas, como qualquer órgão deste porte, costuma ser questionado por lideranças e trabalhadores locais. Apesar das reuniões sistemáticas e cada vez mais representativas, falta a este órgão um orçamento capaz de possibilitar ações coletivas mais substanciais. Na ausência de recursos, todo tipo de deliberação tem que contar com a adesão voluntária e a generosidade dos empreendedores que nem sempre se apresentam ou disponibilizam tempo suficiente para a consolidação das idéias. Cabe uma parcela significativa à União Espírita Mineira para o custeio dos encontros e projetos, e a União não recebe contribuição financeira dos centros espíritas que se afiliam, mantendo-se com base em um quadro de sócios, na venda de livros e em algum patrimônio que foi recebendo nestes quase cem anos de funcionamento, se não estiver enganado.
Como expositor enviado pela União, José Mário costumava ser questionado em público sobre uma participação mais efetiva da federativa na cidade que o recebia. Eu fui testemunha disto por diversas vezes. Algumas vezes os confrades cobravam de forma respeitosa, em particular, outras não.
Papai era um mineiro aos moldes da tradição. Ele costumava responder:
- “Não sou diretor da União, não sou membro do conselho, nem sócio sou. Sou apenas um tarefeiro que vem com boa vontade atender ao seu convite. Não há como responder em nome da União Espírita Mineira.” ... e encerrava o assunto.

7.7.09

CASA DIA: UM PROJETO DE APOIO A QUEM QUER FICAR DE "CARA LIMPA"



A Janete, da Fraternidade Luiz Sérgio, solicitou que o EC divulgasse sua atividade de ação social. Eles desenvolveram um conjunto de atividades para auxiliar pessoas que estão lutando para ficar livres da dependência química (Álcool, drogas, etc.).

É uma iniciativa inteligente, que atinge um segmento geralmente estigmatizado pela sociedade, parabéns à Fraternidade. Não sei informar sobre custos, peço à Janete que me auxilie enviando mais informações. Leiam o texto abaixo enviado pela Fraternidade.


Casa Dia - Projeto Afeto

Trata-se do acolhimento dos recuperandos no horário das 8:00 h às 18:30 h, com o objetivo de mantê-los em atividade e amparados espiritualmente, enquanto assimilam conhecimentos que os fortalecerão no processo de abstinência e na luta contra a dependência.
Atualmente estamos nos dedicando àqueles que, embora consigam manter-se abstinentes de segunda a sexta-feira, acabam sucumbindo aos sábados e domingos. Para esses mantemos toda uma estrutura de apoio e assistência aos finais de semana, oferecendo:

  • Grupos de apoio – Programa Renascer
  • Técnicas de abstinência
  • Dinâmicas de Grupo
  • Assistência e tratamento Espiritual
  • Meditação
  • Atendimento Fraterno
  • Arteterapia
  • Cerâmica
  • Desenho e Pintura
  • Esportes
  • Atividades alternativas (vídeos – informática - alfabetização)
  • Café da manhã, almoço e lanches

Aos sábados e domingos de 8:00h às 18:30h.
Rua Três Pontas 2055 – Padre Eustáquio – BH
Telefone: (31) 3082-6037

http://www.fraternidadeluizsergio.org.br

5.7.09

EVANGELIZAÇÃO INFANTO-JUVENIL: UM RECURSO CRIATIVO



Figuras 1 e 2: Frente e verso de um cartão distribuído aos alunos


Uma forma de organizar as aulas de evangelização que pode levar à monotonia e ao desinteresse é a tradicional aula de exposição dialogada que começa com uma música, passa para uma história seguida de explicações, depois uma atividade de fixação e mais música.

Com o advento do computador e o desenvolvimento da pedagogia, outras concepções de educação e recursos práticos podem mudar a relação entre evangelizandos e evangelizadores. Para tanto, as aulas têm que ser pensadas e criadas uma a uma, levando em consideração os objetivos, tema, o contexto, os recursos que serão empregados, a participação ativa do aluno na construção do conhecimento e o perfil da turma.

Um recurso que interessou aos alunos de uma turma de pré-adolescentes e que evitou que o conteúdo da aula se dissipasse na mente deles ao final de alguns dias foi o cartãozinho que o Marcus Vinícius Papa Lobo criou com suas habilidades de comunicador social.

A equipe de evangelizadores tratou do caráter do Espiritismo, tema considerado abstrato e teórico, com poucas âncoras na experiência passada dos alunos, o que o torna difícil e volátil.

Após a aula, eles distribuíram este cartãozinho colorido, impresso em um papel de gramatura maior, do tamanho de um cartão de visita, que os alunos podem guardar na carteira, se quiserem. Ele apresenta conceitos breves de ciência, filosofia e religião e propõe uma questão na frente. No verso, Papa recortou um comentário de Kardec, que as pessoas costumam citar pelas metades (destacando a parte que interessa aos seus pontos de vista), em resposta à questão proposta.

Este simples cartãozinho poderá fomentar reflexões posteriores e com certeza sintetiza as discussões de um dia de trabalho, sem falar do o entusiasmo de quem o recebeu, que com certeza ainda está em um mundo de cards, figurinhas e adesivos.

1.7.09

ENGAJADOS

Figura 1: Convite distribuído aos alunos da turma de 11 e 12 anos
Há alguns anos eu ouço uma lamentação dos programas de evangelização infantil quanto à evasão das crianças das sociedades espíritas, quando elas se tornam adolescentes e são convidadas a ir para as mocidades e juventudes espíritas.
Algumas sociedades espíritas modificaram seu organograma e criaram os Departamentos de Infância e Juventude, mas as atividades continuam estanques, com coordenações que apenas se reúnem de tempos em tempos para comunicar o que fazem.
Este ano tenho acompanhado algumas iniciativas muito interessantes, com a nossa turma de pré-adolescentes de 11 e 12 anos (Eles se auto-intitulam Sextão, porque são o Sexto Período de Evangelização). Um dos coordenadores da mocidade tornou-se também evangelizador e em conjunto com suas duas colegas têm realizado iniciativas para que seus alunos participem e conheçam a sociedade espírita que frequentam.
No final do semestre eles estão incentivando duas iniciativas.
A primeira é a tradicional ajuda à organização da festa junina na qual interagem entre si fora de sala de aula, com os jovens da mocidade que passam a conhecer e com os trabalhadores da casa que se voluntariam.
Nossa sociedade espírita tem quatro unidades geográficas em lugares diferentes. Uma fica na cidade de Ribeirão das Neves, vizinha da capital mineira e com muitos problemas sociais. A unidade é conhecida como Nova Luz, mas a distância (e o pouco interesse) distanciam os frequentadores de BH de lá e vice-versa.
No próximo sábado os alunos do Sextão irão preparar um presentinho para as crianças que frequentam a evangelização de Nova Luz e no dia 11 irão em caravana visitá-las.
Não preciso dizer da motivação de todos para realizar a atividade. Apenas as crianças autorizadas pelos pais irão participar desta "aventura".
Este tipo de iniciativa cria vínculos mais profundos que as tradicionais aulas, geram amizades, confiança com os adultos, consciência social e possibilita que formem grupos de amigos entre os colegas da sociedade espírita, coisa fundamental para que desejem participar das mocidades durante o período da adolescência, que pode ser marcada pelo questionamento dos valores familiares e pela reconstrução da identidade, como afirmam meus colegas psicólogos.
Pensem nesta iniciativa e revejam a prática das Escolas Espíritas de Evangelização!

28.6.09

O REINO DE HERCULANO


Há algumas semanas que estou atrás do livro de Herculano Pires intitulado "O Reino". Como não consegui comprar no circuito mineiro de livros espíritas, resolvi tomar emprestado em nossa biblioteca. Qual não foi minha surpresa quando me deparei com o livro cuja capa publico para os leitores.

Escrito em 1946, diferentemente do outro livro homônimo, mas publicado sob o pseudônimo de Irmão Saulo na década de 60, Herculano escreve logo após o final da segunda grande guerra e discute a questão do comunismo.

Fiquei realmente curioso, como este livro e seu autor conseguiram sobreviver aos anos de chumbo, época cheia de piromanias, não importa bem ao certo o que se tenha escrito.

Herculano apresentou esta tese na cidade de Marília, interior de São Paulo, no I Congresso Espírita da Alta Paulista. A questão central do livro é o projeto social espírita, ou seja, como ele pensa a atuação do espírita no mundo do pós-guerra para a construção do reino proclamado por Jesus.

Herculano e seu vasto conhecimento espírita, dialoga com três autores: Jacques Maritain, o reverendo Stanley Jones e Karl Marx. O Brasil está diante da redemocratização, é o final da ditadura Vargas, e o mundo assiste ao nascimento da Guerra Fria.

Considerando o pouco tempo para apresentação de seu trabalho, Herculano sintetiza suas idéias. Ele irá desconstruir o pensamento de Marx, e em sua desconstrução que tem por instrumento o pensamento cristão-espírita, Herculano divisa dois pontos importantes no autor alemão. Ele irá criticar o Marx materialista, propositor da luta de classes, do determinismo econômico da sociedade, dos meios violentos para se atingir uma sociedade menos desigual.

"O marxismo exerce uma poderosa fascinação, justamente por se apresentar, neste mundo de após-guerra, como um instrumento eficiente de justiça social, o único caminho político capaz de lavar as massas famintas a um regime de bem-estar econômico." (Herculano Pires, 1946, pág. 17)


Herculano, entretanto, entende que há no Marxismo, para a revolta dos ortodoxos, uma forte influência do pensamento cristão. O Marxismo sem os três elementos que enumerei no parágrafo acima não seria mais que o cristianismo primitivo.

Herculano não poupa críticas aos marxistas:

"O amor é a única força capaz de eliminar a exploração, a escravidão e a violência. Riem disto os marxistas, aferrados à visão primitiva de Marx, que foi um lúcido analista da sociedade de classes, um arguto observador do mundo egoísta e ateu da burguesia capitalista, mas jamais se libertou da visão dos conflitos econômicos para estudar o homem em si, nas suas possibilidades básicas mais profundas e reais." (pág. 18)

Jones e Maritain são alternativas cristãs às propostas de um mundo de menos desigualdade social. Eu não me deterei na análise feita pelo filósofo espírita paulistano, deixando aos interessados a leitura de seu trabalho.

Em um terceiro momento, Herculano discute o papel dos espíritas neste novo mundo que nascia em sua época.

"Não devemos envolver o Espiritismo na luta inglória da política. Seria cometermos um erro amargo, de tristes conseqüências. Mas não devemos também permitir que os espíritas continuem transviados no terreno político, servindo muitas vezes aos interesses de grupos antagônicos. A formação de um movimento cristão, na modalidade ampla a que acima nos referimos, pode e deve ser promovida por um grupo de espíritas sinceros, independentemente da participação de qualquer associação doutrinária. O movimento terá de se revestir do mais puro espírito e do mais alto ideal cristãos, sem se imiscuir jamais nas lutas partidárias, nem indicar candidatos para a votação de seus adeptos.Seu trabalho será apenas o despertar o mundo para a imensta possibilidade da realização do Reino de Deus, esclarecendo os cristãos a respeito da única posição que um verdadeiro cristão pode assumir em face das lutas partidárias da sociedade anti-fraternal - a abstenção, mas a abstenção ativa, no trabalho silencioso e humilde da construção do reino". (p. 26)

Ele analisa posteriormente o nascimento da guerra fria, sem, logicamente, antecipar-lhe o nome e sobre ela diz:

"De lado a lado se estendem os homens, em formação de batalha. E dos impropérios, das injúrias, das acusações que uns aos outros se lançam, geram-se a confusão ameaçadora do momento que vivemos. (...) Não podem os cristãos tomar partido ao lado de uns, nem de outros. O Espírito do Cristianismo é porfundamente contrário aos processos empregados por ambos os contendores. Não obstante, antecipando-se de muitos anos na condenação dos erros capitalistas, e na luta por um mundo melhor, mais justos, não pode o Cristianismo alheiar-se agora ao tremendo embate que se desenvolve na Terra." pág. 34-35)

Herculano sugere que os espíritas trabalhem pelo livre registro e apresentação de candidatos e chapas nas eleições, sem vínculo partidário. Ele percebia que o vínculo partidário gera obrigações que violentam muitas vezes a consciência dos candidatos. Ao mesmo tempo, condena a identificação destes candidatos livres ao movimento espírita (eles teriam que candidatar-se sem pedir que se votasse neles por serem espíritas) e, em época de voto não obrigatório, conclama todos a participar das eleições e não deixar de votar.

Interessante a inserção e posicionamento de Herculano Pires em sua época e sua lúcida análise da conjuntura, assim como a inquietação de seu espírito, buscando respostas para os conflitos que se estenderiam durante anos e que patrocinou morticínio, escravidão de consciências e violência em nome da justiça social.