Tenho ouvido muitas pessoas
dizerem que com a modernidade acabou com o tempo para o voluntariado espírita.
Permitam-me discordar desta explicação, porque o voluntariado nunca esteve tão
em moda. A Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio de Janeiro
atrairão milhares de voluntários, mesmo que todos saibam o quanto estes
eventos arrecadam com publicidade. Quando motivados pela aprendizagem, muitos
alunos não se importam em fazer estágios voluntários, certos da importância da
experiência que irão adquirir em sua formação.
Outra contradição está dentro do
próprio movimento espírita: somos todos voluntários. Dirigimos as casas
voluntariamente, dirigimos reuniões voluntariamente, participamos de eventos
para arrecadação de fundos voluntariamente (na verdade, até pagamos para
participar), aplicamos passes voluntariamente, organizamos cursos e seminários voluntariamente... Nossa história na casa espírita é voluntária, ou seja,
fazemos porque temos vontade.
Quando pensamos nos esvaziamentos
de diversas atividades das casas, fico pensando qual é a sua razão.
Nem sempre as pessoas têm coragem de dizer verdadeiramente por que se afastam
de uma atividade voluntária. Evitando conflitos, dão respostas socialmente
aceitas, como a famosa “estou sem tempo”. Ouvindo esta frase, o coordenador da
equipe a repassa ao dirigente e este começa a teorizar: as pessoas estão sem
tempo.
Acho que o voluntariado tem
outros inimigos invisíveis, menos discutidos. Um deles é o desencanto. Uma
pessoa procura uma atividade imaginando que será o que ela não é. Quantas
pessoas pensam que trabalhar com crianças é apenas a alegria de brincar? Quando
se apercebem que pode envolver cuidados, lidar com problemas,
responsabilidades, exigências... perdem o entusiasmo.
E a rotina? Os grupos vão se preocupando
apenas com as tarefas e se esquecem de outras coisas como o encontro, o
relacionamento, as comemorações das realizações, a amizade. O voluntário
sente-se como um mero trabalhador, com os ônus do trabalho, sem os bônus do
encontro.
Outra coisa esquecida é o desenvolvimento
do voluntariado, geralmente associado com a rotina. As pessoas não aprendem
nada depois de algum tempo. Não conversam sobre o trabalho que fazem e
alternativas para aperfeiçoamento. Não participam de cursos, de seminários. Não
visitam outros trabalhos semelhantes para ver como realizar melhor. Não são
incentivados a apresentar seu trabalho em espaços onde ele seria valorizado e
discutido.
Em meio a tanto incentivo à
disciplina (necessária, claro), às vezes se esquece do desejo. O que faz as
pessoas felizes? Eu preciso ir a uma atividade porque me constranjo a tal ou há
algo parecido como a hora de sair com o namorado (a) no trabalho voluntário que
faço? Existe alegria no trabalho?
Como se dão as relações no
trabalho voluntário? Elas são sempre marcadas pela crítica, muitas vezes
imaturas e mal fundamentadas, calcada em estereótipos, ou são relações ricas de
afeição e respeito?
Os colegas e coordenadores
valorizam o trabalho realizado? Mostram os resultados do que se faz? Partilham
as informações e percepções que mostram casos reais de crescimento das pessoas
que são auxiliadas pelo trabalho?
Nas dificuldades há apoio? O
voluntário tem a quem recorrer, às vezes apenas para desabafar, outras para
ouvir quem já passou pelo problema que hora enfrenta? Alguém está disponível
nas horas de dificuldades, ou o atendimento fraterno é apenas para o público
externo que procura o centro espírita?
E você, que me lê, como voluntário? Como trata seus colegas, coordenadores e público? Que ambiente você cria com suas ações? O que pode melhorar?
Antes de pensar nestas e em
outras questões que nos ocorrerão, é difícil aceitar a ideia que a pressa dos
tempos modernos faz com que não seja possível contar com voluntários para o que
quer que seja. É sempre possível aperfeiçoar o que se faz.