São quatro as instituições de ensino infantil na Mansão. A creche Manjedoura, para crianças de 0/3 anos, o Jardim de Infância Esperança para crianças de 3/4 anos, a Escola Allan Kardec, do 1o. ao 4o. ano de ensino fundamental e a Escola Jesus Cristo, hoje com 1100 vagas.
A impressão é que as crianças estão felizes, convivem normalmente umas com as outras. Vi brincadeiras típicas de meninos, um pouco mais viris, mas a professora, atenta, interferia para que não houvesse progresso.
O entorno da Mansão é de comunidades, típicas de capitais e grandes centros, mas a violência típica dos aglomerados parece ter dado uma trégua, talvez pela consciência da importância da obra para o futuro das crianças dalí e para as pessoas em geral. Enquanto "black blocks" quebram o país, em sinal de protesto, os pobres preservam um patrimônio que é também deles, de alguma forma.
Outro lugar instigante é o centro de parto normal. Ambulâncias a postos, para o caso de complicações, o lugar parece ser bem equipado para sua finalidade. Uma recém-mãe, de camisola hospitalar verde, com um bebê cabeludinho nos braços recuperava-se do parto. As ideias do Dr. Leboyer ressoaram de alguma forma no distante bairro do Pau da Lima.
Apesar do museu do espiritismo não estar aberto à visitação no dia que fui, o memorial nos acolheu. Uma concepção moderna, que lembrou-me o Memorial JK em Brasília, com as fotos e textos aplicados nas paredes iluminadas e os diversos ambientes retratando diferentes momentos da obra, que se mistura à vida de Divaldo.
Um painel já um pouco desatualizado mostra os países onde foi Divaldo Franco, iluminados com leds. O mundo ficou pequeno para a tarefa de levar o verbo, a boa-nova e o espiritismo.
Por todos os espaços há placas, honrarias, títulos concedidos pelos lugares onde Divaldo levou sua mensagem. Foi-nos dito que não se trata de uma coleção completa, o que não importa, porque o que está exposto dá uma noção clara do reconhecimento do trabalho prestado.
Minas Gerais está presente em pelo menos dois momentos. O que mais me tocou foi a colcha de retalhos dada pelos 55 anos de serviços prestados no estado. Cada quadrado de tecido representa um centro espírita. A colcha dorme ao fundo de um belo móvel de vidro, permitindo apreciar o trabalho.
Nas instalações funciona a Livraria e Editora Espírita Alvorada. Para a tristeza da minha esposa, saí com uma sacola de livros, que são expostos e disponíveis para a venda dos interessados.
Ao lado, o cômodo com o Clube do Livro e a revista Presença Espírita. A responsável nos mostra com entusiasmo os grupos de envio para o exterior. Eu lembrei dos muitos e muitos livros que recebi e li, graças ao trabalho voluntário de pessoas como ela, que o tempo já deve ter levado para outras paragens. Vem-me à mente o livro biográfico de Elisabeth D'Esperance, médium de efeitos físicos e mecenas da revista de Gabriel Delanne, e depois dele muitos outros, que foram co-responsáveis pela lenta construção da minha cultura espírita e espiritualista.
No outro extremo da Mansão pude conversar com voluntários que trabalhavam na revisão dos textos produzidos por Divaldo e pelos colaboradores de sua obra. O parque gráfico estava com suas máquinas descansando, embora seus funcionários continuassem com tarefas de identificação de livros com defeitos, correção e outras mais.
Conversei rapidamente com uma voluntária que fazia o trabalho de revisão. Trocamos figurinhas sobre esse trabalho, sobre língua portuguesa, sobre neologismos, sobre editoração de livros. Quando ela se referia aos livros que analisava, lembrei-me de uma história de Divaldo:
- O que você faz?
- Você não vê? Estou construindo uma catedral!
Um grande auditório de 750 lugares, dispostos em dois andares, com a possibilidade de usar outras salas de estudo como apoio, com os recursos da transmissão de imagens pela tecnologia.
Assim, vazio, dá tristeza. Então imaginei os eventos que ele já acolheu e que ainda acolherá, apesar da distância do centro urbano de Salvador. Pensei que mais uma ou duas décadas e não teremos conosco a dupla Divaldo e Nilson, que retornará à pátria espiritual, deixando este enorme legado para seus sucessores. De onde virão os livros, que transformaram letra em pão, papel em tijolos, desejo de conhecer em contratos de trabalho, ideais em voluntariado? Não tenho resposta, mas a esperança me fez recordar de Allan Kardec em diálogo com a espiritualidade: Outros virão.