Mostrando postagens com marcador O Livro dos Médiuns. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador O Livro dos Médiuns. Mostrar todas as postagens

2.3.20

MAIS UM DOCUMENTO TRATA DA QUINTA EDIÇÃO DE A GÊNESE EM 1869



Samuel Magalhães acaba de publicar imagens de O Livro dos Médiuns, de 1869, fazendo propaganda, na quarta capa, da quinta edição de A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. O livro custava 3 francos, então.


A capa do livro original.

 A folha de rosto do mesmo livro. O Samuel informa que essa edição de O Livro dos Médiuns foi publicado em junho de 1869, três meses após a desencarnação de Allan Kardec.

18.1.20

O QUE FOI CONSIDERADO DIFÍCIL EM O LIVRO DOS MÉDIUNS?


Allan Kardec

Na última publicação do Espiritismo Comentado, analisamos uma pesquisa realizada com participantes de reuniões mediúnicas em sociedades espíritas. Outra questão que foi levantada aos participantes: “Que assunto você considera mais difícil a compreensão?”

Cerca de 9% dos respondentes disseram que não têm dificuldade na leitura de O Livro dos Médiuns por causa, principalmente, da participação em grupos de estudo e dedicação.

Cerca de 12% disseram que todos os temas do livro são difíceis, devido à sua complexidade e por serem iniciantes.

Dos 264 participantes da pesquisa, 249 respondentes identificaram alguma parte de O Livro dos Médiuns que consideram difícil.

Vou apresentar em ordem decrescente de indicações de dificuldade:

O capítulo “Dos Médiuns” foi considerado o mais difícil por cerca de 16% dos participantes da pesquisa. Os respondentes disseram achar difícil identificar e classificar os médiuns. Allan Kardec estabeleceu diversos critérios de classificação, o que significa que um médium pode corresponder a diversas das categorias apresentadas. Outro problema que podemos levantar, é a adoção de nomes criados  pelo movimento espírita, diferentes dos adotados por Kardec, com o passar do tempo, em função das influências de autores não espíritas. Médium de desdobramento, por exemplo, é uma classificação que Kardec não utilizou, mas que é amplamente empregada no meio espírita brasileiro. Kardec utilizou para esse fenômeno médium sonambúlico, quando atua como médium de um Espírito estranho, e sonâmbulo, um fenômeno de emancipação da alma, no qual a pessoa tem percepções da realidade sem o uso dos cinco sentidos.

O segundo assunto mais difícil foi “O papel dos médiuns nas comunicações espíritas”. Os respondentes que identificaram motivos, referiram-se principalmente à questão do animismo, que também é um termo não empregado por Allan Kardec om o sentido contemporâneo. Alguns levantaram a questão da distinção entre animismo e mistificação. O próximo assunto menos compreendido foi o capítulo “Das contradições e mistificações”.

O capítulo “Dos sistemas”, que trata das explicações possíveis a fenômenos mediúnicos e similares, é o próximo em grau de dificuldade e foi considerado complexo.

O capítulo “Da obsessão” o próximo a receber queixas dos participantes. Ele também foi considerado complexo.

O outro capítulo pouco entendido por cerca de 6% dos respondentes foi “Da bicorporeidade e da transfiguração”. 

Segue o assunto “Da identidade dos espíritos”. Os participantes consideraram difícil identificar mistificadores, o que talvez não seja bem uma questão de entendimento do conteúdo do capítulo, mas da prática mediúnica.

Por fim, 4% dos respondentes consideraram complexo o capítulo “Do laboratório do mundo invisível”.

Com base nos resultados, algumas ações podem ser pensadas. Alguns desses deveriam ser de conhecimento geral por parte dos espíritas, como os tipos de médiuns, a questão das mistificações, as diversas explicações possíveis para fenômenos aparentemente mediúnicos, os tipos e mecanismos das obsessões, a identificação dos espíritos e como os espíritos realizam fenômenos de efeitos físicos. Os temas em questão merecem um estudo cuidadoso e uma apresentação clara por parte dos expositores e dos participantes de grupos de estudo das casas espíritas.

Os grupos mediúnicos em atividade e as casas espíritas poderiam avaliar entre os participantes de reuniões mediúnicas que assuntos são considerados difíceis e promover leituras, estudos e eventos para torna-los mais acessíveis a todos.

14.1.20

O LIVRO DOS MÉDIUNS: ESSE DESCONHECIDO



Uma instituição espírita regional fez uma pesquisa com 264 participantes de reuniões mediúnicas, cujo tema central era “O Livro dos Médiuns”.

O subtítulo do livro é “Guia dos médiuns e dos evocadores”, e foi escrito por Allan Kardec porque muitas pessoas o procuraram após a publicação de “O Livro dos Espíritos”, perguntando sobre a parte prática, sobre o exercício da mediunidade. Kardec, então, publicou um primeiro livro chamado “Instruções práticas sobre as manifestações espíritas” (1858), cujo desenvolvimento gerou “O Livro dos Médiuns” (1861).

O Livro dos Médiuns está para a prática da mediunidade assim como as leis de Newton estão para a física. Ninguém pode dizer-se físico ou estudante de física e ignorar essa formulação do pesquisador inglês, publicada em 1687. Mesmo com todo o desenvolvimento e pesquisa investidos nessa disciplina, o conhecimento considerado básico é fundamental para que se possa ser capaz de entender seus avanços.

O resultado da pesquisa foi que 67% dos membros de reuniões mediúnicas responderam ter lido todo o livro. Quando se perguntava se o livro foi estudado em grupo, o número cai para 28%. Na terceira pergunta, ou seja, se o livro foi estudado mais de uma vez em grupo, o número cai para 7%. 

Não se trata de frequentadores de centros espíritas em geral, mas membros de reuniões mediúnicas, que, segundo Kardec, deveriam se instruir antes de procurar a prática.

Essa pesquisa merece ser ampliada. Se você participa de um grupo de prática mediúnica, levante os números. Se eles forem como os da pesquisa, está na hora de estudar “O Livro dos Médiuns”.

5.4.16

UM POUCO MAIS SOBRE MEDIANIMIDADE



O Livro dos Médiuns - Edição francesa de 1950


Na última matéria fizemos uma série de considerações sobre a palavra medianimidade e medianímico, usadas por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns". No texto fizemos algumas questões sobre a tradução para o português. 

Aproveitamos para tirar as dúvidas com Evandro Noleto Bezerra, que fez um conjunto de traduções das obras de Kardec, inserindo notas sobre as mudanças que os livros sofreram ao longo das edições. Um trabalho de fôlego, que precisava ser feito há muito tempo.

Ele acolheu o Espiritismo Comentado com muita gentileza e autorizou que divulgasse a resposta. 

EC: Vi que Kardec publicou em O Livro dos Médiuns o capítulo "Da medianimidade nos animais" a partir da segunda edição. Por que você preferiu manter o título traduzido por Guillon Ribeiro e outros, se Kardec em seu vocabulário afirma que as palavras não são exatamente sinônimas?

ENB: "É possível que tanto eu quanto o Guillon tenhamos escolhido o termo mediunidade para evitar o neologismo "medianimidade", até hoje sem sentido para nós. O que posso fazer, na próxima edição de minha tradução, é aditar uma nota de rodapé na página do Livro dos Médiuns que contém essa palavra, explicando a razão da nossa escolha ao traduzi-la por mediunidade, e não medianimidade. Aproveito para dizer-lhe que, decorridos mais de 150 anos, você não encontra tal verbete, nem nos dicionários de francês, nem nos de português."

O Espiritismo Comentado agradece ao Evandro a atenção.

15.2.14

ALLAN KARDEC E OS DIFERENTES ESPÍRITAS.


Diferentes tipos de grãos

Quando um autor desenvolve uma tipologia de grupos de pessoas, não há dúvidas que ele deseja destacar as diferenças entre elas. No caso do movimento espírita, uma das primeiras tipologias que lemos está no capítulo Do Método em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.

Proselitismo e incredulidade

Kardec começa o capítulo discutindo o proselitismo, que considera natural, e propõe que se faça pela instrução. Aqui ele desenvolve uma opinião muito interessante, da qual geralmente não damos muita atenção: ele considera que tentar convencer materialistas, pessoas que não acreditam na existência do espírito, via de regra, é perda de tempo.

Ele analisa os que chamou de “materialistas por sistema”, definindo-os como quem considera o homem como “simples máquina, que funciona enquanto está montada, que se desarranja e de que, após a morte, só resta a carcaça”. Se aceitarmos variações sobre este tema, temos nos dias de hoje os que se intitulam céticos, e se consideram adeptos das ciências, negando sistematicamente qualquer avanço que se faça na pesquisa do espírito.

“Com tal gente nada há o que fazer: ninguém mesmo deve se deixar iludir pelo falso tom de sinceridade dos que dizem: fazei que eu veja e acreditarei. Outros são mais francos e dizem sem rebuço: ainda que eu visse, não acreditaria.”

Kardec conhecia o lado humano dos supostos investigadores: “A maioria deles se obstina por orgulho na opinião que professa”.

Tipos de espíritas

Se passarmos as páginas vemos que ele se voltou ao movimento espírita de sua época. E analisando os que se interessavam pela proposta espírita, estabeleceu alguns tipos ou classes.

Ele começa pelos que, desconhecendo a proposta espírita, não a tendo estudado, se identificam com os grandes princípios da doutrina. Ele os chama de espíritas sem o saberem. Hoje há um grande número de pessoas que simpatizam-se com alguns princípios nucleares da proposta espírita, como a existência de Deus, a imortalidade da alma, a mediunidade, a reencarnação, a ética racional e humanista, cristã em seus princípios. Eles não se identificam como espíritas, mas se sentem confortáveis quando em contato com nossa literatura e, eventualmente, em nossas reuniões.

Entre os que estudaram, ele identificou os que ficam apenas na esfera das manifestações espirituais. Kardec os chamou de espíritas experimentadores. Ele tirou o termo experimentador de “experiência”, o conhecimento oriundo geralmente da observação, dos órgãos dos sentidos. Mais do que meros curiosos, que ainda vemos chegar nos centros espíritas, eles são pessoas que estudam e dedicam-se ao espiritismo como um conhecimento de fenômenos espirituais, e não como uma abordagem de conhecimento do ser humano. Kardec não condena o estudo dos fenômenos espirituais, quando cria este tipo-ideal, ele critica que os espíritas se mantenham exclusivamente nesta esfera de investigação ou estudo.

O próximo tipo que ele propôs são os espíritas imperfeitos. Estes estenderam seus estudos à esfera da filosofia espírita e da ética espírita. Eles sabem que os fenômenos são um dos pilares de uma nova visão de mundo, que tem uma proposta para os homens. Sabem que o estudo da vida após a morte não é mero diletantismo, mas desvela uma nova forma de ver as pessoas, seus relacionamentos, a forma de lidar com seus sentimentos, e entende a necessidade de se ter uma ação e uma vivência interior coerente com esta nova realidade. No entanto, deixam para lá. Vivem suas vidas como se nada disso fosse real. Em linguagem cristã, são homens e mulheres do mundo, dos valores encontrados e aceitos na trama social em que se encontram. Não se acham convencidos realmente da necessidade de transformarem-se.  Hoje em dia eles se contam aos milhões, em meio aos que se auto-intitulam espíritas ou apenas simpatizantes.

O terceiro tipo que ele propôs, é muito interessante, se analisado à luz da história do cristianismo. Além do estudo dos fenômenos e da filosofia e ética espíritas, eles se acham convencidos da importância de se ter uma ação diferente no mundo. Esta ação é ao mesmo tempo, social e psicológica. Valorizam a caridade (que em outros momentos de sua obra Kardec distingue do assistencialismo, e categoriza em material e moral). Eles encaram a existência terrena como “prova passageira”. 

Kardec os chama de “verdadeiros espíritas” ou “espíritas cristãos”. É curioso que Kardec não faz qualquer paralelo com os santos, do movimento cristão. Ele considera os espíritas cristãos como pessoas com suas lutas interiores e exteriores, não como um grupo de pessoas de vida exemplar, capazes de enfrentar o martírio, que apresentam virtudes heroicas e que são capazes de produzir milagres.  Uma leitura do capítulo “Sede Perfeitos”, em O Evangelho segundo o Espiritismo, é bem esclarecedor.

Por fim, Allan Kardec fala dos espíritas exaltados. Eles são uma mistura de ingenuidade e entusiasmo, uma forma de fanatismo. Eles acolhem de forma acrítica o que dizem os médiuns, e apesar da boa-fé, são ingênuos. Eles também povoam o movimento espírita e fazem muitos estragos quando se tornam divulgadores do espiritismo, de alguma forma, porque projetam para as pessoas uma imagem muito diferenciada da proposta racional espírita.


Outros autores fizeram tipologias de espíritas em outros momentos históricos, como é o caso de Leopoldo Machado. Espero poder retornar ao tema no futuro, porque o texto já está bem extenso.