A história das Irmãs Fox se encontra repleta de contradições, uma vez que foi contada por simpatizantes e adversários. Seguramente, seu pioneirismo em assumir publicamente a condição de médiuns lhes trouxe mais adversários que simpatizantes em uma sociedade de origens protestantes, como é a norte-americana, e em uma época vitoriana, como é o século XIX.
Inspirados pela versão adversária, e com algum gosto pelo trágico, Stine Nymand Svensson and Elianna Morningstar Hansen fizeram este curta-metragem de animação.
Kate aparece alcoólatra desde a infância e com a aceitação da família, especialmente de Leah, sua irmã mais velha, o que é difícil de aceitar. Leah aparece como uma exploradora da mediunidade das irmãs, e Margaretta (mãe das Fox) está ausente, o que é também incoerente com o que se tem nos trabalhos encontrados sobre a família.
Barbara Weisberg, citada na última publicação do EC, afirma que na juventude o pai das Fox era alcoólatra e jogador (p. 60), o que gerou o afastamento entre ele e a esposa.
John abandonou seus hábitos em 1830, tornando-se metodista e líder em sua comunidade. (p. 63) As doutrinas evangélicas do livre-arbítrio desta época, que atingiram a comunidade batista, metodista e presbiteriana (p. 63) podem ter sido a razão para o abandono do álcool pelo Sr. John, que iniciou vida nova. É nesta vida nova que ele reatou seu casamento com Margaretta e nasceram suas filhas Margareth e Kate.
As meninas devem ter sido criadas em um ambiente de austeridade, contudo, o alcoolismo manifestaria-se na história de Kate. Weisberg relata problemas domésticos e sociais de Kate em 1886, quando ela é flagrada bêbada em um bar, após a morte de seu marido Henry Jenken. Em 1888 ela foi presa, acusada de negligenciar seus filhos, Ferdie e Henry. "Altos e esguios, com olhos brilhantes, Ferdie e Henry pareciam muito bem-cuidados aos oficiais de polícia, mas Kate estava inegavelmente bêbada". (p. 335)
Kate afirmou ao jornal World, de Nova York, que "... quando ela e a irmã, Maggie, eram jovens e famosas, forma levadas para inúmeros jantares e festas regadas a álcool; as pessoas lhes enviavam cestas com garrafas de champagne. Foi assim que nasceu seu hábito de beber." (p. 335)
A referência mais antiga que encontrei envolvendo as Fox ao álcool (mas não ao alcoolismo) no trabalho de Weinberg (p. 2690, foi publicada por George Templeton Strong, que se limitava a dizer, em torno de 1852, que "ópio, álcool e excitação mental" desempenhavam papel importante nas manifestações.
Conan Doyle (p. 115) no seu "História do espiritualismo" (traduzido indevidamente como "História do espiritismo") entende que após um fenômeno de efeito físico, muitos médiuns tentavam recuperar suas forças por meio de álcool, e que sentiam-se tentados a fraudar "quando as forças se ausentam" e que sofrem a influência de espíritos "que cercam um grupo promíscuo".
Seguramente a questão do alcoolismo das Fox vai além do uso após as sessões, e como propõe Barbara Weinberg, tem base na sua história familiar, e, arrisco dizer, na situação de franca hostilidade e pressão a qual se encontravam constantemente expostas, associada a aceitação social e pessoal do uso de álcool.
Se os autores do curta acima não são fiéis às biografias existentes (não posso dizer que maldosamente), não se pode deixar de reconhecer a triste trajetória das irmãs Fox pela mediunidade profissional, e pela fragilidade, principalmente de Kate, ao alcoolismo