O jornal brasileiro de
psiquiatria (v. 6, n. 4, p. 311-314, 2015) publicou um caso apresentado por
autores da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade de Pernambuco,
de transtorno delirante induzido.
Também conhecido como “folie a
deux” (loucura a dois) trata-se de um tipo de psicose não esquizofrênica nem
bipolar na qual um delírio (uma crença falsa, que pode ser inclusive factível) é
compartilhado por duas pessoas que convivem ou tem um relacionamento próximo.
Há diversos subtipos descritos na
literatura psiquiátrica atual: o erotomaníaco
(o paciente acha que alguém o ama, geralmente alguém famoso), o grandioso (o paciente acredita que tem
um grande talento, que ninguém reconhece, ou que fez uma descoberta importante),
o ciumento (que acredita que o
cônjuge é infiel, sem qualquer evidência), o persecutório (que crê que há uma conspiração ou que alguém o
persegue, engana, difama, droga ocultamente, ou impede o desenvolvimento de sua
carreira profissional) e o somático
(que acha que existem insetos ou parasitas internos, ou que exala um odor, sem
qualquer base na realidade).
Não se trata de uma crença
momentânea (que todos podemos ter), que se corrige com evidências em contrário e com o tempo, mas uma crença falsa e persistente que
ninguém dissuade, mantida por um tempo dilatado, como meses, e que afeta o
comportamento e o relacionamento do portador de transtorno delirante.
Por que estou falando de uma
doença mental em um blog sobre espiritismo?
Por que no caso apresentado pelos
psiquiatras, a paciente M. de 51 anos, compartilhou com sua mãe de 81 anos, que
se considerava médium, mas que aparentemente não frequentava nenhuma
instituição espírita, diversas crenças, pelo menos questionáveis.
A primeira é que lhe tinha sido revelado que se ela viajasse com o marido para a Europa, ela morreria. M. cancelou a viagem.
Dezesseis anos antes da revelação, M. teve uma psicose puerperal (pós parto) e foi tratada de forma medicamentosa, e a mãe, naquela época, falou que havia maus presságios com relação ao bebê. M. passou a crer que se tratava de um espírito ruim e chegou a tentar matá-lo.
A primeira é que lhe tinha sido revelado que se ela viajasse com o marido para a Europa, ela morreria. M. cancelou a viagem.
Dezesseis anos antes da revelação, M. teve uma psicose puerperal (pós parto) e foi tratada de forma medicamentosa, e a mãe, naquela época, falou que havia maus presságios com relação ao bebê. M. passou a crer que se tratava de um espírito ruim e chegou a tentar matá-lo.
M. foi tratada pelos psiquiatras
com um medicamento antipsicótico e foi orientada a se afastar da mãe durante o
tratamento. Passados 14 dias os sintomas desapareceram, e seis meses depois o
medicamento foi retirado gradualmente.
Dois anos depois, o marido
informou que a paciente continuou sem sintomas e passou a se relacionar com a
mãe de forma menos frequente.
Este caso traz a discussão da
questão da mediunidade e doença mental e o cuidado que se deve ter com
informações consideradas obtidas pela via mediúnica.
Os psiquiatras não avaliaram a mãe, mas supõe-na psicótica, se considerarmos o diagnóstico que fizeram a partir do relato da filha, e talvez tenha influenciado o seu não envolvimento com nenhuma instituição religiosa.
Os psiquiatras não avaliaram a mãe, mas supõe-na psicótica, se considerarmos o diagnóstico que fizeram a partir do relato da filha, e talvez tenha influenciado o seu não envolvimento com nenhuma instituição religiosa.
Supondo que a mãe fosse realmente
médium, que não fosse psicótica e que ela soubesse do quadro de psicose puerperal que a filha
apresentou, ela deveria ter tido cuidado com o relato de suas percepções. Uma
criança com experiências ruins no passado, vem para ser amada, cuidada e
educada, segundo o pensamento espírita. O cuidado e dedicação dos pais é, com
certeza, uma fonte importante de experiências para que ela reavalie os impulsos
que traz do passado.
Este caso mostra que mediunidade, para ser praticada para o bem-estar das pessoas, demanda estudo e reflexão ética, sensatez e humildade.
Este caso também ilustra a
importância de quem orienta pessoas, em um centro espírita, ter pelo menos
noções de psicopatologia.
Supondo que a mãe de M. fosse realmente psicótica (independente de ser ou não médium), não se deveria incentivar o desenvolvimento da mediunidade, mas ela chegaria à casa espírita com uma série de relatos de percepções espirituais, que na verdade seriam delírios. Conhecê-la, por exemplo, em um curso sobre mediunidade, evitaria que ela viesse a gerar falas delirantes em uma reunião mediúnica, prejudicando os objetivos do grupo. É importante saber que existem delírios e alucinações e que estes não podem ser reduzidos a percepções espirituais, e que as pessoas que os têm necessitam de tratamento psiquiátrico.
Supondo que a mãe de M. fosse realmente psicótica (independente de ser ou não médium), não se deveria incentivar o desenvolvimento da mediunidade, mas ela chegaria à casa espírita com uma série de relatos de percepções espirituais, que na verdade seriam delírios. Conhecê-la, por exemplo, em um curso sobre mediunidade, evitaria que ela viesse a gerar falas delirantes em uma reunião mediúnica, prejudicando os objetivos do grupo. É importante saber que existem delírios e alucinações e que estes não podem ser reduzidos a percepções espirituais, e que as pessoas que os têm necessitam de tratamento psiquiátrico.