Hermínio Miranda induziu algumas pessoas ao transe anímico,
conseguindo imagens mentais reconhecidas como memórias de vidas passadas pelos
seus sujeitos. Sua principal fonte bibliográfica, onde aprendeu a técnica de
indução por passes, foi o livro de Albert de Rochas: As vidas sucessivas.
Èugene-Auguste Albert de Rochas nasceu em 1837, na França e
desencarnou em 1914 em seu país natal. Ele foi oficial militar, chegando a
Comandante de Batalhão e foi para a reserva como tenente-coronel. De Rochas
publicou muito. A Wikipédia listou dezenas de artigos e livros de sua autoria,
entre trabalhos sobre temas militares e relacionados aos fenômenos do
magnetismo.
O livro “As vidas sucessivas” começa com uma revisão
histórica de citações de autores da antiguidade e da modernidade que tratam do
tema. Curiosamente, De Rochas não cita Allan Kardec, mas cita Léon Denis (como
fonte secundária de autores antigos, como Orígenes e os Pais da Igreja). Ele cita
Victor Hugo, Pezzani, Laváter, Voltaire, Oliver Lodge, Tolstoi e outros autores
que ou eram espíritas/espiritualistas ou se interessaram no tema da vida após a
morte. Contudo, a editora mostra em suas notas de pé de página, evidências da
leitura de Allan Kardec, especialmente no capítulo final, “A religião do futuro”.
Na segunda parte, De Rochas coleciona diferentes tipos de
evidências empíricas da reencarnação. Regressões por influência de acidentes
sofridos, recordações espontâneas de vidas passadas e memórias obtidas pelo
magnetismo (passes) são alguns dos temas que ele ilustra exaustivamente com
casos, como era comum à época.
A quarta parte do livro é um debate com diversas hipóteses
explicativas dos fenômenos. De Rochas apresenta a argumentação de Richet, que
ateve-se às mudanças de personalidade por sugestão (hoje seria chamada de
sugestão hipnótica). Depois atém-se à questão das comunicações mediúnicas, com
o caso de Mireille. Segue-se o caso da Srta. Hélène Smith (estudada por
Flournoy e considerada histérica), onde o autor francês se defende de uma acusação
ainda usada pelos céticos: só ele teria obtido memórias de vidas passadas com
seus experimentos. Ele responde, apresentando outros pesquisadores que hoje
fazem parte da história, como Fernandez Colavida, Estevan Marata (catalão,
menos conhecido) e Léon Denis! Ele sintetiza bastante os relatos de Smith sobre
vidas passadas e lamenta que ela não tenha sido induzida ao transe através de
passes.
É interessante a relação de De Rochas com o espiritismo. Ele
escreve que jamais se ocupou com o espiritismo, mas escolheu comunicar uma
série de experimentos com médiuns que não deram bons resultados. Contudo, em
vez de rejeitar as ideias espíritas, escreveu:
“Se as relato aqui, é unicamente a fim de fornecer novos
documentos ao processo que se desenrola diante da opinião pública, e não para
condenar, de maneira geral, a teoria espírita, que me parece apoiada em bases
sólidas e que é, em todos os casos, a melhor das hipóteses de estudo
formuladas.” (p. 350)
Na sua conclusão, o pesquisador faz uma relação de
afirmações que considera indubitáveis seguidas de hipóteses. Entre as
indubitáveis, ele coloca “que, por meio de operações magnéticas, pode-se levar
progressivamente a maioria dos sensitivos a épocas anteriores à sua vida atual.”
Na medida em que fui folheando o livro, fiquei pensando como
seria importante para os espíritas interessados no conhecimento espírita,
conhecerem autores como Albert de Rochas que, mesmo não se intitulando
espíritas, estudaram e ousaram teorizar sobre os fenômenos espirituais. As
casas espíritas precisam dar luz a obras importantes como esta, nem que seja
apenas para despertar o interesse dos que a frequentam.