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13.9.16

COMO PARTICIPAR DO SETEMBRO AMARELO?





O suicídio é um tema-tabu em nossa sociedade, cuja omissão de informações pode prejudicar em muito a prevenção. Por esta razão criou-se o Setembro Amarelo, que é um incentivo a discutir-se o tema.

Contudo, alguns amigos e leitores relataram incômodo com o tipo de conteúdos que têm sido veiculados na internet. Isto levantou a seguinte pergunta: O que se deve falar sobre suicídio? 

Um livro recente, escrito por André Trigueiro, que é profissional de jornalismo, nos dá algumas dicas:

1. Evitar repetição de histórias sobre suicídio
2. Recorrer a fontes confiáveis e comentários de especialistas para evitar divulgar mitos.
3. Evitar explicações simplistas para o suicídio (do tipo: ele suicidou porque...)
4. Dar visibilidade à relação que existe entre suicídio e transtornos mentais (principalmente depressão e alcoolismo)
5, Evitar a "glamourização" de quem comete suicídio
6. Cuidado na divulgação de suicídios de celebridades
7. Cuidado nas informações sobre quem se matou (geralmente se elogia as pessoas mortas, destacando suas virtudes e omitindo seus problemas. Isto pode ser mal interpretado como um elogio ao suicídio)
8. Apresentar histórias de pessoas que superaram o problema
9. Evitar detalhes sobre o método utilizado
10. Divulgar informações sobre onde conseguir ajuda
11. Evitar a palavra suicídio na manchete
12. Não publicar fotos do falecido
13. Não permitir que o texto associe a palavra suicídio a êxito, saída, opção ou solução
14. Evitar linguagem sensacionalista
15. Informar sobre sinais de alerta e onde procurar ajuda
16. Se o profissional de jornalismo que escreveu sobre o assunto sentir-se afetado, deve procurar ajuda
17. Publicar sobre fatores de risco para o suicídio: doença mental, idéias suicidas, antecedentes pessoais ou familiares de comportamento suicida, falta de apoio familiar e social, maus tratos físicos e psicológicos.

Adaptado de "Viver é a melhor opção". Autor: André Trigueiro. Editora: Correio Fraterno

13.6.15

O CONVITE À VIDA DE ANDRÉ TRIGUEIRO





Foto: André Trigueiro no Mater Dei



Dia dos namorados, sexta-feira à noite. O hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, abriu as portas em parceira com o programa Sempre Um Papo, para organizar uma palestra e autógrafos de André Trigueiro. Já havíamos comentado sobre seu livro "Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo."


O espaço não é grande, mas agradável. Um auditório com cadeiras removíveis, estilo poltronas, confortáveis. O público foi chegando aos poucos e se acomodando. Médicos, espíritas, voluntários do CVV (centro de valorização da vida). A palestra seria gravada e em algumas semanas todos poderão vê-la nas telinhas, mercê da internet e da equipe do Sempre um Papo.

Trigueiro fala muito bem. Ele combina a clareza de jornalista com a emoção que permeia sua fala rica de informações, às vezes engraçada. Sua palestra é uma quebra de tabu, muito cuidadosa e bem pensada.

Desde o livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, preocupa-se com os impactos que o relato dos suicídios podem ter no público vulnerável. André mostrou muito bem, que a imprensa tem como diretriz não falar do assunto sob hipótese alguma, mas como se vai combater um mal social e individual que não se conhece? O jornalista entende que precisamos nos deter na forma que a informação é passada, e propõe alguns cuidados para se falar do suicído em público. 

No Werther, o personagem principal, com o qual o leitor pode se identificar, suicida-se como uma saída romântica para um problema amoroso. As pessoas em geral leriam a história como uma ficção emocionante, mas pessoas com alguma forma de vulnerabilidade, identificadas com o personagem e com o discurso romântico e justificativo da morte, impressionadas com a descrição minuciosa do modus operandi de Werther, podem ser negativamente influenciadas por ele. 

Outro ponto que André Trigueiro enfatiza bastante em seu trabalho é que o suicídio não tem causa única. É um fenômeno multifatorial, ou seja, o ato que desencadeia a morte é influenciado por muitas razões e oportunidades, ao contrário do que pensa o senso comum. Os transtornos de humor estão muito associados à tentativa de suicídio, mas a grande maioria das pessoas não sabe o que é depressão ou transtorno bipolar, e fazem julgamento de valor, acreditando tratar-se de covardia, preguiça ou acomodação, para maior sofrimento dos que padecem o mal.

O acesso aos instrumentos usados do ato também é um fator. Por esta razão se tem criado mecanismos de proteção em lugares usados para o suicídio, como bem lembra Trigueiro, como pontes, shopping centers e prédios altos. A alteração da composição do gás de cozinha e a dificuldade de acesso aos agrotóxicos são outras medidas de cunho político e social que diminuíram em seus respectivos países as tentativas do ato.

Trigueiro destacou a importância de ouvir e ser ouvido, que é a essência do trabalho do Centro de Valorização da Vida – CVV. Em uma sociedade na qual as pessoas vivem em função do relógio, sobram jargões e pequenas receitas que os amigos dão aos que resolvem abrir a alma e relatar seu sofrimento, o que não ajuda. A literatura especializada chama este fator de “apoio social” ou “suporte social”, cuja presença pode fazer pesar a balança para o lado da vida. Este trabalho lembra o “atendimento fraterno” feito nos centros espíritas.

Ao ouvir Trigueiro descrevendo o trabalho do CVV, recordei-me dos princípios da psicologia humanista, desenvolvida por Carl Rogers. Não diretividade, é um destes princípios. Enquanto ouvia pensávamos, minha esposa e eu, sobre a necessidade das pessoas que trabalham com atendimento fraterno estudarem a fundo, tanto o livro de André Trigueiro, quanto a técnica do CVV e um pouco da psicologia humanista. Isto evitaria o risco de se ouvir um pouco as pessoas que procuram o centro espírita e interromper o processo com a “receita de três passes” e “cinco reuniões públicas”. O passe pode ser um poderoso aliado para o portador de depressão, a ida à reunião pode quebrar por um instante o isolamento social que realimenta os pensamentos negativos, mas é preciso algo mais, e o trabalho de atendimento fraterno pode ser uma forma de enfrentamento social mais efetivo da depressão e do suicídio, sem pretender concorrer com a psicoterapia e o atendimento psiquiátrico.

Poderia ficar escrevendo páginas e páginas, tal a riqueza do trabalho do jornalista, mas deixo ao leitor o livro dele e, quando estiver no ar, divulgo o link desta palestra. Vieram os autógrafos e ele nos acolheu pacientemente, comentando com entusiasmo sua nova frente de trabalho. André Trigueiro, desejo-lhe sucesso! Cada pessoa que ouvir seu convite à vida e resolver enfrentar seus impulsos e ideias obsessivas, é um ponto de luz que se acende na teia da sociedade brasileira, a contaminar o todo com o desejo de superação.


19.5.15

VIVER: UMA CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DO SUICÍDIO




Fechei a página 190 com a clara impressão de ter navegado por dois dias em um texto suave e muito informativo, em alguns momentos, reflexivo. Esta foi minha experiência com o livro “Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.”

André Trigueiro, o autor, é conhecido jornalista da Rede Globo, engajado em temas ligados à ecologia e à preservação da vida. Atuante no movimento espírita há muitos anos, discretamente, ele retoma neste livro o tema que o motivou no início dos seus trabalhos: o suicídio.

A primeira parte do livro informa e desconstrói muitos mitos que se tem propagado sobre o suicídio. Trigueiro dá dicas ao profissional de mídia para superar o tabu de se falar do suicídio e os cuidados para que a informação seja benéfica, e não indutora do ato. Uma contribuição importante para o entendimento do tema é a insistência que se trata de um ato com diversos fatores explicativos, ou seja, não pode ser explicado apenas pelo que pode ser visto como um fator desencadeante (uma desilusão amorosa, uma falência ou outro acontecimento estressor na vida do autocida).

Trigueiro destaca bastante a influência da depressão e de outros transtornos mentais, bem como do alcoolismo e do uso de drogas,  na maioria das histórias de pessoas que tentaram o ato. Ele explica com clareza e objetividade como as políticas públicas podem agir na prevenção do suicídio e como nós podemos, em escala menor, identificar pessoas que correm o risco de matar-se e como auxiliá-las.

O Centro de Valorização da Vida é tratado e historiado de forma muito interessante para nós, espíritas, mas não vou me deter no assunto para não estragar a surpresa da leitura.

A segunda parte do livro trata da visão espírita do suicídio e apresenta de forma clara o  pensamento de Kardec e o de autores atuais, como Yvonne Pereira, Joanna de Ângelis, Simonetti e Jáider de Paula, por exemplo.

Uma palavrinha sobre a edição: o projeto editorial do livro é muito cuidadoso, agradável de ver e ler. Descansa os olhos.


O livro merece ser lido pela comunidade espírita com atenção e, ao contrário do que o autor humildemente propõe, ele traz novas questões e abordagens ao que já conhecemos e lemos na literatura espírita. Como pessoas com este tipo de problema nos procuram diariamente na casa espírita, seria um livro interessante para ser estudado e discutido pelas equipes de atendimento fraterno ou acolhimento.