Parque Abana Achi Ken - Túnel de flores e luzes,
Adriano Marques, conhecido na mídia como o mochileiro, fez recentemente uma extensa visita para o Japão, fazendo estudos pelo movimento deste país. O Espiritismo Comentado conversou com ele sobre suas impressões e experiências no outro lado do mundo, e ele nos acolheu de forma atenciosa, jovial e pronta.
Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo.
Além do Programa Roteiro, da Rádio Boa Nova, ele coordena a Mocidade Espírita Eurípedes Barsanulfo no Centro Espírita Wantuil de Freitas - São Paulo.
EC –
Adriano, você esteve recentemente visitando o movimento espírita japonês.
Quantas horas de viagem de São Paulo até Tóquio?
Mochileiro –
Jáder, são 30 horas de voo sendo 14 até Abu Dhabi e depois mais 12 até o Japão
com mais ou menos 3 a 4 horas de espera entre um voo e outro.
EC – Suas
palestras foram traduzidas para o japonês?
Mochileiro -
Não tivemos essa alegria e necessidade, até porque são poucos os Japoneses que
frequentam ou conhecem o espiritismo. Porém, nessa segunda vez que estivemos no
Japão, mais japoneses estiveram em nossas palestras e os acompanhantes,
geralmente esposa ou marido, traduziam ao longo da palestra os pontos
principais.
Cidade de Suzuka-shi - Província Mie Ken - Grupo de Estudos Espíritas Amigos da Luz
EC – Nas
grandes cidades japonesas os imóveis são muito caros e geralmente menores que
os que temos no Brasil. Qual é o tamanho dos centros espíritas que você
visitou? Há muitos anos li no GEAE que havia um grupo no qual as pessoas se
reuniam em uma pequena sala e parte dos assistentes ficava em um van, na rua,
acompanhando por meios eletrônicos a reunião.
Mochileiro -
Não tenho essa informação sobre a van, mas, por exemplo, o grupo de orações na
cidade de Honjo, na província/estado de Saitama durante 2 anos se reuniu dentro
de um automóvel pequeno para fazer evangelho no lar nas ruas na cidade. Em média,
as casas são pequenas e os grupos se reúnem em reuniões de 10 a 20 pessoas,
exceto alguns grupos que chegam a 40 60 pessoas, como em Honjo, Toki e
Kakegawa.
Para se ter
uma ideia, Ginza, um bairro de Tokyo, é o metro quadrado mais caro do mundo. Com
isso imaginamos qual o valor de um imóvel em Tokyo. Porém, a maioria das casas
espiritas estão situadas em casas de presidentes ou de fundadores do grupo, ou
em espaços alugados da prefeitura onde se pagam por hora, uma média de mil yenes,
o equivalente a 25 reais por 3 horas de uso, aos sábados ou domingos. Outros
grupos possuem sede própria e outros ainda dividem o espaço físico com casas de umbanda.
EC – O
movimento espírita no Japão é nipo-brasileiro ou apenas de brasileiros que foram trabalhar por lá?
Mochileiro -
Se compreendi bem sua pergunta, o movimento espirita no Japão é feito por
brasileiros para brasileiros, sendo descendentes ou não.
Grupo de Orações Cidade Honro Shi - Província Saitama Ken
EC – A
sociedade japonesa recebe bem os núcleos espíritas?
Mochileiro -
Não há divergência, até porque o movimento espirita todo é realizado na língua
portuguesa. Então até para que os japoneses não recebam bem, terão que
compreender o que está sendo feito. Devido ao incidente há alguns atrás, da
seita que matou centenas de pessoas no metrô de Tokyo, o governo proibiu a
regulamentação de novas seitas religiões etc. Com isso o espiritismo não é
visto pelos japoneses como uma religião.
EC – Como
podemos apoiar o movimento japonês?
Mochileiro -
Primeiramente, com prece, orações e buscar ajudá-los à medida que os pedidos
dos grupos forem sendo realizados. A nossa ida até o Japão demorou 6 anos,
devido aos grupos fechados, desconfiança etc., pois, infelizmente, muitas
pessoas ao longo dos anos tentaram se aproximar somente para obter vantagens
chegando ao ponto de cobrarem pelas palestras. Em outros momentos temos
palestrantes no Brasil que fazem muitas exigências como passagem de primeira classe,
hotel cinco estrelas, público acima de X número de pessoas e etc. Com isso, é
natural o bloqueio e a insegurança dos dirigentes e trabalhadores.
EC – Você
entrevistou crianças japonesas sendo evangelizadas, como foi isto?
Mochileiro -
Não entrevistei porque não existe esse trabalho sendo realizado, pelo menos nas
15 casas espiritas que visitei. O que existe são trabalhos esporádicos sendo
realizados por pessoas dentro de alguns grupos, porém com filhos de trabalhadores
e frequentadores, em português, até porque são crianças brasileiras que até
falam japonês, porém tudo é feito em português.
EC – O Japão
é a terceira economia do mundo, com uma distribuição de renda muito melhor que
a nossa. Você teve contato com trabalhos de assistência e promoção social lá?
Qual é a diferença dos nossos trabalhos?
Mochileiro -
Sim, realmente o Japão é um país de primeiro mundo e somente isso já dá uma
visão geral das grandes diferenças entre eles e nós. Visitei e trabalhei em
dois grupos assistenciais, tanto na primeira como dessa segunda vez que
visitamos o Japão. A diferença, basicamente. é a forma que é conduzido
trabalho, os alimentos, a preparação, e os dias de funcionamento. Basicamente,
os trabalhos sociais se resumem em atendimento aos homeless, moradores de rua. O grupo que participei fica na cidade
de Hamamatsu na província de Shizuoka talvez o lugar com mais brasileiros no
Japão, devido à grande quantidade de brasileiros. Até as placas na estação de
metrô e shinkansen - trem bala - em hamamatsu estão escritas em português. E,
por incrível que pareça, todos os assistidos, dessa vez que participei, 89,
eram japoneses. Ano passado havia brasileiros e outras nacionalidades.
EC – Nas
reuniões mediúnicas, há médiuns japoneses, psicografando ou falando em japonês?
Já existem publicações de livros espíritas produzidos por “filhos do sol”?
Mochileiro -
Não se tem notícia de japoneses nas reuniões mediúnicas nem à frente de
trabalhos espíritas. Tive contato com pessoas que afirmam ter grupos espíritas
criados por japoneses para japoneses, porém não obtive êxito em conseguir
contato ou entrevista para a rádio Boa Nova.
Livros,
existem sim. O mais conhecido é o evangelho segundo o espiritismo, traduzido
pelo Sr Tomoh Sumi, que é japonês e morou no Brasil, em Juiz de Fora-MG, onde
fez faculdade de Letras. Há também O livro dos médiuns, O céu e o inferno em
dois volumes e O livro dos espíritos, mas traduzido por grupos diferentes,
inclusive por não espíritas.
Nas reuniões
mediúnicas, cheguei a participar de algumas, quando a comunicação pode ser
realizada na língua japonesa. Em um dos grupos havia pessoas capacitadas para
fazer a doutrinação em japonês, noutro grupo fizemos prece e encaminhamos o
espírito, já que não havia como dialogar, devido a ninguém na sala conhecer a
fundo a língua nativa.
EC – Conte
para nós como foi a entrevista na Globo – Japão.
Mochileiro -
A entrevista aconteceu devido à ajuda da Alice, dirigente do Grupo de Estudos
Espíritas Amigos da Luz, da cidade de Suzuka que, em contato com Edson Xavier,
combinou nossa participação. Fui muito bem atendido pelo apresentador e o bate
papo fluiu tranquilo. Confesso não imaginar a repercussão que a entrevista
daria, quando fosse ao ar. Até hoje tenho recebido e-mails do Japão inteiro
dizendo que ouviram e assistiram a entrevista. Em meu face o vídeo chegou a mais de 3 mil visualizações. De uma maneira
tranquila, falamos aquilo que em duas viagens ao Japão, sendo 30 dias cada
visita, conseguimos conhecer. Como dissemos anteriormente, o movimento espirita
japonês ainda está no início e muita coisa precisa ser esclarecida aprendida e
ensinada. Por isso há muita desconfiança, no sentido de conhecer nosso trabalho
para abrir as portas dos grupos, até porque muitos estão localizados nas
próprias residências das pessoas etc. Mas muito nos alegra termos participado
dessa entrevista num veiculo mundialmente conhecido e termos falado por mais de
4 minutos.
EC – Você
pode contar ao nosso leitor alguma peculiaridade dos centros espíritas
japoneses?
Mochileiro -
São várias, mas tentarei resumir. O fato de, na entrada, você ter que tirar o
sapato, como é o costume japonês, já nos causa estranheza. O segundo ponto é
que, como a grande maioria, arrisco dizer que como 90% dos espíritas japoneses
conheceu o espiritismo no Japão, ainda existem as orações reminiscentes do
catolicismo como o Pai Nosso, Ave Maria etc., seja no estudo do evangelho ou
nas reuniões mediúnicas e palestras públicas. As comunicações de espiritos na
reunião mediúnica, em Japonês, na minha opinião é a peculiaridade mais especial.
Como sou apaixonado pela língua japonesa acaba sendo gostoso e nos desperta mais
amor no momento da comunicação, por exemplo, de espíritos que, sofredores
ainda, não conseguem discernir que já estão desencarnados e são levados pela
espiritualidade maior para tratamento.
EC – Que
autores/médiuns ocidentais espíritas são lidos pelos japoneses, além de Kardec
e Chico Xavier?
Mochileiro -
São muitos, porém Zíbia Gasparetto é a mais lida, sem sombra de duvida, devido
aos romances.
EC – O que
emocionou você na viagem?
Mochileiro -
Jáder, a viagem toda, em si, é uma emoção. Há muitos anos sonhávamos viajar o mundo
levando livros, espiritismo e a Rádio Boa Nova, e por duas vezes em dois anos
demos a volta ao mundo. Ir ao Japão é a realização não somente de um sonho, mas
sim, de um projeto que provavelmente durará por longas décadas. Primeiro, pelo
que plantamos e por todo trabalho iniciado na seara espirita. Segundo, porque
há muito o que ser feito e realizado e graças ao nosso trabalho e temos tido
total apoio, respeito e convite para retornarmos e darmos continuidade ao
trabalho iniciado em 2014.
Passar 30
horas de voo, com a sensação de que tudo será novo, é algo imensurável. Em 2014
não conhecíamos ninguém, nem sequer onde ficaríamos hospedados, eram ouvintes
que nos convidaram e nós aceitamos. Imagina o nervosismo, as dúvidas, o medo,
porém a fé em cristo foi maior e colocamos a mochila nas costas e levamos 310 livros
para distribuição em 2014. Neste ano foram 450 livros da lavra de Francisco
Candido Xavier doados pela editora GEEM. Então entregar os livros, dar palestras,
entrar ao vivo pela Rádio Boa Nova em nosso programa Roteiro, direto do Japão,
foi algo esplendoroso até porque a Radio Boa Nova tem 50 anos de existência e
fomos os primeiros a ir ao outro lado do mundo.
E, por fim,
mas não menos importante, fazer amizades, conhecer uma nova cultura, lugares,
religiões, grupos que, com muita dificuldade, longe da família e do pais de
origem, seguem firme, mantendo alto a bandeira do espiritismo.
EC – Você
tem um link que possibilite, aos espíritas latino-americanos e aos japoneses
interessados, conhecer um centro espírita no Japão?
Mochileiro -
Não tem um link especifico, mas quem quiser pode nos adicionar no Facebook -
Adriano Marques - Programa Roteiro - que indicaremos os grupos de cada região: http://radioboanova.com.br/wp-content/uploads/2014/02/adriano_marques.png