Tia Bidu, à direita, de verde, ao lado de Tancredo e uma amiga. Atrás, quatro sobrinhas.
Peço licença aos leitores do Espiritismo Comentado para fazer uma homenagem a uma tia querida da minha esposa, umbandista, que acaba de retornar ao mundo dos espíritos.
Quando a conheci, ainda namorando minha esposa, ela se
apresentou da seguinte forma:
- Prazer! Meu nome é Nair Nunes Coelho, mas pode me chamar
de Bidu.
E ela se transformou imediatamente na minha tia Bidu, cuja
alegria e encanto nos permitiu ser aceito imediatamente na família.
_ “Quando eu era jovem, um circo passou por nossa cidade”. Ela
contava.
- “Eu decidi, então, fugir com o circo. Procurei o
encarregado e me ofereci para trabalhar com eles”. Ele me perguntou:
- “O que você sabe fazer?”
- “Eu canto, danço e sou melodramática!” E ria com a
gargalhada mais gostosa do mundo, da ingenuidade da sua juventude.
Alma indomável, era irmã de uma católica superdevota, respeitada
por todo o padroado de Valadares e caridosíssima. Bidu se tornou médium
umbandista e dona de centro. Contudo, não abandonou a marca da família, e
também era uma alma bondosa, querida por todos e capaz de ajudar a quem
precisasse. Vez por outra o Juquinha, uma das entidades da umbanda, sabendo que
eu não ia às reuniões, me mandava uma balinha, um bom conselho e uma palavra de
incentivo. Ela sempre respeitou minhas convicções e nunca me cobrou nada,
apenas acolheu e foi amiga.
Sempre me lembro da Bidu com as damas de Valadares. Um grupo
de senhoras que parecia um colar de pérolas, dedicadas, empreendedoras, e a
Bidu parecia um rubi no meio delas. As diferenças nunca impediram de trabalhar
juntas pelo que consideravam bom e justo. E também se divertiam, viajavam
juntas, Poços de Caldas, Caldas Novas...
Tia Bidu, cantando aos 81 anos, no aniversário da irmã.
Tia Bidu ficou toda entusiasmada quando recebi uma única mensagem de um espírito que se identificava como preto velho. Ele explicava por que assumiu esta imagem e qual era seu trabalho na umbanda. Pediu cópia e guardou o papel. Disse que queria mostrar para alguém. Nunca soube que fim levou esta mensagem.
Quando soube que eu andava psicografando, Bidu aproveitou
uma conversa telefônica com meus sogros para dizer que queria comprar os
livros. Eu mandei de presente o “Casos e descasos” e “O observador”. Criada da
forma antiga, e sem acesso à internet, ela me telefonou de Valadares, o que era
um ato e tanto, já que a situação financeira dela sempre foi regrada. Eu fiz a
pergunta que todo médium ou autor deseja fazer ao seu leitor:
- E aí Bidu? Já deu tempo de ler algum deles? O que está
achando?
Bem humorada, ela me respondeu:
- Jáder, seus livros são ideais para gente velha.
- Por que tia?
- Eles têm letras grandes e histórias pequenas! E ria gostosamente.
No ano que se passou, o seu companheiro de "cama, mesa e centro", o Tancredo, décadas de união estável, desencarnou. Alguns meses depois ela teve uma trombose mesentérica, que a
levou de imediato à mesa de cirurgia e à UTI. Eu ainda acalentava o desejo de
melhoras, já que ela estava animada para fazer uns consertos no seu apartamento
na ilha e reconstruir sua vida, mas Deus lhe destinou um apartamento maior e a
possibilidade de reencontrar com seu companheiro querido. Nós estamos em
lágrimas, mas acho que ela irá gargalhar mais uma vez depois que se recuperar
do lado de lá.