31.8.19

O ESPIRITISMO DA FRANÇA AO BRASIL


Capa do livro

Como foi escrito?

Os encontros nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo - LIHPE são espécies de congressos, para os quais os membros da LIHPE submetem trabalhos escritos que são avaliados por pareceristas com formação acadêmica e conhecimento doutrinário, geralmente doutores e mestres em suas áreas de atuação, que recomendam aprovação, reprovação ou aprovação com correções. 

Para evitar viés e conflitos, os avaliadores não sabem quem escreveu o artigo que analisam e os autores não sabem quem avaliou. Esse sistema é conhecido como duplo-cego (blind review em inglês)

O tema de 2019 para o ENLIHPE foi "Allan Kardec: 150 anos depois". Ele visava obter trabalhos que tratassem como surgiu o espiritismo na França e como ele foi difundido pelo Brasil. Os trabalhos podem ser históricos ou de pesquisa, desde que bem escritos.

Os estudos escolhidos

Quatro trabalhos foram escolhidos para compor o presente livro e serem apresentados no 15º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo. 

O primeiro se atém às mudanças realizadas por Kardec em O livro dos espíritos, nas diversas edições que ele publicou ainda encarnado.

O segundo trabalho, ainda focalizado nos escritos do mestre francês, distingue reuniões mediúnicas de “auxílio ao próximo” de reuniões mediúnicas “voltadas para a pesquisa”. Ele descreve com detalhes o funcionamento do Grupo Lampejo, em Vitória – ES.

O terceiro trabalho tenta comparar textos ditados pelo espírito Camilo Castelo Branco, escritor português que se suicidou no século XIX, aos médiuns Fernando de Lacerda, Francisco Cândido Xavier e Yvonne A. Pereira. Detendo-se nas descrições que o escritor fez do próprio suicídio e suas primeiras impressões do mundo espiritual, o autor defende que dois médiuns que não se conheciam relatam eventos iguais, apesar de Yvonne escrever mais informações, e não há contradições.

O último trabalho nos leva ao último quartel do século XIX, e nos mostra as mulheres que participaram do início do movimento espírita no estado do Amazonas. Quem são? O que ficou registrado de sua ação no movimento espírita? Um início de um estudo de gênero no meio espírita, que possibilitará no futuro um entendimento do papel do movimento espírita na emancipação e atuação da mulher na sociedade.

Onde comprar?

O livro foi impresso a tempo do 15º ENLIHPE e já se encontra disponível para compra no Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro (CCDPE-ECM).

Ele pode ser pedido pela internet na livraria do CCDPE-ECM no seguinte endereço: http://www.ccdpe.org.br/livraria/

Outro parceiro do CCDPE-ECM é a distribuidora Candeia, que vende e distribui não apenas esse mas todos os outros oito livros da Série Pesquisas Brasileiras do Espiritismo.

Ficha do Livro

Título: O espiritismo da França ao Brasil: estudos escolhidos
Organizadores: Jáder Sampaio e Marco Milani
Autores: Jáder Sampaio, Joselita Nobre, Lenara Nunes, Luana Poltronieri, Luís Jorge Lira Neto, Raphael Carneiro
Editoras: CCDPE-ECM, USE Estadual e LIHPE
128 páginas
Agosto de 2019
ISBN: 978-85-64907-10-2


30.8.19

O QUE ANDA FAZENDO O NUPES-UFJF?


O Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora mantém um espaço na internet para veicular entrevistas, informações e notícias chamado de TV NUPES. Esse espaço completou 5 anos e publicou acima uma análise das realizações do núcleo. O trabalho é expressivo, se considerarmos a produção universitária média brasileira. Orientações concluídas, trabalho interdisciplinar, parcerias institucionais e internacionais realizadas, professores internacionais trazidos ao Brasil, publicações, eventos... Vale a pena assistir por menos de quatro minutos para conhecer o que eles fazem.

O NUPES interessa ao movimento espírita por ter realizado trabalhos de pesquisa séria com médiuns, interessar-se pela questão da relação mente-cérebro e mais recentemente estar divulgando novos estudos sobre as novas concepções das relações entre ciência e religião.

27.8.19

BEZERRA E A ORQUESTRA DE ESCRAVOS


Ponte dos Jesuítas, na Fazenda Imperial Santa Cruz

Continuamos a leitura do livro A tragédia de Santa Maria em nossa reunião mediúnica, e mais uma surpresa nos aguardava. Minha esposa preparou o capítulo 5 da segunda parte, que trata da volta de Esmeralda ao Brasil, e das festividades preparadas para recebê-la. Não acontece muita coisa no enredo literário, mas, mais uma vez, Bezerra de Menezes se aproveita da narrativa para tratar de uma questão que lhe foi muito cara em vida: a abolição da escravatura.

A primeira surpresa do capítulo é a preparação de uma orquestra de escravos para receber Esmeralda. Orquestra de escravos? Nunca havia ouvido falar nisso, e parti para a internet em busca de informações. Qual não foi minha surpresa quando encontrei uma orquestra de escravos na região em que a história se passa.

O comendador Souza Breves, considerado o maior senhor de escravos do Brasil Imperial, mantinha uma orquestra de escravos em suas propriedades para tocar em suas festas. Souza Breves era dono de fazendas na região de Piraí - RJ, situada no Vale do Paraíba a uma altitude de 387 metros do nível do mar.


Comendador Souza Breves

Os dados biográficos do Comendador Souza Breves não o tornam candidato a ser o personagem do livro, mas a localização e a altitude de tornam a região bem passível de ser próxima da Fazenda Santa Maria, quem sabe vizinha das fazendas de Souza Breves.

Ribeiro e Nogueira (2016) escreveram um artigo para a revista "Anais do museu paulista: história e cultura material" (1) , na qual, coincidentemente, explicam que em uma fazenda chamada Santa Maria, da região de Campinas-SP, havia uma orquestra de escravos (p. 64),  dirigida pelo maestro, compositor e professor Sabino Antônio da Silva, que morou por cerca de três anos na referida fazenda.



Fazenda Imperial Santa Cruz

Outro exemplo da existência de orquestras de escravos no Brasil Colônia e no Brasil Império é a Fazenda Imperial de Santa Cruz, fundada em 1556, no Rio de Janeiro. Na Wikipédia se aponta o funcionamento de "uma Escola de Música, de uma Orquestra e de um Coral, integrados por escravos, que tocavam e cantavam nas missas e nas festividades quer na Fazenda, quer na Capital da Capitania"

Dá para ver que a novela de Bezerra de Menezes apresenta alguns detalhes pouco conhecidos de quando viveu, especialmente com relação à escravidão. Ela também retrata uma época e os costumes da sociedade fluminense em que viveu. Embora não se possa falar em prova, é uma boa pista que o autor espiritual deixa no texto indicando sua autoria.


(1) http://dx.doi.org/10.1590/1982-02672016v24n0202


20.8.19

NOVA EDIÇÃO DE VOLUNTÁRIOS




No dia 30 de julho publicamos no Espiritismo Comentado uma matéria sobre os lugares em que se encontravam os livros Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização de terceiro setor". 

Dias depois recebi um telefonema da Dra. Júlia Nezu, presidente do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo - Eduardo Carvalho Monteiro, com uma proposta direta: 

- Vamos reimprimir o livro?

Estávamos na reta final da impressão do livro "O espiritismo da França ao Brasil: estudos escolhidos", mas a oportunidade era clara. Haveria trabalho para a nova reimpressão, mas boa parte dele cabia ao editor, e a nós caberia responder prontamente às demandas.

Para minha surpresa, vinte dias depois, chega uma caixa de livros trazida por transportadora. Abri os livros e eles ainda traziam aquele cheirinho de recém-impresso, que tantas pessoas apreciam. Os trabalhadores de São Paulo não "brincam em serviço".

O "Voluntários" é nossa tese de doutoramento, defendida em 2004, diante de uma banca muito dedicada e a presença de muitos amigos do meio espírita, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA-USP. 

Motivação, cultura organizacional, uma proposta de modelo para pesquisar a motivação de voluntários, como o espiritismo vê o mundo e o homem, a história da Creche Futuro, sua estrutura e organização no tempo, seus voluntários e o paradoxo da satisfação e sofrimento em seu trabalho são os principais temas do livro. 

Agora que estamos com os livros novamente no mercado editorial, quem sabe não teremos novos trabalhos acadêmicos e no meio espírita que darão sequência ao que se iniciou com esse livro?



Quem estiver no 15º Enlihpe, em Fortaleza-CE, terá acesso a este livro e ao livro com os trabalhos escolhidos do evento: O espiritismo da França ao Brasil

Título: Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas e a cultura em uma organização do terceiro setor
Autor: Jáder dos Reis Sampaio
Organizadoras: Cléria Bittar e Nádia Marcondes Luz
Editora: CCDPE-ECM e LIHPE
Coleção: Espiritismo na Universidade
248 páginas
23 x 16 cm
35 reais

Pedidos: pelo e-mail contato@ccdpe.org.br e em breve pela internet no www.ccdpe.org.br


10.8.19

YVONNE PEREIRA, AS IRMÃS DE SION E OS DETALHES DE SUAS NARRATIVAS



Estamos estudando o livro “A Tragédia de Santa Maria”, ditado por Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira e publicado pela Federação Espírita Brasileira, em nossa reunião de sábado.

Fiquei encarregado do capítulo 4 da segunda parte, que, a princípio, seria apenas uma mera narrativa do encontro dos personagens Esmeralda e Bentinho, via correspondência em Portugal e pessoalmente na Suíça.

Inicialmente é a descrição de um piano Pleyel para concertos, que é o tipo tocado por Chopin, por exemplo. Segundo o site do fabricante, ele começa a ser fabricado em 1807 (pleyel.com), ou seja, é provável que fosse comercializado e disponível em Portugal nos anos 1880.



Ao ler com cuidado, observam-se alguns detalhes muito curiosos. Primeiro é a descrição de flores e árvores da Quinta Feliz, em Coimbra-Portugal. Tive a curiosidade de procurar uma por uma na internet, e todas elas são encontradas no país lusitano. Algumas são trazidas de outros lugares, e são encontradas lá na época dos eventos da novela.

Depois, quando os personagens vão à Suíça, passar férias, a vegetação descrita é diferente e muito coerente com altitudes maiores e clima mais frio. Não há nenhuma flor igual à da primeira descrição. Algo muito difícil de ser feito apenas com imaginação, especialmente por uma pessoa que nunca saiu do Brasil.

O mais curioso, no entanto, é uma pequena frase escrita por Bentinho. Ele havia sido informado que Esmeralda iria estudar no “Educandário das Freiras de Sion em Paris”. À primeira vista, pareceu-me muito estranho. Freiras de Sion? Lembrei-me inicialmente do Sionismo, que era um movimento para a formação do estado de Israel. Olhando no dicionário, vi que Sion é uma palavra que originalmente designava uma fortaleza próxima a Jerusalém e que passou a ser usada para significar “a terra prometida dos Judeus”.

O que algo Judeu teria a ver com a igreja? Freiras de Sion? Saí à procura da expressão “Nossa Senhora de Sion”, em busca de alguma ordem religiosa católica, e da explicação do nome. Deu para descobrir muita coisa.

Théodore Ratisbonne era um descendente de judeus da cidade de Estrasburgo que se converteu ao cristianismo em 1827, ano em que batizou-se. Os textos consultados apontam para uma conversão pessoal, simultânea à conversão de outros amigos. Posteriormente ele converteu também seu irmão Alphonse, estudou e foi ordenado padre em 1830.



Alphonse o convenceu a fundar um espaço para a educação (catecumenato, segundo alguns autores) de filhas de judeus convertidos, em 1842, ano em que se encontrava em Paris. Eles fundaram, então a ordem de Nossa Senhora de Sion, com o objetivo de converter judeus à fé cristã. A ordem foi reconhecida por Roma em 1842. 

Nesse ponto da história, estava achando que havia algum erro na narrativa do médico dos pobres-espírito. Esmeralda não era descendente de judeus, mas uma filha de latifundiário brasileiro em estudo na Europa. Por que ela estudaria em uma instituição dessa ordem?

Entre 1843 e 1884, a ordem foi crescendo e criou uma espécie de segundo objetivo. Criou 13 internatos de elite, em decorrência da reputação de Madre Rose Valentin. Os internatos lhe davam recursos para que ela pudesse dar consecução ao seu objetivo maior que era a conversão de judeus. (E assim o foi até o Concílio Vaticano Segundo, no século 20).

Bezerra de Menezes estava certo. Havia em Paris uma ordem das freiras de Sion e um internato para moças da elite!

Passados alguns anos, o governo francês promoveu reformas de laicização do ensino, especialmente o fundamental, que envolveu gratuidade e a obrigatoriedade do primário. Algumas das irmãs foram, então, convidadas a fundar uma instituição de ensino aos moldes franceses no Rio de Janeiro, pela nobreza brasileira com o apoio da princesa Isabel. Elas vieram em 1888.

Encontrei uma escola das Irmãs de Sion em Paris, mas parece ter sido fundada no século 20, em parceria com outra ordem religiosa. 

A questão dos detalhes da literatura produzida por Yvonne Pereira, em contato com os autores espirituais é impressionante. Autores contemporâneos que fazem literatura com temas históricos, como Ken Follet, têm um número enorme de consultores, que são especialistas em aspectos pontuais da história e que o permitem escrever sem cometer equívocos. Yvonne tinha apenas lápis, papel e a assistência dos espíritos que lhe contavam as histórias.

5.8.19

CONVERSANDO SOBRE O CONVERSANDO



Fui convidado pelo Lourenço para fazer o Seminário "Conversando com os Espíritos" no Cenáculo Espírita Thiago Maior. Interessado e responsável, meu amigo leu o livro, e foi lendo os demais que escrevi, organizei ou psicografei. Acho que ele se tornou um bom especialista do que escrevi.

Nas atividades de preparação, Lourenço fez uma lista de questões sobre o livro, bem interessantes, do tipo que faz pensar. Esbocei as respostas de cada pergunta e levei, mas quando iniciamos o seminário, ele se tornou uma espécie de simpósio, porque na primeira hora e meia o público presente me sabatinou. Parte do público havia lido o livro, parte não. Então a segunda parte ficou para uma exposição mais sistemática do conteúdo, e não deu tempo para tratar das perguntas do Lourenço.

Agora que praticamente passaram os encargos com a organização do 15º Enlihpe, vamos publicar aos poucos as perguntas "lourencianas" e nossas respostas e comentários. Espero que sejam úteis aos interessados em mediunidade e espiritismo.