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21.12.18

DOIS INDÍCIOS DA IDENTIDADE DE BEZERRA DE MENEZES NO LIVRO "DRAMAS DA OBSESSÃO"





A expulsão dos judeus em 1497



Estamos estudando o livro “Dramas da Obsessão”, ditado pelo Espírito Bezerra de Menezes a Yvonne Pereira. Como a leitura é feita aos poucos em nosso grupo de estudos (um pequeno capítulo por sessão), conseguimos observar alguns detalhes que geralmente escapam a uma leitura do livro como romance apenas.

A trama do romance, desde o início, remete o leitor ao livro “A Loucura sob Novo Prisma”, publicado postumamente. Nesse livro, o médico cearense defende a tese da existência de pessoas avaliadas como loucas por médicos da época, que na verdade sofreriam apenas a obsessão espiritual (provocada por espíritos inferiores). A história, que parece ter origem em fatos reais, trata de suicidas que foram levados ao ato por obsessão espiritual.

Durante a narrativa se descobre que os obsessores do livro haviam sido convertidos compulsoriamente ao cristianismo no século XVI, e depois torturados e mortos apenas por terem fortuna, sob o pretexto de cultuarem sua religião em segredo.

Na narrativa, Bezerra mostra como eles foram obrigados a adotar nomes cristãos após a conversão. O rabino Timóteo Aboab passou a ser chamado de Silvério Fontes Oliveira, seus filhos Joel, Saulo e Rubem, tiveram que adotar os nomes de Henrique, José e Joaquim, respectivamente.

Nas páginas 66 e 67 da minha edição, Bezerra traça uma explicação sobre o significado hebraico dos nomes da família, voltando até mesmo à descendência de Israel (ou Jacó). A mudança obrigatória de nomes é, portanto, uma violência simbólica e uma tentativa de apagar as origens judaicas da família.

Curiosamente, Bezerra faz um comentário muito relevante, relacionado a este fato:

“Nestas páginas, não obstante, continuaremos a tratar nossas personagens pelos seus nomes de origem, uma vez que, liberais que deveremos ser, respeitaremos o direito que eles têm, ou quem quer que seja, de se nomearem conforme lhes aprouver.”

Por isso, ele continua chamando os autores com seus nomes hebraicos durante a narrativa.

Vemos, portanto, que o autor espiritual admite a influência das ideias liberais, que ele defendeu pela política quando estava encarnado. Bezerra era político do partido liberal, na segunda metade do século XIX. Embora pontual, não deixa de ser uma marca de identidade do autor.

O tema do livro, como uma ilustração de uma tese que ele quase defendeu quando encarnado[1] e sua identificação com as ideias liberais, são dois pontos que trazem a marca de Adolfo Bezerra de Menezes no livro ditado a Yvonne Pereira.

Bezerra de Menezes (espírito). Dramas da Obsessão. 4 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981. [psicografado por Yvonne A. Pereira]




[1] Segundo Luciano Klein Filho, Bezerra escreveu “A loucura sob novo prisma” para apresentar como tese no Congresso Espírita e Espiritualista Internacional em Paris-França, em 1900, mas desencarnou antes do evento.