Uma amiga me enviou recentemente um vídeo de uma física tratando de uma associação completamente indevida entre ideias supostamente espíritas e ideias supostamente oriundas da física quântica.
Acho que minha única diferença da autora do vídeo diz respeito ao conceito de ciência. Ela emprega o conceito como sinônimo de Física-Química-Biologia, ou seja, um conhecimento com base na observação e experimentação, com associações de variáveis preferencialmente matemáticas, em busca de leis ou regularidades, diretas ou probabilísticas. Se ciência for definida assim, o espiritismo não é ciência, porque não temos como medir fenômenos espirituais (exceto os fenômenos de efeitos físicos, o que não tem sido realizado pela grande maioria dos espíritas no Brasil). Se ciência for um conceito mais amplo, em que se situam áreas como o direito, a antropologia cultural e certas escolas de pensamento psicológico, como a Gestalt, a psicanálise e outras, a literatura e as letras em geral, a hermenêutica filosófica, e mesmo a hermenêutica religiosa, a fenomenologia de Husserl e a filosofia em geral, então o espiritismo pode ser situado nesse grupo. Uma visão muito restrita de ciência acaba se confundindo com o positivismo, que é uma escola filosófica materialista e não aceita o espírito como hipótese explicativa de nada. O espiritismo, na filosofia, seria uma escola dentro do espiritualismo, com abertura para interlocução com as ciências naturais.
Todavia, a grande contribuição da autora do blog, é mostrar que algumas pessoas, com a intenção de fazer, talvez, metáforas ou comparações, acabam empregando conceitos e teorias de forma totalmente equivocada. Ela mostra que o jornalista que fez um programa, associando física quântica e espiritismo, cometeu diversos equívocos, alguns bem grosseiros, na área dela. Então comparam uma “física imaginária”, entendida de forma claramente incorreta, com um “espiritismo imaginário”, também percebido de forma incorreta. Ou seja, presta um desserviço tanto à física, quanto ao espiritismo.
Para que a matéria não fique grande, um último comentário. Há espíritas tentando fazer essas analogias, sem o devido conhecimento, que acabam criando grandes “fantasias quânticas” no meio espírita. Uma analogia ou uma afirmação com base na física (que estuda a matéria) para a explicação de fenômenos espirituais, deve se assegurar, pelo menos, que emprega corretamente os conceitos físicos. Em uma área de conhecimento, pode haver teorias divergentes, hipóteses por serem testadas, e outras incertezas, mas há afirmações claramente erradas. O mesmo acontece com o espiritismo. Como filosofia, Kardec fez afirmações defendidas logicamente, às vezes empiricamente, cuja negação gera contradições. Afirmar que ele disse o que não disse, é um erro do ponto de vista doutrinário.
Recomendo ao leitor ouvir com atenção o vídeo e dar um “desconto” à irritação da nossa amiga física. Ela não o faz por mal. Se você ouvisse alguém falando bobagens sobre o espiritismo, ao qual você dedicou décadas de estudos, com certeza, mesmo sendo cristão, lá no fundo da alma teria algumas emoções fortes, mesmo que não as manifestasse. Outra coisa, a irritação dela não é conosco, mas com os que divulgam conceitos errados da física.